𝗦𝗡 𝗝𝗢𝗡𝗘𝗦
Ao chegarmos no restaurante, aconteceu tudo o que eu não esperava. A mesa no centro tinha uma placa escrito reservada e duas taças dispostas na mesa. Todos nos olhavam e sorriam, tentando passar... positividade?
Peguei o telefone e entrei no aplicativo que serve como minha "voz". Digitei rapidamente e levei o aparelho ao ouvido de Jaden, para que apenas ele escutasse o que eu queria dizer.
── Por que todos estão nos olhando? ── Jaden apertou minha mão ao ouvir, e sorriu sem me responder.
Nos sentamos na mesa e Jaden pediu um champanhe.
Eu nunca havia bebido e ele percebeu, pois o mesmo pediu uma outra taça com água. Eu sorri em agradecimento.
Coloquei minha mão em cima da mesa e olhei em volta. Alguns rostos eram bem conhecidos, já outros eu nunca havia visto na vida.
Quando digo alguns, quero dizer o menor pedaço da metade. Porque eu passei quase minha vida inteira presa naquele hospital, e os poucos rostos que identificava eram de ex amigos ou colegas de trabalho dos meus pais.
Me surpreendi com Jaden pondo a mão, sobre a minha. Ele sorriu e abaixou a cabeça, eu fiz o mesmo porém acabei corando.
─── Você é muito fofa, Sn! ── Seus dedos acariciaram os meus e então ele apertou minha mão, me fazendo olhar para seu rosto. ─── Quero pedir que não atrapalhe o meu monólogo, eu estive ensaiando tanto! ── Rimos.Eu dei mais uma olhada em volta, mas logo parei ao encarar o par verde de olhos a minha frente.
─── Eu te conheci por acaso. Pra mim era um dia normal. Eu fui visitar minha irmã no hospital, era quase véspera do aniversário dela. Eu e o Vinnie estávamos convencendo a doutora, mas bastou eu abrir a boca que ela permitiu. Acho que você já sabe o porquê! ─── E novamente nós rimos.
Jaden se recompôs logo e continuou:
─── Mas quando eu te vi, me interessei em saber o porquê que você me encara tão descaradamente! Eu me sentia zonzo, apenas de pensar que algum dia, você poderia ser minha.
Um sorriso bobo escapou de meus lábios, e eu mordi o lábio para disfarçar o quão boba eu estava.
─── Quando me aproximei eu não pensava em algo mais do que amizade, mas quando eu fui te conhecendo eu percebi que você despertava sentimentos em mim que eu nunca senti por ninguém antes. ─── ele fez uma pequena pausa, e suspirou. ───Eu falei com a minha mãe, disse que estava me sentindo estranho e que toda vez que te via eu tinha uns troço na barriga. ─── Ele riu. Digitei no celular e encostei em seu ouvido.
─── Era fome, né? ── Ele riu e negou.
─── Não, babe. Não era fome! ── Ele suspirou sorrindo. ─── Uma coisa que eu nunca senti. Paixão. Eu percebi que tinha ciúmes quando as pessoas te olhavam estranho, eu tinha raiva quando as pessoas zombavam de você
Meu coração palpitava e talvez um frio na barriga presenciava o momento bastante romântico. Nunca senti sensações tão boas quanto estou sentindo agora. Continuei escutando cada palavra que saía da boca dele.
─── Eu percebi que não queria só ser próximo. Que eu não queria só ser o seu confidente. Eu queria ser a pessoa em quem você pensasse em primeiro lugar. Percebi que eu quero ser seu namorado. Então, eu te trouxe aqui. ── Ele se levantou e deu a volta na mesa.
Jaden se abaixou ficando de joelhos e sorriu abrindo uma caixinha vermelha de veludo.
─── Sn Jones , você quer ser minha namorada? Eu prometo que seremos como Romeu e Julieta, sem segredos e sem diferenças.
Meus dedos tremiam, meus olhos estavam úmidos e meu sorriso quase rasgava meu rosto. Todos me olhavam fazendo minhas bochechas ficarem vermelhas.
Jaden me encarava com o sorriso ainda no rosto e seus olhos ofuscavam o brilho de qualquer um ali.
─── Sim! ── Ele retira o anel da caixinha e encaixa no meu dedo anelar. Ele levantou e arrancou um beijo maravilhoso de meus lábios e só então se deu conta de que tínhamos platéia.
Quando nos separamos, ele me abraçou e a minha reação foi simples. Seus braços estão em volta da minha cintura, colando seu corpo ao meu. Eu enfiei o rosto no pescoço do Jaden , enquanto pessoas se aproximavam e diziam coisas como; felicidades ou parabéns para o casal.
─── Agora, nós estamos oficialmente juntos. ── Ele beija meus lábios e se senta novamente. Nós comemos normalmente e na saída eu me lembro de uma coisa.
Eu tenho que contar sobre o que John havia feito comigo. Não acho que guardar isso seja una boa ideia, principalmente agora. Peguei o celular e digitei no aplicativo de voz.
─── Jaden? ── Ele me olhou quando entramos no carro. ─── Eu tenho que te contar uma coisa.
─── Claro, babe. Pode falar. ─── Eu respirei fundo. Falar sobre aquilo é difícil ainda mais quando é o pai do seu namorado.
─── Na festa da Lia, quando eu voltei e estava tremendo muito e chorando. Você me perguntou porquê, e eu te disse que nada havia acontecido. Mas aconteceu sim uma coisa. ── Jaden franziu o cenho, com um grande ponto de interrogação. E sua confusão aumentou mais ainda, quando me viu deixar uma lágrima cair. ─── Quando eu te contar, você precisa me prometer que não vai surtar.
— Continua, Sn. ─── seu tom foi calmo, porém sério e preocupado.Voltei a digitar com rapidez.
— Eu fui á uma praça. Primeiro uns universitários me pediram ajuda para uma pesquisa, mas eu não pude ajudar, mesmo se eu quisesse, não teria como. E então o seu pai apareceu.
Olhei para Jaden e vi que sua expressão ainda era a mesma.
Suspirei e voltei a digitar, um pouco nervosa.
─── Ele começou acariciando minha coxa, começou a apertar a mesma e a cada vez mais subir as mãos. Eu não tinha forças, mas por uma fração de segundos, seu sorriso apareceu na minha mente e então eu me levantei correndo dali. Eu não queria ir para a sua casa novamente. Eu me sentia suja, me sentia uma aberração. Eu pedi para ir embora e você de certa forma entendeu que eu era uma mal agradecida. ── comprimi os lábios. ─── Na verdade, eu só queria um lugar que eu pudesse me sentir segura... Foi culpa minha. Eu jamais deveria ter saído e te deixado sozinho. Doeu como o inferno, Jaden...
Olhei para Jaden tentando decifrar seu rosto, mas minha visão estava completamente distorcida por conta das lágrimas que escorrem pelo meu rosto
─── Abuso? Abuso sexual? ── Ele pareceu se perguntar, enquanto tentava processar tudo. ─── Está me dizendo que o meu pai abusou sexualmente de você? ── Jaden colocou as mãos na cabeça cansado. Seus olhos estavam mais úmidos do que antes e agora ele socava o volante.
Eu me espremi no banco assustada com a reação dele, mas ele apenas continuou socando o volante com força, demonstrando toda a sua raiva.
Talvez uns trinta segundos se passaram, quando ele finalmente parou.
Ele pegou o telefone e discou um número. Ele colocou no bluetooth do carro e arremessou o celular no banco de trás.
─── Jaden ? Filho, quanto tempo que você não me liga! ─── Era ele. O John. Minhas pernas ficaram mais fracas assim que eu ouvi a voz dele. Droga!
─── Eu te odeio! ─── Jaden gritou muito alto, com sua voz repleta de dor e raiva. ─── Como você pôde fazer aquilo com a Sn? Você sabia que ela não podia se defender, e nem ao menos gritar por ajuda, e tirou proveito disso!
─── Jaden, eu não sei do que você está falando. ─── disse o pai de Jaden. Cínico.
─── Você sabe sim! E se você quer mesmo saber, eu confio mais nela do que em você! ─── ouvi Jaden suspirar e enxugar os olhos, repletos de lágrimas.
─── Então confie na muda! ─── E então ele desligou a chamada.
Jaden gritou tão alto, que meus ouvidos quase estouraram. Seu grito de dor me fez ver que ele estava tão mal com isso tudo, estava doendo nele também.
O moreno bagunçou os cabelos em uma tentativa falha de se acalmar.Eu não sei por qual motivo, mas quando me dei conta estava com uma das mãos em sua nuca, acariciando o local.
Jaden me olhou e me puxou para um abraço apertado. Eu podia sentir suas lágrimas caírem sobre os meus ombros.
Quando nos separamos eu passei minhas mãos em seu rosto, pedindo para que ele parasse de chorar.
── Me desculpa. Eu não deveria ter te deixado sozinha. Desculpa! ── Ele esfregou os olhos como uma criança, mas eu conseguia sentir a sua dor em cada uma das suas palavras.
Ele soltou um suspiro em meio ao seu choro, e doeu demais vê-lo assim. Imagina a dor de saber que seu próprio pai foi capaz de realizar tal ato.
─── Não foi sua culpa, babe... Ele é um idiota! ── escutei sua voz embargada exclamar. ─── Eu o odeio tanto! ── Eu o puxei para um abraço de novo, e fiz carinho em seus cabelos, tentando acalmar o meu namorado.
─── Eu vou te proteger, babe... Eu falhei dessa vez, mas não vai acontecer de novo. ─── ele afirmou em um breve sussurro. ─── Não vai, eu prometo.
Nós ficamos um tempo no estacionamento do restaurante e depois de Jaden se recompor, nós partimos para a casa dele.
O final dói tanto...