Beatrice observava aquele magro e alto rapaz entrar no laboratório, ele estava usando uma calça cáqui e uma blusa cinza meio abarrotada, seu cabelo loiro estava penteado para o lado, e pelo tamanho, se não fosse pelo uso excessivo de gel capilar, com certeza teria uma franja caindo em seus olhos, que Beatrice não conseguiu definir se eram azuis claro ou um tom mais cinzento.
- Bom dia, madame - ele a cumprimentou.
- Bom dia, posso ajudar?
- Ah, desculpa, eu creio que não - ele bota a mala de couro barato que estava segurando no chão - Estou esperando o Mestre Baum.
- Claro, mas não acha melhor falar com a pessoa responsável por esse laboratório?
- Ótima ideia, senhorita, quem chegar primeiro, eu irei falar - o rapaz olha em volta do laboratório, mesmo sendo uma instalação totalmente nova, a limpeza do local era nitidamente profissional - Ótimo trabalho por sinal.
- Com licença? - pergunta Beatrice, levantando as sobrancelhas.
- O laboratório, madame, está bem limpo, parabéns pelo ótimo serviço.
- Ah... - responde ela, indignada- Então você acha que eu limpei isso?
- Mil perdões, é que você estava aqui, e achei que...
- Achou que eu estava limpando por ser uma mulher?
O rapaz estava confuso, ele dá uma segunda olhada em Beatrice, dessa vez mais atenciosa, nota que suas roupas realmente não se parecem com roupas de faxineira, ela estava com uma calça social preta levemente definida em seu corpo esbelto, uma camisa social branca bem justa e um par de sapatos sociais bem pequenos, feitos sob medida. Não era a vestimenta mais comum a ser usada por uma mulher.
- Então... - ele fica com um pouco de medo de perguntar - Você trabalha no laboratório?
- Meu jovem - Beatrice se aproxima e fica de frente a ele, sua altura não chegava nem ao seu pescoço, mas ela fez questão de que ele ficasse de cabeça baixa enquanto ela o olhava de cabeça erguida - Eu sou a sua chefe.
Uma mistura de surpresa e incredulidade era evidente no rosto do rapaz, depois de tantos anos trabalhando para o Conselho, nunca tinha visto uma mulher assumir esse tipo de cargo.
- É... desculpa, eu.... - ele se afastou um pouco para pensar, estava ligeiramente intimidado com a postura de Beatrice - É que eu nunca tinha visto...
- Eu sei - ela interrompe - Você não é o primeiro a reagir assim.
Depois da surpresa inicial, o rosto do rapaz foi de espanto para riso, agora quem estava confusa era Beatrice.
- O que é isso?
- Desculpa, madame, eu só estou pensando em como o Conselho deve estar odiando ter você nesse posto.
Sim, provavelmente eles me querem morta, ela pensou, querendo rir junto com o rapaz, mas forçando uma expressão séria.
Ele estende a mão.
- Prazer, madame, me chamo Thomas Ford, vim por indicação do Mestre Geoff, tenho doutorado em Farmacologia pela Universida...
- Eu sei quem você é - Beatrice interrompe, estendendo a mão de volta - Meu nome é Beatrice, não tenho sobrenome, e nem doutorado, mas tenha a certeza que sou mais do que apta para liderar essa equipe.
Thomas levanta as sobrancelhas, com um pouco de desdém. Ela continua:
- Você sabe para o quê foi chamado?
- Não, na verdade, é difícil me contarem as coisas, geralmente descubro o que é quando sou transferido para o setor o qual fui designado.
- Entendo. Então sente-se, temos muito o que conversar.
O rapaz puxa uma cadeira que estava próxima a ele, Beatrice senta na ponta de uma das mesas. Ela explica os planos de Alastair e o intuito do Projeto Salute.
- Quantas pessoas serão na equipe?
- Apenas nós dois e o Mestre Alastair, ocasionalmente.
- E o plano de vocês é criar um medicamento tão forte e invasivo que possa causar uma lavagem cerebral instantânea na pessoa, sem matá-la e nem danificar demais seu cérebro, tudo isso com apenas duas pessoas e uma que só aparecerá ocasionalmente?
- Sim, e o mais cedo possível, de preferência.
Thomas coça a cabeça, não sabia como reagir a isso, o projeto era realmente ambicioso e revolucionário, se concluído de forma eficaz, seu prestígio dentro do Conselho aumentaria exponencialmente, talvez até mesmo o garantindo o cargo de Monarca. Depois de alguns segundos refletindo, ele levantou o rosto e olhou diretamente para Beatrice. Antes que ele falasse alguma coisa, ela começou:
- Você foi escolhido a dedo pelo Mestre Alastair, sua pesquisa sobre medicamentos dissociativos foram uma grande base para o projeto dele, mesmo neurologia não sendo sua área principal de estudo, sua compreensão da mente humana é realmente perspicaz, precisamos de você.
Thomas ficou mais alguns segundos calado, mas logo tomou sua decisão, levantou-se da cadeira e estendeu a mão novamente para Beatrice.
- Quando eu começo?