O quarto onde Mia estava também havia uma janela espelhada, de onde Crowley e Alastair a observavam.
- Ela é tão linda, foi uma ótima ideia cortar e pintar o cabelo dela.
- Sim - Alastair acena com a cabeça - Para Alice, Mia tinha cabelo curto escuro, então não podíamos deixar ela andar por aí com um cabelão loiro, a mudança teve que ser completa, sua letra é diferente, a forma que mastiga é diferente e, de acordo com os registros prévios da mansão, até a data de sua menstruação mudou, ela se tornou outra pessoa.
- Isso é tão incrível, a CIA mataria para descobrir como você fez isso.
- Eu tenho certeza que eles já estão me investigando.
- Eles estão - Crowley coloca a mão no seu ombro - Fique atento, garoto, use o código que eu te ensinei, por mais simples que seja, não dá para decifrar sem a palavra-chave.
- Faz anos que não escrevo de outra forma, Monarca.
Quando estava na iniciação, Alastair já se destacava por sua inteligência e ideias, sabendo do potencial de seu discípulo e de como suas ideias poderiam cair em mãos erradas, Crowley o ensinou um código, que é bem simples, mas que seria praticamente impossível de decifrar: Alastair teria que escolher uma palavra aleatória que seria a palavra-chave do código, poderia ser uma palavra longa ou pequena, fica a critério de quem escolher, com essa palavra, iria pegar cada letra do texto que quisesse criptografar e somasse com a diferença de cada letra da palavra-chave.
Por exemplo, se a primeira letra do texto fosse "A" e a primeira letra da palavra-chave fosse "F", a diferença entre essa letra e a outra seria de 5, então somaria o "F" com 5, que seria o "K" no alfabeto padrão, e assim sucessivamente, a segunda letra do texto seria a segunda letra da palavra-chave, até sua última letra, onde começaria tudo de novo.
Alastair, depois de alguns dias escrevendo em código, se tornou tão habilidoso em codificar que nem precisava mais contar as letras do alfabeto, já sabia exatamente quais letras seriam na soma, mas para evitar a possibilidade de alguém tentar decifrar o seu código, o jovem decidiu adicionar mais 6 palavras-chave nos seus escritos, e codificando cada palavra de acordo com a palavra-chave determinada num padrão que ele mesmo inventou e que ninguém sabe qual é, além dele próprio.
Crowley sentia muito orgulho de Alastair e sempre o viu como promissor, sabia que a inteligência do garoto os levaria ao topo, Crowley tinha seus próprios objetivos para o Projeto Salute.
Ele observava Mia no quarto, ela estava sentada na escrivaninha ao lado da cama, montando um pequeno quebra-cabeça.
- Na sua carta dizia que ela ainda tinha lembranças da Alice quando acordou.
- Sim, eu já previa algo assim, a mente dela ainda não tinha solidificado totalmente a mudança, então algumas memórias e resquícios de personalidade vieram a tona nos primeiros dias.
- Então foi resolvido?
- 100%, hoje mais cedo refiz alguns testes com ela e não havia indícios da personalidade inicial, Alice agora é totalmente Mia.
- Sem possibilidades de recuperação?
- Bea e eu vamos analisar mais algumas coisas antes de concluir, mas os testes iniciais deduzem que possibilidade de recuperação das memórias ou personalidade é mínima...
- Bea... - Crowley coça sua barba rala - Admito que até hoje mantenho um pé atrás sobre você dar tanto poder e conhecimento para uma escrava sexual.
- Duas cabeças pensam melhor do que uma.
- Ally, ela aprendeu demais, qual a probabilidade dela te matar enquanto dorme e expôr tudo sobre o Conselho? - ele se vira para encarar Alastair - E sim, eu sei que vocês dormem juntos.
- Você precisa confiar mais nas pessoas, meu caro - Alastair sorri de forma descontraída.
- Não confio, e isso me manteve vivo até hoje.
- Confia em mim?
- Em partes, não sei até onde você iria por essa sua paixão bizarra.
- Isso me ofende, amado Mestre.
- Não me chame de Mestre, porra.
Alastair deu uma risada, adorava tirar Crowley do sério, o Monarca aponta para Mia.
- Quando eu posso levá-la?
- Em alguns dias, vou fazer os últimos testes e poderemos finalizar a compra.
- Que bom, sinta-se honrado por eu ser o seu primeiro cliente, faz algum tempo que eu estava de olho na filha dos Hale.
- Eu sei, sorte a sua que o doutor Frank decidiu trair o Conselho.
- Sim...muita sorte... - Crowley coloca outro charuto na boca.
Alastair se posiciona mais perto de Crowley.
- Sabe o que eu nunca entendi? É como Frank soube dos podres do Conselho...
- O que isso quer dizer, garoto?
- Nada, é só algo para se pensar, Monarca Crowley.
- Alastair, você pode brincar com todos, mas não comigo, esse seu joguinho de manipulação não serve comigo.
O jovem coça a cabeleireira ruiva e dá um sorriso inocente.
- Eu só estou lhe provocando, Mestre.
Crowley cospe o charuto no chão, o gosto tinha se tornado ruim muito rápido.
- Eu esqueci como você pode ser um diabo quando quer, Ally. Eu volto em alguns dias para buscar a garota.
Crowley dá uma última olhada em Mia antes de ir embora.
Finalmente será minha, é o seu pensamento durante todo o trajeto para fora do prédio.