ELECTRIC LOVE | peter parker.

By lokireign

133K 16.1K 19K

Peter Parker sabia que grandes poderes traziam grandes responsabilidades, mas não sabia se iria, algum dia, v... More

ϟ 𝐄𝐋𝐄𝐂𝐓𝐑𝐈𝐂 𝐋𝐎𝐕𝐄.
┊ GRAPHICS.
ϟ 𝐀𝐓𝐎 𝐔𝐌.
┊ 𝟬𝟬. a explosão nas indústrias oscorp.
┊ 𝟬𝟭. a nova amigona da vizinhança.
┊ 𝟬𝟮. curto-circuito procura uma babá.
┊ 𝟬𝟯. peter parker conhece uma hater.
┊ 𝟬𝟰. cabeça de teia e curto-circuito dividem os holofotes.
┊ 𝟬𝟱. heróis da cidade disputam queda de braço.
┊ 𝟬𝟳. o dia em que tudo deu errado.
┊ 𝟬𝟴. valerie faz uma promessa.
┊ 𝟬𝟵. palavras-cruzadas e tabela periódica.
┊ 𝟭𝟬. a missão impossível de peter.
ϟ 𝐀𝐓𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒.
┊ 𝟭𝟭. homem-aranha: o musical.
┊ 𝟭𝟮. valerie duvida da própria sanidade.
┊ 𝟭𝟯. a identidade revelada de peter parker.
┊ 𝟭𝟰. valerie bradshaw não faz ciência.
┊ 𝟭𝟱. um encontro de milhões.
┊ 𝟭𝟲. valerie bradshaw veste o jaleco.
┊ 𝟭𝟳. o frisbee da estátua da liberdade e o espetacular homem-aranha.
┊ 𝟭𝟴. a queda do escudo e a hora da desspedida.
┊ 𝟭𝟵. gênios incompreendidos não fazem sentido.
ϟ 𝐀𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐄𝐒.
┊ 𝟮𝟬. homem-aranha é trancado para fora de casa.
┊ 𝟮𝟭. peter parker procura um emprego de verdade.
┊ 𝟮𝟮. o dia em que valerie bradshaw roubou o natal.
┊ 𝟮𝟯. amigões da vizinhança conhecem edward cullen.
┊ 𝟮𝟰. a vida doméstica dos heróis da cidade.
[ ⚡ ] 𝗘𝗦𝗣𝗘𝗖𝗜𝗔𝗟 𝗗𝗘 𝟰𝟱𝗞.
[ ⚡ ] 𝗘𝗦𝗣𝗘𝗖𝗜𝗔𝗟 𝗗𝗘 𝟲𝟬𝗞.

┊ 𝟬𝟲. parker almoça com os bradshaw.

4.5K 698 1.6K
By lokireign

━━━━━━━ CAPÍTULO SEIS
parker almoça com os bradshaw




VALERIE BRADSHAW ajeitou a mochila nos ombros enquanto caminhava pelo campus da Universidade Empire State, na busca de um certo moreno com quem ela costumava passar algumas tardes por semana, quando eram liberados mais cedo das aulas, para observar melhor o comportamento do Homem-Aranha — a mando de J. Jonah Jameson, é claro — e poder escrever suas colunas semanais a respeito do heroísmo mascarado que se expandia em Nova Iorque.

A realidade era que ela já não precisava mais daquilo, mas havia se tornado um hábito. Às segundas e quartas-feiras, Valerie e Peter deixavam o campus no mesmo horário, comiam alguma besteira que certamente não poderia ser chamada de almoço, e então saíam pela cidade em busca do amigão da vizinhança. Ele aparecia às vezes, mas Peter o encontrava mais após Valerie ir embora. Então, o que um dia foi considerado trabalho, se tornou mais uma conveniência: ele contava sobre os hábitos observados no aranha em algumas ocasiões, mas a maior parte das tardes passadas juntos eram apenas aproveitando a companhia um do outro.

Costumavam adiantar trabalhos da faculdade ao ar livre no próprio campus, e às vezes Valerie acompanhava Peter no laboratório e o observava trabalhar, mas não encostava em nada. Havia aprendido sua lição quando um dos trabalhos de Vicky lhe concedeu seus poderes, algum tempo antes. Conversavam e se conheciam melhor e quando menos esperavam, notavam saber alguns detalhes pequenos da rotina um do outro, o que os pegava de surpresa e os faziam sentir como stalkers.

━ Ai, me desculpa! ━ Valerie exclamou ao trombar com uma garota, imersa demais em seus pensamentos para perceber sua aproximação. ━ Eu não te vi, você derrubou alguma coisa? A gente pode encenar uma cena de filme de romance adolescente e...

Tirando alguns fios do cabelo ruivo do rosto, a garota riu alto, se divertindo com a fala da loira. Ela puxou as chaves de casa de dentro da bolsa que carregava sob um dos braços e as jogou no chão, olhando sugestivamente para Valerie, que gargalhou dessa vez ao se abaixar junto com a menina para pegar as chaves, sentindo seus dedos se esbarrarem. A ruiva estendeu a mão com um sorriso simpático.

Mary Jane Watson, muito prazer ━ ela se apresentou, e Valerie apertou sua mão. ━ Você parecia meio perdida, tá tudo bem?

━ Valerie Bradshaw ━ a loira disse, enquanto se levantava. ━ E tá tudo bem sim, eu só tava indo pro laboratório encontrar um amigo e... Acho que eu sempre pareço perdida, é só a minha cara mesmo.

━ Precisa de ajuda pra encontrar o laboratório? ━ Mary Jane ofereceu, unindo as sobrancelhas. ━ Não que eu saiba onde seja, eu sou nova aqui. Tô fazendo aquele curso de artes cênicas que a universidade tá oferecendo, sabe? Mas eu te ajudo a procurar se quiser.

Valerie deu de ombros e começou a caminhar, sinalizando para que Mary Jane a seguisse. Com um sorriso, a ruiva virou o corpo e começou a caminhar ao lado de Bradshaw.

━ Eu sei onde é o laboratório, mas eu gosto de companhia ━ explicou, e as duas deram risada. ━ É bom que você conhece melhor o campus, MJ. Posso te chamar assim, né?

MJ piscou.

━ Pode me chamar como quiser, só não me chama muito tarde pra jantar!

Até chegarem ao laboratório, as duas conversaram e riram como velhas amigas; pareciam se entender bem, e certamente tinham um senso de humor compatível. Mary Jane contou um pouco sobre as aulas de encenação e o sonho de se tornar uma grande atriz, e Valerie, como sempre, falou sobre sua vontade de trancar o curso de psicologia criminal e começar algum outro.

━ Olha ele ali ━ Valerie apontou para Peter pelo pequeno quadrado de vidro da porta do laboratório, quando o alcançaram. ━ O Peter é aquele de óculos, meio descabelado, com cara de cientista maluco enquanto mexe com aquelas coisas que eu deveria lembrar o nome, mas não lembro.

━ Ele é gatinho ━ Mary Jane disse, elevando as sobrancelhas, e sorriu divertida para Valerie, que fez uma careta.

━ Você acha?

Você não?!

Valerie riu e deu de ombros, ainda olhando para o rapaz.

━ Acho, eu só gosto de questionar as pessoas.

MJ revirou os olhos, com uma risada, e Valerie abriu a porta com cuidado para não fazer barulho. Devagar, as duas entraram no laboratório, sentindo o ambiente frio devido ao ar-condicionado, e caminharam em direção a Peter, que estava imerso demais em seu trabalho para notar sua presença.

Fazendo o sinal de silêncio para Mary Jane, Valerie se aproximou de Peter por trás e se levantou na ponta dos pés para alcançar a lateral do rosto do garoto, na intenção de o assustar com um sopro no ouvido.

Oi, Valerie ━ ele cumprimentou, antes que ela cumprisse seu objetivo, e ela soprou sua orelha mesmo assim. ━ Isso perdeu o efeito depois da quinta vez, sabia?

━ Eu vou criar uma estratégia nova ━ a loira garantiu, e ele arqueou uma sobrancelha, depositando os béqueres na bancada, finalmente se virando para a encarar. Valerie apontou para Mary Jane, que acenou. ━ Peter, essa é Mary Jane Watson. MJ, esse é Peter Parker.

Mary Jane estendeu uma mão em direção ao rapaz, que fez uma careta ao olhar para as luvas nas próprias mãos.

━ Produtos químicos, é melhor não apertar minha mão agora ━ ele disse, e ela riu baixo.

━ Sem problemas, tigrão.

Valerie segurou a vontade de rir ao ver Peter corar levemente com o apelido. Mas ela o deixou aproveitar o momento; não era sempre que uma garota bonita como MJ o chamava de tigrão! Não acontecia com qualquer um.

Após recobrar sua atitude, Peter limpou a garganta e voltou a manusear os béqueres, enquanto Valerie e MJ observavam com atenção. Enquanto adicionava um pó em um dos líquidos, fazendo-o mudar de cor, o rapaz subiu os olhos para Valerie.

━ Eu já tô acabando, aí a gente pode sair, tudo bem?

━ Na verdade, é disso que eu vim falar pra você. Não posso ir com você hoje, tenho que ajudar minha irmã mais nova com um trabalho de ciências que é pra amanhã e adivinhe, ela ainda nem começou! ━ ela disse, rindo quase desacreditada. ━ Mas eu posso te ajudar com a redação à noite, se você ainda precisar. E já que você tá nessa vibe de cientista maluco, o que você sugere para uma criança de 10 anos apresentar na escola? Não vale vulcão!

Ele ponderou um pouco.

━ Um experimento de demonstração de chuva ácida seria legal ━ ele opinou. ━ Você só precisa adicionar um pouco de fenolftaleína em um pote de vidro com um quinto dele cheio de água, acrescentar umas gotas de solução de amônia e…

Valerie o observava com o cenho franzido, cruzando os braços enquanto apoiava as costas na bancada. Peter reparou e soltou uma risada, revirando os olhos levemente.

━ Eu vou com você e te ajudo ━ decidiu, por fim, e ela agradeceu aos céus, olhando pra cima e gesticulando com as mãos. Mary Jane sorriu discretamente, e Peter franziu o cenho, voltando a atenção ao seu trabalho, guardando um dos potes em uma espécie de geladeira. Ele então tirou as luvas e o jaleco e lavou as mãos. ━ Podemos ir?

Valerie assentiu, e se virou para se despedir de Mary Jane, que havia comentado algo sobre já estar atrasada para suas aulas.

━ Vai lá, tigresa ━ a ruiva sussurrou, dando um abraço na nova amiga, e soltando uma risada ao vê-la fazendo uma careta estranha. ━ Te vejo por aí.

Os três saíram juntos do laboratório, e enquanto Peter e Valerie foram por um caminho, Mary Jane foi por outro, atraindo olhares por onde passava com sua presença magnética. Colocando as mãos nos bolsos, o rapaz chutou algumas pedrinhas no chão enquanto caminhava, olhando para a loira pelo canto dos olhos.

━ Você é mesmo ruim em química, né? Acho que o talento científico ficou todo pra Victoire ━ ele comentou, vendo a garota o olhar indignada, e riu. ━ Eu menti?

━ Eu sou ruim em química, é? Vamos ver! ━ ela desafiou, limpando a garganta, e os dois pararam a caminhada por um momento. ━ Peter. Você é feito de berílio, ouro e titânio? Porque você é Be-Au-Ti-Ful.

Peter comprimiu os lábios em uma linha reta.

━ Não existe nenhum elemento Ful na tabela periódica. Mas eu respeito sua tentativa!

━ Para de tentar estragar minhas cantadas ━ ela revirou os olhos, mas então sorriu ao pensar em uma nova. ━ Você não sente a química que existe entre nós?

Dessa vez, Peter não se segurou e gargalhou alto, tombando a cabeça para trás e esbarrando um dos ombros propositalmente em Valerie, que foi logo contagiada por sua risada. Continuaram caminhando e as risadas morreram aos poucos, enquanto seus braços ocasionalmente se esbarravam e sorrisos descansavam em seus rostos.

━ Pra quem não pode misturar um pouco de amônia e fenolftaleína em um pote com água, você sabe cantadas químicas demais.

━ Tudo por você, gatinho ━ ela piscou em sua direção.

Talvez os dois não percebessem, mas as pessoas ao redor sentiam a química que existia entre eles.

Após algum tempo de caminhada, Valerie e Peter chegaram ao prédio onde a menina morava, e adentraram o local sem demora. Quando entraram no elevador, a loira apertou alguns botões que os levariam até o andar de seu apartamento, e Peter observou seu reflexo no espelho rapidamente, fazendo uma careta ao ver o estado de seu cabelo escuro.

━ Tem almoço na sua casa, né? Eu tô morrendo de fome ━ ele falou, conforme o elevador subia, e Valerie assentiu. ━ Ainda bem que eu vim. Adoro comer de graça.

━ Acredita em mim, Parker ━ ela pediu, cruzando os braços. ━ Nem um almoço grátis vai compensar o seu sofrimento ajudando minha irmã a fazer um projeto de ciências que é pra amanhã. Esse tipo de coisa a gente paga com a alma.

As portas do elevador se abriram, e como um cachorrinho sem dono, Peter seguiu Valerie pelo corredor até chegarem a porta de seu apartamento, onde já havia uma garotinha loira, extremamente parecida com Valerie, que trazia nas costas uma mochila de tons de roxo vibrante e com muitos chaveiros pendurados. Um de seus bolsos estava aberto e uma agenda de unicórnios estava prestes a cair de lá.

Valerie olhou para Peter e balançou a cabeça negativamente, esticando um dos braços e fechando o zíper do bolso aberto, fazendo a mais nova se virar assustada.

━ Esqueceu a chave de novo, né? ━ a mais velha indagou, num tom quase acusatório, e a mais nova concordou com a cabeça. Valerie então deu uma risada, cruzando os braços. ━ Eu também, grita o papai aí. Quando você chama ele vem mais rápido.

━ É por isso que os vizinhos não gostam da gente ━ falou a pequena, e então olhou para Peter com curiosidade. ━ Desde quando você tem namorado?

━ Ele não é meu namorado, engraçadinha. Esse é o Peter, ele veio me ajudar a ajudar você a fazer o seu trabalho de ciências, que por acaso, você ainda não começou ━ respondeu ela, e Peter sorriu fechado em direção à mais nova, num cumprimento silencioso. ━ Grita o pai logo, eu tô com fome.

Vidya limpou a garganta e respirou fundo, se aproximando mais ainda da porta.

━ PAI ━ ela gritou. ━ EU ESQUECI A CHAVE, VEM ABRIR A PORTA, POR FAVOR!

Um ━ Valerie começou a contar. ━ Dois

A porta foi aberta antes do três por um homem usando um avental de cozinha, com o desenho de um corpo de uma mulher de biquíni. Ele também usava luvas de de cozinha para pegar coisas quentes do forno, e sorriu grande ao se abaixar para dar um abraço na filha mais nova.

━ Ela é a favorita dele ━ explicou Valerie, puxando Peter para dentro, mas foi parada pelo pai, que deu um beijo em sua testa. ━ Oi, pai. Esse é Peter. Peter, esse é o meu pai. Tenho oitenta e cinco por cento de certeza que o nome dele é Arthur, mas não sei direito. Eu só o chamo de pai.

━ É Arthur ━ o homem confirmou, franzindo o cenho em direção à filha, e tirou a luva da mão direita para cumprimentar Peter adequadamente. ━ Vai se juntar a nós no almoço hoje, Peter?

━ Vou, se não tiver problema ━ ele respondeu, sentindo o aperto de mão firme do mais velho, que sorriu com sua confirmação.

━ Problema? Eu tenho quatro filhas, não posso fazer pouca comida quando tenho que alimentar uma tropa dessas. Você é mais do que bem-vindo, tem almoço de sobra ━ ele garantiu, e então olhou para as filhas por um momento, antes de voltar a atenção a Parker. ━ Vai ser bom ter outro homem na casa por um tempinho, eu me sinto intimidado sendo o único numa casa de seis pessoas!

━ São só cinco, a Vicky se mudou ━ corrigiu Vidya.

━ Não faz diferença, ela não sabe cozinhar e volta pra janta todo dia ━ Arthur respondeu, balançando uma das mãos de forma displicente. ━ Agora, se me dão licença, vou voltar pra cozinha antes que a comida queime.

Meio perdido, Peter olhou para Valerie e Vidya, sem saber o que fazer. A mais nova jogou a mochila em um sofá e saiu correndo, com a desculpa de precisar fazer xixi, e com um olhar indignado, Valerie recolheu sua mochila e saiu andando pela casa, sinalizando para que Peter a seguisse. Ele obedeceu.

No corredor, Valerie abriu a primeira porta — que Peter assumiu ser o quarto de Vidya — e jogou a mochila roxa na cama. Então, os dois andaram por mais duas portas, e dessa vez, entraram no quarto de Valerie. Ele tinha as paredes brancas e algumas fotos e pôsteres distribuídos por elas, e estava meio bagunçado, com um colchão no chão e algumas mochilas próximas à cama.

━ Ignora a bagunça, minha irmã tem dormido aqui comigo desde que Victoire foi embora ━ ela explicou. ━ Violet dividia o quarto com a Vidya, mas elas tão brigando muito esses dias e a Violet quer o quarto de Victoire, então estamos reformando ele. Enquanto isso, Violet tá ficando aqui. Mas pode ficar à vontade.

Peter fez uma careta, tentando diferenciar os nomes. Eram muitas irmãs envolvidas. Muitos nomes. Muitos nomes que começavam com V.

━ Se você visse o meu quarto, não chamaria isso aqui de bagunça ━ ele falou. ━ Tá super organizado, até!

Valerie riu pelo nariz, empurrando o colchão de Violet para debaixo de sua cama para dar espaço, e sinalizou que Peter podia se sentar. Colocando a própria mochila no chão, ele se aproximou devagar da cama e se sentou, virando o pescoço para observar algumas fotos da família na parede. Ele riu um pouco ao notar a semelhança das irmãs, e então seus olhos capturaram o laptop de Valerie aberto sobre a cama, numa aba falando sobre o Homem-Aranha.

Ele respirou fundo e fechou os olhos. Valerie era bastante obstinada e ele não sabia se decidir se aquilo era uma coisa boa ou ruim, mas naquela situação, era péssima. A garota estava de pé, após guardar a mochila no guarda-roupa, e se aproximava da porta aberta.

━ VIDYA, ANDA LOGO ━ mandou. ━ VOCÊ SÓ TEM ATÉ AMANHÃ! ━ completou, e se virou para Peter. ━ Ela deixa as coisas pra última hora e sobra pra gente, é sempre assim.

━ Por que fazer agora uma coisa que você pode deixar pra depois? ━ ele indagou, e ela revirou os olhos. ━ Qual é, Valerie, ela só tem dez anos.

Valerie era irritante. Ela era teimosa. Muito inconsequente. Um pouco sem noção. Valerie tinha muitos defeitos, mas se orgulhava em dizer que era pontual! Era uma pena que ela fosse uma das únicas cinco pessoas que ligavam para pontualidade em Nova Iorque. As outras quatro provavelmente eram turistas.

━ Eu tava fazendo xixi! Minha professora não me deixou ir ao banheiro no último horário ━ a mais nova justificou, correndo para dentro do quarto.

━ Da próxima vez, faça xixi nas calças na sala de aula. Quero ver a professora tentar proibir alguém de ir ao banheiro depois disso! ━ falou Valerie, e Peter arregalou os olhos. ━ O quê?! Ninguém pode controlar as necessidades fisiológicas! Isso é um absurdo. Mas e aí, do que precisamos?

━ Solução de amônia, fenolftaleína, um pote de vidro com tampa, fósforos e água.

Vidya o olhou horrorizada.

━ Nós só temos o pote e a água! Posso usar isqueiro?

━ Calma, eu peguei isso aqui do laboratório emprestado! ━ Valerie manifestou, abrindo o guarda-roupa e puxando um pequeno vidro de solução de amônia e outro de fenolftaleína. ━ E tem fósforos na minha gaveta.

━ Que horas você pegou isso? ━ perguntou Peter, confuso.

━ E por que tem fósforos na sua gaveta? ━ completou Vidya.

━ Peguei quando você foi lavar as mãos e tenho fósforos pra acender charutos ━ retrucou Valerie, revirando os olhos. ━ Brincadeira. Tenho tendências incendiárias.

Peter e Vidya se entreolharam.

━ Ela é louca.

━ Você não viu nada.

Valerie os olhou ofendida.

━ Ei, eu trouxe Peter pra ajudar no trabalho, não pra fazer complô contra mim! ━ exclamou, e Peter riu, piscando um dos olhos.

━ Tarde demais, Valerie Adeline Bradshaw. Eu e Vidya vamos ser melhores amigos.

━ É isso aí! ━ a mais nova falou, estendendo uma mão em punho para o rapaz, que a deu um soquinho.

━ O ALMOÇO TÁ PRONTO ━ gritou Arthur, da cozinha, e os três foram pra fora do quarto.

Vidya foi a primeira a alcançar a mesa de jantar, distribuindo os pratos por ela, e Valerie foi buscar alguns copos, enquanto Arthur depositava algumas panelas na mesa.

━ Posso ajudar em alguma coisa?

━ Só no trabalho da Vidya. Agora senta aí e já pode se servir ━ disse Valerie, o servindo suco de laranja.

Alguns minutos depois, estavam os quatro sentados à mesa. Arthur e Vidya estavam nas pontas — a garotinha se sentia muito adulta ao tomar o lugar da mãe em sua ausência — e Valerie e Peter sentados lado a lado. Todos comiam com calma, se deliciando do almoço preparado pelo homem mais velho, que era um excelente cozinheiro.

━ Eu adoro purê de batata! ━ exclamou Vidya, e o pai sorriu. ━ Mas não gosto de legumes.

━ Vai comer mesmo assim ━ falou o pai. ━ Ou fica sem sobremesa.

━ Você fez sobremesa? ━ os olhos de Valerie brilharam.

━ Não.

Peter riu e se engasgou com o suco. Valerie deu um tapa em suas costas. O almoço seguiu por mais alguns minutos, e ao fim da refeição, Peter fez questão de lavar a louça, mas Arthur não autorizou.

━ Você é visita, rapaz. E visita não lava a louça na minha casa ━ disse, balançando a cabeça para os lados e empurrando o garoto para fora da cozinha. ━ Valerie e Vidya cuidam disso depois. Você já fez o suficiente por se oferecer para ajudar minha caçula. 

━ É, Pete. Vamos acabar logo essa droga de trabalho de ciências ━ Valerie falou, decidida, puxando o moreno pelo pulso. ━ Eu acho que não deveria me estressar tanto com um projeto de quinta série, né?

Trabalhos de ciência, no geral, causavam calafrios em Valerie. Ela nunca foi a aluna mais brilhante em química ou física, ainda que fosse aceitável em biologia, e após o incidente envolvendo o trabalho de Victoire, as coisas pioraram um pouco. Mas ela não acreditava que o experimento de Vidya pudesse lhe dar mais poderes, pelo menos.

━ Projeto de quinta série é coisa séria.

━ É mesmo ━ concordou Vidya.

━ Então por que você deixou pra fazer faltando um dia pra entrega?

A menina suspirou, entrando no quarto, e se sentou na cama.

━ Eu tenho estado ocupada.

Peter e Valerie se entreolharam com divertimento.

━ Ela tem estado ocupada, Valerie. Dá um tempo.

━ Viu, Vallie? Ele me entende! Você deveria escutar mais ele.

━ Você tá vendo, né? Deveria me escutar mais.

━ Você tá repetindo tudo o que uma criança de dez anos fala. Você com certeza não é a primeira pessoa que eu iria pra pedir conselhos!

━ Eu fico feliz só de saber que estou na lista! ━ ele exclamou, lhe lançando um sorriso, e arregaçou as mangas da blusa. ━ Agora pode ir se levantando, Vidya. É hora dos cientistas entrarem em ação!

Valerie pensou em ajudar. Ela até tentou! Mas bom, ela nem mesmo sabia o que deveria fazer. Então, se sentou na cama e observou enquanto Peter e Vidya executavam o experimento de demonstração da chuva ácida, vendo a irmã concentrada em fazer tudo da forma correta, sob a supervisão do mais velho. Com um sorriso se abrindo em seu rosto sem nem perceber, Valerie assistiu com atenção quando Parker começou a explicar para a irmã como funcionava a chuva ácida.

Ele fazia caretas e falava com empolgação, tentando simplificar para que a criança entendesse, e Valerie riu sozinha. Era fofo. Ela sabia que Peter não tinha irmãos e morava com a tia, mas de alguma forma, ele levava jeito com crianças. Ou talvez, só gostasse muito de falar sobre chuva ácida. Por algum motivo, Valerie gostava de ouví-lo falar sobre chuva ácida.

━ Agora, vamos chamar nossa assistente Valerie Adeline Bradshaw ━ Peter falou, quando Vidya fechou o pote, e caminhou até a cama, estendendo uma mão em direção à loira.

Com uma risada, Valerie aceitou. O contato entre suas mãos, por alguma razão, deixou Peter meio... nervoso. Valerie também. Mas era confortável. Ele a dirigiu até a escrivaninha onde ele e Vidya realizavam o experimento e soltou sua mão, pegando o pote com um líquido cor de rosa e o entregou à Valerie.

━ Sacuda o pote. Vidya, observe o que acontece!

Quando Valerie sacudiu o pote, o líquido rosa se tornou transparente, e tanto ela quanto a irmã mais nova arregalaram os olhos em choque. Peter deu uma risada, se divertindo com a reação das duas.

━ O dióxido de enxofre, que é produzido pela queima do enxofre da cabeça do fósforo combinado ao oxigênio do ar, se dissolve na água e faz com que o meio fique ácido. Em meio ácido, a fenolftaleína fica incolor ━ ele finalizou a explicação, e Vidya bateu palmas. ━ É assim que você vai conseguir um A+. As crianças com vulcões são todas iguais, ninguém aguenta mais isso.

Vidya abraçou a cintura de Peter com alegria. Um pouco surpreso, o rapaz correspondeu desajeitadamente, com uma risada leve.

━ Obrigada, Peter ━ ela agradeceu, e o puxou para baixo para continuar com um sussurro: ━ Se Valerie fosse a única a me ajudar, eu estaria perdida!

━ Estaria mesmo ━ ele concordou, ainda abaixado, e virou a cabeça levemente, para encontrar Valerie deixando o pote sobre a escrivaninha novamente. Ele sorriu ━ Mas ela tenta, né? Ela é boa em quase tudo. Se a Valerie soubesse química, seria insuportável!

━ É, você tá certo ━ Vidya riu.

━ Os dois já podem parar de fofoquinha, por favor ━ Valerie pediu, cruzando os braços. ━ É melhor você ir estudar o seu projeto, Vidya Margaret Bradshaw!

Peter franziu o cenho.

━ Todas vocês têm nome do meio?

━ É claro, nossos pais não podiam escolher só uma filha pra sofrer bullying! ━ retrucou Valerie, quase indignada, e Vidya concordou. ━ Todas tem o nome começando com a letra V, e o nome do meio de todas é homenagem a alguma poetisa. Adeline é o primeiro nome da Virgínia Woolf, e Margaret vem de Margaret Atwood.

━ Isso é demais! ━ disse ele, tentando prender a risada, e viu as duas revirando os olhos. ━ É sério! Eu achei incrível, Adeline.

Valerie forçou uma risada e colocou as mãos nos ombros de Peter, o empurrando para fora de seu quarto.

━ Muito engraçadinho, Parker! Mas já deu sua hora, né?! ━ perguntou, sem esperar resposta, e continuou o guiando pela casa. ━ Valeu pela ajuda, mas agora já tá na hora de você pegar o beco.

Peter estava andando de costas, o que nunca era uma ideia muito boa. Esse fato se tornou ainda mais claro quando ele tropeçou em um sapato jogado no chão e caiu no chão, levando Valerie, que ainda o empurrava, junto consigo. O barulho do baque foi alto. Valerie bateu a testa no queixo de Peter e os dois resmungaram de dor.

━ Isso vai me dar uma cicatriz igual a do Harry Potter… ━ ela murmurou, passando uma mão na testa enquanto rolava para o lado, na intenção de sair de cima do corpo do rapaz. Em seu bolso, o celular começou a vibrar, indicando uma ligação. ━ Oi, Vicky!

Liga a TV no canal de notícias ━ ela mandou, com a voz nervosa. ━ Rápido.

E simples assim, desligou.

Valerie levantou-se com pressa e correu até a sala, onde o pai já assistia ao noticiário, com o cenho franzido. Peter a seguiu confuso, mas quando viram o que a repórter mostrava, os dois tiveram a mesma reação: abriram os lábios levemente, uniram as sobrancelhas, e se encararam por um breve segundo.

━ Acho que é essa a obra de J.J…

Peter sacudiu a cabeça em concordância.

É o escorpião.



Sei que esse capítulo tá mais paradinho, mas eu adorei escrever ele <3 tivemos a introdução da Mary Jane (por um momento eu shippei ela e a Valerie) e uma participação maior dos Bradshaw (finalmente uma irmã tendo falas sem ser a Victoire!), além do Peter e a Valerie passando mais tempo juntos sem as máscaras e ficando boiolinhas um pelo outro aos pouquinhos, sem eles mesmos perceberem. Espero que tenham gostado também, e prometo mais emoção no próximo! Até lá!

No caso de eu não conseguir atualizar antes do dia 31, desejo a vocês um feliz ano novo!

Continue Reading

You'll Also Like

81K 3.6K 25
─ 🏟️ 𝐎𝐍𝐃𝐄 eu escrevo imagines de 𝑱𝑶𝑮𝑨𝑫𝑶𝑹𝑬𝑺 do Corinthians. ⓘ 𝗼𝗿𝗶𝗴𝗶𝗻𝗮𝗹 𝘄𝗼𝗿𝗸 𝗯𝘆: @claradowesley
884K 44.5K 69
"Anjos como você não podem ir para o inferno comigo." Toda confusão começa quando Alice Ferreira, filha do primeiro casamento de Abel Ferreira, vem m...
53.2K 5.8K 39
|+14 ﹫łuxniyl
1.3M 74.6K 88
Uma história sobre o amor, ou dor! Iníciciada: 28/08/22 Finalizada: 10/12/22