ROCK MÁFIA

By autoradassa

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(CONCLUÍDA) Quando uma maldição perdura, o ódio e a lamúria trilham de mãos dadas o caminho de séculos e sécu... More

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1. Quando a música começa.
2. Quando a música incomoda.
3. Quando a música é alta e o estranho chama.
4. Quando a música soa como cena.
5. Quando a música pede a companhia de um chapéu rosa.
6. Quando a música é tema do Príncipe encantado com um lado obscuro.
7. Quando a música é o início de uma nova era.
8. Quando a música é sobre borboletas pretas e Déjà Vu.
9. Quando a música é sobre arrepios a cem graus de temperatura.
10. Per secoli e secoli, amen.
11. Quando a música é sobre estrelas ao redor de cicatrizes.
12. Quando a música queima como a chama de um vermelho ardente.
13. Quando a música te leva em direção a uma noite de rock.
14. Quando a música reflete em problemas a lenda do escapismo.
15. È un'estate crudele con te.
16. Quando a música é tocada por séculos e séculos.
16+1: Quando a música toca a alma adormecida.
18. Quando a música é suave como uma manteiga.
19. A música diz: O que morreu não está morto.
20. Daniel Mancini Vitale.
21. A música tocada na ópera anuncia: Fantasmas sorriem.
22. Areia movediça de textura Dândi.
23. O lago e a profundidade de suas memórias.
24. Essa estrada tem via de mão dupla traiçoeira.
26. Vermelho Ardente.
27. Amor de existências.
28. Traga o vinho, eu levarei as recordações.
29. Consumação de Espécies PTI.
30. Consumação de Espécies PTII.
31. Zorak Bevon.
32. Paciência para contar estrelas.
33. Ruivinho danado.
34. Fuga para LA.
35. Segunda fase da rebeldia italiana.

25. E desde então, sou porque tu és.

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By autoradassa

#MorceguinhoCerejinha

Se eu te dissesse quem eu era, você viraria as costas para mim? E se eu parecesse perigoso, você ficaria com medo? Tenho a sensação apenas porque tudo o que eu toco não é obscuro o bastante.

A pouca luminosidade do quarto não impediu que eu despertasse com um feixe de luz direcionado diretamente ao meu rosto. Ergo a destra em câimbra, ao levá-la ao rosto para tapar a claridade, lamento-me por ter dormido em cima de meu braço. Caramba, não sinto absolutamente nada. Meu primeiro impulso, no entanto, é escapar da maldita claridade e, ao jogar meu corpo para o lado esquerdo da cama, identifico o corpo de Dândi, ele está de bruços, adormecido ao meu lado.

Franzo o cenho, um tanto quanto surpreso. Talvez eu tivesse acostumado a acordar e não tê-lo ao meu lado ou tê-lo me acordando, como é de costume. Formo um bico em meus lábios, pensativo, perdido em seu rosto afundado no colchão confortável. Meus olhos estão fixados na serenidade em seu rosto, especialmente porque ele parece estar em tanta paz, o que me deixa, de certa forma, feliz logo cedo.

Dândi tem um caos que ele chama de vida, eu gostaria que ele sossegasse um pouco em nome de seu conforto. Sei que é impossível.

Desço o olhar por seus fios pretos, caídos por sua testa, cobrindo parte de seus olhos fechados. Ele está sem camisa e enquanto, ligeiramente, eu estudo seu corpo coberto apenas pela calça moletom, não posso deixar de analisar suas costas, suas marcas e cicatrizes. É fascinante, um pouco assustador compreender o motivo pelo qual elas estão aí, muito louco conseguir lidar com isso, perturbador saber que estou cada vez mais convicto do que me foi dito e mostrado.

Quer dizer, parece maluco e totalmente fora de minha crença, todavia, não me parece – mais, algo criado por Dândi. Atthis e eu somos extremamente diferentes, temos a fisionomia parecida e ainda assim, até mesmo ela tem gostas de diferença, se apontado à cor de nossos cabelos. De qualquer maneira, as últimas conversas que tive a respeito desse assunto estão me ajudando a conciliar tudo o que eu, um dia, julguei ser inexistente.

Entender a respeito de si mesmo à base de crenças nunca me pareceu o caminho mais lógico, eu tenho em mente que isso é mais sobre você e seus passos aqui na Terra, nada além de você mesmo influencia seu destino. Por isso eu não estive tanto tempo enraizado em alguma religião, embora comparecesse a igreja sempre que necessário.

Oh, é uma grande questão. Não sei o que é mais agoniante, esperar para entender cada vez mais e mais essa história ou não saber que direção seguir, entretanto, nesse momento eu estou seguindo meu coração e racional, os dois apontam para uma só direção e essa direção está se remexendo na cama enquanto eu, sem antes ter notado, deslizo meus dedos por cada pequena cicatriz em suas costas.

Até mesmo me assusto ao perceber que estava tocando Dândi, mas não afasto minha mão, deixo que elas continuem a acariciar o homem que eu sinto tanta falta em chamar de meu. Estamos indo com calma, oh, bem, em exceção de ontem. Não fomos nada com calma, não me arrependo de nada, o beijei e isso foi tão bom. Nem mesmo em dias terríveis eu me arrependi do que vivi com Dân, quem dirá agora que estou tendo a oportunidade de lhe conhecer por completo.

De antemão, o mafioso abre os olhos, eu fico sem saber como reagir, então me jogo de volta para o meu lado, percebendo que o feixe de luz não está mais no quarto. Solto um suspiro, afastando de meu corpo o lençol.

— Tão cedo, chéri? — Dân indaga. — Porra, eu não acredito que apaguei.

— Deveria, não? Você estava cansado, engomadinho. Ontem foi agitado e esgotante, você precisava se recompor. — Viro meu corpo, ficando de bruços, apoio meus cotovelos na cama e olho para o cara ao meu lado. Ele está tentando despertar, que fofo. — Hm, buongiorno, Dândi.

O cumprimento enrola em minha língua, saindo de maneira não totalmente certa, mas compreensível aos ouvidos de quem entende do idioma, o que é o caso de Jeon, ele me olha e exibe um sorrisinho de orgulho. Deu certo, ainda bem, passei horas do dia anterior no Google tradutor, tentando aprender algumas palavras e frases.

Доброе утро, loirinho.

— Que diabo é isso? — Arregalo os olhos.

— "Bom dia" em russo, eu morei lá por alguns anos, anjo. — Explica, segundos depois Dândi se senta na cama e trata de me puxar para seu colo. Ah, meu pai. — Dormiu bem?

Assinto em concordância, deitando minha cabeça em seu peito, brinco com uma tatuagem em seu pescoço, contornando-a com meus dedos de ponta a ponta.

— Muito bem, apaguei rapidinho. Eu estava acabado. — Sorrio. — E você? Aliás, gostou de morar na Rússia? Você parece ter morado em tantos lugares.

Tal questão é como, para mim, cavoucar um pouco mais a vida de Dândi. Isso me ajudaria em muito a descobrir sobre os últimos acontecimentos e seus significados, afinal, não seria possível ficar em: "Na vida passada você teve tal vida". Eu preciso de mais, muito mais. Minha mente é curiosa, ela não para um instante algum.

— Não vi quando apaguei, mas dormi bem. — Refutou. Ele me prendia em seus braços, tratava-me como um bebê. — Yeah, por quase uma década. Tive treinamento da máfia em Oymyakon, depois fui para os Estados Unidos.

— Você entrou para a máfia muito cedo, não é? Só tem vinte anos, mas fala como se fosse há tanto, tanto tempo. — Procuro por seus olhos. — Ou isso tem a ver com Daniel?

Uma vez que questiono, torço para que ele responda, não é tão cedo para matar minhas dúvidas e alimentar mais delas, mas pode ser tarde para não entender tudo que minha mente implora para saber sobre nossa vida passada.

— Hm, um pouco. — Sua expressão me entrega que ele pensa bem nas palavras antes de proferi-las. — Bem, é como se minha existência passada nunca tivesse tido um fim, compreende? Como se os anos nunca tivessem sido interrompidos, tenho vivido desde os tempos de Daniel, talvez eu seja mais velho do que aparento, talvez seja só uma metáfora, talvez eu tenha ficado entediado da vida que levava após a monarquia ter acabado, então criei a Rock.

Ah, meu pai. Dândi me deixa ainda mais confuso.

Saio de seu colo e me sento em sua frente, puxo o lençol para mim e brinco ao enrolá-lo em meus dedos, digerindo o que fora dito pelo outro, buscando entender ao menos um tico do que me foi respondido.

— Por que não há fotos suas com seu pai e sua irmã, nem mesmo com Lisa há? — Indago, lembrando-me de minha conversa com Hoseok. — Eu pesquisei a respeito do que li nas cartas sobre os Mancini Vitale, não há nada sobre você.

— Eu fui banido de minha família após ter escolhido me aliar aos revel's. — Observo Jeon levantar da cama e enquanto ele o faz, eu pego meu celular que vibra incansavelmente na cama. — Não é tão difícil assim apagar alguém da história, foi o que Lalisa, eu e meu tio Olavo fizemos.

— Ele também foi expulso? — Indago, franzindo o cenho em choque. — Os rebeldes, no caso...

— O grupo que você liderou. — Informa. — Sim, Olavo e eu sempre fomos próximos, ele esteve ao meu lado e me apoiou em todas as minhas decisões, como Lalisa e eu, ele foi punido. Inclusive, ele é o pai dela. Espere um minuto, pegarei algo.

Assinto em consentimento, Dândi deixa o quarto.

Eu aproveito para desbloquear meu celular, há um áudio que Seokjin acabou de mandar. Entro no chat e aperto para escutar o que quer que seja que o palerma tenha mandado, trinta segundos, puts, é muito.

Não tenho paciência com áudios.

"Jimin, acorda, nós iremos para a casa do Namjoon, fora da cidade. Apronte-se e mande Dândi conferir o celular dele, Nam está tentando falar com ele, mas não consegue. Passe em sua casa e pegue uma muda de roupa, lá tem piscina, vamos nos acabar. Anda, é pra já".

Finalizo o áudio e respondo com um: "ok".

Caramba, esse povo não conhece o que é ter uma casa, Deus de mistério e poder.

Bloqueio a tela do celular e observo Dândi reaparecer com alguns papeis em mãos, ele senta na ponta da cama, eu engatinho até sua pessoa, abraçando-o por trás. Deito a cabeça em um de seus ombros e fecho meus olhos, respirando fundo. Eu me sinto feliz. É tão bom me sentir assim, ainda mais com Jeon.

— Jin me mandou mensagem, ele disse que Namjoon está tentando falar com você. Fomos chamados para ir até a casa dele, fora da cidade. — Informo, rompendo meus olhos, eles caem para o que Jeon tem em mãos. São fotografias. Semicerro meu olhar, tentando enxergar bem.

— Oh, ontem eu mencionei que comemoraríamos juntos, fico feliz que ele tenha convidado você e seus amigos. — Seu rosto está baixo, mas consigo compreender perfeitamente sua fala. — Eu... Eu mantenho essas fotos comigo, gostaria que você visse.

Para melhor enxergar, afasto-me do corpo alheio. Dândi se ajeita na cama e senta à minha frente, arrumando sobre o colchão cinco fotografias.

Meus lumes caem para as imagens antigas, contudo, impressionando-me, estão bem conservadas. Fixo a elas, observo a primeira imagem; trata-se de Olavo. Lembro perfeitamente de seu rosto, por todas as minhas idas ao cemitério e nossos encontros rápidos, é impossível de esquecer.

— É possível reencarnar com a mesma aparência? Olavo continua idêntico a quem era antigamente. — Observo, fitando Dân por muito pouco tempo, logo estou pegando a fotografia do homem para analisá-la perfeitamente. — Ele parecia ser um cavalheiro, bem, sempre que nos encontramos eu fui bem tratado. Ele tinha muita simpatia por mim.

— Ele gosta de você, me prometeu que cuidaria, embora distante, bem de você. — Jeon ergue outra foto para mim, deixo de lado a de Olavo e pego a que me é estendida. — Acredito que você já tenha visto foto dela, mas esta é Asteryn, minha irmã.

A garota de cabelos longos e pretos é uma genuína princesa. Seu vestido é longo, tão bonito e cheio. Esforço-me para enxergar através do desgaste da foto. Sorrio de lado, dedilhando com carinho a foto. É muito para mim, mas sinto meu coração tão quente com o que vejo. Olavo, Asteryn, cacete, quantos nomes bonitos, que família bonita.

— Ela me parece tão angelical, Dân. — Foco no olhar de Dândi. Há um sorrisinho em seus lábios, ele parece feliz.

— Asteryn foi uma boa rainha, não sinto nada além de orgulho de minha irmã.

— E onde ela está agora? Nesse momento? — Questiono, preso na conversa aberta que estamos tendo.

— Na Itália, no entanto, não faz ideia de minha existência. — Vejo-o retorcer o rosto numa careta, faço o mesmo. — Normal, você também não sabia.

— Hm... — Remexo-me na cama. — Você deveria procurar por ela, mesmo que não diga que foram irmãos na vida passada, você pode tentar uma amizade! — Sugiro.

A ideia de que Dândi seja afastado da família por questões do não reconhecimento de vidas passadas parte meu coração. Imagine saber tanto de sua vida passada, ter conhecimento de quem esteve nela, cada laço criado, mas ter de passar por cima disso tudo porque não há como chegar em cada um e expor a vida que tiveram antigamente?

Dândi é forte.

— Estou satisfeito em observá-la de longe. Costumo passar meu aniversário e datas comemorativas na Itália, aproveito para me certificar de como ela está. — Explica. Ele recolhe a foto da irmã antes de me entregar outra. — Esta é a minha mãe, Jeon Aerum.

Animado, agarro a foto, como a de Asteryn, esforço-me para ver com precisão a imagem ali marcada. Não há como não sorrir com a feição da mulher, ela é exatamente como Dândi. Há muito dela nele.

— Ela é tão bonita. — Abro um sorriso. — Vocês se parecem! Que coisa... — Resmungo, cerrando o olhar para melhor investigar. — Ah, estou abobalhado e encantado.

Jeon emite uma risadinha, provando que meus fatos são verídicos.

— Cá entre nós, nenhum Jeon ou Vitale é isento de beleza e formosura. — Afirma.

Ah, convencido.

— E nem de convencimento. — Rolo meus lumes. — Ela também está na Itália?

— Sim, em companhia de minha irmã e meu avô. Nessa vida, filha e ele esposo dela. — Arregalo os olhos, no entanto, fico confuso. É muita informação. — Este é Juan Carlos, meu avô, antigo rei da Itália. — Uma vez que me entrega a foto, Jeon continua: — O amei muito durante minha infância, adolescência e juventude. Permaneço amando hoje, e seguirá assim por séculos. Ele foi meu verdadeiro pai, o único.

Abaixo meu olhar para a fotografia amarela, vislumbro o homem mais velho, ele é bonito, tanto quanto Dândi e seus outros familiares. É louco pensar que estou vivenciando algo tão importante para Jeon, mas tão... Distante de minha realidade.

— Ele parece ter sido um bom homem e rei.

— E foi, não há dúvidas. — Refuta.

— Imagino que, como sua mãe e irmã, você não tenha contato com ele, estou certo? — Arqueio a sobrancelha, observando mais da foto.

— Exato. Permaneço olhando-os de longe. — Explica.

— E por que mantém contato com Olavo? Não deveria ser como os outros? — Questiono, curioso. Muita coisa me enche de dúvidas.

— Temos a mesma crença, a mesma ligação. Soubemos conciliar, ele me compreende, eu o compreendo. — Ao que ele conta, me pego digerindo.

É louco, mas estou começando há compreender quando dias atrás tive reflexos comigo mesmo.

— Sua família é bonita, todos tão elegantes e amorosos. Você teve uma baita sorte. — Comento. Agora ele me estende a última foto, pego-a e observo que os anteriores estão reunidos em um campo verde, há três adolescentes, franzo o cenho, acionando meu modo investigador. — As crianças, quem são?

— Asteryn, Lalisa e eu. — Informa, sorrindo travesso.

Arregalo os olhos, aproximando a fotografia de meu rosto para melhor enxergar. O trio está bem posicionado na frente dos adultos, Dândi me pareceu travesso demais, soou como um moleque encrenqueiro. Fofo demais. Lisa era pequenina, estava de vestido e cara feia para Asteryn.

Oh, quanta fofura.

— Você... Dân, você era um engomadinho desde outras vidas! — Exclamo, dando um peteleco no braço dele. — Olhe só para isso, essa pose de quem estava prestes a dar uma rasteira na pobre da irmã...

Semicerro o olhar, rindo com a cena que criei em minha cabeça após encarar tanto a imagem. A família de Dândi é inteiramente bonita, caramba, que coisa mais preciosa.

— Hm, essas fedelhas tinham o costume de foder com a minha paciência. — Defende-se. — Eu costumava tacar o terror no reino, oh, bons tempos.

Abaixo a fotografia, erguendo meus lumes em direção ao rapaz à minha frente. Ele é adorável.

— Como você sabe disso tudo? Como se lembra de quem foi, o que fez, como agia? Como lembra que os amou tanto? Que gostou tanto de mim?

— Sentimentos não são esquecidos, Jimin. Sensações de conforto, de amor, afeto e qualquer porra que seja. Nada se é esquecido, no máximo, arquivado. — Ouço atentamente o que é dito por Jeon, é importante para mim. Ainda preciso aprender tanto, sei tão pouco.

— Estou feliz que você não abriu mão de seu amor. — Murmuro, afastando as fotos para o colchão, encarando o mafioso. — Tem me ensinado o que significa lutar pelo que acredita, aprender isso está sendo assustadoramente incrível. Estou saindo da minha zona de conforto, desvendando outras zonas, achei que fosse regredir por puro medo, mas está sendo confortável. Nem sempre a sua zona é a mais viável para estar.

Dândi sorri para mim e, como de praxe, aperta a ponta de meu nariz. Quero lhe bater, mas ele é ágil quanto a vir para cima de mim, deitando-me na cama, consequentemente, deitando em cima de mim. Ao que junta nossas testas, Jeon fecha os olhos. Nada é dito, entretanto, ficar assim é tão bom que não dou a mínima em nossa quietude ou se ele está prestes a me matar esmagado. Deus, eu acabei de descobrir que tive outra vida, não me deixe partir tão cedo.

— Seus pensamentos, eles... Porra, eu não consigo levá-los a sério. — O mafioso tem o cenho suspenso quando afasta nossos rostos e prende o inferior entre os dentes, sugando-o.

Agora sou eu a franzir as sobrancelhas, afastando-me do italiano. Posso estar com a cara mais pateta do mundo, é de um ódio não entender o que esse sem vergonha fala. Desde a descoberta da vida passada eu não faço ideia do que é real e do que é brincadeira quando parte de Dândi.

— Você vai me explicar esse papo? Como sabe o que eu estava pensando, hm? — Indago, mas Jeon rola pela cama, levantando e saindo pelo outro lado. — Dândi!

Longe de meu alcance, assisto o engomadinho caminhar pelo quarto, ele pega por uma muda de roupa antes de voltar à cama, deixar a vestimenta e me estender os braços. Seu ato é aceito de imediato, logo engatinho de encontro ao seu corpo e sou recebido, ele me pega no colo.

— Eu te disse uma vez, posso ler pensamentos. — Informa.

Quero rolar meus olhos e levar na brincadeira, mas fico atento enquanto sou carregado para o banheiro.

— Eu deveria me preocupar?

— Hm, não, não. — Ele deixa um tapinha em minha bunda. — Vamos nos aprontar, temos que passar em sua casa. Hoje o dia será longo.

Não refuto, aproveito para cuidar de minha higiene e me acabo na pasta de dente de cor vermelha do mafioso, passo um bom tempo encarando meu reflexo no espelho, curtindo a espuma vermelha. Ao fundo, Dândi me observa como se em minha mente faltasse algumas pilhas.

🍷

Eu posso dizer que será uma longa viagem pela forma como o chefe da máfia aperta minha mão no banco do passageiro. O carro segue o trajeto até a minha casa, a velocidade é neutra, deixa-me relaxado.

Constantemente eu olho para fora da janela, contemplando áreas por onde passamos enquanto uma melodia calma de piano é tocada no rádio do automóvel. Vim checando as últimas mensagens de Jin, ele já estava na casa de Namjoon. Estavam mais juntos do que nunca, aproveitando o máximo da excitação da paixão. É legal vê-lo assim, tão animado e entregue. Jin passou muito tempo fugindo do amor e qualquer sentimento que pudesse ser ligado a ele, é engraçado de pensar que dessa vez ele escolheu bater de frente com o que mais temia.

A foto postada no feed exibia Vante e Hoseok gastando com a cara de Rosie, abri um sorriso, desviando o olhar para a estrada pela qual seguíamos. Gostaria de estar logo com eles, mas eu precisava passar em casa para dar notícias a minha mãe.

Afinal, eu estava fora desde ontem, quando compareci a corrida do homem ao meu lado. Tão sério, o meu vencedor dirige. Ele não solta a minha mão, nem ao menos tentei desfazer nosso toque, Jeon parecia me querer duramente grudado a ti, quem sou eu para ir contra o que mais quero?

Acredito que isso tenha me levando ao momento em que estou hoje, parcialmente de volta a braços dos quais tive tanto temor em não ter mais.

Os de Dândi.

Droga, como eu tive receio de perdê-lo por definitivo. Não me lembro de já ter sentido algo tão forte assim, é literalmente a sensação de ter algo escapando por entre seus dedos e não há nada que você possa fazer para impedir.

A não ser que isso volte para você. E, para ser sincero, não foi preciso, porque Dândi nunca foi embora.

Estou convicto disso.

Deixou-me imensamente feliz em poder estar na Rock, assistindo e torcendo por sua vitória. Somente Deus e a cidade inteira – ou talvez a plateia que suportou os meus gritos, sabem o quanto eu torci bravamente por meu homem metido naquele maldito carro de corrida. Eu tinha a genuína certeza de que Dândi venceria, mas foi eletrizante observá-lo disputar como um louco naquela pista de corrida, eu senti meus batimentos cardíacos invalidarem o meu corpo, loucos para sair de dentro de mim e explodir como fogos de artifício.

Quando pulei em seu colo e comemorei sua vitória, a primeira merda que pensei foi: "Você está inteiro e venceu essa porra". Não consigo pensar sobre meu ânimo por ontem sem expor um sorriso em meus lábios, fitando a tela do celular como se houvesse algo ali que fosse o motivo da minha cara de bobinho. Deslizo meu polegar pela mão de Jeon, acariciando-a conforme relembro os momentos do dia anterior.

Não queria parecer um desesperado, mas eu sentia uma falta absurda dele, de seu corpo e do quão bom ele me faz sentir. Tudo o que vem de Dândi é bom para mim, esse é um tópico sensível, sou um completo mole.

— Quem está fazendo você sorrir desse jeito, danado? — Inquere.

Somente assim eu paro de encarar o telefone, desperto de meus devaneios e desvio o olhar para o cara ao meu lado, de primeira, meus olhos focam no terço em seu pescoço. Suspiro.

— Você. Estou pensando sobre você ter vencido ontem, fiquei tão avoado e com medo de que algo pudesse dar errado. — Comento, balançando a mão tatuada do italiano. Ele dirige com uma e faz isso muito bem. — Você foi insano.

— Já fui melhor. — Reparo em seu olhar cruzando com o meu. — Não quis assustar você, talvez não fosse o momento correto para que você me visse atirar um carro do precipício.

— Dândi...

È uno scherzo. — Dá-me um sorriso ladino. Finjo entender. — Você me verá correr outras vezes, outras melhores do que essa.

— Não gostou? — Intercalo o olhar entre a rua e Dân, estamos próximos à minha casa.

Yeah, mas penso que poderia ter feito melhor. Minha cabeça não estava focada, não como deveria estar. — Explica. — Esqueça isso, deu certo, eu venci esse caralho, é a única merda que importa.

Sacudo os ombros, rendendo-me ao seu excesso de educação por meio de palavrões. Ele me entrega um sorriso e eu lhe devolvo outro, ainda mais divertido e apaixonado. No entanto, desvio o olhar, suspirando fundo. Oh, Deus, como é difícil ser tão apaixonado. Não estou preparado para assumir tantos sentimentos assim.

— Minha mãe está em casa, entre comigo, ela gostará de te ver. — Deixo o aviso, livrando-me do cinto de segurança assim que Jeon estaciona o carro.

Ele destrava as portas, eu abro a minha e saio, fechando com cuidado.

— Claro, é sempre uma honra fazer sala para a sogrinha. — Ele puxa a barra de sua camiseta tão bem alinhada em seu corpo.

Controlo um sorriso através de uma mordida em meus lábios, estendo a mão para Dândi, ele a agarra e entrelaça junto a sua. Momentos depois nós estamos caminhando em direção à entrada da casa.

Abro a porta com cuidado, tanto para não fazer barulho quanto para Ametista não fugir. Entro e deixo que JK a feche, enquanto isso eu me apresso em me livrar do casaco em meu corpo, vou caminhando pela casa e olhando pelos cômodos.

— Jimin? É você? — A voz no topo da escada pertence a mais velha.

Esgueiro-me pelo canto e a olho, acenando levemente.

— Bom dia, mãe. Dormi na casa de Jin, mas vim aqui para pegar uma muda de roupa, passaremos o dia na casa de outro amigo nosso. — Informo.

— Qual amigo?

Vejo-a descer os degraus, instantaneamente eu agarro a camiseta de Dândi e o puxo para o meu lado, até então ele estava escondidinho. O mafioso se caga de medo de minha mãe.

— Do Dândi. — Jogo tudo em suas costas.

O homem abre um sorriso, estendendo a mão para um cumprimento com minha mãe, ela o recepciona animadamente, gosta tanto de Dândi que eu posso apostar ter saído do topo de sua lista.

— Bom dia, Srta. Park. — O beijo não pode faltar. — Passaremos o dia na casa de um amigo meu, mas gostaria, primeiramente, de sua autorização.

— Jin, Taehyung e Hoseok estarão lá, inclusive. — Deixo no ar.

— Oh, por mim tudo bem! Jimin andou esquecendo-se de quem tem casa, mas gosto que ele não fique somente trancado no quarto e, honestamente, é o que ele mais faz. — Escondo uma careta de desgosto, o típico momento em que sua mãe está encorajada a queimar seu filme. — Confio plenamente em Jin, é um bom garoto.

Semicerro meus olhos, surpreso com sua coragem em afirmar isso tão orgulhosamente. Conheço intimamente o amigo que eu tenho, um adulto com o mínimo possível de consciência jamais depositaria em Seokjin uma confiança absurda.

— Hm, eu vou pegar minha roupa. — Aponto em direção à escada, desejando cair fora da conversa que, se permitir, minha mãe iniciará de minha vida. — Recomendo que venha comigo, não sei bem o que levar. — Digo ao mafioso.

— Você quer beber algo, Jeon? Aliás, vocês comeram? Tomaram café-da-manhã? — Mamãe inquere, nos seguindo.

Sorrio com sua tentativa em ficar próxima a nós até conseguir arrancar alguma informação sobre nossa relação. Como conheço intimamente Jin, conheço ainda mais a minha mãe. Não há mulher mais ansiosa que ela para poder chamar Dândi de genro.

— Eu estou bem, mas agradeço sua preocupação. — O engomadinho é o primeiro a negar, subindo os degraus atrás de mim. — Jimin não quis comer.

Ajeito os fios rebeldes de meus cabelos, virando o corredor de meu quarto. Assim que nos arrumamos para sair, Dândi me ofereceu comida, mas neguei. Vez ou outra eu fico isento de fome durante o período matino, no entanto, me acabaria com o que tivesse na casa de Namjoon.

— Comi muita besteira ontem, estou cheio até agora. — Digo. — Mas comerei algo durante o dia.

Entro em meu quarto na companhia de minha mãe e do italiano, pego por uma mochila e uma peça de roupa, jogo-a no compartimento e penso sobre o que mais seria necessário levar.

— Leve sua bandana, você não sai sem ela. — Mamãe me entrega uma.

— Namjoon liberou a piscina, se você preferir levar uma roupa de banho... — Dândi murmura, ele está no canto do quarto, mexendo no celular.

— O tempo está fechado. — Replico, olhando pela janela.

— Há um aquecedor na piscina, mas é você quem sabe, loirinho. — Dá de ombros.

Por fim, decido levar, guardo tudo e troco – no banheiro, de roupa, já que ainda usava a anterior. Quando saio, tenho a visão de minha mãe mostrando a Dândi um álbum de fotografias. Prendo a respiração. Esta é a coisa mais vergonhosa que poderia me ocorrer nesta família.

Em murmúrios eu queixo-me e caminho em passos pesados até a cama, onde os dois estão sentados olhando as fotos. Alcanço meu cabelo, bagunçando-o e paro ao lado de Jeon, ele abraça minha cintura enquanto abre um sorriso pelo que vê no álbum. Este pequeno gesto é tudo o que minha mãe precisa para confirmar, em sua cabeça, que temos uma relação séria.

Oh, Deus.

— Veja, ele costumava ser ainda mais loiro quando pequeno. Um anjinho. — Rio pelo nariz com a feição amorosa que mamãe faz.

— Eu tinha cinco anos, mas costumava pegar giz de cera e riscar a parede branca do lado de fora da casa. Mamãe enlouquecia. — Comento, levando minha destra a tocar os cabelos sedosos de Dândi.

— Seu pai nunca o impedia de aprontar, eu perdia a cabeça com ele e com você. — A mulher replica.

— Jimin tinha uma leve cara de danado. — Jeon murmura, desviando o olhar para mim. — Não mudou muito do antes para o agora, mas presumo que tenha se tornado ainda mais travesso.

Jesus de ré para Salomé.

O que é que ele quis dizer com isso?

Deixo que a questão perdure em minha mente. Afasto-me do engomadinho e busco por minha mochila, Dândi se prontifica em pegá-la ao mesmo tempo em que se levanta, insinuando que deveríamos ir.

— Ele continua um bebê para mim. — Mamãe fecha o álbum e o deixa em cima da escrivaninha. — Já estão indo? Está tudo certo? Realmente não querem comer?

Ao que ela questiona, eu saio do quarto para apressar nossa passagem ou meus amigos surtariam com a nossa demora. Jeon segue atrás de mim, animado em conversar aleatoriedades com a minha mãe. É impressionante a disposição que o rapaz tem, não sei se em seu lugar eu conseguiria. Sou tímido demais para socializar tão bem.

— Seokjin deve estar à frente do fogão, mãe. Não se preocupe, ficaremos bem. — Desço as escadas. — A senhora vai trabalhar hoje?

— Sim. — Responde, seguindo-me pelo corredor. — Fora da cidade, inclusive, já tenho que sair.

Viro meu corpo, alcançando a porta, giro a maçaneta e a abro, mas paro para olhar a mulher à minha frente.

Suas faxinas estavam cada vez mais frequentes, que louco.

— Oh, bem longe. — Penso e falo. — Me deixe informado de como está, se chegou bem... Enfim, cuide-se, mãe. Eu amo você.

— Eu também amo você.

Ela se despede de mim com um abraço extremamente forte, cheio de conforto e amor. Encolho em seus braços e aproveito de seu carinho, mas solto-a quando Dândi é o próximo a receber todo seu afeto. É absurdamente fofo, não consigo conter um sorriso ao notar quão bem eles poderiam se dar. Esse é o principal motivo que eu sei que Dândi é o certo para mim; minha mãe o aprova cem por cento. Intuição de mãe nunca falha.

— Ligue se precisar de algo. — Dândi diz ao se afastar do abraço.

— Ligarei. Divirtam-se.

Após seu aceno, Jeon e eu saímos de casa. O som de seu carro destravando é o que me leva a abrir a porta e entrar, afundo-me no banco e olho pela janela, acenando em despedida à mulher que permanece na porta.

— Estou me sentindo estranho. — Confesso a Jeon.

— Hm? O que houve, meu bem? — Observo-o seguir com o costume do carro antes que sigamos a estrada. — Está se sentindo mal?

— Não fisicamente. — Resmungo, pensativo. — Deixe para lá! Minha cabeça anda meio avoada, absolutamente tudo me deixa zonzo.

— Qualquer coisa que você sentir, conte a mim, certo? Me preocupo com você. — Dân desvia o olhar da rua para mim.

— Sim, senhor. — Balanço incontáveis vezes a cabeça, tentando afastar a sensação ruim que eu sentia. — Jin deve estar ansioso para nos ver. Essa comemoração é tipo uma oficialização de que há algo sério entre ele e Namjoon.

Por alguns segundos, observo Dândi ligar o som do rádio, baixo, uma música toca.

— Namjoon gosta de seu amigo, é genuíno e, como pude perceber, mútuo. Acredito fielmente que ambos estão dispostos a tentar uma relação firme.

— Oh, pode apostar que sim. — Entrego-lhe um sorriso ao pensar nos dois como um casal. Logo uma dúvida paira em minha mente: — Nós tínhamos um relacionamento em nossa vida passada? Você sabe algo sobre isso?

Tirar a longitude da casa de Namjoon em perguntas que me ajudariam a compreender minha vida passada seria um bom desperdício de tempo, eu faria um excelente uso.

— Nós éramos namorados.

— Hm... — Controlo um sorriso, mas Dândi o investiga em meus lábios, não demora até que eu abra-os. — Estou tentando imaginar.

— Foi difícil conquistar você, loirinho, eu fiz uma puta comemoração quando você aceitou e confessou, mais para si mesmo, que gostava de mim. — Conta, e continua: — Por séculos e séculos você prometeu que seriamos um do outro.

— Farei isso durar. — Afirmo.

— Não tenho dúvidas. — Agora é ele a me lançar um sorriso. — Estou feliz que estejamos passando por novas descobertas juntos, você conhecendo a mim e eu a você. Pode não parecer, mas estou sempre descobrindo algo novo em você, chéri. E, porra, cada coisa me encanta.

Sorrio ao abaixar minha cabeça para disfarçar as bochechas rosadas em brincadeiras bobas com os anéis em meus dígitos. Dândi me deixa mole demais, caramba, Jesus.

— Eu estou adorando conhecer você, Daniel. Você e toda a bagagem em suas costas, por incrível que pareça, nela está abarrotada de memórias graciosas. Por favor, permita que eu tenha conhecimento de tudo que você carrega.

— Está permitido. — Ele pisa fundo no acelerador, focando as vistas selvagens na estrada. — Você é livre para me conhecer por completo, Jimin. Nunca estive tão ansioso por algo.

Aceno em resposta, encostando minha cabeça no vidro da janela e fechando meus olhos, suspirando baixinho, tão longo que eu poderia usá-lo como controle.

— Eu também nunca estive.

🍷

Estava tocando Beat It de Michael Jackson quando eu pisei meu pé direito no hall de entrada da mansão de cor pastel e enorme de Kim Namjoon.

Dândi vinha atrás, conferindo se deixou o carro estacionado lá fora com segurança. Eu esperava como uma criança na porta, encarando abobalhado cada pontinho que era me permitido vislumbrar.

— Namjoon tem um gosto impecável. — Trato de elogiar quando olho para as árvores e o jardim de entrada, é tão bonito e imenso. Trás paz.

— E um bom arquiteto. — Jeon arrasta as solas do coturno no tapete de entrada.

— Ó... — Ergo o indicador, apontando para a porta. — Aposto que Vante está cuidando do som.

— Isso explica a aleatoriedade de Michael para um funk. — Murmura, finalizando o processo de limpeza de seu sapato. Ele empurra a porta que estava encostada, então espera que eu adentre até que faça o mesmo. — O melodramático possui gostos peculiares.

— Você não imagina o quanto. — Sorrio em subliminar, no entanto, Dândi faz uma careta, compreendendo o que lhe fora dito.

Ehi, aí estão vocês! — Perrie surge de repentino, há uma garrafa de bebida em suas mãos. — Jimin, como está, querido?

Amorosa, com facilidade em me deixar confortável, Edwards vem ao meu encontro e me abraça, retribuo com satisfação. A britânica é tão diferente de seu namorado que posso ficar louco se ousar comparar.

— Eu vou bem. Animado por estar aqui, aliás. — Entrego de bandeja o meu nervosismo por estar outra vez rodeado de mafiosos. — Começou cedo, não?

Ao que indico a garrafa, Perrie abre um sorriso esplendido. Ela se aproxima de Dândi e ambos trocam um high-five antes que rodeie o braço pelo meu, puxando-me para sabe-lá-Deus-onde.

— Nós temos muito que comemorar. — Refuta. — Dândi venceu a corrida, nós comemoramos ontem e levamos adiante hoje. Espero que goste de estar no meio.

— Você deveria aconselhá-lo a correr, Edwards. — Ouço a voz do engomadinho, ele se prostra ao meu lado, caminhando junto a mim. — Vocês são insanos e eu não quero que Jimin se assuste.

— Ele teve a chance de correr quando descobriu a existência de sua ligação com a Rock, chefia, se não fugiu quando teve chance, quem dirá agora? Estou certa, Jimin?

Os olhos de oceano da mulher me encaram conforme nós adentramos a cômodos específicos, o caminho é longo pela casa de cor clara, mas ao fundo escuto a música ainda mais alta e a claridade também. Estamos indo para a área livre da mansão.

— Eu acredito que sim... — Digo, alternando o olhar entre Jeon e o trajeto pelo qual sigo.

— Está vendo, Vitale? Relaxe um pouco. — Ela está um pouco alterada, presumo que seja pelo álcool. — Ei, olhem só quem eu encontrei perdidos na entrada!

Seu anúncio é escutado por todos que estão na área de diversão. Jin, que estava alugando a churrasqueira, acena em minha direção, livrando-se das luvas nas mãos para correr até mim. Ele me agarra para um abraço aperto, por cima de seu ombro vejo Taehyung, Hoseok e Rosie se aproximarem.

— Demoraram, puta que pariu. — Resmungou, soltando-me.

— Tivemos que passar em minha casa. — Defendo-me, cumprimentando o restante de meus amigos. — Namjoon não mora, ele se esconde. E, cara, quantas propriedades esses malucos possuem?

Indago quando Dândi e Perrie não estão mais ao meu lado, eles circulam com seu grupinho, Jeon está conversando com Yoongi enquanto eu me uno para trocar informações com meus amigos.

— Acredite, muitas. — Tae alcança meu ombro, apalpando-o. — O meu aniversário está chegando. Eu espero que eles saibam que eu gosto muito deles, todo o meu afeto é sincero...

— Taehyung, seu aniversário é daqui a uns quatro meses. — Rosie entrega a bajulação alheia do Avatar.

— No máximo, de presente, eles lhe darão um soco. — Hoseok murmura. — Venha e me dê isso aqui.

Jung recolhe minha mochila preta, sumindo com ela. Jin agarra a minha mão e me leva em direção onde os membros da Rock estão. Namjoon é o primeiro a me recepcionar, estendendo a mão para um cumprimento simpático.

— Gostou da casa, Jimin? Dândi disse que sim.

— Oh, demais. É muito bonita, fiquei apaixonado. — Coço minha nuca ao comentar.

— Depois peça que Jin o leve para conhecê-la por completo, você vai gostar.

Ele me estende uma latinha de cerveja, eu a pego e abro, tomando um gole. Quando giro meus pés, tentado a ficar perto de Dândi ou de meus amigos, bato de frente com Oliver e o espeto de ferro que ele segura. Algo me diz que essa droga está fervendo e por pouco não encosta em mim.

— E aí, franguinho?! — Em seu típico humor sem humor, Attwood me cumprimenta.

— Olá, Oliver. — Sorrio simplista.

— Como vai? Curtiu a corrida de ontem? Como foi ver seu homem vencendo?

Embora ele se afaste para, junto a Jin, manusear a churrasqueira, eu o sigo em passos cautelosos, indeciso se é o certo ou não. Acredito que seja, afinal, puxou conversa comigo. No entanto, nunca sei quando serei ameaçado de morte. Tenho um pé na frente e cinquenta e cinco atrás com Oliver.

— Incrível. — Tomo um rápido gole da bebida, observando os atos do tatuado à minha frente. — Foi a minha primeira vez assistindo e eu gostei muito. Fiquei orgulhoso da vitória de Dândi, acho que todos perceberam.

Ele emite uma risadinha sarcástica antes de me refutar: — Oh, claro, você agarrou nele como um louco.

— Eu sou o prêmio de Dândi, você sabe. — Ergo a latinha em convencimento.

— Ele é sempre assim... Tão... Chato para uma porra? — Attwood questiona a Jin.

Não fico para escutar a resposta, mas imaginava que Seokjin fosse me defender. Trilho meus passos em direção a Jeon, ele continua a conversar com Yoongi, movo-me de fininho para não atrapalhar o papo, então bisbilhoto Taehyung e Rosé cortarem algumas carnes, um pouco distante de mim.

É bom vê-los juntos, estão se entendendo como deveriam.

— Não me canso de ir ao banheiro da suíte, é aconchegante e chiquérrimo. — Ouço Hoseok, ele retorna e ocupa o lugar numa poltrona ao lado de Yoongi. — Depois dê uma olhada, Ji.

— Farei. Namjoon me deu passe livre. — Digo, sentindo-me ser abraçado por Dândi.

Ele descansa o queixo em meu ombro quando toma meu corpo por trás, permaneço quieto, aproveitando seu carinho enquanto observo Yoongi e Hoseok conversarem. Mesmo que o Min seja recluso, é interessante acompanhá-lo por vista no embalo de empolgação no qual Hoseok o mete.

Eles também estão se entendendo, assim como deveriam.

— Está gostando daqui, loirinho? — O italiano indaga, rente ao meu ouvido.

— Sim. Aqui é muito bonito e está sendo confortável. — Afasto-me de seu corpo só para me colocar frente a frente com ele. — E você?

— Está tranquilo, eu gosto de estar com eles.

Vejo sua relação com seu grupo e acho muito significativa, eles se dão bem. Saber que isso parte de outra vida é especialmente fascinante, me deixa a um passo de puxá-los para sentar no canto somente para escutá-los falar sobre cada momento. É louco.

— Eles gostam muito de você. — Não preciso de muito para assumir, isso está claro.

— É mútuo. — Dân deixa um beijo no topo de minha cabeça. — Logo mais terei de ir com eles resolver alguns assuntos na máfia. Jogo rápido. Você ficará aqui com seus amigos, eu não demorarei. — Informa, assinto em entendimento. —Venha, eu lhe mostrarei a casa.

A mão da your throat here é estendida para mim, eu não penso duas vezes antes de agarrá-la. Animado, distribuo sorrisos para o mafioso, ele me encaminha pela área, passo pelo casal de amigos e aceno em cumprimento. Aproveito de nosso passeio pela área para poder vistoriar mais da decoração e do que há no espaço. Namjoon gosta muito da natureza, o jardim é imenso e está repleto de árvores, plantas, e são todas tão bonitas. É como se fosse um pequeno sítio. Não sei quanto aos outros meninos, mas esta casa é, atualmente, a que mais me chamou a atenção.

Dândi que me perdoe. Sua cobertura de milionário é divina, mas a natureza... Ah.

Este, inclusive, desvia o olhar para mim quando adentramos a casa. O tatuado me encara com o cenho franzido, eu retribuo em confusão.

— Hm?

— Você é engraçado. — Replica.

— Eu? Por qual motivo?

— Nada, aparentemente. Fiz uma observação.

Então ele desvia o olhar, eu suspiro, levando a latinha até meus lábios para tomar da cerveja. Avisto a escada branca e cumprida, Dândi sobe os degraus e me impulsiona a ir junto.

— Vocês dois possuem gostos distintos. — Percebo conforme subo os degraus e reparo na cor creme da parede. — Olhe só para isso, é tudo tão calmo. Você é explosivo, beira ao caos.

Finalizo o percurso, interrompendo meus passos no topo da escada. Dândi para em minha frente, expondo o sorriso ladino que eu tanto amo. Ele toca meu queixo com sua destra, segurando-o rente ao seu rosto para que tenhamos o olhar um no outro.

Deus...

— Eu devo tomar isso como um elogio, Park?

— Sempre. — Dou-lhe uma piscadela travessa.

Ele inclina o corpo para o meu e beija os meus lábios suavemente, de maneira que eu possa suspirar em deleite. É sempre muito bom ser tocado por Dândi, sentir que suas mãos são o encaixe perfeito para mim, por isso não tento nos afastar, faço mais e beijo-o gentilmente, como ele fizera comigo.

Sorrio sem humor, deslizando meus dedos pela pele descoberta de seus braços tatuados.

— Este é o corredor que ligará os quartos de hospedes e a suíte de Namjoon, mas há um corredor do outro lado, ele é caminho para cômodos alheios, como uma sala de jogos, por exemplo. — Indica, eu olho. A escada se divide em dois blocos de cada lado do andar superior.

— Hm... — Aceno em concordância. Jeon entrelaça nossas mãos e segue firmemente pelo corredor de acesso aos quartos. — Você é um péssimo guia turístico, só está me levando para o quarto. — Exponho.

O mafioso ao meu lado me olha divertido, piscando o olho. Nem disfarça, esse atrevido.

— É o melhor lugar para estar.

Enquanto seguimos o percurso eu reparo nas portas brancas dos quartos pelos quais passamos, são muitos. Ele poderia abrigar uma galeria, porque esse lugar é um local perfeito para obras-de-arte. Já não basta a casa em si.

Todavia, eu conheço profundamente a suíte de Namjoon quando Dândi me guia para a mesma, abre a porta e deixa que eu entre primeiro. Não tenho muito tempo para analisar a decoração e desvendar cada pequena coisa, o chefe da máfia me puxa pela cintura e me leva até a grande cama, deitando-me nela e se colocando por cima de mim apenas para me abarrotar de beijos e mais beijos por todo o rosto, sem um local específico.

— Você me esmaga com tanta vontade, por Deus! — Resmungo, deixando alguns tapas no braço do mafioso. Não controlo a risada que foge de minha boca conforme tiro proveito de todo o carinho que me é oferecido. É bom demais.

— É meu desejo de fazer você sorrir, sem pausa, somente sorrir. — Declara, cessando os beijos para segurar cada lado de meu rosto. Dândi toma meus lábios e deposita um selar duradouro. Suspiro baixinho. — Você demorou, em outra vida, tempo demais para me beijar, nessa você terá de colar seus lábios com os meus em todo o maldito segundo de sua existência.

Ao que ele declara, eu ergo meus braços em rendição, aceitando de bom grado minha sentença. Jamais me colocaria em oposição a ela.

— Eu tinha meus planos futuristas, senhor Vitale, resistir a um homem como você me parece ter sido o meu objetivo principal. — Murmuro.

— E fracassou terrivelmente nele. — Deitando seus lábios em meu ouvido, Dândi sussurrou. — Fracassou tanto, chéri, porque você se rendeu ao meu amor sem que eu tivesse que me esforçar para isso.

Eu não o refuto, me sinto baqueado demais para fazê-lo. Pelo contrário, faço é garantir que Dândi me baqueie ainda mais, permitindo que ele volte a me encher com seus beijos sentenciosos e seu campo magnético, muito forte para que eu, um pobre mortal, consiga sustentar.

🍷

Eu gostaria que Dândi estivesse aqui.

De alguma forma, após sua saída na companhia de seus amigos, eu me senti ainda mais angustiado. Não entendia a razão. Estava junto aos meus amigos, pessoas com quem eu me sinto imensamente bem e confortável, contudo, algo em mim estava inquieto, e este algo não permitiu nem mesmo que eu tomasse uma gota de álcool.

Eu parecia um jovem perdido numa festa agitada de pessoas descoladas.

— Coma algo, pelo menos. — Seokjin surge ao meu lado. Seu rosto está contorcido, expondo certa preocupação comigo.

— Não sinto fome, Jin. — Aparentemente, nada surtia efeito em mim. — Mas obrigado.

Meus pés afundavam na água morna da piscina, local que eu escolhi ficar para pensar sobre os motivos que poderiam me fazer estar tão incompatível ao mundo real. Entretanto, não havia, quer dizer, eu podia acreditar que não.

— Você está passando mal? — Rosie questiona, aproximando-se de mim. — Parece tão bem.

— Eu estou bem, é só um... — Apoio minhas mãos no chão, usando-o como suporte. O céu é a primeira coisa que eu vejo quando meus olhos fitam quando tombo minha cabeça para trás, está escuro e logo mais a noite chegará. Desvio o olhar da imensidão sombria quando meu celular vibra no bolso de meu short. — Aperto. — Concluo, pegando o aparelho. Encaro o écran, notando o número de minha mãe surgir na tela. Rapidamente eu atento, levando o telefone ao meu ouvido. — Mãe?

— Jimin... — Ela sussurra. Sua voz está trêmula, meu coração acelera.

— Mãe? O que houve? Está tudo bem?

Uma vez que pergunto, retiro meus pés da piscina e levanto, saindo de perto de meus amigos. Juntos, eles permanecem observando-me seguir pela área.

— Filho, me mandaram para limpar um galpão, mas há algo lá fora, está fazendo barulho e... Minha colega de trabalho está morta. — Arregalo os olhos, sentindo minha respiração falhar. — Eu não sei o que está acontecendo, mas quero lhe dizer que te amo muito, você e Jihyun são o que eu tenho de mais importante e especial no mundo, não esqueçam jamais disso.

Tive a resposta completa e bem formada do aperto que eu sentia desde que deixei a minha casa. Minha mãe estava em perigo e eu podia sentir isso em minha corrente sanguínea.

Fiquei parado, acompanhando como meu corpo reagia à notícia dada, sentindo a ardência em meus olhos e meu coração sufocando-me a cada segundo que durava aquela ligação.

— Mãe? Onde você está?! Deixe disso, eu estou indo de te encontrar. — Desespero-me quando acordo para o que está acontecendo. É óbvio que se trata de mais um ataque daquele maldito ser. — Esconda-se e em hipótese alguma tente se salvar.

— Ji, o que está acontecendo? — Tae se aproxima.

— Jimin, eu não quero que você venha, não coloque sua vida em risco! Fique onde está. — Mamãe tenta falar baixo, parte do plano em tentar não ser encontrada.

— NÃO! A senhora está no antigo galpão da usina, não é? Eles vão reabrir, mandaram a equipe para limpar. — Reajo rápido, correndo pela área para calçar meus tênis. — Onde ela está?

— Eles sumiram. — Ouço seu choramingo. — Nos dividiram em duplas, eu corri para me esconder quando encontrei a minha colega... Ji, não faça nada, apenas tente chamar a polícia, estou tentando e a ligação cai.

— Estou indo aí, continue a manter contato comigo. — Faço uma pausa, suspirando em agradecimento quando Hoseok se abaixa e me ajuda com meu tênis. Afasto o telefone para me dirigir aos meus amigos, eles me cercam e estão apavorados com algo que eu não contei, ainda. — Ele, outra vez.

Não preciso de mais do que três segundos até que sou puxado por Vante, ele sai na frente e nós o seguimos as pressas.

— Pega a chave do carro, Rosie, você dirige. — Taehyung se prontifica a liderar o bando. — Hoseok, há uma tesoura de jardinagem na mesa, pegue ela. Jin...

— Eu achei um serrote! — Seokjin reaparece, assustando-me quando mostra o que tem nas mãos.

— Mãe, você está aí? — Indago, correndo em direção a saída da casa, Rosé me acompanha enquanto os garotos continuam em busca do que poderíamos usar para nos defender. — Por favor, me responda e continue escondida, mas, por favor, não tente fugir.

Espero que Rosie abra o portão, ele destrava com a chave reserva que recebemos de Namjoon, eu saio como uma bala, correndo até o carro, aguardando que ele seja aberto.

— Tudo está silencioso, não estou escutando nada. — Os sussurros partem de minha mãe, eu aperto os olhos, deixando algumas lágrimas escaparem. O desespero é visível em meu rosto. — Tome cuidado, Jimin, por favor.

Olho para trás assim que vejo os três garotos restantes aparecerem com mais utensílios. É insano como tiveram que pegar qualquer coisa pela frente para que pudéssemos nos defender.

Puxo a porta do passageiro e entro, Rosie ocupa o banco ao meu lado e os meninos a parte traseira, antes disso guardaram tudo no porta-malas. O veiculo é travado e ligado, a Park pisa fundo no acelerador, dirigindo como bala na rua lisa e vazia.

— Mantenha-se em silêncio, mas não desligue a chamada. Nós estamos chegando. — Digo. — Quanto tempo daqui até a usina? — Indago a qualquer um que possa me responder. Estou tremendo tanto que o celular mal fica em meu ouvido.

— Quinze minutos, no máximo. — Rosie refuta, dirigindo insanamente.

Fecho meus olhos, apertando-os, deles escorrem mais lágrimas. É inevitável não me sentir desesperado com a ideia de minha mãe estar entre a vida e a morte, é o bem maior, o mais precioso. Eu não posso deixá-la nessa situação, prefiro dar a minha vida em seu lugar.

Desde pequeno eu mantive em minha cabeça que, por amor, eu poderia fazer uma loucura. Contudo, um amor que valesse a pena dar a cara à tapa, lutar bravamente, um amor de se bater no peito por orgulho. Eu tenho os mais diferentes tipos de amor e por cada um deles eu faria uma loucura.

Por minha mãe, eu faria a maior delas.

— Precisamos ligar para os meninos. — Hoseok murmura, e logo Jin está concordando quando cada um puxa o celular e tenta uma ligação.

As rodas do carro derrapam pela rua, virando uma esquina e seguindo reto em direção à velha usina. Ela está passando por reformas, há sempre funcionários ali, o local perfeito para um ataque.

Eu prossigo escutando a respiração de minha mãe na ligação, a única coisa que me mantém respirando conforme vamos de encontro ao local. Evito lhe encher de perguntas, não quero que ela chame a atenção do bicho, além de que eu não consigo parar de chorar – e até mesmo sou acalentado por Vante que segura meu ombro e aperta.

— Aguente firme, por favor... — Sussurro.

Há um barulho que ecoa no carro, percebo se tratar do telefone de Jin. A ligação é atendida e a voz de Namjoon se sobressai em meio ao barulho veloz que o veiculo faz enquanto corre pela rua.

Eu não me preocupei em colocar a droga do cinto de segurança.

— O que está acontecendo? — O Kim pergunta.

— Porra, eu não faço ideia! Mas é com a mãe do Jimin...

Um novo barulho até que a voz de Dândi tome conta do ambiente: — Onde ele está? Minhas ligações dão como ocupadas. Passe para ele.

E assim Jin o faz, eu pego seu celular e levo ao meu outro ouvido, respirando fundo antes de tentar dizer algo. Sinto-me morto por dentro, é uma sensação inexplicavelmente horrível.

— Oi...

— Jimin, o que está acontecendo? — A voz rouca de Dândi me faz tremer por imaginar o quão sério ele deve estar.

— Aquele ser maldito, Dân... — Fecho os olhos. — Ele está com a minha mãe.

Consigo escutar perfeitamente a chuva de xingamentos que parte do outro lado da ligação, e por diferentes vozes. Não dou a mínima para isso, minha cabeça pesa demais e eu sinto o ódio crescer dentro de mim.

— Qual é a localização?

— A antiga usina. Nós estamos indo para lá. — Informo, vislumbrando placas de aviso que enfeitam as ruas, estamos perto.

— Jimin, veja bem, me escute. — Ele pede. — Não faça absolutamente nada, não coloque a sua vida e a de seus amigos, principalmente a de sua mãe em risco. Eu estou indo para a usina, espere por mim, por favor. — A minha falta de resposta parece ser uma contestação para Jeon. — Park, escute-me, por favor. Não faça nada.

— Desculpe, não vai rolar. — Finalizo a ligação, repassando o celular para Jin. Atônico, ele me encara, mas compreende que não posso esperar até que Dândi chegue. — Mãe, você sabe me dizer se viu algo?

Após sua relutância em falar para poder manter discernimento, ouço seu choramingo, é o passe ideal para que eu continue a chorar. Imagino quão desesperada ela está, só quero tirá-la dali com urgência.

— Eu só escutei passos, não vi nada. — Refuta.

— Ok. Nós estamos chegando.

— Tomem cuidado, por favor, aqui é...

— Mãe? Mãe? MÃE?! — Afasto a tela do celular para encará-la. — Droga, a merda da ligação caiu.

— Nós chegamos. — Taehyung indica.

A líder de torcida estaciona o carro de qualquer jeito, destrava as portas e é a primeira a sair, faço em segundo e os meninos logo após. Eles são ligeiros quanto a tirarem do porta-malas tudo o que conseguiram juntar.

Tento discar o número de minha mãe, mas a ligação não sustenta, a rede está fraca e nem ao menos chama. Respiro fundo, limpando meu rosto com a palma de minha mão. Trilho um caminho até o portão de ferro, checando a fechadura, está aberto. Por cima do ombro, encaro meus amigos que se aproximam.

— Namjoon está ligando.

— Yoongi também... Olá. — Hoseok atende.

— Estamos a caminho. Vocês já estão dentro da usina? — Questiona.

— Nã... — Empurro o portão e entro, esgueirando-me pelos cantos, Rosé faz o mesmo, em fileira seguimos. — Sim, já estamos.

— Porra. — Reconheço a voz de Dândi. — Façam o seguinte, deitem no chão e arrastem-se por cantos onde vistas não chegam. Isso vai impedir que sejam vistos facilmente.

— Como deveríamos atacar, Jeon? — Taehyung questiona.

— Para eles será divertido vê-los tentar fugir e buscar por salvação, não tentem. Essa merda não ocorrerá, no entanto, se em algum momento estiverem em risco, mantenham-se fortes. A determinação de vocês fará com que eles busquem meios de reverter à situação. Ouça, lhes será dado a oportunidade de fugir, não fujam.

Escuto atentamente sua voz conforme sigo em passos cautelosos pelos matos que preenchem o que deveria ser o hall de entrada da usina. A porta de metal está a minha frente, mal colocada, a fresta é visível. Hoseok, chocando-me de imediato, toma a frente da situação, empurrando-a com cuidado. O meu olhar cai para o chão quando identifico um corpo sem vida assim que entramos.

Instantaneamente, levo a mão até a boca de Hoseok, tampando-a para evitar que ele grite pelo susto. Ainda assim, ele resmungou e foi segurado por Jin e Taehyung. Rosie surgiu em sua frente, levando o indicador aos próprios lábios e clamando por silêncio.

— O que houve? — Yoongi indaga.

— Encontramos uma pessoa... Morta. — Replico, desviando meu olhar para o corpo no chão, o uniforme me faz acreditar que se trata do guardinha de segurança. — Não há ferimentos.

— Hm, eles estão arquitetando um alto número de mortes. Não terminarão o serviço aí, presumo que, ao atingir o objetivo, eles peguem os corpos e sumam. Isso é apenas o início. — Namjoon declara. — Saiam de onde estão.

Acatamos a ordem do mafioso e, como em pisar em ovos, deixamos a entrada da usina.

O espaço está vazio, ainda sujo, temo que a equipe de limpeza não tenha finalizado o trabalho. Há goteiras pelo galpão, caixotes, poças de água suja. Não reprimo caretas, passando meus olhos com cuidado enquanto agarro-me em Hoseok para poupar que ele grite ou tenha um surto de pânico.

— Este lugar é imenso, o que faremos? — Rosé pergunta.

Nós estamos alinhados uns aos outros, tão grudados que até mesmo a enxada, a tesoura de jardinagem e qualquer outra coisa que eles tenham pegado ficam em nosso meio, grudado.

— Nos separar, talvez. — Sugiro, olhando ao redor, tremendo-me de medo.

— Você enlouqueceu, porra?! — Dândi brada do outro lado da linha. — Não se separem de forma alguma, essa merda não é um filme. Mantenham-se juntos já que optaram por não esperar por nós.

Gostaria de refutar, mas não tenho raciocínio para isso, além de que estou assustado demais pelas goteiras que caem e fazem um barulho macabro. Estou sentindo tanto nervoso que minha barriga dói e meus olhos não voltam ao normal, estão arregalados, procurando em cada canto por minha mãe e até mesmo por quem lhe mantém presa.

— Oh, meu Deus... — Vante sussurra, virando-se para mim quando toma um susto. Ele tapa a própria boca, eu inclino meu rosto para olhar adiante e perceber a existência de outro corpo sem vida, próximo a uma escadaria.

Afasto meu rosto, apertando meus olhos para tentar apagar a imagem que tive. Ver pessoas mortas não é bacana, não encaixa em minha cabeça e eu não quero ter contato.

— Ele caiu da escada ou foi jogado? — Jin demanda, seu rosto expõe uma careta.

Agarro a barra da camiseta de Taehyung, impulsionando-o a seguir direto por onde andávamos. Minha mão treme, meus olhos estão agitados, rodeando cada ponto, olhando para trás, para os lados e para frente.

— Pelo histórico dos assassinos, ele mesmo se jogou. — Rosie responde, ela pega uma lanterna e liga, iluminando o cômodo pelo qual trilhamos. — Vocês estão chegando?

— Sim, tivemos que buscar Lisa. Estamos juntos e próximos, bem próximos. — Namjoon responde. — Oliver está no carro de trás, há outro com mais pessoas.

— Sinceramente, eu...

Hoseok cala a boca quando um forte estrondo atinge a porta de metal, nos encaramos e sem pensar duas vezes corremos pelo cômodo de péssima iluminação. Minha mão está entrelaçada com a do Jung, seguimos a mesma sintonia, o desespero é o estimulo que temos para avançar – junto aos outros, o galpão velho da usina.

— SE SEPAREM, CORRAM PARA ESCONDERIJOS APERTADOS!

Taehyung grita, atirando em minha direção a tesoura de jardinagem.

Há uma presunção de nossa parte em acreditar que todos os seres estão juntos e amontoados na entrada, nós estamos afastados dela, no entanto, é perceptível que seremos encontrados. Contudo, faço o que me foi ordenado assim que me solto de Hoseok.

Giro meus pés e corro insanamente pelo breu do galpão, junto todo o ar em meus pulmões e gasto em não parar um segundo de me mover até estar em um local em que possa me enfiar até que tudo se acalme. Alcanço a escadaria longa e subo ligeiramente, tropeçando em meus próprios pés. São tantos degraus. Entro em corredores aleatórios, saio deles e busco por outras saídas. Talvez eu ache uma porta que dê para fora desse galpão.

Meu corpo bate contra um latão de metal que tomba no chão, gerando um estrondo e um susto em mim, sufoco um grito em minha garganta, afastando-me dele e correndo pelo corredor. De imediato, interrompo meus passos quando percebo a porta de uma sala aberta e um corpo no chão, respiro fundo, pisando no hall de entrada. Olho para os lados, certificando-me de que não há uma alma viva, em seguida, entro e aperto minhas vistas; através delas enxergo minha mãe.

— MÃE! — Não controlo o grito em meus pulmões. Corro em sua direção e me ajoelho, solto a tesoura de jardinagem e agarro o rosto da mulher, virando-o para mim. — Mãe, fala comigo! — Seus olhos estão fechados, eu me desespero em procurar por machucados ou qualquer coisa que possa marcar seu corpo, assim como não penso duas vezes antes de checar seu pulso. Mordo meu lábio inferior, deixando que duas lágrimas desçam por meus olhos. Suspiro em alívio; ela está viva. — Ei, acorde, por favor. — Passo meu olhar pela sala pouco iluminada. — Eu preciso tirar você daqui.

De joelhos, tento movê-la pelo piso, mas seu corpo pesa e eu me sinto fraco demais por ter corrido tanto. Não quero arriscar ser visto, mas não quero permanecer aqui e correr muito mais perigo do que se me expusesse.

— Mãe... — Sussurro, encarando seu rosto, abaixo-me para tirar os fios de cabelo que cobrem ele. O tempo todo preciso garantir que ela está bem, que está viva, inteiramente viva.

Preciso garantir que permanecerá.

Apoio minhas mãos no chão, sentindo meu coração bater tão, tão acelerado, chega a doer, minha respiração falha e eu tento controlá-la quando me sinto tonto. Solas de sapato ecoam por meus ouvidos, arregalo meus olhos ao prender a minha respiração. Encaro, à minha rente, uma fresta de luz, nela há um vislumbre de uma silhueta. Meus lábios tremem, minhas unhas arrastam no piso sujo porque tudo em mim não quer encarar tudo o que possa haver atrás.

— Oh, eu peguei você. — Prendo minha respiração ao mesmo tempo em que sinto meus cabelos serem puxados brutalmente. Meu gesto inconsequente é rápido, puxo a tesoura de jardinagem quando sou virado bruscamente, enfio a ponta do utensílio no peito do que, agora, percebo se tratar de um homem. Eu caio no chão enquanto ele se afasta, reagindo ao meu ataque, arrasto-me pelo piso até bater contra o corpo de minha mãe, o que torna tudo ainda mais desesperador. — Você gosta de brincar, então?

Obsceno, o homem expõe um sorriso lunático. Acompanho por olhar sua mão ir de encontro à tesoura e arrancá-la de seu peito, não há ferimento algum, o buraco feito é cicatrizado repentinamente. Franzo o cenho, sentindo meu corpo tremer ao tê-lo caminhando em minha direção.

— SAIA DE PERTO DE MIM! — Grito, assustado. Os olhos do rapaz caem para o preto, as veias em seu pescoço saltam, ele está feroz, sorrindo conforme balança a tesoura em sua mão. — Por favor...

— Por que eu deveria? Você acabou de arruinar com a minha camiseta favorita. — Uma vez que ele se abaixa em minha frente, eu choramingo, tentando empurrar mamãe, não posso tentar correr e deixá-la. — Corajoso de sua parte, devo ressaltar... — Tomba a cabeça para o lado, encarando-me fixamente. A cor de seus olhos preenche meu peito de medo, mas não deixo de olhá-lo. — No entanto, burro. Muito burro.

A destra dele agarra meu tornozelo, sou puxado e arremessado de uma só vez contra a janela enferrujada. Meu corpo bate contra o ferro e despenca no chão, rolo para o lado, tossindo e sentindo meu físico latejar. Minha cabeça está quente, fervendo, pulsando de dor. Vistorio partes visíveis de minha pele arranhada pelo contato com as partes pontiagudas do ferro.

— O que...

Sou interrompido quando sou arremessado outra vez, agora para cima de uma mesa. Há compartimentos de vidro, como num laboratório, meu corpo se choca com a mesa antes de cair no chão. Meus dedos das mãos doem quando tento me assegurar de envolvê-los na nuca com o propósito de não bater minha cabeça outra vez no chão. Meu peito arde, minhas vistas estão embaçadas e antes que eu possa tentar algo, sou chutado nas costas. Grito em desespero quando ele me chuta outra vez e pisa fundo em mim, a sensação é agoniante, queima quando tento, inutilmente, me afastar do ataque, porque tudo o que eu ouço é o som de sua risada profana.

Está se divertindo com o meu desespero.

— Isso não teria acontecido se você não tivesse tentado me matar, docinho. — A sola de seu pé se desencontra de minhas costas, dando-me espaço, ele rodeia meu corpo, parando em minha frente. As mãos tomam os bolsos da calça social, guardando-as ali. Eu tusso, buscando forças para levantar. — Eu trabalho com a reciprocidade, acredito que tenhamos nos dado muito bem, não acha o mesmo?

Enxergo a porta escancarada, por ela passa outro homem loiro que eu desconheço. Ele nos encara, revira os olhos e empurra o que está em minha frente.

— O que você está fazendo, porra? — Escuto o questionamento, sinto-me ser observado o tempo inteiro enquanto reúno forças para tentar me levantar.

— Temos uma visita peculiar. — Informa, mirando em mim. — Estava recepcionando-o. Humanos são tão... Desprovidos de inteligência, não percebo como ainda posso me surpreender com isso.

Sou puxado pelo braço, o homem violento me levanta, eu tombo para o seu lado, sentindo fraqueza em minhas pernas. Meu corpo clama de dor pela surra tomada, se não fosse segurado eu teria caído no chão. Minha visão não colabora, mas vejo perfeitamente quando o outro rapaz caminha em minha direção, ele agarra meu queixo e ergue meu rosto, fixando o olhar em mim. Estou sob sua análise intensa, ele desce o olhar por meu rosto, detalhando pontos específicos em mim.

— Sinta esse cheiro. — Manda. — Ele esteve com outros vampiros.

Vampiros?

— Vam... — Engulo em seco, desesperando-me para tentar falar. — Solte-me, por favor, eu não sei do que você está falando!

Não sou ouvido, eles passam a me cheirar, sou apertado enquanto vasculham alguma maldita merda em mim, somente param para encarar um ao outro.

Baital. — O homem do começo cicia. — Eles estão por aqui?

— Não, não há outro grupo além de nós. — Refuta. — Diga, como você veio parar aqui?

Ser interrogado por seres estranhos não fazia parte de meu plano de salvação, eu tento me remexer, mas sou jogado contra a parede e tenho meu pescoço fortemente segurado por quem me assombrou logo em meus primeiros minutos nesta sala. A parede atrás de mim certifica-me de que se depender de quem me mantém preso em seu toque, eu a atravesso em segundos, porque ele bate minha cabeça contra ela, trazendo à tona toda a dor que eu tinha conseguido afastar por um curto período.

— Tão clichê, não percebe? — Crio forças para questionar, seus olhos são inclinados em minha direção. Eu uso do caco de vidro em minha mão e acerto seu rosto, rasgando-o.

— PORRA.

Corro para o lado contrário da sala, pegando de volta a tesoura que ele tinha soltado, passo por minha mãe e encaro seu corpo. Olho para a porta, mas vejo-a ser fechada, desvio para o homem livre, ele está longe dela, no entanto, ela é fechada. Tudo gira em minha volta.

— Não... NÃO SE APROXIME DE MIM! — Brado, apontando a tesoura. Os dois estão distantes, lado a lado. Trêmula, minha mão balança, erguida em defesa. — O que... — Sinto meu corpo ser preenchido por dor, solto a tesoura, caindo no chão, gritando em desespero pela dor aguda que me atinge em cada osso. — PARA, PARA, PARA!

— Qual é a dele? Ele é humano, está elegível a dor. Não faz sentido. — Sinto-me um brinquedo nas mãos deles, rolando pelo chão enquanto grito de dor.

— Vamos lá, garoto. Não deixaremos que você saia vivo daqui enquanto não contar com quais vampiros você esteve. — Continuo a rolar pelo chão, gritando. — Diminua.

— Eu não... Argh! PARA, POR FAVOR! EU NÃO SEI DO QUE VOCÊS ESTÃO FALANDO!

— Aumente.

— ARGH! — Meus gritos tornam-se ensurdecedores. — Eu só vim salvar a minha mãe... Somente isso. Ela me ligou, eu vim... Por favor...

— Você cheira a vampiro, há energia de Baital impregnada em seu corpo. Quem lhe protege, garoto?

Minhas mãos tentam o maldito do tempo inteiro apalpar as partes em meu corpo que gritam de dor, e quando olho para a porta, vejo-a ser derrubada com um estrondo.

— Por que não experimenta perguntar diretamente a quem o protege?

Vislumbro a figura de Dândi. Em poucos segundos, Oliver e Namjoon estão ao seu lado.

— O que temos aqui? — Quem me causa dor indaga, ela é cessada, eu respiro fundo, tentando equilibrar todas as sensações que sinto me invadir. — Finalmente tivemos o prazer de um encontro.

— É uma pena, não compartilhamos deste prazer. — Namjoon replica. Nada, absolutamente nada é entendido por mim, no entanto, continuo a olhar para os mafiosos. — Vocês estão propagando o caos por nossa cidade, não compactuamos com isso, pensei que tivéssemos sido claros quando executamos parte de seu clã.

— Obrigado por trazer este assunto à tona. — O loiro toma a voz, afastando-se de mim. — Vocês tomaram a liberdade de eliminar nossa espécie. Essa é uma briga por território, ninguém aqui estava decidido a consumir parte de seu grupo. Vocês iniciaram isso.

— Não fode. — Escuto Oliver. — O território é nosso por direito, vocês saíram do inferno e decidiram ocupar uma vaga que não cabia em seus currículos porcos. Estão colhendo a consequência.

— Nossa espécie não propaga caos, como vocês puderam perceber. — O Kim atravessa a sala, ele é insanamente rápido que pisco os olhos, tentando raciocinar como se moveu tão repentinamente assim. — Liberem o garoto. Nós matamos seus outros vampiros, não há mais de vocês aqui.

— Esse é um jogo que não precisa de muitos dados, apenas uma tabela e nós a temos. — Dândi avança alguns passos.

— Não é este o tipo de jogo que eu curto, meus caros. As regras estão comigo, eu as lanço. — Ele dispõe um sorriso, virando-se para o outro rapaz. — Dê continuidade ao que fazíamos. Mostre a eles como é brincar com a dor.

— Você irá machucá-lo. Pare com isso. — Namjoon trinca os dentes, eu me sinto uma parede oca, nada flui. — Não torne obrigatória a sua Redenção, Zarok.

O homem, por sua vez, apenas esboçou um sorriso canteiro, acenando para o rapaz em sua companhia. Assusto-me quando suas mãos tocam os meus ombros, aprofundando neles um toque agressivo somente para me manter estagnado no mesmo lugar. Eu encaro Dândi, evidenciando o meu desespero. Ele se aproxima inconscientemente, mas é parado.

Uno minhas pálpebras, preparando-me para o pior, seja lá o que estejam fazendo em mim, essa coisa queima e arde, é como se estivessem rastejando uma lâmina afiada e quente por uma ferida aberta, rasgando, piorando o ferimento. Minha respiração está radicalmente violenta, meu corpo inteiro dói, implorando por um segundo de descanso, pouco me bastaria, contudo, é uma voz rouca e alta a bradar pela sala suja, afastando a atenção dos dois homens de mim.

— DEIXEM. ELE. EM. PAZ! ARGGH!

Hoseok invade o cômodo, ele porta em mãos uma barra de ferro, a usa para atingir a cabeça do rapaz loiro, ele cai no chão, resmungando. Os olhos de meu amigo estão esbugalhados, suas roupas estão amassadas, ele puxa o ar e me encara. Sou solto quando o outro homem gira o corpo defronte à Seok. Expiro e inspiro, unindo forças para tentar me manter acordado.

— Ora, ora, o que temos aqui, hã? Uma duplinha enfeitada por coragem, hm? — É maluco como a voz e a feição desse cara me enche de medo. Ele está sorrindo, não vejo seu rosto, mas posso afirmar que seu semblante exala entusiasmo. — Isso parece divertido. Vocês estão me surpreendendo, rapazes! Outro humano? Quantos mais vocês possuem? Que jogo excitante!

Afasto-me silenciosamente, encarando, de soslaio, a porta logo à minha frente. Volteio meu olhar para Hoseok, respirando abertamente pela boca, meu nariz está dolorido e se eu mover as minhas mãos para ele, poderei sentir a gravidade da lesão. Jung, por sua vez, parece compreender o que eu quero dizer por olhares. Ele está enraivado, conheço-o perfeitamente para saber que seu próximo passo é tirar-nos daqui. Deixo que meu olhar encontre o corpo de minha mãe, eu quero chorar. Eu preciso gritar e chorar. Me desmanchar. Ela está viva. Eu preciso mantê-la dessa maneira.

Eu preciso.

Eu preciso.

Eu preciso.

Repito até que meus pés, em mudez, circulem pelo piso e meus olhos vaguem até a silhueta do rapaz loiro, ele está caído no chão e, nesse momento, Hoseok o acerta novamente, chamando ainda mais a atenção do homem que, segundos atrás, me mantinha preso em seus braços. O olhar sempre presente nos três mafiosos encaram a cena, eles sabem. Certamente sabem.

— Se você quer diversão, eu sugiro que jogue comigo. — Hoseok cicia, duramente.

Em meu campo de visão há um trio. Hoseok está alarmado, com as mãos segurando firmemente na barra de ferro, ela está erguida e ele ameaça atingir qualquer um que ultrapasse um passo, há o homem de cabelos escuros, ele mantém uma distância considerável de meu amigo, no entanto, percebo seus passos curtos avançarem pouco a pouco. Ele quer dar o bote. No chão está o loiro, e eu sei que ele não está desmaiado. Ele é um péssimo ator. O espaço vago na porta é deixado quando Dândi, Namjoon e Yoongi se dispersam, deixando o caminho livre.

Eu preciso.

Eu preciso.

Abaixo-me e pego por um pedaço retangular de vidro quebrado, a pele de meus dedos está superficialmente cortada pelas vezes que me atiraram contra os vidros. Agora é a minha vez.

— Zarok...

Quem sussurra como um chamado de atenção é o loiro, entretanto, quando os pés do dito são virados rapidamente em minha direção, eu não poupo forças ao enfiar o vidro em seu peito, bradando altamente conforme afundo o corte e giro o retângulo. Em contrapartida, Hoseok não cogita dormir no ponto e, quando o loiro se prontifica a se reerguer, Jung o chuta e acerta a barra de ferro por três vezes seguidas em sua cabeça.

Uma guerra começa.

— JIMIN!

Ele me grita, eu me afasto de Zarok, dando a volta e correndo rumo ao meu amigo. Ele agarra a minha mão, eu olho por cima de meu ombro quando o corpo de minha mãe fica para trás conforme eu fujo da sala. Reprimo o choro em meu peito, mentalmente me convencendo de que eu retornaria para buscá-la. Deixamos para trás Dândi, Oliver e Namjoon, eu sei que posso confiar neles. Eu sei.

Eu sei.

— POR AQUI! — Grito, porque sou agarrado pela mão de Hoseok e ele quase me leva em outra direção. Juntos nós iniciamos uma fuga pelo extenso corredor. A plataforma é enferrujada, e olhando de onde estou para o andar debaixo, constato que a altura é ameaçadora. Sinto calafrios. — Onde estão os meninos?

— Escondidos! — Ele me acompanha na correria, desesperado do que possa vir pela frente. Sua respiração conturbada entrega.

Eu não estou diferente.

Cruzo mais passos pelo corredor, então escuto um estrondo bruto, o que leva a mim e a Hoseok olhar para trás; Zorak e o loiro haviam deixado à sala e, pela maneira como nos encaravam, matar-nos é o principal objetivo ou, quem seja, o prato principal da noite. Oh, minha nossa, onde estão Dândi, Namjoon e Oliver?

O desespero chicoteia o meu peito.

— CORRE! — Ordeno.

As pegadas que deixamos para trás são fortes e altas, o barulho dos pés chocando-se com a plataforma é chamativo, eu posso garantir que qualquer criatura nos escutaria. No entanto, é o suficiente para que atraiamos ainda mais atenção e sejamos presas fáceis.

— EI, EI! SE FICAR, O BICHO PEGA, SE CORRER, O BICHO COME!

Eu escuto uma voz gritar, mas não me atrevo a olhar para trás e identificar de quem parte, não, não. Eu não posso. Eu preciso sair daqui. Eu preciso salvar a minha mãe, e talvez o ponto seja esse, trazê-los ao meu encontro, deixando-os o mais distante possível dela.

DROGA! Eu não posso deixar de pensar em como Jeon, Kim e Attwood estão.

Meu raciocínio é interrompido junto com a minha fuga. Eu olho para trás e vejo Zarok tombar a cabeça para o lado, expondo um sorriso doentio, então ele ergue o pé para, em seguida, afundá-lo na plataforma de metal. O barulho ecoa alto, no entanto, os meus olhos captam segundo por segundo da consequência da pisada firme e brutal do homem; a plataforma se racha, desfazendo o corredor, a rampa torna-se escorregadia e por ela eu vejo o corpo de Hoseok derrapar.

— JIMIN! JIMIN!

— ME DÊ A SUA MÃO!

Arregalo meus olhos, abaixando-me, seguro firmemente no corrimão do que uma vez pertenceu ao corredor e estico o meu braço em direção à Hoseok, estendo-lhe a mão, ele agarra rapidamente. Tento manter a calma, mas meu olhar encara a altitude na qual estamos, uma queda como aquela seria fatal. Além da altura, há ferros e objetos pontiagudos no chão. Meu estômago embrulha e eu uno meus lábios um ao outro, protegendo a mim mesmo.

— NÃO SOLTE A MINHA MÃO! — O brado que sai de minha boca é exclusivo ao desespero de Hoseok. Ele está pendurado, seus olhos piscam freneticamente, seu corpo balança. Meu melhor amigo envolve a mão livre no corrimão, mantendo-se suspenso pelos dois braços. É perigoso, minha palma está suando, eu tento me segurar e equilibrar os nossos pesos para que eu não seja o próximo a escorregar. — Seok, olhe para mim...

Peço, vejo o desespero estampado na face dele que, exasperado, encara o chão. Seu corpo torna a balançar, tamanho é o medo que ele sente de despencar. Meu Deus, meu Deus.

— Seok... — Cicio, buscando atrair sua atenção. Não posso deixá-lo continuar em desespero ao encarar o que há lá embaixo, tornará tudo ainda pior do que já é.

— NÃO ME DEIXE, CAIR, JIMIN! NÃO ME DEIXE CAIR!

— OLHE PARA MIM! — Por pouco não imploro. Ele está chorando enquanto me encara. Seus olhos castanhos brilham pelas lágrimas acumuladas. — Eu não deixarei nada acontecer com você, escute-me...

— JIMIN!

Ele grita, porque é a única coisa que foge de sua garganta em nome de um pedido de socorro. Minha atenção é volteada em segundos insanos para o que há atrás de mim. O homem de cabelos loiros está no corredor que mantém parte da plataforma ainda suspensa. Meu coração simplesmente para de bater. Não há som algum.

Τα λέμε στην κόλαση. — Um sorriso é direcionado para mim.

Então ele pisa fundo, partindo a única plataforma que ainda mantinha a que estávamos suspensa. Ela quebra. O corpo de Hoseok balança, sua mão escorrega da minha e eu vejo meu melhor amigo despencar das alturas.

Meu braço permanece esticado, a palma aberta e os dedos endurecidos, parcialmente gélidos, minha boca entreaberta e meu olhar congelado na figura de Hoseok caindo em ar livre soa como se tivessem me trancado em uma caixa de vidro e me abandonado lá para que eu assistisse o fim do mundo à minha volta.

— Hoseok... — Cicio.

Uma lágrima escapa de meus olhos.

ARRGH! — Um grito de choque, por sua vez, surge de minha boca quando eu me deparo com um par de asas negras que sobrevoa agilmente o espaço aberto e agarra Hoseok, impedindo que ele atinja o chão. Se possível fosse, os meus olhos sairiam de meu rosto, tal como o coração de meu peito. — HOSEOK! — Eu grito, sem saber qual fim ele poderia ter tomado. Não consigo pensar muito a respeito, meus olhos se deparam com o fato da plataforma não ter batido contra o solo, então desvio meu olhar para o chão e, no canto do piso debaixo, vejo Lalisa. — O que...

Ela possui os dois braços alongados em minha direção e, céus, eu cogitaria estar enlouquecendo, todavia, é ela quem está mantendo a plataforma nos ares ou o metal já teria atingido o chão e há essa hora eu estaria morto.

— Aqui, ó, Zarok. Eu tenho algo que é de seu interesse particular.

Da porta pela qual fugimos, sai Dândi. Ele exibe um sorriso formidável, assobiando quando, para o que eu acreditava ser o limite da loucura, o meu homem parte para cima do outro. Vejo os corpos de ambos atravessarem e romper as grades de segurança do corredor. Dândi é quem as destroça quando monta no corpo de Zarok e voam pelos ares, atingindo violentamente o chão. Assisto eles rolarem pelo piso, destruindo pilares.

— DÂNDI! — Grito, assustado.

A plataforma é descida lentamente, isso me leva a buscar Lalisa por meio do meu campo de visão, observando-a do canto, ela recolhe os braços assim que estou em solo, seguro. Ao menos por enquanto.

— Park? — Ela me chama, encaro-a. — Esconda-se. — Cicia.

Concordo sem pestanejar, levantando-me do metal. Corro pela área extensa, escutando os gritos raivosos de Dândi e, no exato segundo em que meus pés saltam uma barra de ferro para prosseguir, meu corpo desvia de um par de gigantescas asas que nascem tão próximo ao meu rosto, por debaixo delas eu passo, atirando-me e deslizando pelo chão, escondendo-me atrás de uma mesa.

É Dândi.

As asas pertencem à Dândi.

Oh, minha nossa...

O que...

Minha mente pulsa sem cessar, acompanhando os batimentos fortes de meu coração. Até mesmo meus músculos sentem a tensão de minha mente atingi-los, estão soltando espasmos. Não posso contê-los. Não consigo. Minha cabeça está fervendo, inteiramente imersa a uma única coisa.

A forma que Dândi ganha quando, barbaramente, se dispõe a surrar Zarok.

Meus olhos correm para o mafioso em cima do homem, limpo o canto de minha testa, um filete de sangue escorrega por ela, meus dedos estão sujos, no entanto, minha preocupação e atenção são exclusivas ao mafioso. Há uma tormenta em mim, isso duplica quando percebo a fisionomia do homem mudar, Zorak transforma-se num bicho, o mesmo que vi duas vezes, o mesmo que vem causando terror na cidade.

— DÂNDI!

Ele tenta acertar Jeon, eu grito em agonia, sinto-me fraco demais para tentar intervir, porque ao mesmo tempo Lalisa e Namjoon surgem em meu campo de visão. Coço meus olhos, enxergando através deles Oliver aparecer com o rapaz loiro, de um instante para o outro Lalisa o acerta um chute rodado no pescoço, então ele desmonta no chão, o que basta para que Kim e Attwood se coloquem sobre o corpo, se prontificando a quebrar partes dele, e quando eu menos espero, decaindo o olhar para Dândi, vejo-o ultrapassar além do físico humano. Suas vestes não existem mais, as asas pretas e grandes que eu antes tinha visto nascer agora crescem por suas costas e são deliberadamente expostas, a pele que antes era lisa sofre uma alteração. Partes de seus ossos são visíveis, ele é aterrorizantemente alto, magro, com garras pontiagudas e olhos...

Vermelhos.

O que...

Vampiros.

Do canto, observo em quietude sua mutação. Assustado e encolhido, sinto dores em minha cabeça. É muito para mim, parece que estive em uma enxurrada, tudo pesa em minha cabeça. Meus ouvidos doem, mas escutam perfeitamente o rosnado de Dândi antes que ele arremesse o bicho contra a parede, este, por sua veze, mira com obstinação a minha silhueta, seu braço metamorfoseado corre em minha direção, ele agarra a minha canela e aperta com o intuito de me ter como vítima, um ruído desesperador foge por entre meus lábios quando busco me arrastar pelo chão, tentando fugir. Um rosnado alto e ensurdecedor atravessa a área aberta da usina, então eu olho por cima de meus ombros, avistando Dândi colocar-se de pé e caminhar até seu alvo. Encolho-me ainda mais, arrastando-me com ainda mais veemência, em contrapartida, sinto o alívio de minha panturrilha ter sido solta, atiro-me para debaixo da mesa e de lá eu posso ver Dândi segurar Zarok pelo pescoço e arrastar a garra por seu rosto.

Os segundos intermináveis que me deixam a encarar a situação é insano, pois são os mesmos que fazem com que Dândi distribua socos e que suas garras perfurem cada parte do que antes era Zarok. Não obstante, ele distribui mordidas violentas. Há sangue jorrando, meu estômago embrulha com a cena.

— Vitale! — Lalisa exclama, atirando em direção ao mafioso uma adaga.

Ao que meus olhos voltam para o acontecimento atual, noto Dândi perfurar o peito de Zarok e de lá arrancar seu coração. Então, em acréscimos de segundos, a figura evapora no ar. Simplesmente sumindo.

Dândi cai para o chão, Oliver é quem lhe ampara.

— Ei, os vampiros atearam fogo em parte da usina, precisamos sair daqui. — Perrie surge repentinamente.

— Cuide para que a ambulância chegue ao local e os corpos estejam do lado de fora. Oliver, queime o restante do corpo de Nikolai. — Namjoon ordena.

— Faremos isso agora. Venha. Ajude-me, Lalisa.

— Zarok não se desfez em cinza, é provável que haja alguma maldição. —Namjoon informa, seus olhos buscam Dândi. Kim é cauteloso.

Assisto Lalisa e Oliver serem ágeis em trabalhar para se livrar do corpo despedaçado, peças são unidas como num jogo, e eles correm para fora da sala. Eu estou encolhido debaixo da mesa, passo a fitar Dândi, analiso seu físico, pasmado com cada detalhe. É assustador o quanto eu estou maluco com o que vejo.

— JIMIN! — Seokjin reaparece aos gritos, olha por todos os cantos, procurando por mim. — Deus, a minha tia... Onde ela está?

Esbugalho os olhos, amedrontado ao recordar de minha mãe. Saio de onde me mantive escondido e atravesso a área, encontrando Rosie e Jin, desespero-me a apontar a escadaria e por ela eu tento subir, todavia, sou agarrado no braço pela líder de torcida, que me para e me força a encará-la.

— Jimin, Jimin, JIMIN! — Rosie chama, segurando meu rosto. — Não há corredor, ele está destruído, é impossível subir.

Ela me estende a mão, agarrando a minha com força. Meus olhos se enchem de lágrimas, sinto dores, o sangue está fresco em minha cabeça, talvez tenha torcido o tornozelo, dói absolutamente tudo.

— A minha mãe...

— Ela está bem, sobretudo viva... — Namjoon murmura, no entanto, não prossegue na conclusão.

Nós nos assustamos de antemão com Dândi se reerguendo e alçando voo. Não possuo forças para me chocar com informações novas, contudo, meus olhos quase saltam para fora de meu rosto quando o vejo voar em direção ao piso superior; no qual eu estava, o lugar em que minha mãe está. Minha palma perdura na de Rosé, ali eu desconto o nervosismo que abrange além de meu físico, estou tremendo dos pés à cabeça, mas meu emocional está abalado pelo ocorrido com minha progenitora.

— Onde está Hoseok? — Demando, volteando meus lumes, o encontro quando o vejo cruzar a área. Ele está na companhia de Yoongi. Me solto de Rosie e corro em direção ao meu amigo, atirando-me em seus braços, ele devolve com um aperto sobrenatural, choro um pouco em seu peito. Não saberia explicar o alívio que sinto em vê-lo vivo. — Seok, eu tive tanto medo...

Shh, eu estou aqui, estou bem. — Ele afaga meus cabelos. — Como você está?

— Eu, eu...

O choro está entalado em minha garganta, poderia ter continuado a me lamentar, todavia, o som do pouso de Dândi rouba a minha atenção, eu o encaro e observo o corpo adormecido de minha mãe em seus braços. O próximo de quem me solto é Hoseok, como um louco eu corro até onde está a minha mãe, toco seu rosto, então verifico a pulsação; ela está desmaiada.

— Nós acionaremos a polícia. — Lalisa ressurge em companhia de Perrie, ambas estão em alerta.

— Faça isso agora, mas tire todos daqui. A usina está pegando fogo, não é seguro que eles permaneçam aqui. — Dândi diz. — Deixe que eu me viro por aqui. Leve a mãe e os amigos de Jimin.

A ordem é acatada por Oliver. Ele se prontifica a pegar minha mãe no colo, Taehyung está ao seu lado, ajudando-o. Ele sai da área com um aceno de que devemos lhe seguir, no entanto, eu encaro Rosie e Hoseok, ambos compreendem o recado e me deixam exatamente onde estou, defronte à Dândi, segundos depois vejo que não há ninguém além de nós dois.

Eu não poderia ir e deixar Dândi para trás, entretanto, ele parece disposto a se deixar. Prendo minha respiração conforme o assisto voltar à fisionomia humana. Eu nunca vi algo tão...

— Dân... — Meu pé dói ao tentar levantar. Jeon é rápido, num momento eu o vi no chão, no outro ele estava em pé, na minha frente, segurando-me pela cintura ao que me reergue. Entreabro a boca, assustado. — Eu...

— Eu levarei você. — Declara. Encaro seus olhos, descendo por seu corpo vestido pelas mesmas peças de antes. Não posso deixar de achar tudo isso uma loucura. — Muito assustado?

— Não sinto nada além de dor.

Temo olhá-lo por muito tempo, mas simplesmente não consigo não observá-lo. Eu vi mais do que, um dia, poderia pensar em imaginar.

— Desculpe-me por fazê-lo passar por essa merda. — Dândi envolve os braços em minha cintura, levando-me para seu colo. — Estou farto de te machucar por ser quem eu sou.

— Você acabou de me salvar, Dândi! Você salvou a vida da minha mãe! — Contrariado com suas palavras, refuto. — Eu estou maluco da cabeça, tudo está girando e eu me sinto terrivelmente cansado, mas a única certeza que eu tenho é a de que você me salvou. Nada além disso importa para mim. — Ele tem os olhos baixos, sem contato com os meus. Tomo a liberdade de segurar seu rosto e puxá-lo para mim. — Olhe para mim. Por favor, não pense que me machuca. Você é bom para mim, tudo o que você fez, a forma como me... Como esteve ao meu lado, como não abriu mão de mim mesmo quando eu me fechei para você. Droga, não se trate inferior, você não é.

— Palavras são bonitas, Jimin, mas não deixam de serem palavras quando atos pesam mais. — Seus olhos, agora castanhos, encaram-me. — Vamos, você precisa ir ao hospital e eu preciso garantir que os corpos mortos aqui não evaporem com as chamas.

Dândi me pega no colo, eu passo meu braço por seu ombro. Juntos nós saímos da área destruída e abandonada da usina, atravessamos o corredor que daria para a saída e neste percurso inteiro eu não deixei de encarar seu rosto. Tudo soava como descoberta para mim, eu não me sentia em mim e talvez fosse por meus ossos estarem deslocados pela dor grotesca ou pela nova e, não tão comum, notícia.

Dândi é um vampiro.

— Vitale, a mãe do garoto está no carro, coloque-o lá. Perrie, junto a Lisa e os garotos, os levarão ao hospital. — Oliver entra em meu campo de visão assim que adentramos ao hall de entrada da usina antiga. — Precisamos dar o fora rápido, a polícia já foi acionada.

— E quanto aos corpos?

— Estão todos lá fora.

— Queimaram o de Nikolai?

— Inteiramente.

Dândi acena em compreensão, movendo-se comigo em seu colo. Nós abandonamos a entrada da usina, Jeon trilha o caminho conhecido por mim. Para evitar que meus olhos percorram os corpos no chão, eu permaneço olhando para o mafioso. Ele não parece incomodado e eu preciso assimilar a ideia de que o – antes somente chefe da máfia, não é tão humano quanto eu pensei que fosse.

E eu nunca suspeitei.

E se parar para pensar, esteve tudo estampado em minha cara desde o começo.

Droga! Retorço minha cara em resmungo, pensando sobre como eu deixei passar tudo o que foi atirado em minha cara durante os últimos meses.

— Jimin, reservamos um local para você. — Lalisa abre a porta do carro espaçoso, vejo minha mãe deitada no banco, sua cabeça está apoiada na perna de Vante. — Hoseok te ajudará a se sentir confortável.

Assinto em concordância, assistindo Dândi me colocar no banco do carro. Meu corpo dói, não movo um músculo por medo de piorar. Eu observo Jeon se afastar, ele retribui o olhar com calma, embora seu semblante exponha quão preocupado comigo está.

— Eu estou indo no carro de trás, não se preocupe, não foi nada grave. — Perrie debate com Jeon. Tento prestar atenção, mas Hoseok entra no carro e ocupa o lugar ao meu lado.

— Ah, Chim... Está sentindo muita dor? Deixe-me ver isso. — Jung tem um lenço branco em mão, ele passa em minha testa, limpando o sangue acumulado ali.

Seokjin entra no carro, ocupando o banco do passageiro à frente de nós. É rápido em virar em nossa direção, estudando meu estado.

— Acha que quebrou algum osso?

— Não... Eu acho. Meu tornozelo está doendo bastante, talvez eu tenha torcido. — Comento, desviando o olhar para minha mãe e Taehyung. — Vocês estão bem?

— Sim. Nos mantivemos escondidos enquanto os meninos... Ah, bem, você sabe. Eles fizeram a limpa com os outros... Enfim, que estavam soltos. — Jin parece receoso ao dizer o que deveria dizer sobre os mafiosos.

Como eu, os meninos parecem em choque, em exceção de Taehyung. Ele acaricia os cabelos de minha mãe, expondo ternura e calma. Como ele consegue? Eu estou me tremendo e a cada toque de Hoseok em mim eu tremo mais.

— Como você escapou da queda? — Inquiro à Seok.

— Yoongi me salvou.

Ao que ele replica, eu assinto em concordância, silenciando-me quando os últimos acontecimentos ressurgem agressivamente em minha mente, sinto cada parte dela atirando-me de volta a eles como se eu ainda permanecesse lá, especialmente entre a vida e a morte, provando mais uma dose do veneno amargo que é não ter noção alguma de minha existência. Ou de qualquer uma aqui.

— Coloquem o cinto, seremos rápidos. — Lalisa entra no carro.

Olho para trás, vislumbrando Rosie e Perrie juntas, elas estão no carro logo atrás. Retorno meu olhar para frente, voltando a ser limpo por Hoseok, ele confere sem parar como meu rosto está, questiona se estou sentindo dor ou qualquer merda do tipo.

Contudo, o que dói é meu coração.

Dói por saber que por pouco não perdi a minha mãe, não perdi o meu amigo, não perdi a minha vida e, caramba, dói porque eu sinto que Dândi está se culpando pelo que aconteceu. Com mais um segredo desengavetado por parte do italiano, eu sinto que as dores em meu corpo não serão nada em comparado ao que sentirei daqui em diante.

🍷

— Olha só, foram somente alguns arranhões e uma torção de leve no tornozelo. Você usará o estabilizador por cinco dias e então voltará aqui para um exame simples. Acredito não ser preciso mais do que isso até que você esteja cem por cento bem. — O médico, em simpatia, comunica. — A batida foi feia, você teve uma baita sorte.

— Acho que eu tenho tido sorte por muito tempo. — Cicio. — E minha mãe, como ela está?

Nós estávamos separados. Ela no quarto e eu no consultório, já que meu caso era simples, não carecia de muito. Entretanto, eu não parava de pensar em como minha progenitora estava, gostaria de estar ao lado dela, porém, o médico deixou avisado que eu não dormiria aqui. Eu deveria tirar meu cavalinho da chuva.

— Está tendo uma boa recuperação. — Refuta, finalizando o aperto em meu estabilizador. — Fora um desmaio longo, mas os medicamentos fizeram um ótimo trabalho. Sua mãe está bem e descansando, você precisa fazer o mesmo, garoto. — Ele se afasta da maca em que estou sentado, dirige-se à sua mesa e anota algo. — Fantástico pensar que vocês dois escaparam desse acidente de carro com tão poucos arranhões.

Ele me lança um sorriso, acena em negação e volta com suas anotações. Remexo-me na maca, sorrindo de nervoso.

A desculpa usada por Lalisa se sobressaiu em qualquer uma que eu poderia usar, afinal, jamais poderia dizer o que realmente aconteceu. Primeiro porque a Rock Máfia estava no meio, segundo; este seria só mais um dos intermináveis casos engavetados na delegacia. Todos os outros seguem os mesmos passos, foram os mesmos... Vampiros. Nada seria investigado e mesmo que fosse, não haveria, por parte da justiça, resposta alguma. Porque se colocado em prática, as provas sumiriam.

O sobrenatural estava sempre um passo acima de nós.

— Meu anjo da guarda não me aguenta mais. — Brinco, tentando distrair e não expor as mentiras contadas.

Uma batidinha é deixada na porta, meus olhos se fixam nela até que o doutor permita a entrada. Uma enfermeira adentra ao cômodo e se dirige ao médico. — Os responsáveis da paciente do quarto trinta e nove desejam falar com o senhor.

— Oh, estou a caminho. Ela tomará alta amanhã, eles estão ansiosos. — O médico é educado e simpático, ele vem até mim e me olha sorridente. — Jimin, você está liberado. Seu tornozelo está bem cuidado e protegido, você tem consigo a receita com os medicamentos para cuidar das dores no corpo, então está livre.

— Obrigado, doutor. Minha bunda já estava doendo de ficar sentado aqui. — Sorrio sem jeito. Realmente estava doendo. Fazia mais de duas horas que eu estava sentado ali.

— Eu lhe ajudo.

— Se me permite, deixe que eu o ajude. — Suspendo o cenho e entreabro a boca quando a voz de Dândi ecoa pela sala.

— Dân...

Ele está parado na porta, apoiado, olhando-me com ternura. Ao meu lado, o médico parece sentir o clima no ar, e no mesmo segundo se afasta, caminhando até a própria mesa.

— Sinta-se a vontade. — Ele acena. — Cuide-se, rapazinho.

— Pode deixar! — Sorrio em despedida, o médico passa por Dândi e sai.

— Cheio de risadinha, puta merda. — O italiano entra na sala e fecha a porta com o pé, caminha em minha direção e para em minha frente, Jeon entra em sua corriqueira vistoria para checar se estou inteiro.

— Ele só estava cuidando de mim, besta, é o trabalho dele. — Exponho um sorriso.

— Eu não posso competir com alguém que salva vidas, loirinho. — Embora eu entenda que seu ciúme é uma mera brincadeira, não posso deixar de sentir o peso de sua fala. Não respondo a ela e isso basta para que Jeon acene em negação, apalpando minha cintura. — Está se sentindo bem?

Eu ergo meus braços e ele me tira de cima da maca, firmo meu pé no chão e ando um pouquinho, sendo auxiliado por Dândi. Minhas cinco voltas na sala são confortáveis o suficiente para que eu assuma que estou inteirinho.

— Não estou sentindo a dor de antes, somente um incomodo. — Murmuro. — Olhe aqui, ele colocou um band-aid de banana em minha testa. — Afasto os fios loiros de meus cabelos e mostro o local que antes escorria sangue.

— Eu achei conceitual. — Refuta, sorrindo amarelo. — Eu fico feliz que você esteja bem, chéri. Porra, mais uma vez eu quase explodi de preocupação. Se me fosse possível morrer, há essa hora eu não estaria nessa merda de mundo.

É tudo muito novo, a informação dita por Dândi ainda me pega desprevenido e eu quase explodo em risadas, achando graça de sua brincadeira, até perceber que... Deus, não é uma brincadeira ou metáfora.

— Oh, ainda bem que não é possível... — Coço minha nuca. — Seria horrível não ter você aqui.

Dândi emite uma risadinha baixa, agarra minha mão e a entrelaça junto a sua. Não deixo de reparar seu rosto e comparar com o que eu vi horas atrás. Aceno em negação, tentando afastar as imagens.

Nós temos tanto a conversar.

Não é preciso de muito para que ele entenda isso e morda os lábios, olhando-me seriamente, assumindo o que eu penso e sabendo que o caminho correto agora é o do esclarecimento.

— Levarei você de volta à casa de Namjoon. — Agora seu tom de voz é sério. — Passaremos a noite lá.

— Tudo bem. — Concordo. — Eles não me deixam ver a minha mãe e...

— Ela está bem, dormindo, mas bem. Amanhã você pode voltar aqui, é quando ela terá alta.

— Ótimo. — Suspiro aliviado, apertando meus dedos na mão de Jeon. — Tudo bem, vamos?

Com sua confirmação, nós deixamos a enfermaria. Caminhamos um pouco devagar, pois eu ainda sentia um incomodo em meu pé e o estabilizador ainda me trazia agonia, nunca tinha usado antes, preciso me acostumar.

Não há ninguém que eu conheça na recepção, questiono-me onde estão os meninos e as meninas, mas Dândi nada diz, presumo que ele saiba onde todo mundo está, mas me leva em direção a saída sem dizer uma palavra.

— Está frio. — Comunica, retirando o sobretudo que usava. Ele me veste e então me abraça de lado, ajudando-me a descer os degraus de entrada do hospital. — Está com fome? Acredito que sim, você não comeu nada hoje.

— Ah, depois eu vejo algo para comer, ainda não estou sentindo muita fome. — Murmuro, seguindo pelo estacionamento até o carro de Dândi. — Onde está todo mundo?

— Liberei para um descanso, estavam todos acabados. — Replica, destravando o automóvel.

— Fez o certo. — Abro a porta e entro, fecho com cuidado.

— Levarei você a um local, tudo bem? — Indaga. — Eu acredito que você esteja ansioso para me ouvir e, porra, isso está sendo significativo para mim. Você não faz ideia.

— Eu alucinei quando achei que Daniel fosse a sua única verdade, há mais, pelo visto. — Sorrio sem humor. Estou incrédulo com tantas informações. — Deus, esteve tudo o tempo todo na minha cara. Eu me sinto tão idiota.

— Foda-se, Park, você não é. Para com essa porra. — Tenho o mafioso fulo. — Não importa quantas vezes eu quisesse que você levasse as merdas que eu dizia a sério, eu sou capaz de compreender o quão difícil é acreditar em tantas coisas reais quando o nosso próprio mundo parece irreal. — O discurso sai rouco.

— Eu sei, Jeon, mas eu deveria... Eu deveria ter me atentado aos detalhes, deveria ter usado minha intuição, evitado me fechar tanto para você. — Observo Dândi começar a dirigir enquanto eu estou gesticulando com as minhas mãos, tentando expor o que eu estou sentindo. — Você ficou amuado com o que eu descobri sobre nossa vida passada, você viu que de primeira eu me opus, não aceitei, não lhe dei o direito de se defender, entendo completamente seu receio em se expor por completo.

— Então toda essa merda aconteceu, Jimin. — Refuta. — Eu poderia ter enfrentado você, eu poderia ter tido a voz mais alta, eu poderia, mas eu jamais invadiria o seu espaço para te forçar a ver o meu lado. Contudo, eu lidei com as consequências de tantos segredos. Eu tive você, então perdi, nos encontramos de novo e agora estamos andando em corda bamba, porque eu não sei mais o que fazer para te proteger de mim.

— Me proteger de você? — Inquiro, confuso. — Me proteger de você, Jeon? O que você quer dizer com isso? Isso não tem cabimento.

— Porra, Jimin! Dê uma olhada! Desde que você me conheceu tragédias acontecem e, puta merda, em grande parte das vezes você ou algum conhecido seu está metido no meio. Essa merda não é à toa. Eles seguem rastros, sentem a energia de outros vampiros. O que você viu naquela usina não é nada em comparação a tantas merdas que vivi por brigas de território. Eles não te mataram porque você tinha em si resquícios de minha energia, ela passa, algumas vezes, naturalmente. Eles te manteriam em cárcere até que arrancassem qualquer maldita informação que fosse possível. — As mãos do mafioso seguram fortemente o volante do carro, dirigindo rápido, insano. — Eu não saberia lidar se algo tivesse acontecido com você.

— Ok, você falou tudo isso e eu não entendi em que parte é culpa sua, Jungkook. É briga por território de diferentes espécies. É como... — Faço uma pausa, pensando em algo, expressivo ao extremo. — No reino animal, sempre haverá um animal mais forte a liderar o bando, em algum momento ele entrará em conflito com o líder de outro bando. Isso vale para o mundo dos humanos, com governantes e pessoas comuns. Valeu para Deus e o diabo, vale para qualquer um e, adivinhe? A culpa é de quem deseja tomar o que é do outro. Você não é o culpado, pare de encontrar motivos para agir como se me fizesse mal, Dândi.

— Eu sei, eu só estou desesperado...

— E outra, isso não inclui somente a mim. Você me diz para olhar em volta, olhe você e perceba que poderia facilmente ter acontecido com Jin, Vante ou qualquer um de meus amigos. Aconteceu com Jennie, inclusive. Hoseok, então, caramba! Quase morreu! O mal ocorre no mundo desde o princípio, Jeon, não é por você me ter como amor. Por favor. — Reviro os olhos.

— Eu tento manter você a salvo e você fica puto comigo, Park?

— Eu estou puto porque seus motivos para um debate sobre me proteger são os mais bobos possíveis! Eu não vou aceitar que você se culpe pelo que me aconteceu, você está com um discurso na ponta da língua, Jeon, eu conheço esse filme...

— Jimin. — Ele freia o carro. Só depois de minutos na estrada percebo que estamos no campo verde, próximo à mansão de Namjoon. — Perdoe-me por me culpar tão persuasivamente. Estou atolado de merdas na cabeça, você acabou de descobrir mais um de meus segredos, é absurdamente foda de lidar.

— Eu vou deixar que você se sinta confortável para me mostrar quem você verdadeiramente é.

O carro fica em silêncio, mas continuamos a nos encarar, porque mesmo após uma quase discussão, nossa quietude é confortável. Sinto-me abençoado por isso. É bom, muito bom.

No entanto, Dândi abandona o carro após destravá-lo. Acompanho, pelo vidro, ele dar a volta no automóvel e parar ao meu lado, abre a porta e estende a mão, agarro-a e saio com cuidado do veículo. Por pouco não tropeço e, de qualquer maneira, tenho seus braços em mim, amparando-me. Seus lábios tocam a minha testa, ele deixa um beijo puro, eu fecho os olhos e suspiro pelo frio e em deleite ao seu carinho.

— Dance comigo, loirinho rebelde.

Meus pés afundam na grama fofinha conforme nós caminhamos pelo campo aberto, pouco iluminado. Não ouso desviar meus olhos de Dândi, venerando-o à luz da lua, sentindo os arrepios atravessarem o sobretudo como atravessamos o campo, interrompendo nossos passos quando paramos no meio da grande imensidão verde.

Os fios rebeldes de meus cabelos sofrem um ataque do vento gelado, ele ricocheteia meu rosto, ansiando em segredo o toque de Dândi, porque ele afasta gentilmente e, como sempre, segue com a rotina. Seus dígitos tocam os fios claros, afastando-os, o vento obedece, deixando-me em paz, a encarar os olhos cintilantes do italiano bruto.

As mãos tatuadas de Dândi asseguram-se de garantir que estou por perto e continuarei, porque elas me mantêm preso ao corpo dele, nossos olhos conversam abobrinhas enquanto ele me guia numa dança lenta, juntando a destra com a minha e erguendo até que uma valsa seja iniciada.

Meus sorrisos ao vento são deliberados espontaneamente, eles estão em conjunto aos de Dândi. Como nossos corpos, eles também dançam. E é bom, é tão bom estar nos braços dele, dançando quando não há um som, porque nossa mente cria nossa própria música, ela tem sido tocada por séculos e é fascinante que eu não enjoe.

Encosto meu rosto no peito alheio e fecho os olhos, relaxando, mantendo um sorriso casto, genuinamente feliz. Meu coração transborda alegria, felicidade, todos os sentimentos que contive durante os últimos tempos onde o mundo me pareceu grosseiro demais para que eu pudesse agir livremente.

A sensação familiar de que estou vivendo em páginas de uma história antiga paira em minha cabeça, arrancando-me mais sorrisos, chutando para fora de mim as sensações ruins que senti durante o decorrer do dia. É louco como uma pessoa detém o poder de cuidar para que seu mundo esteja em órbita, talvez, até mesmo fora dele.

Por isso, quando afasto meu rosto e ergo meus lumes, o que eu vejo não me causa choque, medo ou pavor.

Dândi está à minha frente, transformado em vampiro. Desço meu olhar por seu rosto, avalio seus olhos vermelhos que buscam contato com os meus. Suspiro, desviando para a minha mão e a sua, as garras pontiagudas são o dobro, talvez o triplo de minha mão, mas ela mantém toda a proteção que acha necessário eu ter. Como anteriormente; suspiro, estudando suas asas negras, grandes, no entanto, recolhidas. Minhas observações são rápidas, mas mantenho cada detalhe em minha mente.

A marca de uma nova história para mim. Sem dúvidas.

— Você está pisando em meu pé. — Ele informa, eu salto com o susto. A voz é grossa, rouca e alta. — Perdoe-me, não quis lhe assustar.

— Oh, não... Não assustou, eu só... — Suspiro. — Você tem voz de locutor.

Cazzo, obrigado pelo elogio.

Em negação a mim mesmo, sorrio abestalhado: — Isso parece impossível, eu venho de um mundo tão diferente do seu. Estou vendo você aqui, mas achando que a qualquer momento despertarei desse sonho.

— Não sou um pesadelo para você?

— Nunca foi. De qualquer forma, eu consideraria um bom pesadelo, contanto que você estivesse nele. — Exponho. — Oh, Deus, isso é loucura!

— Você ainda é livre para correr enquanto diz isso, danado. Este campo é gigante, eu permanecerei aqui, vendo você partir.

— E se eu não quiser? E se eu quiser ficar? E se meus pés decidirem que aqui e em qualquer canto que você estiver é o meu lugar? — Indago, encarando seus olhos vermelhos.

— Então as minhas asas cuidarão de garantir que nelas é um bom lar para você.

Um riso silencioso é soprado de meu nariz, eu volto a encostar meu rosto em seu peitoral, fechando os olhos para tentar acordar, para tentar descobrir se não estou em um sonho, pois tudo me parece louco... Louco o bastante para que eu abrace essa insanidade.

É deliberado que eu a aceite de peito aberto, ansioso, talvez um pouco amedrontado com o que me aguarda futuramente ou até mesmo daqui a alguns segundos. De todas as formas, estou pronto para enfrentar o que vier, levantei a bandeira da paz que nunca deveria ter abaixado. Algumas decisões nos levam ao abraço da morte, outras nos jogam de um parapente e nós sobrevoamos este precipício. Vai de você.

Eu escolhi somente voar. Parece bom.

Como fiz antes, distancio meu rosto do peitoral de Dândi; ele está em sua forma humana. Por pouco, muito pouco não lhe questiono se tudo o que vi fora verdade, no entanto, estava cansado de inquiri-lo, acreditava fielmente no que vi, acreditava especialmente nele.

— Você continua impecável, que doideira tudo isso. — Comento, observando sua fisionomia. Não há alteração alguma.

— Está querendo dizer que eu permaneço elegante, bonito e gostoso embora tenha me visto, minutos atrás, como um monstro? — Indaga, franzindo o cenho.

— Você não é um monstro, Dândi. — Cerro meu punho, irritado. — Não fale assim de si mesmo, você é o meu monstrinho.

— O que torna tudo ainda melhor. — Seu braço ergue e ele me gira, prosseguindo com a dança. — Você está muito bonito, loirinho. Estiloso, eu diria.

Sorrio pelo que foi dito, abaixando meu olhar para meu pé estabilizado, mexo-o conforme imito um passo de dança, em seguida olho para meus braços arranhados pela surra que tomei, meus joelhos estão inclusos no pacote, sem contar meu pescoço dolorido e o corte em minha testa.

Por Deus.

— É...

— Perdoe-me não ter chegado a tempo de evitar que você passasse por isso. — Delicadamente, Dândi me puxa pela cintura, abraçando-me. — Me desculpe ter deixado que eles encostassem em você, até mesmo em Hoseok. Eu não pude lhe sentir, seu crucifixo está comigo.

— Não é culpa sua, pare com isso. — Peço. — O que meu crucifixo tem a ver com a minha segurança?

— Armazenei nele a minha energia, assim eu poderia saber os momentos em que você estava em perigo. — Responde, eu sinto seus dedos escorregarem por entre meus cabelos, me pego gostando tanto. — Eu podia sentir, independente do local ou hora, que você precisava de mim.

— Eu me lembro de você ter mencionado que havia magia nele. — Tomo espaço para encará-lo. — Eu não acreditei, desculpe.

— Tudo bem. O importante é que agora você sabe tudo, não há mais nada que eu esconda. — Deixa claro.

— Está falando sério?

— Bem, nós teremos longas conversas, você precisa conhecer o meu mundo, entendê-lo por completo. Estamos na ponta do iceberg, ainda há embaixo dele. Não sei se você está preparado...

— Você me esperou por um século, teve tempo de sobra, desculpe, mas eu tenho pressa. — Exponho. — É tudo muito, muito confuso em minha mente, mas desejo saber tudo o que nos ronda, mesmo que minha cabeça demore a digerir.

Ele toca meu lábio inferior, o polegar de Dândi desliza pela pele, contornando a tinta em meus lábios. Seus olhos brilham, faltam escapar faíscas. Tão bonitos.

— Leve o tempo que precisar, mas não faça dele todo o tempo do mundo. Não o temos. — Direto e reto, nas entrelinhas eu entendo o significado.

Dândi é imortal, oh, meu Deus...

Ele encosta seus lábios nos meus, perdurando o contato de um selinho. Eu me sinto amado, tão avassaladoramente abençoado, eletrizante. As cargas de energia recarregam o meu corpo. Estou beijando um vampiro e isso me parece legal.

Correção: estou beijando um vampiro mafioso e isso me parece legal.

Um assovio ecoa à distância. Rápido, eu afasto nossas bocas e giro minha cabeça para identificar a quem pertence; é Namjoon. O mafioso está em frente ao carro de Dândi, acena para nós, é um chamado.

— Você pode me ajudar? Meu tornozelo ainda está dolorido... — Meu olhar cai para meu pé, estou sem jeito, mas peço a ajuda do homem a minha frente.

— Sem sombra de dúvidas.

Jeon, sutil, me pega no colo. Eu passo meu braço por seus ombros e encosto minha cabeça em seu peitoral. Da metade do campo, de volta à estrada, eu penso sobre o que vi e vivi desde que reencontrei Dândi, e é tão louco pensar que nosso primeiro encontro não foi necessariamente naquela escada, na mansão velha e macabra.

Foi há um século.

— Algum problema, Namjoon? — Jeon indaga assim que nos aproximamos de seu amigo.

— Não, tudo nos conformes. Como vocês estão? — Pergunta, acompanhando-nos quando seguimos pela rua, atravessando-a para ir de encontro a casa. — Todo mundo está na sala, estávamos esperando por vocês.

— Atualmente está tudo tranquilo, pelo menos por agora. — Dândi refuta, deixo que ele fale por mim, estou pensativo demais. — Jimin passou pelo médico, está medicado, o mesmo sobre sua mãe. Não houve acontecimentos graves.

— Fico feliz. — Olho para Namjoon, assim como ele também me olha. Trocamos um sorriso educado. — Precisamos falar sobre Zarok.

— O que há? — Jeon indaga, ultrapassando o grande portão da mansão. Remexo-me para descer de seu colo, mas ele resiste e continua a me carregar. — Ele evaporou, é isso? — O Kim assente. — Hm, eu pensei a respeito. O que acha que possa ter sido?

— Ele está sob a proteção de algo ou alguém, é a única alternativa que temos no momento. — Explica. — Algum demônio, alguma bruxa. Não faço ideia. No entanto, morto ele não está. Isso significa que...

— Ele retornará.

Os degraus foram alcançados por Dândi, Namjoon abre a porta e nós adentramos. Em quietude eu escuto o que é dito pelos dois homens. O assunto é sério e é inevitável que eu não me arrepie com flashbacks de Zarok me batendo.

Ele é bruto, cruel. Veio para cima de mim sem dó alguma.

— E buscará por vingança. — Namjoon completa.

Nós estamos parados no hall de entrada da casa quando Seokjin aparece como um louco, saltitando para o meu lado, demonstrando intensa preocupação comigo. Solto um suspiro ao tentar afastar o pensamento que circulava a conversa de JK e RM. Movo-me nos braços do mafioso, ele entende o recado e me coloca no chão.

— Como você está? Droga, Chim, fiquei tão preocupado com você. — Meu amigo trata de agarrar a minha mão, conduzindo-me para outro cômodo da casa. — Tive notícias de titia, ela está bem, amanhã mesmo terá alta.

— Essa era a minha única preocupação, Jin, estou me sentindo menos atormentado. — Murmuro, caminhando com calma pelo caminho que trilhamos.

— Aí está você! — Perrie me recebe, eu interrompo meus passos, analisando-a. Ela é vampira? — Estou feliz que esteja inteiro, Jimin.

Percebo estar na sala e logo Seokjin me põem sentado no sofá e se afunda ao meu lado. Não demora muito até que eu seja rodeado por meus amigos, de canto de olho vejo Oliver, Yoongi e Lalisa se unirem a Dândi e Namjoon. Acredito que falarão sobre os recentes acontecimentos.

— Pau que nasce torto não se endireita nem mesmo com Viagra. — Comento, sorrindo de lado. Puro nervosismo. Estou numa casa repleta de vampiros.

— Que comparação... — Vante murmura.

— Chim, como você está? Sente alguma dor? Diga se precisa de algo, por favor. Você foi o único a se machucar em potencial, Tae apenas arranhou o braço e meu coração sofreu tentativas de infarto. — Hoseok declara, ocupando outro lugar vago ao meu lado.

— Você deve estar cansado, não quer dormir um pouco? — Rosie questiona.

— Oh, eu preciso que parem um pouco. — Puxo o ar em meus pulmões. Não sabia que havia prendido por tanto tempo. — Eu juro, estou bem, só minha cabeça que está rodando por tanta confusão. — Olho ao redor, mas fixo minha atenção em Perrie. — Você é como eles?

No. — A britânica responde. — Eu sou humana, no entanto, estou em preparação para a minha transformação. Logo mais me tornarei uma deles. — Sorriu sem humor. — Acredito que você esteja em absoluta confusão, mas peço que procure descansar. Pegarei um suco para você.

Antes que eu negue, Edwards se levanta e deixa o cômodo, disposta a não encher ainda mais a minha cabeça com caraminholas. Puxo meu lábio inferior, prendendo-o ao dente.

Eu estou prestes a surtar gravemente.

— E vocês? O que acham disso tudo?

— Foi um baita de um baque. — Hoseok foi o primeiro a declarar, suponho que se recorde da aflição pela qual passou. Eu sinto calafrios só de lembrar. — Eu pensei que fosse morrer, eu... Eu... Quando a minha mão soltou da de Jimin eu entrei em pânico... Por Deus, vi a minha vida passando pela cabeça. A sensação foi a pior de todas, tive uns frames do que acredito ser minha vida passada, então Yoongi surgiu como um protótipo de salvação, ele me segurou tão forte. — Os lumes esbugalhados do Jung evidenciam tamanho choque.

— Eles estavam lá para nos salvar, então... — Jin deixa no ar. — Não deixou de ser assustador, mas eu evitei e, para ser sincero, ainda estou tentando evitar pensar sobre isso.

— A ficha ainda não caiu. — Hoseok cicia.

Desvio minha atenção para Taehyung, encarando-o fixamente. Ele está quieto, de cabeça baixa, diria que cansado, mas conheço-o bem ao ponto de assumir que não é isso. Suspiro. Não é o momento correto para perguntar sobre suas emoções, acabamos de passar por uma avalanche. Ninguém aqui está cem por cento bem. Vejo meus amigos, por exemplo, consigo lê-los perfeitamente, como Seok mencionou; a ficha ainda não despencou.

— Eles não se alimentam de sangue? — Rosie inquere, olhando de soslaio para o grupo que debate sobre o ataque na usina. O reflexo que tenho dela é o medo. — A transformação deles...

— Não. — Vante refuta. — Se alimentam da força vital de humanos, além de cadáveres. Deixe que no momento certo tudo será explicado, hoje o dia foi esgotante, não vamos prolongar isso. — Murmura, então me olha. — Venha, lhe ajudarei a ir para o quarto, acho bom você descansar.

Eu não tento impedir seu ato de se levantar e vir até mim, penso que seja bom tentar esfriar minha cabeça, mesmo sabendo que a missão talvez seja impossível.

Com a ajuda de Hoseok, Taehyung me guia da sala até o elevador. Vou na companhia dos dois, e nada falamos durante o percurso. No fim, eu nem tento puxar assunto, eu simplesmente não consigo parar de pensar no que vi, no que descobri, no que esteve, durante todo o tempo, estampado em minha face.

Eu meio que estou cansado de dormir enquanto o mundo se move ao meu redor. E eu meio que acho ser culpa minha.

— Você consegue tomar banho sozinho ou quer a nossa ajuda? — Hoseok indaga assim que entramos no quarto de hóspedes.

Eu vejo minha mochila em cima da cama, balanço os ombros e viro para os dois, retirando minha camiseta.

— Posso fazer isso sozinho, obrigado. — Sento na ponta da cama e retiro o estabilizador momentaneamente, somente para não molhá-lo. — Podem chamar o Dândi?

— Claro, estou indo. — Jung se prontifica a deixar o quarto.

Caminho até o banheiro e fecho a porta, desfaço-me do restante das roupas e encosto-me a porta.

— Parece loucura.

— Eu sei, acredite, pensei o mesmo. — Do outro lado da porta, Vante responde. — Como se sente sobre isso?

— Hm, atualmente eu não estou sentindo nada. É como se a ficha não tivesse caído, Tae. Quando ela cair, eu vou enlouquecer de vez. — Bato meus dedos contra a porta antes de me afastar e seguir mancando até o box. — É uma grande loucura, porque isso só acontece em filmes. Bem, ao menos foi nisso que eu acreditei durante a minha infância e adolescência inteira. — Resmungo.

— É complicado jogar as cartas na mesa quando estamos no século vinte e um e tudo isso se popularizou como mito e fantasia. — O Avatar replica. — No entanto, tivemos a maior prova viva de que nunca sabemos a diferença da linha tênue entre o que é real e o que não é.

Ligo a ducha, enfiando-me debaixo dela e aproveitando da água quente. Ela bate contra minha pele, seu trabalho é me relaxar.

— Eu queria ter sacado antes, me pouparia muita coisa. Agora não paro de pensar que isso bastava para que eu tivesse a certeza de que Dândi não mentiu em momento algum. Ah, Tae, eu me sinto um tolo. — Choramingo, encostando minha testa no vidro do box.

— Não se sinta, veja o que eu disse, é difícil saber o que é real e o que não é. Não vivemos dentro de uma tela de cinema, filme ou série, Jimin. Nada para nós é esclarecido o suficiente para que saibamos quão realista as coisas são. — Assinto, embora ele não veja. — Talvez você não curta muito saber disso, mas, eu já sabia que a Rock Máfia é composta por vampiros.

— O quê? Como?

— Na noite em que você nos chamou para ir até a sua casa após descobrir de sua vida passada, no dia seguinte eu fui procurar Dândi. — Conta. — Agi na defensiva, e você sabe o quanto gosto dele, não queria ter de escolher um lado, mas se tivesse, escolheria o seu. De qualquer forma, fui atrás, ele me contou tudo, eu, obviamente, não levei a sério. Então ele me levou até a floresta e mostrou, se transformou. — Afastado do box, entreabro a boca, surpreso. O ar quente do espaço quase me sufoca. Ou talvez as descobertas estejam me sufocando. — Oliver estava junto, enfim, todo mundo com exceção de Yoongi. Só vi a transformação de Dândi, hoje foi a primeira vez que vi o restante.

— Por que você não me contou? — Demando em total surpresa, esforçando-me para prosseguir com o banho. Pego um sabonete e o encharco de água, apertando-o em minha palma.

Estou completamente envolto por uma nuvem carregada de desordem.

— Jimin, honestamente, eu estou cansado de que tudo ao nosso redor partam de outras pessoas falando. Sua vida passada sendo exposta por Yoongi, até mesmo quando eu fiquei com ele, só fui saber do rolo dele com Hoseok por parte do Jin. É cansativo esse telefone sem fio. O correto seria Dândi a lhe contar e mostrar, ele o fez.

— Não acho que tenha feito por livre e espontânea vontade. — Comento.

— Você entenderá os motivos assim que ele contar. Sinto muito, mas nada sobre ele é fácil. — Ouço duas batidinhas na porta enquanto estou me enxaguando. — A propósito, fomos do mesmo bando na vida passada. Nossa conexão parte de outras vidas, cara. — Sorrio com o comentário. — Eu estou de saída, se precisar de algo é só me chamar.

— Tudo bem, cuide-se.

— Idem.

Eu fechei a ducha e, antes de pegar a toalha, permaneci no box, reparando nas gotículas de água que escorriam pelo vidro molhado. Caramba, eu estou zonzo pelas informações. Se minha cabeça pudesse pedir demissão, ela pediria imediatamente, porque é louco tudo o que estou sentindo.

Saio do box e puxo a toalha, seco-me e a amarro em minha cintura, saio do banheiro e logo em meus primeiros passos reparo em Dândi entrando no quarto, ele havia acabado de fechar a porta. Quando virou, seus olhos marcaram os meus.

— Hoseok disse que você queria me ver. — Declara. — Como se sente?

Aciono meus passos até que estejamos próximos um ao outro, jogo meus braços por seus ombros e o abraço apertado, colando seu corpo ao meu.

Céus, eu sou tão apaixonado por Dândi.

Gostaria de lhe dizer tudo o que se passa em minha mente, mas nem eu próprio sei o que a ronda. Ela está abarrotada de pensamentos, como se fossem avenidas movimentadas de pedestres e automóveis que não respeitam as leis de trânsito. E eu não faço ideia dessa comparação, eu... Só estou uma baderna.

— Desculpe ter demorado tanto para enxergar quem você realmente é. — Digo, a fim de tentar demonstrar quão arrependido eu estou de não notar os sinais. — Você pediu tanto, tanto, tanto que eu me atentasse, mas eu estava ocupado demais olhando para a minha realidade. Ah, Dân, me perdoe. Eu só queria que isso fizesse sentido, faça ter algum.

Meus suspiros melosos e as lamúrias escapam enquanto os braços do mafioso me abraçam, ele me guia pelo quarto, indo de encontro à cama, senta-me a ela e procura por uma peça de roupa em minha mochila. Calmamente, Dândi me seca e me auxilia a me vestir, tudo é feito em silêncio, mas eu não permito em momento algum parar de olhá-lo. Quando vestido, endireito-me na ponta da cama, observando o chefe da máfia se ajoelhar em minha frente, ele segura as minhas mãos e deposita beijos carinhosos nelas. Posso sentir cada compasso de meu coração bater por Dândi, seus lábios são macios e eles acalmam os meus receios. As batidas aceleram a cada vez que ele me encara.

— Não se preocupe em não me entender agora, chéri. É viável que se sinta assim, não lhe culpo, muito menos estou aqui para exigir que enfrente as consequências dos sinais ignorados. Estou para garantir que você permaneça sendo quem é, sem colocar ou tirar. Estou para garantir que nada, absolutamente nada mais ocorra com você somente por ser destinado a mim.

— Para, não fala isso. Não é culpa sua...

— Meu bem, nós fomos amaldiçoados em nome de nosso amor. Você está aqui comigo agora, mas há cem anos partiu justamente por me amar. Eu preciso garantir que não passaremos mais por isso, estou fadado à solidão, a lhe perder, mas recuso-me dessa vez. Jimin, eu não aceito. Está fora de cogitação enfrentar esse tornado novamente.

O polegar de Dândi limpa a lágrima que escorre de meu rosto, somente assim eu percebo que comecei a chorar. Talvez eu precisasse disso, colocar todas as minhas emoções para fora quando estive por muito tempo tentando sufocá-las em mim. Vejo-me como alguém que cavou uma cova e enterrou a própria consciência sem cogitar a ideia de que em algum momento ela retornaria com a vitalidade dos meus mais profundos medos.

— Você me disse, quando descobri sobre Atthis, que eu morreria... Não é por eu ser mortal, é?

Indago, temendo a resposta, porém, sabendo que era necessário tê-la. Eu tinha ideia do que realmente era, afinal, Dândi expôs quando se abriu em relação a minha vida passada. Todavia, eu precisava escutar tudo outra vez, dessa vez tendo plena consciência de que ele falava a verdade, porque agora eu sei de tudo.

— Não. — Molha os lábios, seus lumes despencam para o piso. — A vida não foi muito justa em seu fim, mas acredite, até seu último suspiro você lutou bravamente, Jimin...

— O que há comigo, Dândi? Eu preciso que você diga! Quero saber novamente, no entanto, entendendo da maneira correta.

Existia desespero em meu olhar, em minha mente ecoavam um coral de vozes que repetiam sem cessar: morte! Morte! Morte!

— Eu estou condenado à eternidade como um vampiro e você está condenado a morrer sempre que seus vinte anos de idade forem completos. A maldição perdurará por mais quatro séculos, quando chegado ao fim, ela romperá, libertando você.

Entreabro os lábios, prendendo a respiração. Desejo sufocá-la dentro de mim até que tais palavras maçantes de Dândi sejam digeridas. Ele mencionou que eu morreria quando fizesse vinte e anos, no entanto, eu não dei bola. Eu não dei bola para nada. Escutar tudo isso, saber a razão, buscar compreendê-la é aterrorizante.

— Por qual motivo? Quem nos amaldiçoou?

— Você foi contra o reinado de meu pai, o rei Afonso. Seu grupo, os Revel's, lutavam para derrubá-lo, juntos nós propagamos os maiores boicotes que o reino da Itália pudera ver. Em contrapartida, meu pai se virou contra mim, assumiu que eu não fazia parte da família real, que eu estava disseminando vergonha aos Mancini Vitale. Ao fim de tudo, sob o trabalho de uma bruxa, ele nos amaldiçoou. Meu pai matou você, Jimin.

Como espelhos, eu vejo o desespero nítido no olhar machucado de Dândi, apresso-me a abraçá-lo fortemente. Meu desespero é vê-lo dessa forma, é como se ele carregasse em si o achismo – talvez, para si mesmo, uma certeza de que era o culpado pelo fim ácido que eu tive. Mais lágrimas fogem de meus olhos, inundando meu rosto pela enxurrada de emoções explosivas. Em meus braços eu sinto Dândi tremer, mal posso conter a minha própria tremedeira, mas tento acalentar o italiano. Embora eu queira gritar e espernear por tudo que nos ronda, eu escolho me calar para servir de apoio a ele, que tanto precisa.

Estou cansado de que seja sempre Dândi a me proteger, eu preciso tomar as rédeas e fazer o mesmo que ele faz por mim.

— Eu estou aqui, Dândi, eu estou bem e vivo. Veja. — Pego sua mão e coloco em meu rosto quando nos afastamos. Pego a outra e coloco em meu peito para que ele sinta a pulsação de meu coração. — Forte e cheio de vida.

— Até que seus vinte anos cheguem. — Escuto seu pessimismo. — E depois, hm? O que faremos? O que eu farei, Jimin? Você não deveria passar por isso, é inaceitável que tenha que morrer por minha causa.

Uma vez que Dândi está nervoso, ele levanta e se afasta de mim.

Tomo prontidão e faço o mesmo, levanto da cama e vou atrás do príncipe vampiro.

Vampiro...

Oh, minha nossa.

Ele segue para a varanda do quarto, eu atravesso a porta, sentindo a ventania forte e gélida acertar um tapa em meu rosto. Anoiteceu, a vista tende a ser um pouco tenebrosa, apesar de bonita. Cerrando o olhar, posso ver os campos que rodeiam o lote da enorme mansão.

Suspiro silenciosamente, tocando os ombros tensionados de Jeon. Aperto involuntariamente.

— Nós daremos um jeito! É possível quebrar a maldição?

— Para tudo há potencial de um possível. — Refuta, virando-se para mim. — Mas não estou crente de que seja o nosso caso. O mundo não nos abraçou naquela época, não será diferente agora.

Molho os lábios, deslizando os dedos pela barra da camiseta de Vitale até que ela esteja presa entre eles e eu possa puxá-lo para perto de mim. Estou desesperado, desejando chorar por uma morte que ainda não bateu em minha porta;

A minha.

— Por favor, Dân, só precisamos de um pouco mais de paciência... — Sussurro, tentando acalmá-lo.

Tentando me acalmar.

O rapaz me olha com ternura, mas desfalece num beijo que preenche minha testa. Dândi, como já feito antes, me guia de volta ao quarto, direcionando-nos até a cama, deitando-me a ela. Ele pega de volta o estabilizador e ajeita em meu tornozelo dolorido, logo se acomoda no colchão, deitando ao meu lado.

— Nós chegamos muito longe tendo paciência, agora eu tenho urgência, Jimin. — Ciciou, beijando os fios de meus cabelos. — Prometa que cuidará mais de si mesmo do que já ousou cuidar antes que soubesse de todas essas merdas?

— Oh, eu prometo que posso tentar, você sabe como eu sou. — Replico, empinando meu nariz.

Acompanho por olhar Dândi puxar o cobertor para me cobrir, ele vira em minha direção e beija meus lábios, é tão puro e sentimental, perco-me por alguns segundos.

— Prometa que estará aqui por mim independente de qualquer coisa.

— Eu prometi há um século, me manterei fiel a isto. — Prossigo: — Por séculos e séculos.

Amen.

🍷

No dia seguinte, eu acordo de repentino, sentindo meu coração acelerado. O órgão me sufoca brutalmente, meu despertar ecoa como um grito após um pesadelo. E Seokjin é rápido ao invadir o quarto, assustado com meu brado.

— Ei, Ji! O que houve? Está tudo bem?

— Onde está o Dândi? Cadê ele?

Olho para os lados, e assustado demais para ainda estar na cama, levanto e tento caminhar pelo quarto, sou impedido por Jin que alcança meus ombros e me força a sentar na cama. Segundos depois a porta é aberta e por ela entram meus outros amigos, sou rodeado por eles enquanto ainda sinto meu coração doer e a ausência de Dândi.

Oh, minha cabeça dói...

— Jimin, o Dândi voltou para a Itália.

🍒

É isso? É isso!

Hora de desembarcar na Itália, bebê. 

Entramos na reta final da queridinha do rock. Faltam dez capítulos para o fim. Eu não sei vocês, mas eu não estou NADA preparada para a fase de RM na Italia, é o lar dos vampiros, a terra de um bom vinho e excelentes lagos para noites de amor entre pombinhos... Hehe.

No próximo capítulo nós teremos a aparição do Vermelho, de Olavo e dentre tantos outros vampiros do clã Vitale. É a minha fase favorita, espero que vocês curtam.

Desejo a todos um feliz natal e próspero Ano Novo. Que enriqueçam e me depositem pix diários!

Juro que não foi o Dândi quem escreveu isto!

Até mais, Rockers!

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