A biblioteca estava praticamente vazia e silenciosa, uma anomalia gigantesca para um castelo desse tamanho e dimensão. O frio e a chuva constante permitiu que os estudantes e professores descansassem. A rotina tem sido intensa para ambos os lados. Eu aproveitei as horas vagas para concluir alguns trabalhos de DCAT. O professor é exigente.
Em poucos dias, Tom Riddle se tornou o professor mais odiado da escola. As meninas se encantaram pela aparência do homem, seu glamour acabou em questão de tempo. Ele se tornou o pesadelo de uma geração inteira das três casas, exceto a sonserina. Riddle tem um modo frio e calculista de privilegiar as cobras, é visível em suas atitudes e gestos.
A grifinoria é a que mais sofre com suas ações extremas, é um tipo de vingança densa e pessoal, beirando o doentio. Continuei lendo e fazendo anotações importantes na extenso pergaminho. Havia no mínimo 80 centímetros de pesquisas e desenhos ali, eu não queria os olhares frios e profundos de Riddle em mim, a voz distante evidenciando as falhas.
Inúmeros estudantes foram humilhados publicamente, alguns deles choraram. É muito estranho que Dumbledore não interfira ou não coloque limites nesse caos organizado. Eu vi o olhar apavorado de estudantes com origens trouxas, nem os mestiços escaparam. Porém, em meio a tudo isso, encontrei momentos de alegria e companheirismo. Remus concluiu os procedimentos de transição lupina.
Ele é, oficialmente, o primeiro bruxo a se recuperar completamente da licantropia. Suas expressões nunca estiveram tão tranquilas ou leves como agora, é encantador. Snape passa a maior parte do tempo com Anna, é normal o casal cochichar pelos cantos. Os dois tem um relacionamento estável e invejável. James é o protetor de Severo, uma mudança positiva em meio a essa bagunça toda.
Meu namoro tem evoluído bastante, não acredito na sorte que tive em encontrar Potter entre tantas pessoas no mundo. O bruxo é um sopro de ar fresco em meio ao deserto. É uma surpresa que tenhamos nos dado bem, temos personalidades completamente opostas, uma incompatibilidade teórica. Imagino como tudo aconteceu no ritmo perfeito.
Admito que James agiu como louco nas primeiras semanas, eu ainda guardo todas as cartas de amor e presentes que ganhei. São 3 caixas cheias guardadas no meu baú próximo da cama. As meninas sempre riem quando eu leio as declarações românticas, é inevitável. A verdade é que agradeço por ter vindo de longe e aceitado estudar em Hogwarts.
O Castelo Bruxo será minha casa, mas o que encontrei aqui é preciso demais. Eu estou feliz com a pessoa que me tornei, as muitas e incontáveis experiências malucas. O castelo é parte fundamental de minha transformação, o cenário onde finalmente me encontrei. Eu não sou a mesma e agradeço por isso. Eu mudei e aprendi com as dores do passado.
- Jasmim, podemos conversar? - Voltei a realidade com uma voz feminina.
- Lilian? - Questionei incrédula, ela nunca tentou uma aproximação antes - Eu... claro, eu adoraria - Sorri hesitante e indiquei a cadeira a minha frente.
A ruiva se acomodou no acento e evitou olhar diretamente em meus olhos. O uniforme estava amarrotado e desalinhado, os cabelos não tinham o mesmo brilho de antes. A jovem tinha olheiras arroxeadas em baixo dos olhos, eu admito ter ficado surpresa. Lembro de sua aparência impecável no início do ano letivo. O afastamento de James foi intenso.
- Como você está? - Indaguei quebrando o silêncio constrangedor entre nós duas.
- Estou bem e você? - Questionou e suas foram colocadas em cima da mesa.
- Ótima, obrigada por perguntar - Afirmei e continuei escrevendo no pergaminho.
- E seu namoro com James? - Perguntou e eu congelei imediatamente.
O que ela pretendia vindo até aqui? Suas intenções pareciam suspeitas, Evans parece a serpente que se arrasta no chão, aguardando o momento certo para atacar e injetar veneno em sua vítima. Eu deixei a pena de lado e não escondi a irritação que senti. Respirei fundo e tentei controlar os xingamentos que pareciam ideais para a situação. Eu sempre me orgulhei de ser pacífica e controlada, mas o ciúmes se mostrou ainda mais forte e poderoso
- O que você realmente esperava, Evans? Qual foi a sua ideia brilhante quando veio aqui e decidiu conversar comigo? - Perguntei e vi o medo tomar conta de suas expressões.
- Eu sinto falta dele - Resmungou com a voz trêmula e esganiçada, irritante.
- Sente falta dele ou de toda a atenção e carinho que recebia? James e eu estamos em uma relação seria, Lilian, sugiro que respeite e mantenha distância - Comentei organizando o conteúdo em cima da mesa - Você não sabe e nem imagina do que sou capaz, leãozinho, um texugo é feroz e ameaçador quando preciso e a maioria se esquece disso - Sorri e Lilian não escondeu o desagrado e indignação.
- Está me ameaçando? - Questionou, ela assumiu uma postura distante - Ou tem medo que ele ainda sinta algo por mim? - Indagou e eu engoli seco com tanta ousadia.
- Você realmente não sabe nada sobre o homem no qual está falando. O meu James é honrado e fiel, acima de tudo, a si mesmo. Um grifinorio de coração e alma, isso refletiu em coragem e fidelidade, algo que você nunca vai entender de verdade - Sibilei e vi o professor e mestre de DCAT entrar no biblioteca - Aceite o inevitável, James superou aquela paixão boba e infantil que tinha por você. E lembre-se, não vai me querer como inimiga, leãozinho, você é desprezível. E pensar que senti pena... - Sorri e caminhei para longe de Lilian.
Eu vaguei sozinha por Hogwarts, vez ou outra acenando para alguns colegas. Decidi ir até a cozinha conversar com os elfos, eles me aceitaram transitando por aquele lugar depois das muitas visitas que realizei. Fiz cócegas na pera e a passagem se abriu, o cheiro de mel e frutas atingiu meu olfato em cheio. Entrei ali e imediatamente os elfos sorriram e trouxeram uma bandeja cheia de comida e bebida. Lilian conseguiu estragar meu dia.
- A senhorita está bem? - Indagou Noite, o elfo doméstico mais fofinho que conheci no castelo inteiro.
- Estou, apenas cansada - Respondi e os olhinhos curiosos me olharam com atenção e curiosidade - E como você está? - Questionei tentando ocupar a mente.
- Noite, está bem - Comentei mexendo na orelha pontuda e pontiaguda.
- Ótimo, é maravilhoso - Murmurei e comi o bombom de avelã.
Eu deveria contar a James sobre Lilian e nossa conversa estranha? Como ele vai reagir diante da revelação? A verdade é que ela tem razão... uma parte de mim tem medo que seu coração ainda pertença a ruiva, mesmo que o espaço seja pequeno e insignificante. Eu sei o quanto nos amamos, também sei que ele não faria algo que me machucasse. Entretanto, eu odeio pensar nele com outra pessoa, Lilian se tornou digna da minha raiva e indiferença.