4 anos depois
Hoje é véspera de Natal, e o dia começou bem cedo aqui em casa, que se tornou o lugar oficial para datas importantes como Natal, Réveillon, Dia das Crianças e vários outros.
— Barbie, pelo amor de todos os deuses existentes, ME DEIXA FAZER A PORRA DO DOCE EM PAZ! — Jacob praticamente grita lá na cozinha com o amigo. Já os conheço há quase cinco anos e eles continuam do mesmo jeito, um implicando com o outro a todo o momento.
Levanto da cama - tive que voltar para descansar pela sexta vez em menos de 3 horas - e me arrasto para a cozinha antes que eles a transformem em um campo de guerra.
— O que está acontecen... — eu paro de falar quando chego na minha linda cozinha e a encontro na forma de uma zona sem pé e nem cabeça. Jacob está de avental e tem tanto chocolate por sua roupa e corpo, que parece que explodiu uma bomba com o doce na mão dele. Ao lado dele, Barbie se mantém impecável, inclusive o cabelo que nunca, nunca mesmo, está com um fio fora do lugar. — Não quero saber de nada, apenas terminem e limpem tudo.
Saio sem nem esperar que eles falem alguma coisa.
Nesses 4 anos, me aproximei ainda mais dos amigos de Noah e pensei que isso era impossível. Barbie é uma brisa refrescante em nossas vidas, sempre trazendo muita alegria para tudo e todos ao seu redor. E o Jacob, continua sendo o Jacob; entretanto, desde o ano passado é muito comum vermos ele com um sorriso lindo estampado no rosto, e todos sabemos o motivo disso. Eu os amo como se fossem meus irmãos, mas meus hormônios aflorados não me permitem ter tanta paciência como antes para esses momentos deles.
Como é Natal e passaremos todos juntos aqui em casa, cada um trouxe algo e no final, teremos uma ceia gigante, com comida que vai durar por mais alguns dias. Barbie e Jacob cozinham aqui todos os anos, fielmente. Na verdade, eles vêm na noite anterior, e sempre fazemos uma sessão de filmes natalinos, que nunca os agrada, mas que eu e as meninas ficamos felizes, então, eles acabam ficando por tabela.
— Papai, a vovó disse que vai trazer uma torta de maça só para mim, mas eu vou dividir com a mamãe. Você come muito, desculpa, não vai ganhar — paro na porta que dá para os fundos da casa e seguro o riso quando escuto Mila falar com Noah.
— Você não vai me dar nem um pedacinho? — ele pergunta enquanto troca alguns piscas-piscas da decoração que queimou. Mila está sentada em cima de um dos brinquedos do parquinho, toda encolhida e abraçando seu próprio corpo. A temperatura está muito baixa e o frio esse ano não está de brincadeira, e é por esse exato motivo que dificilmente eu venho aqui para fora sem estar com muitas roupas.
— Não, papai, sem chances. Vai ter que comer o que ela vai trazer para todos!
Depois que Noah me pediu em casamento, decidimos que queríamos adotar Mila, e foi uma das melhores decisões que tomamos. Não demorou muito tempo, conseguimos resolver todas as questões burocráticas e ela veio morar conosco.
O início foi um pouco difícil porque era muita coisa nova ao mesmo tempo. Mila tem asma e o emocional dela conta muito nos momentos de crise. Nenhum de nós dois estávamos preparados para as noites em claro, alguns dias no hospital e os momentos de desespero quando a situação se agravava. Porém, foi mais uma coisa que tivemos que aprender na prática e hoje sabemos lidar com maestria, até quando aparece algo novo. Eu e Noah nos tornamos ótimos em driblar as novidades desagradáveis na vida de pais e de casados.
Falando em casamento, o nosso aconteceu há dois anos. Foi uma cerimônia linda, e todos que amamos estavam presentes, festejando e comemorando a nossa união.
Meu esposo consegue me surpreender a cada dia que passa. Para quem diz que vida de casado esfria as coisas entre o casal, eu preciso discordar totalmente. A gente se ama e se deseja cada dia mais, e na fase em que estou, ele sofre, pois se depender de mim, não saio da cama, se é que me entendem.
— Conseguiu descansar, amor? — saio da minha bolha de pensamentos quando Noah fala perto de mim e me dá um beijo. — Troquei tudo com a ajuda dessa garotinha aqui — Mila passa por baixo do braço dele e abraça a minha barriga com cuidado.
— Você sabe, mamãe. Tive que fiscalizar tudo e tio B fingiu que estava no telefone para não ajudar o papai — sussurra a última frase e eu rio, porque isso é a cara do meu cunhado.
Noah me dá mais um beijo e entra com as coisas que precisa guardar. Mila começa a alisar a minha barriga por cima da roupa e depois me olha, com seus enormes olhos brilhantes.
— Por que demora tanto para ele sair, mãe? A gente não pode abrir e tirar ele daí? — coloco a mão na boca para não explodir em uma risada e ela fica cutucando de leve com a ponta do dedo. — Oi, Adam, você é muito preguiçoso. Quero brincar com você!
Pego a mãe dela e a levo até o sofá. Me acomodo e bato em minha perna para que ela se sente ali.
— Mila, a mamãe já explicou que vai demorar 9 meses para que seu irmão nascer — ela cruza os braços, contrariada. — Lembra do calendário que coloquei lá no seu quarto? É só você olhar e ver quantos dias faltam — beijo a pontinha do seu nariz e ela sorri. — Falta menos do que faltava antes!
— Você sempre fala isso, mas toda vez que vejo ainda falta muito — ela sai do meu colo, vai correndo para o quarto e dessa vez decido não gritar para que ela não corra.
Mila é uma criança extremamente inteligente e astuta, eu vivo me surpreendendo com seu jeito e suas curiosidades. Muitas das vezes, fico sem saber o que responder, e agradeço quando Jacob está por perto, ele é ótimo em responder coisas que pais nunca querem falar com os filhos, além de ela sempre ficar satisfeita com o que ouve dele.
Há seis meses descobri que estava grávida do nosso segundo filho. Foi uma notícia que deixou todo mundo muito feliz; acho que nunca fui tão paparicada por todos como tenho sido ultimamente, até falei para Noah que assim vou querer ter um time de futebol só com nossos filhos.
— Um milhão por seus pensamentos — Noah se senta ao meu lado e me puxa para o seu peito. Me recosto ali e o abraço. — Ei, garotão! — fala com a minha barriga quando coloca a mão nela e sente o bebê mexer.
— Estou pensando em como eu sou sortuda por ter vocês! Todos vocês! — já falo com voz de choro e ele enche o meu rosto com beijos e depois alisa a minha bochecha, me encarando com muito amor e sorrindo de maneira que sua covinha apareça.
— Natal sempre te deixa mais emotiva que o normal — ele brinca. — Agora grávida, caramba, é bom que você fique com uma garrafinha de água ao seu lado o tempo todo, pois não quero que se desidrate — me dá um beijo rápido e desce até meu pescoço espalhando beijos pelo caminho.
— Não faz isso, amor. As pessoas estão chegando e não consigo ser tão ágil para me recompor como antes — ele ri e concorda, prometendo que à noite não escaparei.
— Inclusive, você está linda, meu amor! — pisca e se levanta. — Vou na cozinha ver se os dois permanecem vivos. Estão quietos demais.
Me levanto e vou até a árvore. Levamos um dia inteirinho colocando decorações nesse pinheiro enorme, que quase encosta no teto. Foi praticamente um evento e todos ajudaram em algo. Emma fez questão de colocar várias bolas personalizadas com a foto de cada um espalhada por ela, e ficou lindo.
E, em falar nela...
— Que cheiro bom! — ela fala assim que entra, seguida pelos meus sogros, minha mãe e Jennifer. Mila desce correndo e quando a encaro séria, ela sorri sem graça e caminha rápido em direção aos avós. — Sempre sou trocada por eles! — resmunga depois que minha filha passa direto por ela.
Recebo todos, ganhando uma atenção extra porque Adam decidiu se mexer para que todos o sentissem.
— Essa criança está passando tempo demais com Barbie, tá sempre querendo atenção — Jackson fala quando sai do quintal com B e se junta a nós. — E, antes que falem, não estou com ciúmes. Eu serei o tio preferido, eu tenho uma boate!
Todo mundo ri e eu aproveito esse momento para observá-los enquanto interagem entre si. Eu amo a minha família e não poderia almejar algo tão incrível como tenho agora. Todos se completam de uma maneira bem interessante, e juntos parecemos um enorme quebra-cabeça finalizado.
Às vezes, eu penso em tudo que passei para poder ter o que tenho hoje, e se alguém me perguntasse se eu passaria por tudo de novo para ter a minha vida atual, eu não pensaria duas vezes para responder "sim". Parece que foi em outra vida que eu passei pelos problemas com Alex e Ethan, eles realmente ficaram no passado e nada do que vivemos depois deles foi abalado por conta disso; na verdade, acho que eles só nos ajudaram a nos tornar mais fortes ainda.
— É uma bagunça boa, né? — Barbie aparece ao meu lado e eu encosto a cabeça em seu braço. — Falta só uma pessoa para que fique completo — eu o encaro e ele pisca. Olhamos juntos para a porta quando ela se abre novamente.
— Tiaaaaa! — Camila grita quando vê quem chegou e eu sinto o corpo do meu amigo tremer em ansiedade quando ela entra toda radiante, esbanjando sua beleza. No momento que seu olhar encontra o de Barbie, é como se eu estivesse me vendo nela quando olho Noah.
Agora sim, minha família está completa.