Evergreen

By ManuhCosta_Official

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Uma conveniência imposta por uma regra social obrigatória, um mundo onde não há amor maior do que o que podem... More

Classificação e Informações 🖤➕1️⃣6️⃣
Personagens 🌸🌺🪷🌕🔥
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XVII

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By ManuhCosta_Official





Me sinto tensa em dizer essas palavras, mas é algo do qual tenho pensado tanto esses dias, sinto como se o peso da responsabilidade me deixasse com os ombros caídos para baixo, é impossível não lembrar disso sempre.

—eu espero que ele seja uma criança saudável e feliz, e você?

—não sei o que esperar, imagino que ele será muito cobrado e odeio isso, me preocupo na verdade.

—mas ele ainda nem nasceu!

—não, mas eu odiaria ver uma criança tão pequena sendo alvo de cobranças tão grandes, você sabe como é a infância de um ancião? Ele é deixado em uma casa longe de todos para aprender a lidar com seus dons ainda bem pequeno, ninguém quer nascer um ancião, toda casta de ancião conta com histórias de suicídios e pessoas com distúrbios sérios.

—sei que isso talvez a assuste, mas eu nunca permitiria que ninguém o machucasse.

—talvez isto não esteja dentro do seu alcance.

—você está se preocupando com coisas das quais talvez não precise se preocupar neste momento, vamos jantar? Minha mãe preparou nosso jantar, eu trouxe, pelo que soube amanhã é sua folga, tirarei o dia para ficarmos juntos.

Reviro os olhos.

—quem anda passando meus horários para o senhor?

—seu patrão.

—e pediu assim naturalmente para ele?

—não deveria? Somos noivos!

Me irrito com isso.

—não, não somos noivos, ainda não houve festa de noivado é meio arrogante da sua parte fazer isto sem me consultar.

—você não enxerga o óbvio, você não quer lidar com a situação, parece que quer se sentir melhor que as outras pessoas, como acha que nossos pais se sentiram ao terem que lidar com uma conveniência? Ao se verem presos a uma obrigação? Eu estou tentando me adaptar a sua realidade para que não sofra, acredito que saiba que eu tenho a preferência de que venha para o meu estado, entretanto minha mãe e eu nos mudamos para cá, para que você não se mude para longe de sua família, acredito que não saiba reconhecer os privilégios dos quais goza Hielena, para mim mais parece uma menina mimada que não sabe lidar com a realidade.

Fico parada sem saber o que falar, Virgo se ergue sério.

—quer que eu vá embora?

Continuo calada engolindo as palavras ditas pelo ministro, seu tom de voz foi franco e duro, mas absolutamente frio, duro como uma lâmina afiada, mas tão... sinceras.

—não vou ficar discutindo com você sobre esse assunto, as coisas são como são e ponto—ele diz secamente—quer que eu vá embora ou não?

—estou dividida—confesso incerta.

—preciso tomar banho e descansar, não foi uma noite fácil, se quiser que eu vá embora diga neste momento, levarei alguns minutos para chegar em casa.

—e o seu cavalo?

—não estou à cavalo hoje, não havia onde deixa-lo aqui, minha mãe me trouxe de carruagem.

Deveria imaginar.

—trouxe roupas?

—usa roupas para dormir?

Estranhamente minhas bochechas ficam vermelhas.

—nem sempre.

—eu trouxe roupas para o dia de amanhã, poderemos visitar seus pais, fique tranquila.

Me ergo e fico de pé, depois ele abre espaço para que eu entre dentro de casa, vou para o trocador consciente de que ele está atrás de mim, começo a me despir sentindo que o sangue sobe por todo o meu corpo até minha cabeça, sei que em muitos casos pode acontecer de uma mulher ter que ficar despida diante de um homem, não é um completo tabu, mas ainda é um tanto constrangedor.

Não há um outro lugar onde possamos tomar banho porque só há uma reserva de banho na minha casa, teremos direito há alguns minutos de água e teremos que fazer isso juntos, porque é assim que funciona, em algum momento na casa dos meus pais sempre me recordo dos banhos coletivos até completar 12 anos de idade com meus irmãos, já bem mais velhos que eu, era natural, até papai aumentar cômodos da casa e termos mais dois banheiros, nós nunca podemos utilizar mais do que necessário porque as condições já foram precárias demais.

Mamãe e papai sempre respeitaram muito nossas privacidades, mas havia épocas do ano que havia obrigação de racionamento de água, hoje não há obrigação de racionamento, mas de economia, e a limitação do uso da água é obrigatório.

—quantos minutos?—Virgo pergunta.

—3, com sorte 4—respondo olhando para o chão enquanto tiro a última peça de roupa do meu corpo.

—que sorte, meus banhos mais longos duram 2 minutos inteiros aos domingos—Virgo diz calmamente—eu economizo há cerca de 10 anos para que quando eu me casar, possa ter dois banheiros, um para as necessidades e um para os banhos.

Interessante e curioso.

—achei que os ministros tivessem direito há mais minutos de banhos.

—temos, mas eu economizo os meus, não tenta economizar os seus?

—eu tento as vezes, aos fins de ano ou quando recebo algum irmão ou sobrinho aqui.

Saio do trocador e vou na frente juntando as mãos.

—onde estudou? Me fale das suas formações?

Meus ombros sobem e descem porque tento respirar fundo, entro no lavador, recuo um passo e fico de costas.

—me formei na universidade local, sou formada em história, eu tenho especificação em mapas antigos e sei falar 7 das antigas línguas dos 5 continentes que haviam na antiga terra.

—gosta de consertar relógios?

—meu pai me ensinou, fui a única da família com boas mãos para este tipo de ofício, eu aprendi a gostar.

—Sven tem ciúmes de você, sabia?

Mais uma vez reviro os olhos, a água começa a jorrar rapidamente do chuveiro e sou puxada para debaixo dele com pressa pelo ministro, ele me entrega o sabonete e se move, mesmo que eu sinta seu corpo roçando no meu, tenho consciência que ele age depressa porque o nosso banho será muito rápido, espalho o sabonete por minhas partes íntimas e estendo para ele, enquanto me enxáguo enfio a cabeça debaixo da ducha de água fria e refrescante, me afasto lhe dando espaço e sei que ele se lava muito rápido.

—talvez meus pais desaprovem essa intimidade não acha?—indago pensativa sobre isso.

—eu nunca faria nada de errado nem que colocasse você em algum tipo de risco, estamos compartilhando uma convivência, é normal entre noivos.

—não é bem assim que meus pais disseram que foram os encontros deles, não há ninguém aqui me acompanhando.

—eu estou te acompanhando, sou um ministro, por que precisaria de alguém para me vigiar?

—talvez cometa algum deslize.

—eu nunca cometo deslizes.

—e se cometer?

—eu não cometo!

—você fala como se fosse alguma autoridade na minha vida.

—tecnicamente eu sou a maior autoridade que há na sua vida neste momento.

Ele se recua um passo e entro debaixo da ducha me molhando mais uma vez, lavando depressa onde devo lavar, então sei que ele sai e o chuveiro para, suspiro olhando para cima, junto as mãos e agradeço mentalmente mesmo assim, algumas vezes me esqueço de agradecer, mas agradeço.

—eu conversei com os seus pais sobre nossos encontros e pedi a dispensa da supervisão, dado os motivos pelos quais nos casaremos é claro, não quero que a cada segundo alguém fique à espreita ouvindo algo sobre algum filho nosso.

Saio do lavador e vou para o rumo da minha cama, é boa a sensação de que ainda não terei que dormir, mas é constrangedor saber que tem um completo estranho aqui comigo.

—eu trouxe frutas e trufas doces de amêndoas com morangos, minha mãe fez—Virgo diz—também tem suco de alguma coisa vermelha que eu não faço ideia do que seja.

—eu aceito as frutas—me sento na minha cama—não entendo porque insiste em dizer que o Sven tem ciúmes de mim.

—porque ele tem—responde—por isso é bom que ele saiba que você é comprometida e que tenha que lidar com isso quanto mais cedo melhor, assim ele pode matar os sentimentos que tem por você, talvez se continuasse solteira, ele continuasse a alimentar algo que se tornasse maior por você.

Sei que ele se move na minha cozinha, mas não ouso olhar, me estico na minha cama e puxo os lençóis me cobrindo até a altura dos meus seios, Virgo se aproxima e então se senta na cama diante de mim, continuo a olhar para minhas mãos.

—eu também pensava como você quando mais novo, achava todo o sistema errado e não entendia como poderiam condenar alguém a viver com outra pessoa sem que houvesse um pingo de afinidade—Virgo diz e coloca um prato com frutas frescas diante de mim—mas não há outra forma de dizer para as pessoas que façam coisas certas, se deixarmos que elas façam o que querem vamos perder o controle de tudo novamente.

Ergo o olhar e o fito.

—negar a alguém o direito de fazer escolhas é negar o direito de viver uma vida digna—respondo.

—dignidade?—questiona e uma sobrancelha se ergue cheia de ironia—então não vivemos dignamente?

—apenas acho que negamos a nossa natureza ao virar as costas para o livre arbítrio, não se sente preso numa gaiola?

—sabe há quantos anos não temos um homicídio em Navie?

Eu sei, curiosamente não me sinto empolgada com isso por mais que deva.

—você fala sobre escolhas, sobre poder fazer as coisas, mas eu aposto que se lhe desse o poder de controlar todos os sentidos da sua vida não conseguiria controlar nenhum deles por inteiro até o dia da sua partida, sabe porquê? Porque ninguém nunca tem absoluto controle sobre nada.

­—o Estado Majoritário tem—argumento.

—o Estado não é uma pessoa, é um órgão.

Pego uma fruta e começo a devorá-la, entendendo o que ele quer dizer mesmo não concordando com um bocado de coisas, mas ainda assim...

—negar o direito de escolha é negar a nossa natureza—insisto só para dizer algo—somos humanos, saímos da nossa "terra", mas ela nunca sairá de nós, é perverso tentar dominar nossa natureza condenando-nos a uma vida de represálias e grades.

—acha que vive em uma grade—novamente as sobrancelhas dele se erguem e noto que é um padrão.

Simples, ele não gosta de ser questionado e quando é, fica fazendo essa cara.

—tão autônomo, tão confiante—digo franca e me ergo, me sentando—tão cheio de certezas sobre o sistema, convicto do que te ensinaram a acreditar não é?

—não se questionar sobre as coisas é tolice—Virgo argumenta sem tirar os olhos dos meus—mas tentar quebrar as regras por puro egoísmo é burrice.

—eu sou egoísta?—indago chocada—porque não acredito no sistema?

—você acredita no sistema—os ombros dele sobem e descem e ele pega uma fruta para si—só está revoltada pelo fato de que isso irá te afetar de alguma forma.

—se eu estivesse numa posição de ministra, com certeza tentaria mudar isso—praguejo chateada porque é impossível conversar sobre isso com ele.

—acha que eu não lutei contra o sistema? Como acha que eu me senti quando eu soube com sete anos de idade que seria ministro?—Virgo coloca a vasilha no chão e se inclina na minha direção.

Recuo de imediato para o canto da cama, ele puxa o lençol e se enfia dentro dele com naturalidade, se encosta em meu travesseiro e fica olhando para o teto enquanto come a sua fruta em silêncio.

—fugi de casa aos quatorze e aos quinze, eu tentei me enforcar—Virgo fala com naturalidade—você por algum acaso acha que todos nós nos sentimos felizes em fazer parte do sistema e recebemos nossa prole de braços abertos?

Engulo à seco, ele olha para o lado me encarando, está tão calmo, não sei o que falar sinceramente.

—a resposta é não—diz secamente—não é tão fácil para todos aceitarem a forma que a nossa sociedade é formada, eu entendo que você sofra com as escolhas que fizeram para você, eu também sofri muito até entender que tudo já estava aqui bem antes de mim, eu não posso mudar as coisas e adequá-las de acordo com minhas necessidades, não seria justo com nossos pais, com quem nos tornamos.

—você acredita mesmo que vivemos bem com o sistema atual?—continuo a fita-lo, os olhos analíticos e sérios me prendem.

—o que é viver bem para mim não é a mesma coisa do que viver bem para você...

—ah, entendi—corto.

Virgo olha para o teto e morde mais uma vez sua fruta, enquanto mastiga posso jurar que vejo um quase sorriso surgindo em seus lábios.

—você é um hipócrita—afirmo mesmo assim.

—entendo sua dor, me solidarizo com ela, você é jovem e as mulheres antigas na sua idade estavam se iniciando sexualmente, buscando empregos, viajando, indo aos antigos bailes, faz parte do nosso instinto, nós sempre buscamos a liberdade, está no nosso sangue, na nossa prole, mas não devemos ser instintivos.

—é verdade, não somos tomadores de nada além da vontade dos outros senhor ministro.

Ele estende a mão sem pressa e toca minha face devagar com a ponta dos dedos.

—hoje não me chamou nenhuma vez de meu senhor.

—eu sinto muito por isso, meu senhor.

É que na verdade não pensei em falar, eu só estou um pouco tensa e distraída demais desde que tudo se iniciou, ainda mais depois que ele fez aquilo.

—eu sinto muito sobre a forma como você me vê, sobre como se sente em saber que irá se casar comigo, todos fomos tomados de surpresa quando soubemos que eu teria que me casar com você, mas foi algo que a anciã nos comunicou, eu estava quase convicto de que desposaria Olívia, era o que nós queríamos, mas duas semanas antes de eu vir até aqui, a anciã comunicou aos meus superiores que ela deveria se casar com outra pessoa.

—imagino que ela seja especial e que tenham um vínculo muito forte—concluo—meu senhor.

—você nunca se sentiu assim sobre ninguém?—os olhos se tornam de repente lúcidos—como se ao estar perto da pessoa, seu peito queimasse e você não visse a hora de revê-la de novo? De sentir o toque leve e as pontas dos dedos tocando os dedos da pessoa? Eu tinha certeza desde que eu a vi que ela seria minha.

—você é meio possessivo—alego mas por dentro me sinto estranhamente derretida.

A paixão, a devoção, os sentimentos explícitos, é a primeira vez que eu o vejo se expressar tanto ao falar de alguém.

Olívia.

Ele a ama, ama muito, é nítido.

—era recíproco?—tenho coragem de perguntar.

—sim—Virgo sai dos pensamentos e me encara agora bem sério—e você?

—nunca me apaixonei—confesso e sinto as bochechas quentes—deve ser uma sensação estranha.

—é, certamente a mais estranha minha senhora—Virgo afirma—é ter certeza de tudo e nada, é como sentir que flutua e algo o prendo ao chão.

Ele é romântico!

A constatação me faz sentir ainda estranheza, porque se quer me veio a mente algo que remetesse a isso.

—creio que esteja falando demais ao meu respeito—a testa dele se franze—mas acredito que você tenha muito a me falar sobre si mesma, você sempre tem algo a dizer.

—não muito, apenas nunca me apaixonei, nem cheguei perto de perceber algum interesse por parte de alguém e me sinto aliviada de saber disso, seria frustrante ter que lidar com o sofrimento de saber que aquela pessoa não seria minha—falo e os olhos dele se fixam em mim—não sei sobre como seria se me ocorresse, mas acredito que a vida seria apenas como sobreviver sem ter aquele alguém comigo.

—mamãe torcia muito para que Olívia fosse minha noiva...

—sua mãe não gostou de mim e isso explica muita coisa.

—ela se assustou, assim como eu.

—ah é, ela mal suporta olhar na minha cara, é perceptível.

—ela irá se acostumar.

—minha... minha senhora.

—muito obrigada meu senhor.

Virgo estende a mão novamente e acaricia minha bochecha, fico de lado e o observo, ficamos em silêncio por alguns momentos, noto as linhas de expressão suavizadas em sua testa, os cabelos bagunçados espalhados pelo meu travesseiro, o braço tão maior que o meu me puxando para junto de seu corpo.

Meu coração se acelera e fico parada enquanto o ministro se aninha ao meu corpo com naturalidade, ele parece mais cansado, o rosto se enfia na curva do meu pescoço enquanto as pernas dele estão entre as minhas, seu abraço faz com que meu corpo esteja junto do dele, colado.

Fecho os olhos, não me resta outra solução se não dormir.




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