CAPÍTULO ONZE
a mão amaldiçoada
ESTAVA TUDO APARENTEMENTE ACABADO, COM TOMMY morto a ameaça encontrava-se praticamente extinta, ao menos, foi o que consideraram a princípio. Blair ainda tremia, anestesiada, o som de sua respiração incontrolável mais alta do que nunca, tentando raciocinar a respeito do que ocorrera, aflita, seu corpo se arrepiou com o impacto, sentindo um líquido quente se espalhar entre suas pernas, o qual ignorou a princípio. Lamentando em silêncio que Slater houvesse enlouquecido daquela forma e acabado naquelas circunstâncias, em pensar que no começo do dia o havia considerado um herói... Ela então voltou suas pupilas apressadas para Kurt, como se procurasse nele a esperança de se manter sã, o garoto ainda a encarava atordoado, largando a serra elétrica perto de onde estava, correndo até ela que, inclinou-se, o puxando para um longo abraço, o apertando entre seus braços, ambos de joelhos sobre o solo amaldiçoado de Shadyside.
── Você tá cheirando que nem um gambá! ── confessou, com um sorriso reconfortante no rosto.
── Sério? Ah, cara! Eu acabei de tomar banho! ── o sunnyvale ironizou, com a voz cansada ── Deve ser a roupa do zelador, foi a única que eu encontrei pelo caminho. ── se referiu ao macacão que vestia, ele precisou pegá-lo do corpo do homem já morto quando saltou do ônibus e o encontrou próximo à estrada.
── Por quê voltou? ── ela o encarou, segurando firme em seus braços, assim que se afastaram ── Você devia ter ido com os outros!
── Só me pareceu injusto deixar alguém como você morrer! ── seus dedos deslizaram pela lateral de seu rosto e tocaram seus cabelos, Watson franziu a testa, nunca o viu agir daquela forma antes, ele estava feliz em poder vê-la novamente.
── Alguém como eu? ── estranhou.
── Tinha muitas pessoas que não mereciam ser salvas naquele ônibus. Eu também era um deles. Mas você é boa, e sempre ajuda todo mundo, cê tem que sair viva daqui! ── confessou, ao lamber os lábios, que por sinal estavam bastante secos.
Blair sentiu seu peito se aquecer ao ouvir aquilo, emocionada e feliz, alguém enfim, pela primeira vez, notara o seu benevolente coração, que sempre acreditou passar despercebido para todos.
── Kurt... Obrigada! ── respirou fundo ── Se você não tivesse aqui...
── Eu já vi, muitas pessoas morrerem na minha frente hoje. ── interrompeu, aguentando firme, tentando não entrar em pânico ── Mas não você! Eu não vou deixar você morrer! Não a garota gentil que me emprestou um lápis na primeira série quando, quando eu tava me sentindo perdido e assustado. Eu sinto muito por ter me afastado tanto de você!
── Não foi culpa sua! A gente só fez outras amizades e...
── Não, foi sim! Eu sempre fui um completo idiota! ── segurou em sua mão, suando frio ── Eu quis ser descolado, eu quis ser aceito, aí eu te deixei de lado! Eu comecei a andar com os garotos mais populares, falava mal de você pelas costas quando eles faziam piadas, eu me perdi de quem eu era... Mas hoje, eu lembrei! Eu lembrei do garoto corajoso da primeira série...
── Tá tudo bem, Kurt! Eu te perdoo! ── assentiu ── Todos nós erramos de vez em quando...
── Para de ser legal, Blair! ── o loiro se enfureceu, constrangido com seu coração generoso ── Cê é boa demais pra todos que tão aqui! E já que eu não sou, quero que me diga qual é o seu plano... Você é a inteligente do grupo, então vamos lá, me diz o que eu tenho que fazer! ── ele riu, esperando que ela recobrasse o raciocínio, após aquele momento tão ameaçador.
── Pensei que você fosse o líder... ── arqueou as sobrancelhas, era a primeira vez que ele não se importava em conceder o título.
── É... Eu, passo a bandeira pra você! ── a segurou, ajudando Watson a se pôr em pé.
Por um instante, Blair tocou em seu shorts e olhou para seus dedos, agora cobertos de sangue. Sua mente entrou num devaneio completo, pensando a respeito de sua criança, ela sabia que havia feito esforço demais para uma única noite, mas não podia perdê-la assim... Só conseguia rezar mentalmente para que apesar do sangramento, ela estivesse bem. Disfarçou, limpando os dedos na lateral de sua blusa, aquilo serviu como um assustador lembrete de que o pesadelo ainda não havia acabado. Tinha a preocupante situação de Frankie e, rapidamente se lembrou da mesma, que gritava desesperada no poço, onde a corda e o balde haviam caído acidentalmente, esperando por alguma resposta. A loira tão logo replicou solícita, lhe informando que estavam à salvo, dando um sinal de vida, o que aliviou a aflição de Lane. Sheila ainda encontrava-se caída, com os olhos oscilando entre a realidade e o universo do sono infinito, vazio e escuro. Blair correu até ela, não permitindo que se apagasse por completo.
── Ela tá morta? ── Kurt arregalou os olhos, impressionado com o sangue quase imperceptível que manchava sua blusa vermelha, no entanto mais escuro, jorrando de seu ombro esquerdo.
── Não. Ela ainda tá acordada! Foi um ferimento no ombro, tá vendo? Droga! Tem algo pra estancar? ── engoliu em seco, sabia que uma hemorragia seria inevitávelmente fatal, mas não disse nada para não apavorar a morena que já estava suficientemente assustada.
O loiro procurou algo em si, quando acabou notando um cinto largo afrouxado em sua cintura, que nem percebera antes.
── Toma! Aqui... ── disse, o desafivelando e entregando à sunnyvale ── Esse cinto deve servir!
── Ótimo! ── encostou Sheila num tronco de uma das árvores e começou a apertar o objeto ao entorno de seu antebraço, com os olhos distraídos no vazio, por um momento enxergou a jovem Eleanor que continuava acuada em um canto, sozinha, tendo largado o taco de beisebol e permanecido com seu ursinho, finalmente ela se recordou, o impacto inicial lhe havia dado um completo branco, contudo seu coração estava mais tranquilo em vê-la viva e saudável ── Ah... Oi, Elie! Não se preocupa. Tá tudo bem! ── mas a garota acelerou, correndo em sua direção, sem dar relevância aos outros, querendo proteção ── Kurt, segura ela pra mim... Eu preciso terminar aqui! ── informou, tentando finalizar o que quer que estivesse fazendo para ajudar Sheila que aos poucos, parecia estar melhorando.
── Como eu seguro essa coisa? ── ele esticou os dedos, a levantando no ar a certa distância, impedindo que chegasse até a garota a tempo.
── Jesus! É só uma criança, Kurt! ── Watson arregalou os olhos.
── Eu não sou bom com isso! Sinto muito... ── ele a aproximou, amedrontado, dando leves tapinhas em suas costas, afastando seu pescoço.
── Sheila! Ei, Sheila! Olha pra mim, acorda! ── abriu uma das mãos, empurrando seu rosto, embora quisesse dar um soco forte o suficiente para fazê-la se arrepender de todas as vezes que foi uma verdadeira cretina.
── Blair! ── chamou, como se tivesse despertado de um sonho ruim ── Blair, eu acho que, que eu vou morrer!...
── Você não vai! Cê vai aguentar firme, tá legal? Daqui a pouco a gente vai sair daqui! ── procurou acalmar seu coração ── Só tenta ficar acordada!
── Oh, Blair! Olha só, ela não tá gostando nenhum pouco de mim! Acho que ela vai chorar... ── a voz do velho amigo soou atrás de si novamente enquanto a expressão de Watkins se engruvinhava em um claro desconforto.
── Droga, Kurt! Me dá ela aqui! ── Blair se levantou, zangada e a tomou de seus braços, a chacoalhando, Eleanor se agarrou na adolescente novamente, se aconchegando, enquanto ela aproximava-se do poço abandonado ── Frankie!! Ei, você tá bem?!
── Tô!... Quer dizer, pensando melhor, nenhum pouco! Não! Eu não tô nada bem!! ── os lábios trêmulos vieram acompanhados da voz embargada, a jovem não conseguia mais conter o choro ── Eu nunca mais vou conseguir sair daqui, Blair! NUNCA MAIS!! Tipo, tá tudo dando errado! Que merda! O que eu faço?
── Calma! Confia em mim. Vai dar tudo certo! ── insistiu ── Nós vamos encontrar um jeito de te tirar daí!
Kurt estava paralisado olhando para Sheila, ele não sabia ao certo como ser prestativo, tão repentinamente se entreteu com um quadrado em vermelho chamativo por detrás dos arbustos, ele foi até lá, vasculhando, descobrindo os utensílios que as garotas haviam escondido.
── O quê que é isso? ── arqueou uma das sobrancelhas, enquanto a loira se aproximava.
── As coisas que a Frankie trouxe com ela. Tem um outro jeito de fugir, a gente tava a caminho das docas quando isso aconteceu... ── informou, indicando o incidente no poço.
── Gasolina pro barco. ── confirmou, matutando alguma coisa que parecia incomodá-lo ── E isso ainda importa? Quer dizer, o Tommy tá morto, por que a gente só não espera no acampamento pela polícia?
── O que você acha, Frankie? ── Blair se preocupou em saber a opinião da amiga.
── O quê?! NÃO! ── berrou alto. ── Como vocês sabem que a bruxa parou? Não vamos estar seguros até estarmos longe daqui! E se... Bom, e se eu não conseguir sair desse buraco, então, vocês vão sem mim!
── Como é que é? Enlouqueceu?! Nem pensar! ── Blair foi firme na decisão, ela tinha plena consciência de que a morena havia sido a pessoa que a trouxera até ali e estavam perto demais para se dividirem daquela forma, Frankie não merecia ser deixada para trás.
── Roupas? ── Kurt remexeu na mochila da shadysider ── Alguém tava pensando em fazer um desfile de moda, é?
── Espera! ── Watson soltou Eleanor, ignorando sua piadinha, ficando de joelhos ao lado do rapaz, franzindo o cenho, alguma ideia no fundo de sua mente tão brilhante surgira enfim ── As roupas... É isso! Se juntarmos todas elas, conseguimos fazer uma nova corda! ── sorriu, orgulhosa de sua linha de raciocínio, porque talvez fosse a única solução que agora tinham.
── Acha que vai funcionar? ── o sunnyvale se interessou ao ver Blair tão entusiasmada, se aquilo era importante pra ela, então também era pra ele ── Eu não sei se vai ser suficiente...
── A gente precisa tentar! ── o aconselhou ── Amarra uma na outra com força! É o único jeito da gente tirar a Frankie daí de dentro...
E ele então começou a separar os panos, enquanto a loira cuidava das garotas.
Avançando calmamente em direção ao refeitório, era simples de se observar Ziggy, Alice e Cindy sentadas ao entorno de uma das mesas, totalmente focadas, a dúvida sobre o que a loira descobrira ainda perdurava por parte das irmãs, que se concentravam em cada movimento seu.
── O quê que é isso? ── a ruiva apertou as sobrancelhas quando percebeu Alice pôr a bolsa da mais velha que estava com ela sobre a mesa e puxar parte do que aparentava ser o esqueleto de uma mão, o colocando em evidência para que todos pudessem ver.
── A mão decepada da Sarah Fier! ── comentou com tranquilidade, porém, os olhos bastante atônitos.
── A enfermeira Lane... ── Cindy prosseguiu, se lembrando ── Ela passou a vida inteira procurando por isso. Com a esperança de encontrar um jeito de quebrar a maldição, que, que levou a filha dela! A Frankie sabia... Ela sabia que isso tudo ia acontecer! Mas eu, eu ignorei o aviso dela...
── É, ela tava certa! Esse tempo todo... ── sua irmã respirou fundo, angustiada por não ter ideia de onde a morena se encontrava.
── " Mas sem a mão, ela ainda controla todas essas terras. A maldição durará até que finalmente o corpo e a mão se unam." ── recitou a frase do diário, que permanecia com ela, o abrindo e deslizando o mesmo em direção a Ziggy ── Isso nos levou até os ossos da mão. E se a lenda for verdadeira? O corpo ainda tá enterrado...
── Na árvore da forca! ── a mais nova completou, raciocinando.
── Pode ser o fim... O fim dos assassinatos, o fim da maldição, o fim... Da dor! ── apertou os braços, o frio em sua alma que jamais passaria, a falta que Tommy faria eternamente, era tudo no que conseguia pensar naquele instante, encarando as garotas ── A gente pode salvar Shadyside! Hoje!
O plano era bom, só precisariam de coragem de sobra para completá-lo, não que fosse um empecilho, elas já haviam experimentado o gosto do inferno apenas naquela noite, então nada mais as assustava. E se, estava mesmo em suas mãos salvar milhares de shadysiders, então por que não tentar?
Ziggy se conectou com o esqueleto, a mente distraída, ela não poderia tirar os olhos dos ossos de Sarah Fier, mesmo que quisesse, fascinada pelo objeto, o puxou para perto de si. Um sussurro curto e rastejante próximo ao seu ouvido a atraiu e assim que tocou neles, o som de moscas borbulhando ao seu entorno ecoou, sentindo um líquido escorrer rapidamente de seu nariz, o mesmo sangue de mais cedo estava ali, vertendo em excesso agora, pingou em três pequenas gotas sobre a mão. Naquele momento, algo arrastou sua alma para fora de seu corpo, como o olho de um furacão estranho que prendeu seu cérebro, suas pálpebras se arregalaram, sendo tomadas por uma visão em vermelho rubro: uma mulher gritando com o rosto apavorado apareceu, seguido pela imagem de uma forca próxima a uma árvore com um corpo despencando rapidamente, depois uma série de desenhos e símbolos de magia negra se espalharam em volta de tochas, até que os dedos molhados de Cindy seguraram firme em uma de suas mãos, a fazendo voltar do longo devaneio que tivera.
── Meu nariz... ── Ziggy o tocou, tentando limpá-lo, o coração batendo mais rápido que os segundos pulsando no relógio ── Eu, eu sangrei na mão. Eu acho que eu vi ela...
── Quem? ── a Berman mais velha se inquietou com o desespero da irmã.
── A Sarah Fier! ── informou, certa daquilo ── Ela... Tava com muita raiva!
── A gente tem que enterrar essa merda! ── Alice olhou persistente para a morena ── Agora mesmo!
Cindy assentiu, se levantando obstinada, com uma sede de vingança perceptível, a adrenalina pairando sob sua pele a fez acelerar até a dispensa, procurando por uma pá, ou qualquer coisa que a ajudasse a desenterrar a bruxa do maldito solo em que foi colocada. Em seguida ela a encontrou, era a única dali e estava atrás da porta, no máximo havia uma outra pá pequena de mão no armário a sua frente. Depois retornou com ambas, apressada, no entanto, no meio do caminho seus joelhos travaram e um olhar de surpresa se formou em seu rosto, assim que reparou com mais atenção, se assustando por não ver Slater no chão, no lugar onde ela o havia acertado.
── Cadê o Tommy? ── aproximou-se da loira que a aguardava encostada contra o batente do corredor.
── O quê? ── juntou as sobrancelhas, nervosa ── Ele não tava morto bem ali?
── Tá, deixa pra lá, não importa! ── Cindy inalou o ar pesado do lugar, buscando não pirar de vez, retornando para a sala onde estavam todas as mesas ── Vamo acabar logo com isso! ── e entregou a pá menor para Ziggy, ficando com a maior, vendo Alice as encarar com certa dúvida visível, não entendendo onde ela cabia naquele plano.
── E eu vou cavar com as mãos? ── questionou sarcástica.
── Não. Você fica aqui! ── sua amiga se decidiu por ela, a fim de protegê-la
── Eu posso ir mancando... ── sorriu, caminhando com o pé ainda machucado, como se se divertisse com a própria situação, diante do silêncio crucial, Alice sentiu no fundo da alma que o seu momento de fazer a diferença havia chegado ── Eu vi o meu pai ser preso quando eu tinha seis anos. Eu vi minha mãe roubar, pra eu poder comer... ── começou, relembrando toda sua história com muita dor ── Eu me cortei pela primeira vez aos doze anos! Foi depois... Você sabe! E essa noite... Eu vi o seu namoradinho perfeito, virando um monstro e matar, a única pessoa que eu já amei! E-Eu esperei a porra da vida toda, por isso! E chegou a hora... Me deixa ir até o fim! Pelo Arnie, pelo Tommy... Por Shadyside! ── suspirou, exausta de tanto sofrimento.
Não estava em poder de nenhuma das duas negarem aquilo, por isso concordaram lentamente, ainda que a morena estivesse alarmada, ela também compartilhava daquela dor que, somente quem nasceu shadysider conhecia perfeitamente bem.
── Por Shadyside! ── Cindy repetiu.
── Por Shadyside! ── Ziggy firmou os olhos, confiante.
Um timbre acelerado de passos rastejando próximo ao tudo de ventilação fez com que o trio se afastasse do buraco sobre a madeira, uma gosma negra que tomou o formato de uma mão tocou o chão, segurando-se, um taco de beisebol atravessou em seguida e, mesmo que não soubessem do que se tratava, uma coisa era certa, ainda corriam perigo. Os sapatos se apressaram para fugirem dali.
── O quê é isso? ── a ruiva indagou, com os olhos arregalados.
── CORRE! CORRE! ── Cindy só gritou, ajudando as jovens a atravessarem a varanda do chalé principal.
Do outro lado da floresta, o planejamento para resgatar Frankie aparentava estar indo conforme a sunnyvale mais velha havia pensado. Os pares de roupas amarrados um no outro haviam formado um novo pano longo e, estavam prestes a descobrir se a Lane conseguiria mesmo alcançá-lo. Kurt o arrastou próximo de onde a menina havia caído, franzindo a testa ao notar que Blair estava pronta para participar, considerando um absurdo.
── Não, Blair! Descansa... ── ele assentiu, olhando para seu semblante pálido e cansado ── As aulas de educação fisica e os treinos tem que ter servido de algo! ── respirou fundo, assumindo a responsabilidade, já que era o mais forte do grupo.
── Obrigada! Você é um bom amigo, Kurt... ── Watson ainda mantinha Eleanor em seus braços, ele apenas sorriu, como se a frase houvesse lhe soado irônica.
── E o que mais? ── apertou os olhos, com um sorriso de canto, como o bom conquistador que costumava ser e mesmo que Blair houvesse estremecido por um segundo, ela só conseguia rir, sobretudo de como o azar os acompanhava.
── Nós temos crianças no recinto, Kurt! Anda logo! ── estalou os dedos, o incentivando a seguir em frente com sua ideia.
── Tá bom! ── o sunnyvale lançou parte do pano para dentro do buraco escuro, apreensivo pela profundidade ── Oh, Frankie, cê alcançou?!
── Não! ── tão logo respondeu ── Mas posso tentar pular!
Ele olhou para a loira mais atrás que concordou com a cabeça, lhe dando confiança, mesmo que não estivesse totalmente seguro de si mesmo.
── Ok, então tenta! Mas me avisa... ── ergueu a voz e fechou os dedos, quando sentiu um impacto o arrastar, Blair paralisou, assustada. Mas ele logo controlou o pano, Frankie saltou sem qualquer anúncio prévio de que o faria ── Primeiro?!... Ah, merda! ── completou, esbaforido, percebendo que o que dissera não serviu de nada ── Ela é pesadinha, hein?
── Eu te disse! ── Blair riu baixinho, a expressão de sofrimento de Kurt e as bochechas que aos poucos ficavam avermelhadas foram o ponto alto da ação, sem contar em Lane que se demonstrava zangada pelos comentários que faziam sobre ela.
── Posso tá na merda, mas ainda tô escutando vocês falando mal de mim! ── a shadysider retrucou.
E sentiu seu corpo ser levantado mais um pouco, a expectativa cresceu em seu peito novamente, enxergando a pouca luz das lanternas se agitando lá em cima, Kurt arrastou o pano pra trás mais uma vez e de novo, estavam conseguindo, embora com o corpo completamente dolorido, a morena suportou tudo calada, com o desejo de se ver livre daquele espaço tão apertado em breve, independente dos ferimentos que tivesse. Faltava pouco agora, o suor na testa do rapaz dizia que estavam perto de concluiu o trabalho, ele só conseguia gritar:
── Vêm! Vêm logo! ── trincando os dentes e com as veias de seu braço saltando, se mantendo concentrado. Quando, enfim, um par de mãos agarradas ao pano, surgiram na superfície.
Watson correu, encarando os cabelos espalhados da menina que agora cobriam seu rosto, a amparando, Frankie estava bastante desidratada, ainda lutava para respirar melhor. A puxando para a beira, a abraçou com força, lhe servindo de suporte, mesmo que houvesse ralado parte de seu corpo contra as pedras ao entorno, ainda muito que de leve, estava feliz, o que importava mesmo é que enfim se livrara do escuro amedrontador.
── Caralho, Blair! Achei que fosse morrer sozinha... ── a apertou, chorando contra seus fios claros.
── Eu tô tão feliz por ter ver! Tão feliz! ── retribuiu ── Eu te prometi, não prometi? A gente vai voltar pra casa, vivas! Pras nossas mães! ── a olhou no fundo dos olhos, ajeitando seus cabelos, seu rosto todo sujo de barro e com algumas flores vermelhas grudadas em algumas mechas.
── Eu também! Cê é a irmã que eu nunca tive... ── sussurrou.
── E você se parece muito com o irmão que eu perdi... ── a loira segurou em seus braços, com os lábios trêmulos.
── É melhor a gente ir! A Sheila tá bem fraca... ── Kurt as interrompeu ao se levantar, recuperando todo o fôlego, entregando a mochila de Frankie para a mesma.
── Tá legal! ── Blair sacudiu a cabeça, o encarando do chão, abrindo a garrafa de água que Frankie trouxera no repartimento da mala, enquanto a menina tomava uma boa quantidade da mesma e os outros ao redor também faziam o mesmo, ela retirou sua câmera do pescoço novamente, a entregando para a jovem, dizendo ── Toma, o mapa... Agora é com você! ── então ela se levantou com o mesmo, recuperando a gasolina ao canto do tronco da árvore em que Sheila encontrava-se inclinada.
── A vadia desmaiou na hora certa! Se ela tivesse acordada, eu iria acabar com a raça dela! ── esbravejou, observando a expressão apática da mesma.
── Frankie, anda! ── sugeriu, tomando o taco de beisebol para si, enquanto tentava erguer Sheila e Kurt batia de leve na cabeça de Eleanor numa tentativa estranha de acalmá-la, ele nem sequer sabia o que estava fazendo, para ser sincera.
── Hã, gente... ── Lane paralisou, vendo o saco de batatas que representava a cabeça de Tommy, cortado pelo metal da serra, desfazer-se em um amontoado preto que se arrastou de volta para seu corpo, juntando-se e o colocando em pé.
── Caramba... Não é possível! ── Kurt correu até a serra elétrica a alguns passos dele, a empunhando, preparado-se para revidar, pasmo interiormente com o que estava presenciando, não fazia sentido nenhum alguém voltar dos mortos daquele jeito, considerou.
O rapaz a segurou com força, disposto a acertar Slater mais uma vez, nem que fosse para dar tempo das garotas correrem. Mas brevemente sentiu os dedos de Blair tocarem em seu braço, o fazendo abaixar o objeto antes mesmo de ser ligado, ela o puxou para trás onde o resto do grupo estava, fazendo com que ficasse em silêncio.
── Espera... ── murmurou, se dando conta de que Slater se virara para o lado oposto de onde estavam, correndo com a respiração irregular para longe deles.
── Ele não notou a gente? ── a sunnyvale de cabelos escuros tossiu, se equilibrando contra os ombros de Watson.
── Não faz sentindo! Por quê ele não nos atacou? ── Kurt questionou, ainda em choque.
── Ele tá voltando pro acampamento... ── a loira refletiu.
── É, eu disse! A Sarah Fier não vai parar até que estejam todos mortos! ── a shadysider concluiu, pensando em voz alta em uma das poucas pessoas que importavam para a mesma ── Ziggy...
── Vamo! Depressa! ── Blair apenas acordou a todos que estavam hipnotizados por conta do que viram, focando no objetivo em comum que tinham ── A Frankie tava certa, não é seguro aqui! Elie, vai com o tio Kurt! Ele é bem forte e vai aguentar correr com você... E não se preocupa! Eu vou tá logo atrás. ── ela apenas segurou Watkins e a colocou nos braços do sunnyvale, e pela primeira vez, a garota gostou dele.
── É sério isso? De líder a babá? Eu achei que esse fosse o seu papel! ── Kurt replicou, porém estava de bom humor, na medida do possível, é claro, por debaixo daquela sua postura séria.
── Nós invertemos eles a cinco minutos atrás, lembra?! E agora eu passei a bandeira pra Frankie! Preciso dar apoio a Sheila... ── apertou a cintura da morena, enquanto ainda ensanguentada, ela segurava o mais firme que conseguia com o braço ao redor de seu pescoço.
O sunnyvale agarrou a serra elétrica com a mão livre e Frankie pegou sua gasolina conforme se orientava pelo mapa, junto do que restou.
── Blair, o que é aquilo? ── Sheila apontou para o poço, ao deslizar suas pupilas quase transparentes pelo mesmo.
A gosma saltando de dentro do buraco foi se arrastando viscosa como se alguém estivesse emergindo de dentro do mesmo, tomando forma do corpo de uma mulher sedutora que, aos poucos saía dali, cantando uma canção bizarra:
" you always hurt the one you love... "
Era o que dizia uma das estrofes.
── Eu conheço essa música... ── Lane parou, aterrorizada, percebendo que se tratava de nada mais e nada menos que, Ruby Lane, sangue de seu sangue, e em pensar naquilo, teve um intenso calafrio que ouriçou seus pelos ── Mãe?... ── cerrou os punhos, angustiada.
── Frankie, não olha pra trás! ── a loira a puxou, enquanto todos começavam a correr o mais rápido que conseguiam numa única direção.
── Aí, eu não sei nem como dizer isso, mas acho que preferia nunca tê-la conhecido! ── entrou no ritmo, bastante atenta em achar o caminho mais próximo que os tiraria de uma vez por todas dali.
── CORRE!! ── o rapaz aumentou o tom.
E foram disparando em direção as docas.
₍ 001 ₎ Oie gente, cheguei!
Reta final de HAUNTED,
meus amores! Bom, quer dizer,
do primeiro livro, é claro!
Se eu conseguir resumir
todo o fim de 78 no próximo
capítulo, ele será o último.
E depois teremos um epílogo
que voltará a 1994 e será
um gancho para a terceira
parte. Empolgados com o
desfecho? Em breve tem mais!
Espero que tenham gostado!
Até a próxima!! ♡♡
₍ 002 ₎ Não esqueçam de
favoritar e comentar. E, me
digam o que acharam do cap
aqui!
₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡