AVISOS: Fim do flashback da Li Ming-Yue. Retorno ao tempo presente, narrado em terceira pessoa do ponto de vista do protagonista, Fai Chen.
---
A sala de memórias foi fechada e Fai Chen conseguiu visualizar o ambiente em que encontravam-se novamente.
O céu escuro indicava o começo de uma tarde sombria. As nuvens apresentavam-se cinzas e pesadas, deixando evidente que logo uma chuva ou tempestade apareceria e deveriam tomar cuidado, já que estavam expostos ao ar livre.
A mente do cultivador permanecia um pouco perdida pelas tantas passagens de tempo passado que foram colocadas diante de si em uma forma tão rápida.
De acordo com o que viu, entendeu que Li Ming-Yue era realmente uma das mulheres mais fortes do cultivo que já tivera o prazer de conhecer pessoalmente. Entretanto, todo esse poder teve um custo.
A cultivação demoníaca não era para qualquer um. Quem optava por seguir essa linha, deveria ter na cabeça o quão ruim seriam suas consequências tanto para o corpo quanto para a própria alma. Li Ming-Yue, como qualquer outra cultivadora que praticou firmemente o cultivo demoníaco, teve sua alma e energia danificadas, o que a levou a perda de controle. Além do mais, sua mente ficou transtornada com outras almas que a atormentavam.
Diante da situação atual, depois de ver o passado de Li Ming-Yue, Fai Chen não sabia reagir e apenas permaneceu em silêncio, com a cabeça baixa. Por outro lado, Hu Long ficou de joelhos no chão e com as duas mãos na cabeça, quase começando a puxar seus próprios cabelos.
"A-Yue... Eu sinto muito... Se ao menos tivesse tido forças naquela batalha... Você...", as palavras que saíam dos lábios do assassino eram melancólicas, deixando tanto Fai Chen quanto Li Ming-Yue de coração partido.
"Por favor, não diga essas coisas. Você não tem culpa de nada. Se quer culpar alguém, culpe o líder Hong", Li Ming-Yue mencionou, cruzando os braços e abrindo um sorriso de lado.
Ela retornou seu olhar para Hu Long e passou rapidamente seus olhos para Fai Chen, que levantou seu rosto para olhá-la melhor. De certa forma, a cultivadora, nesse instante, não expressava uma feição fria ou reprimida e sim uma que demonstrou uma leveza, como se ao falar de seu passado, um peso saísse de suas costas.
"Afinal, lhes mostrei meu passado para compreenderem minha nova imagem e os motivos de eu estar de tal forma perante a outras vidas humanas", Li Ming-Yue complementou sua fala, andando de um lado para o outro e observando mais Hu Long, que ainda não tinha se levantado do chão.
Fai Chen se ajoelhou ao lado do mais novo e tocou levemente a nuca do rapaz, acariciando-a com o intuito de que ele se acalmasse e não pensasse sobre "culpa" mais. Sabia que um simples carinho não iria retirar todos os pensamentos ligados a tal sentimento, mas pelo menos, na visão do cultivador, poderiam diminuí-los.
Hu Long olhou para seu amado e abriu um sorriso gentil, agradecendo com aquele gesto as carícias em sua nuca e como elas vieram no momento certo.
"Tentarei não me culpar pelo seu passado, A-Yue. Mas... Me diga, por que estou sentindo tanta dor de cabeça depois de sair daquela sala de memórias? Eu sei que as passagens foram pesadas, mas essa dor de cabeça está insuportável", o assassino comentou, apontando para precisamente sua testa, que era o local mais doloroso no momento.
"Hum... Acredito que seja por você e o Jovem Mestre Fai não estarem acostumados com esse tipo de investimento de energia demoníaca que é relacionada às memórias. Usei praticamente os mesmos requisitos naquela sombra escura. Lembram dela? Ela tinha memórias as quais vocês não puderam ter o prazer ou desprazer de passar cara a cara, mas, de uma forma ou outra, elas fazem parte de suas histórias", Li Ming-Yue respondeu, sentando novamente no chão e olhando para Xia Ling, ainda adormecida. "Não tenho controle sobre as memórias que passam em cada mente, mas acredito que Xia Ling tenha visto algo relacionado comigo..."
"Espera. Você quer dizer que aquelas passagens que vimos naquele momento em que fomos aprisionados pela sombra escura... Eram verdadeiras?", Fai Chen entrou na conversa e perguntou, com os olhos arregalados.
"Sim. Eram verdadeiras."
O cultivador começou a se esforçar para lembrar do que aquelas sombras lhe mostraram e, quando lembrou, sentiu que seu coração foi destruído em milhões de pedacinhos.
O que a sombra lhe apresentou foi a morte de sua irmã, Fai Shuang.
E de uma forma tão aterrorizante.
"Não... Não faz sentido... Ela não pode ter morrido...", Fai Chen murmurou, colocando suas mãos em sua boca, para controlar suas próprias palavras.
"Caralho, eu acho que vi minha mãe morrer...", Hu Long comentou, dando certos petelecos em sua cabeça, achando que agindo assim, lembraria melhor do que viu. "Era uma concubina do líder Hong e ela se parecia muito comigo. Digo, as características físicas. E bem, depois Hong Lan simplesmente matou ela e pisou em seu corpo imóvel. Que memória adorável!"
A frase final de Hu Long claramente foi irônica, o que levou Li Ming-Yue a suspirar pesado, como se estivesse decepcionada com o que as sombras mostraram ao seu amigo, que já sofreu tanto.
"E você, Cegueta? O que as sombras mostraram?", o mais novo perguntou, pegando uma das mãos de Fai Chen, que antes estavam sob seus próprios lábios e agora a apertando. "Foi algo muito pesado? Eu estou aqui para te ajudar e..."
"Eu vi minha irmã falecer", Fai Chen respondeu diretamente, deixando Li Ming-Yue surpresa e Hu Long imobilizado. "Os detalhes da morte dela foram tão... Horríveis..."
"Isso não faz sentido. Fai Shuang estava no Campeonato dos Peões e depois daquela briga, Wei Huli foi conversar com ela", Hu Long comentou por cima, totalmente perdido e tentando achar algo que conectasse ao acontecimento da morte de Fai Shuang, tão repentinamente.
"Aparentemente ela morreu quando voltou para o clã Fai... Mas, ela simplesmente tirou os próprios olhos e matou nosso próprio pai asfixiado com eles na garganta..."
Fai Chen estava transtornado.
A cena a qual as sombras escuras lhe mostraram foram perfeitamente detalhadas e com direito a sentir também a energia do momento. Sua irmã, ao tirar seus próprios olhos, mostrou-se desesperada por vingança, mas, ao mesmo tempo, uma imensa dor dentro de si era presente, como se não houvesse mais vida dentro dela. Ao lembrar dessa sensação, tão perturbante, o cultivador não conseguiu segurar tamanho sufoco que se alastrou no peito e desabou em lágrimas.
Ele nunca foi daqueles homens que tinham medo de chorar na frente dos outros. Pelo contrário, o cultivador costumava deixar bem claro seus sentimentos em diversos momentos e por mais que lutasse para cobri-los com uma máscara ou defendê-los com um escudo, era impossível. Sua personalidade era desse jeito e mesmo que anos se passassem, ele continuava com seu coração sensível em relação a sua família, que foi destruída exatamente como seu pesadelo passado havia lhe mostrado.
"Eu... Previ a morte de minha família", Fai Chen comentou, ainda chorando e não se importando para o que Li Ming-Yue ou Hu Long achariam daquela cena.
Ele só desejava explicações.
Explicações sobre tudo.
Desde seu pesadelo quando criança até as mortes do presente, que se encaixaram perfeitamente com as descrições que aquela criatura desconhecida havia lhe mostrado dentro de sua mente.
"Fai Chen...", Hu Long levantou seus braços e o abraçou de lado. "Você não tinha como prever o futuro de sua família. Fai Shuang realmente teve um destino terrível, mas vamos entendê-la juntos. Não precisa continuar sendo pessimista sobre si mesmo."
Li Ming-Yue concordou com a cabeça e se aproximou de Fai Chen, que agora estava começando a se acalmar.
"Posso trabalhar para descobrir melhor sobre a morte de sua irmã. Se o que Hu Long disse é verídico, realmente não faz sentido sua irmã ter cometido tal ato descontrolado depois desse Campeonato dos Peões. Ela poderia estar bem machucada, mas creio que não chegaria a esse nível. Então, possivelmente deve ter ganhado um empurrão para efetuar tal ação e..."
De repente, as palavras de Li Ming-Yue foram pausadas quando outra voz, mais delicada, entrou em cenário e comentou:
"Por que vocês estão tão chorões? Aconteceu algo?"
Era a voz de Xia Ling.
Ela tinha acordado e com seu humor de sempre.
Fai Chen virou seu rosto e, por mais que seu rosto estivesse inchado de tanto chorar, abriu um sorriso. Hu Long, com os olhos brilhando, se empolgou e gritou:
"XIA LING! VOCÊ TÁ VIVA! PUTA MERDA! SABIA QUE NÃO IA MORRER TÃO FACILMENTE!"
"Ai! Não precisa gritar! Meus ouvidos estão sensíveis!", Xia Ling comentou, soltando uma risadinha leve e olhando para certos curativos feitos por tecidos de hanfus que cobriam seu corpo. "O que aconteceu comigo? Eu me queimei demais? Aliás, onde está..."
Xia Ling se sentou, levantando completamente seu rosto para frente e vendo a figura que esperou anos para reencontrar.
"A-YUE! VOCÊ ESTÁ TÃO LINDA!", a mais nova comentou, levantando os dois braços e fazendo gestos com as mãos para que Li Ming-Yue fosse até ela. "VENHA! NÃO SEJA TÍMIDA!"
"Agora é você que está gritando, Xia Ling...", a cultivadora demoníaca comentou, soltando um suspiro pesado ao levantar de onde estava e indo em direção a Xia Ling. Quando a mais velha se sentou perto dela, a falsa concubina deixou de lado todos seus machucados e jogou todo seu corpo para o colo da outra, que ao perceber a cena, gritou. "XIA LING!"
"Aqui está mais confortável...", ela faz um biquinho. "Eu estou toda machucada, A-Yue. Me deixe ficar no seu colo e com toda certeza ficarei curada em minutinhos!"
Fai Chen olhou para ambas as jovens e abriu um sorriso. Ele entendia perfeitamente Xia Ling e toda aquela emoção ao ver a pessoa que tanto nutria sentimentos a sua frente depois de anos desaparecida.
Entretanto, Hu Long, por mais que estivesse feliz em ver sua amiga acordada, reparou que os tecidos brancos estavam começando a ficar ensopados de sangue, o que deixou tanto ele quanto Fai Chen alertas.
"Xia Ling, você está perdendo muito sangue. Não deveria se mexer tanto. Pode piorar seu estado e...", antes que o assassino pudesse concluir sua frase, Xia Ling fechou os olhos e aparentemente havia dormido novamente ou, por via das dúvidas, desmaiado pela segunda vez pela perda de sangue. "Ah, merda..."
"O que aconteceu com ela? Xia Ling não está se mexendo", Li Ming-Yue disse, balançando o corpo da mais nova e tentando acordá-la. "Eu não posso deixá-la desse jeito. Precisamos levá-la para um curandeiro."
Li Ming-Yue levantou-se do chão com Xia Ling em seus braços e olhou para os dois rapazes, que levantaram ao mesmo tempo do que a cultivadora.
"Temos que ir agora", ela afirmou com firmeza, o que deixou claro sua tamanha preocupação com Xia Ling, que permanecia desacordada.
Fai Chen fechou os olhos, esperando sentir uma certa presença a qual o ajudaria a tomar uma decisão. Por conta de seu treinamento com a audição, o cultivador conseguia escutar e reconhecer sons que estavam a distâncias de si. Usando essa prática, ele começou a ouvir passos leves de algum humano, que se misturavam com o som das águas batendo em pequenas rochas ou pedras que ficavam próximas de um rio.
O Rio Amarelo.
"Se seguirmos por esse caminho, chegaremos ao Rio Amarelo em alguns minutos e...", Fai Chen engoliu o seco, lembrando-se de seus objetivos iniciais em ir até o Rio Amarelo e sua busca por salvação e esperança. "Tem uma presença humana. Consegui ouvir seus passos."
"Cegueta, você quer dizer que escutou passos nos solos próximos do Rio Amarelo? Isso quer dizer que...", Hu Long abriu um longo sorriso, entendendo o recado de seu amado.
"Vocês querem ir até a Deusa Curandeira?", Li Ming-Yue perguntou, franzindo suas sobrancelhas. "Da última vez que fui até lá, apenas tinha uma cabana abandonada. Nenhuma presença humana. Como você está ouvindo passos?"
"Eu realmente estou ouvindo passos a longa distância graças aos treinamentos que tive na infância. Mas, não posso afirmar com toda certeza que possa ser a Deusa Curandeira que tantos homens falam", Fai Chen respondeu, mordiscando o lábio, um pouco nervoso.
Hu Long, percebendo a reação do maior, pegou sua mão direita e disse, olhando para Li Ming-Yue:
"Mesmo se não for a Deusa Curandeira, pode ser uma pessoa que ajude-nos a cuidar de Xia Ling!", o menor sorriu e demonstrou uma grande esperança em seu rosto, o que, de alguma maneira, fez Li Ming-Yue também sentí-la e concordar com o plano.
"Certo. Mas, não há necessidade de andarmos."
Li Ming-Yue fechou os olhos e recitou uma frase que imediatamente fez com que sombras vermelhas escuras rodeassem os quatro corpos e em segundos, passassem da floresta para o Rio Amarelo.
"Realmente, qual a necessidade de andar, certo?", Hu Long comentou, estalando seu pescoço e pernas, que pareciam ter sido trincados com essa mudança de espaço físico tão depressa.
"Devo usar minhas habilidades para necessidades como essas...", Li Ming-Yue comentou, olhando diretamente para o rio que apresentava-se à frente deles. "Estamos no Rio Amarelo. Agora, Jovem Mestre Fai, escute os passos novamente e nos guie em direção a pessoa que passou por aqui."
Fai Chen concordou e ainda com sua mão entrelaçada a de Hu Long, focou nos sons ao redor e em pouco tempo apontou para o lado esquerdo, ao qual, não tão longe, podia se avistar a tal cabana pouco cuidada.
---
- ale yang on -
Já estava com saudades dos LongChen no presente. Eles são meu mundinho!
Obrigada por todo o apoio!
Até domingo!