Amanda
Já estou no carro a caminho de Moscou, ao meu lado está Vicenzo segurando minha mão, Matteo está no banco da frente ao lado do motorista.
Meus olhos estão voltados para fora, mas minha atenção não está lá, ela está fixa em minhas lembranças... Fico repetindo em minha mente o momento em que atirei em Nikolay.
Todo mundo diz que a "vingança é um prato que se come frio", mas não diz o por quê. Porém eu aprendi que a vingança é um prato que se come frio porque seu ingrediente principal é a paciência... Suportei ser agredida, assediada e humilhada, eu sentia um medo tão grande, a impotência me dominava, quantas vezes implorei por piedade pensando em meu bebê...
Agora que ele está morto sinto um alívio tão grande... Nunca mais ele tocará em mim, nunca mais sentirei medo dele, ele nunca mais vai tirar nada de mim, pois no fim quem tirou tudo dele fui eu.
Vicenzo fala comigo atraindo minha atenção.
— Amanda, seu avô Bóris Petrova pediu para conhecê-la.
Fico em silêncio.
— Se não quiser tudo bem, ninguém vai força-la a nada... O jatinho já está sendo preparado em Moscou para nossa viagem de volta a Nova Iorque, de qualquer forma.
— Eu quero conhecê-lo.
— Tudo bem, então antes de retornarmos a Nova Iorque faremos uma visita a Bóris.
Encaro Vicenzo e falo.
— Como ele é?
— Um velho mafioso.
Ele solta um riso, e complementa depois de notar que estou séria.
— Ele me chamou de garoto arrogante quando nos conhecemos e falou que queria me matar... Mas no fim ele ajudou no seu resgate, então não acho que ele seja tão ruim.
Ele me encara e eu falo.
— Eu quero conhecê-lo por pura curiosidade, eu sinto como se ele fizesse parte de uma vida que não é minha... Eu fico imaginando como tudo poderia ter sido diferente, se minha mãe tivesse me levado com ela, esse mesmo homem que neste momento é um estranho para mim, seria alguém por quem eu nutriria amor de avô.
— Nada está perdido, você ainda pode se aproximar de seu avô, eu acredito que essa seja a intenção dele.
Volto a encarar a paisagem.
— Eu não sei se quero isso.
Finalmente chegamos no centro de Moscou, entramos em um hotel luxuoso.
— Esse lugar é incrível!
Vicenzo sorri para mim.
— Que bom que você gostou.
Entramos no elevador e logo chegamos em uma suíte de luxo.
— Bóris Petrova está na sua mansão em Tverskoy, esperando por nós.
— Tverskoy?! Onde fica isso?
— Perto daqui, é um bairro nobre de Moscou.
— Certo... Eu vou me arrumar antes de ir.
Encaro Vicenzo.
— Antes eu não estava, mas agora estou nervosa, ou ansiosa, não sei...
Ele aproxima-se de mim, e me abraça.
— Relaxa... Vai dar tudo certo.
Em pouco tempo estamos a caminho da mansão de Bóris com a nossa comitiva.
Paramos em frente a portões imponentes, o lugar tem muitos seguranças, assim como na mansão de Vicenzo em Nova Iorque.
Nossa entrada é autorizada, paramos em frente a mansão.
Vicenzo abre a porta e eu desço, Frans está parado próximo a porta nos aguardando.
Ele acompanha-nos até o interior da mansão, lá avisto Bóris Petrova pela primeira vez.
Ele é um senhor não muito alto, sua fisionomia é séria, ele está usando um terno preto com corte perfeito, ele não está usando gravata.
— Você parece muito com ela...
Eu continuo em silêncio, pois não sei o que dizer, estou nervosa.
— Yelena é um prazer conhecê-la.
Yelena?! Essa não sou eu...
— É Amanda.
— Sim, me desculpa, é que para mim você é Yelena... Amanda é um prazer conhecê-la.
Eu tento fazer uma expressão feliz quando falo.
— Eu estava curiosa para conhecê-lo...
— Deve estar decepcionada!
Ele sorri e complementa.
— Eu sinto muito por tudo que você passou nas mãos de Nikolay, ele recebeu o que merecia!
Eu encaro ele.
— Sim, nisso tenho que concordar com você.
Bóris parece pegar algo no bolso do seu paletó...
— Muito obrigada por ter ajudado no meu resgate.
— Não fiz nada mais que minha obrigação... Eu tenho algo para você.
Ele me entrega uma foto.
— São seus pais no dia do casamento deles...
Eu olho para a foto curiosa.
É a primeira vez que vejo uma foto do meu pai, cresci com muitas fotos da minha mãe pela casa, mas meu pai eu não fazia ideia de como era.
Ele era muito bonito, assim como minha mãe... Eles foram cedo demais, como eu queria ter conhecido eles.
— Posso ficar com essa foto.
— Claro, é pra você.
— Eles pareciam muito felizes...
— Sim e estavam, a única coisa que os deixava triste, era a falta da pequena Yelena.
— Eu sempre imaginava o rosto do meu pai, mas olhando na foto, vejo que nunca cheguei perto... Ele era muito bonito.
— Sim, Anton era o meu grande orgulho, nunca superei a falta dele...
— Eu sinto muito.
— Amanda saiba que minha casa sempre estará de portas abertas para você...
— Obrigada.
— Um dia tudo que eu tenho será seu... Se você tiver interesse em conhecer mais sobre seu patrimônio, seus pais, eu ficaria feliz em recebê-la por uma temporada, a Rússia é sua casa e eu sua família.
— Acho que no momento quero voltar para casa com meu marido, mas futuramente ficarei feliz em voltar a Rússia, em condições melhores e por livre espontânea vontade.
— Claro, eu ficarei muito feliz.
Vicenzo
Já estamos a caminho de Nova Iorque, Amanda está dormindo como um anjo, tiro uma pequena mecha de cabelo do rosto dela.
Tive tanto medo de perder você... Se algo tivesse acontecido, eu não sei o que faria, sem você tudo iria parar de ter sentido para mim.
Eu sussurro me aproximando dela.
— Eu te amo mia bella!
Finalmente pousamos em Nova Iorque, em pouco tempo estamos em casa.