Topper estacionou o carro de frente para a sua cabana e nós descemos, assim que ele desligou o automóvel. Eu os acompanhei em passos calmos e então nós entramos quando ele destrancou a porta principal. Eu dei uma olhada em volta agradecendo por aqui estar mais quente do que lá fora e eu e Sarah apenas nos entreolhamos, antes de eu desviar o olhar indo para outro canto.
-Podem ficar aqui essa noite, estarão seguras. -Topper disse. -Nesse armário tem algumas cobertas e tem comida na geladeira também, se quiserem. -Sarah assentiu com a cabeça e eu me aproximei da janela, olhando a vista enquanto ela se sentava no sofá cama, acomodando-se. -Tem certeza que vocês duas estão bem? Vocês estão muito caladas...
-Estamos bem. -Sarah respondeu e eu cruzei meus braços, continuando a encarar a vista enquanto eu pensava no que aconteceu, ainda processando que o pai da minha melhor amiga havia tentado me matar, como o meu pai veio me avisando.
-Certo. -Topper falou. -Vou deixar vocês um pouco sozinhas então, volto mais tarde para ver se precisam de algo. -Sarah agradeceu o garoto que assentiu e saiu da cabana no mesmo instante que eu enxuguei as lágrimas que escorreram pelo meu rosto. A porta bateu e quando eu ouvi o som do carro se afastando, eu dei uma olhada em volta, indo até a primeira estante que encontrei e comecei a revira-la.
-O que aconteceu, Lya? -Sarah me perguntou e eu a ignorei, continuando a procurar por alguma coisa que eu ainda não sabia o que era. -Lya, o seu pescoço está... Com marcas de dedos, o que houve? -eu puxei a gaveta e assim que encontrei uma caixa com cigarros embolados, eu a peguei assim como o isqueiro ao lado.
-Parece que o Topper não é tão certinho. -eu resmunguei acendendo um deles e me escorei na mesinha com um abajur. -O que estava fazendo com ele? Não estava com a Wheezie? -ela limpou as lágrimas que escorreram pelo seu rosto e eu respirei fundo começando a fumar o cigarro de maconha, querendo que ele me fizesse dormir pesadamente assim que eu escorasse a minha cabeça em algo.
-Lya, o que houve? -Sarah me perguntou mais uma vez e eu a encarei.
-O que houve?! -eu perguntei de volta a ela. -Bom, o que houve é algo sério e fodido aconteceu e eu estou esperando amanhecer para ir até a delegacia denunciar o seu pai por tentativa de homícidio. -eu contei andando pela cabana e seus olhos se arregalaram com o que ela ouviu. -O psicopata do velho do seu pai apareceu na casa do John B quando os outros saíram e tentou me matar afogada na banheira. Foi isso que aconteceu, Sarah! -eu disse. -Ele estava completamente fora de si, assim como todo o resto deles e eu achei que eu iria morrer! -eu soprei a fumaça sem paciência alguma e respirei fundo, aos nervos com essa história. -Vou matar esse desgraçado, estou falando sério! Deixe ele vir que a próxima navalha que eu enfiar nele, será na garganta.
-LYANNA! Ele ainda é o meu pai... -ela disse e eu a encarei.
-Mas, ele é um doido da pedra. É pessoa mais desnaturada que eu já vi... Quem tenta matar adolescentes, por um acaso? -eu perguntei a ela.
-Bom, comigo não foi diferente. -ela se explicou. -Rafe tentou me afogar em um tanque. Só não me matou porque o Topper apareceu e me salvou... Por isso eu estava com ele. -eu a encarei incrédula, sem acreditar.
-Chega dessa história de que ele é doente... Ele precisa ir para a cadeia. Ele só não tentou te matar uma, mas duas vezes Sarah! Duas vezes! -eu disse em um tom alto. -Eu vou até a delegacia amanhã e espero que você vá comigo, caso contrário, vou chutar o seu traseiro e nunca mais vamos nos falar, colega. -eu me joguei na poltrona ao canto e ela se calou, começando a chorar enquanto abraçava uma almofada. Eu soltei um suspiro revirando meus olhos ao perceber o que saiu da minha boca e respirei fundo. -Desculpa, estou puta, minhas palavras estão saindo involuntariamente.
-Eu não estou chorando por causa disso! -Sarah disse em um tom alto ao me olhar. -Eu estou chorando porque essa é a minha família! Por mais que eu sinta ódio e raiva de tudo o que eles estão fazendo, eu cresci perto deles! O meu pai sempre foi o mais amoroso e eu e o Rafe brincávamos juntos todos os dias depois da escola e fazíamos festa do pijama! Eles podem ter sido sempre as pessoas ruins para vocês, mas eles já foram bons para mim! E isso é confuso para caralho! Ao mesmo tempo que eu quero ir denuncía-los, eu sinto que eu não posso fazer isso, porque a Wheezie é a mais inocente de todos! E se meu pai for preso, a Rose e o Rafe, o que restará dela?! Para onde ela irá?! E o que ela vai pensar de mim por ter os tirado dela?! -ela me perguntou chorando e minhas vistas embaçaram, o que me fez pegar outro cigarro para acender. Eu estava odiando essa merda e minha cabeça estava fudida.
-Eu não contei isso para ninguém, mas o meu pai me procurou no dia em que o John B foi preso. -eu contei encarando a chama alaranjada do isqueiro aceso e ela me olhou. -Ele achava que o seu pai podia tentar algo contra mim e veio me alertar disso. E acha que ele pode tentar fazer algo contra ele também. -as lágrimas escorreram pelo o meu rosto e eu respirei fundo, as enxugando no mesmo instante. -Eu queria estar com o meu celular agora para ligar para ele e ver se está tudo bem. Se ele está em casa e se ele está bem, mas eu esqueci aquela droga na hora de fugir do seu pai. Por favor, Sarah, não vamos esperar tempo o suficiente para que o meu pai seja a próxima vítima disso. Porque quer saber? Ele me internou em uma clínica psiquiátrica por achar que eu estava precisando de ajuda, e agiu como um idiota por conta de ameaças, mas ele também me criou. Nós tivemos muitos momentos bons juntos e eu o amo. E eu não quero que ele morra... Não assim e não por causa disso. -ela fungou assentindo enquanto enxugava os seus olhos e eu me levantei, indo para a varanda. Eu me sentei na cadeira encarando o céu estrelado e encostei minha cabeça na parede, enquanto pela janela, eu via que ela havia se deitado na cama para dormir. Eu respirei fundo sentindo um nó na minha garganta e soltei um suspiro, antes de fechar os meus olhos, torcendo e pedindo para que meu pai estivesse mesmo bem, uma hora dessas.
Cerca de uma hora depois que eu entrei novamente na cabana, eu olhei Sarah dormindo no sofá e fechei a porta a trancando com a chave na maçaneta. Eu caminhei em direção a poltrona a curvando um pouco para trás e peguei uma coberta, antes de me deitar para dormir um pouco também. Eu me ajeitei fechando os meus olhos e soltei um suspiro, me entregando ao sono que não demorou muito para aparecer.
Quando o meu corpo se relaxou assim como a minha mente, eu me mexi na poltrona sentindo a minha consciência voltar aos poucos enquanto eu ouvia passos rápidos caminhando pela cabana. Eu franzi o cenho abrindo meus olhos e me assustei ao ver Ward ao meu lado segurando um travesseiro. Ele o forçou contra o meu rosto começando a me sufocar e eu comecei a me debater ficando sem ar enquanto de algum modo eu tentava sair de lá.
Eu tossi dando um pulo na poltrona quando o meu corpo despertou, e eu me sentei assustada, olhando em volta e vendo que a cabana estava vazia. O meu coração batia aceleradamente com o pesadelo que eu tive e eu senti o meu corpo tremer, de puro pânico por eu ter achado mesmo que aquilo estava acontecendo. Coloquei a mão na minha cabeça, um pouco preocupada, e olhei Sarah dormindo tranquilamente enquanto o céu começava a clarear, mostrando que finalmente estava amanhecendo e era o início de um novo dia.
**
Topper dirigia sua lancha nos levando de volta para a casa do John B e eu estava escorada na beirada, olhando as paisagens e balançando a minha mão na água gelada durante todo o caminho. Eu e Sarah nos entreolhamos brevemente por não termos nos falado novamente durante toda a manhã e ao perceber que estávamos chegando, eu franzi o cenho vendo John B sentado no píer junto com Pope, Kie e JJ.
-Ele saiu? -eu perguntei sem acreditar e sem entender muito bem o que eu estava vendo. Sarah sorriu se levantando no mesmo instante e eu me entreolhei com o Topper, ainda surpresa com o que estava de frente para mim.
-John B! -ela disse. -Ai meu Deus, ele saiu! -ela se apressou em ir para a beirada da lancha e Topper a parou ao lado do píer. A garota desceu as pressas com a ajuda do namorado e os dois se abraçaram enquanto eu me levantava, para descer também. -Eu achei que nunca mais ia te ver de novo... O que aconteceu?
-Desistiram das acusações. -o garoto respondeu e eu sorri ao ouvir isso. Pelo menos tinha uma notícia boa para alegrar o dia. -Sou um cara livre agora. -ela riu o abraçando novamente e eu desci da lancha com a ajuda de Pope que me estendeu a sua mão para me puxar junto com Kiara.
-O que houve com você? Te procuramos por horas! -ela disse me dando uma olhada para se certificar de que eu estava bem. -Achávamos que algo tinha acontecido, tinha sangue no banheiro, você está bem?
-Hmm longa história, mas sim, eu estou bem... Eu acho. -eu respondi e JJ franziu o cenho, se aproximando de mim e afastando o meu cabelo para ver algo que ele percebeu no meu pescoço.
-O que diabos foi isso? -ele perguntou e eu apenas saí de perto por não querer falar disso agora, enquanto eles se entreolhavam sem entender. -Lyanna... -eu o ignorei e me escorei na pilastra, cruando os meus braços.
-Ela está pilhada... -ouvi Pope resmungando para o loiro.
-Sarah, eles estão atrás do Rafe. -John B disse e eu os olhei no mesmo instante ao ter ouvido o que o garoto falou. -Estão o procurando.
-Ótimo, porque ele está completamente louco. -ela disse me olhando rapidamente. -Ele me atacou ontem. Por isso, eu não voltei para cá. -a garota se explicou e eu fiz um barulho com a boca, surpresa por ela ter contado a eles.
-O que? -John B perguntou franzindo o cenho.
-Por acaso foi aquele idiota que fez isso em você? -JJ me perguntou e eu neguei em um gesto simples, enquanto ele revirava seus olhos, tirava o boné e andava de um lado para o outro. -Ok! Quem foi?! Me fala!
-Para que? Você se importa? -eu retruquei o provocando e ele respirou fundo.
-Hmm... Sarah está certa. O Rafe enlouqueceu mesmo. -Topper disse se pronunciando pela primeira vez. -Ele tentou afogar a Sarah, ainda bem que eu cheguei a tempo. -eu o olhei por alguns segundos e olhei para Pope e Kie.
-Ward apareceu por aqui ontem quando vocês saíram. -eu contei e eles franziram o cenho. -Foi ele que fez isso, tentou me afogar na banheira e só me soltou porque eu o cortei, o sangue no banheiro era dele. Então eu corri para a estrada e encontrei os dois.
-Ele fez o que?! -Kiara me perguntou arregalando os seus olhos e eu assenti para confirmar que era verdade. -Sarah, me desculpa, mas essa loucura já passou de todos os limites... Isso não pode continuar assim, digo... Vai parar quando morrermos?
-Eu sei... -Sarah disse em um tom baixo.
-Acho que te devemos uma então, não é Topper? -John B perguntou a ele, quando percebemos que ele continuava por aqui.
-Tudo bem. Alguém tinha que salvar as namoradas de vocês, não é? -ele perguntou provocando ao revezar o olhar entre JJ e John B e eu apenas abaixei o olhar, encarando o meu all-star.
-Eu me salvei sozinha, Topper Topper. -eu disse cruzando os braços.
-E engraçado você dizer isso, porque ela não é apenas a minha namorada, né? -John B perguntou olhando para Sarah, que sorriu para mesmo. -Conte a ele. -ela abriu a boca para falar e eu franzi o cenho me entreolhando com Kie, que fez uma cara confusa para mim.
-Eu estou com ele. -Sarah disse quando voltou a olhar para o Topper e eu fiz uma cara estranha, assim como todos por isso não ter soado da maneira que John B esperava.
-Entendi... -o garoto disse e riu com o que ouviu. -Não estava claro o bastante antes, mas está agora. Todos aqui entenderam? Ela está com ele. -o loiro ironizou.
-Acho que está na hora de você ir. -JJ disse cortando o assunto, antes que as coisas piorassem.
-Sim, está mesmo. Eu já vou. -ele respondeu.
-Topper. -Sarah falou indo até ele. -Obrigada. -eles se abraçaram me fazendo arquear uma sobrancelha e me entreolhar com os outros que estavam sem entender o que havia acontecido nesse último minuto.
-Claro. Fico feliz que esteja bem. -ele disse retribuindo o gesto. -Você também, Lya. Se cuide. -eu dei um aceno simples sem dar muita moral como sempre e ele foi embora com a lancha, fazendo todos nós ficarmos alguns longos segundos em silêncio. John B se virou na minha direção e eu sorri para o mesmo, indo para abraçá-lo e aproveitando para mudar o rumo da conversa.
-Tudo bem? -eu perguntei olhando os hematomas em seu rosto da surra que ele levou de um dos policiais e ele assentiu, assentindo de volta.
-Sobrivevendo. -ele respondeu retribuindo o gesto e eu sorri.
-Que bom que está de volta. -ele sorriu para mim dando um tapinha na minha cabeça e eu ri fraco devolvendo na dele enquanto andávamos até a sua casa junto com os outros.
**
Eu estava deitada na rede presa contra a árvore, encarando o pôr do sol e ligando pela milésima vez no celular do meu pai, que não me atendia. Eu soltei um suspiro pensando em ir até a minha casa e olhei quando ouvi passos se aproximando. Eu ergui a cabeça para olhar quem era e ao ver JJ vindo na minha direção, eu revirei meus olhos e voltei a encarar a tela do meu celular, esperando por algum sinal de vida do homem que estava me causando preocupações e provavelmente uma linha de expressão na minha testa. A rede se mexeu, balançando quando ele se sentou ao meu lado e eu o olhei brevemente, antes de desviar o olhar, aguardando ele dizer o que queria.
-Está tudo bem? Está aqui a tarde toda... -ele disse. -Achei que iria ficar com a Sarah já que o irmão dela pode ser preso a qualquer segundo.
-Perfeitamente bem. -eu respondi. -E não, ela não está falando direito comigo e eu não estou falando direito com ela por conta do que aconteceu ontem. Não acho que ela esteja esperando a minha companhia para isso. -ele assentiu e tirou o boné da cabeça enquanto um clima estranho se instalava por não termos falado mais nada. Eu o olhei vendo que ele encarava o pôr do sol e respirei fundo voltando a encarar a vista também.
-Eu sei que eu vim sendo um cuzão, ultimamente... -ele começou e eu ri com um pouco de deboche, percebendo que ele estava mesmo iniciando essa conversa bem agora. -Eu sei! Mas, eu não estava pensando direito. Tinha maneiras melhores de dizer tudo e dizer o que estava acontecendo, mas eu estava com raiva de tudo o que aconteceu. -eu assenti mostrando entender e continuei a encarar a luz do sol alaranjada, que deixava tanto o meu cabelo quando o dele de uma cor mais para o dourado. -Me desculpa pelo modo que eu disse tudo e pelo modo que eu agi. Foi idiota e sem noção e o meu problema é que sinto tudo demais, de uma forma muito exagerada e louca. Eu achei que você tinha morrido debaixo daquela arvóre e quando eu soube que você ficaria bem e que tudo não havia passado de um susto, eu surtei, porque o que eu havia sentido tinha sido extremamente real. O medo, o pânico e o desespero. Então quando você apareceu aqui e estava bem, eu quis te afastar por medo de passar por tudo aquilo de novo vivendo nessa bagunça que a nossa vida está. Você estava bem e eu não estava, sabe? Por causa da ansiedade e enfim... Eu não estava sendo eu, eu estava fora de mim. -as minhas vistas embaçaram e eu assenti mais uma vez, mostrando que eu estava o ouvindo, mesmo que eu não tivesse o olhando. -É assim que eu sou e você conheceu essa parte de mim, essa parte que sente medo de tudo, da pior maneira e eu não queria isso. Então, esse sou eu agora pedindo desculpas por tudo o que eu disse e fiz. -eu escorei minha cabeça para trás e soltei um suspiro enquanto ele passava a me olhar, analisando o meu rosto. -Eu sei que você está brava e magoada comigo e eu estava bravo e magoado com você, mas você podia falar alguma coisa. -eu me virei olhando em sua direção e pisquei algumas vezes, analisando o seu rosto, que se mantinha com uma expressão neutra. -Qualquer coisa, Lya...
-Eu sei que tinha um pedido. -eu disse e ele franziu o cenho. -Eu sei que havia, JJ. Mas, agora estou perguntando a você... Havia?
-Esses fofoqueiros... -ele resmungou e eu dei de ombros. -Mas, havia. Em Charleston, quando eu fui atrás de você no banheiro. Eu iria sugerir. -eu assenti mostrando ter entendido e mordi minhas bochechas. O silencio voltou e nós voltamos a olhar a vista, sem dizer mais nenhuma palavra. Eu abaixei o olhar para a sua mão que continha alguns anéis e respirei fundo, colocando a minha por cima.
-Que bom. -eu disse depois de um tempo e ele me olhou.
-LYANNA! JJ! -nós ouvimos Kiara gritando e nos levantamos no mesmo instante. -Precisamos ir, aconteceu alguma coisa com o pai do Pope! -eu franzi o cenho sentindo o meu coração acelerando, e nós saímos correndo para ir ver o que havia rolado.
**
-Avise se eu apertar muito. -eu disse colocando uma bandagem na testa cortada do homem, sentado na minha frente, após eu limpar com cuidado o galo que saia sangue.
-Obrigado, querida. -ele falou e eu sorri para ele sem mostrar os dentes.
-Pai, o que foi que aconteceu? -Pope perguntou a ele.
-Eu devia imaginar. O cara chegou quando eu estava fechando, me pegou de surpresa. -ele explicou e eu e JJ nos entreolhamos brevemente, por termos a nossa conversa interrompida e sem a chance de se resolver de vez. -Ele me derrubou, colocou o joelho no meu peito e ficou me perguntando daquela chave do desenho que você me mostrou, filho. E, só para constar, eu não disse nada a ele. -eu franzi o cenho não entendendo muita coisa, por eu achar ter perdido a conversa quando eles mencionaram essa tal chave. -Você a encontrou?
-Achei no apartamento antigo da vovó, como você mesmo disso. -Pope falou a pegando em seu bolso e a estendendo para o homem.
-Caramba, filho! Se tivesse me dado isso, eu não teria apanhado. -Heyward disse. -Porque eles querem tanto essa chave? Ela não vale nada.
-Sei lá. Primeiro eu recebi uma carta me chamando para Charleston. Então, uma ricaça me pediu uma chave que eu nem sabia que estava na família. -Pope disse.
-Nada disso faz sentido. -Kiara falou.
-Não fiquem aqui reclamando. Descubram! -o homem mandou.
-Não! Eu vou entregar logo essa chave para essa mulher... Isso não vale nada. -Pope rebateu.
-Não, não, não... Por acaso eu te ensinei a desistir fácil? -o pai dele perguntou e eu sorri de lado, me entreolhando com Kie quando Pope negou com a cabeça. -Eu não tinha pensado nisso antes. Admito. Mas, agora... Eu fiquei interessado. Eles disseram por que querem a chave?
-Tem algo haver com alguma cruz antiga. -Pope respondeu. -Acho que pode haver algum tesouro esquecido.
-Sabe com quem deve falar? -Heyward perguntou a ele, devolvendo a chave que estava em sua mão. -Com a sua bisavó.
**
John B dirigia a sua kombi recuperada pela estrada que cortonava a ilha e eu estava sentada na parte de trás com um espelho no meu colo e uma tesourinha em mãos. O meu cabelo estava partido de lado e eu cortava os pontos costurados na minha cabeça com cuidado, me distraindo para ignorar o clima estranho que estava nos rondando. Sarah e John B haviam discutido, Pope e Kie não pareciam muito felizes e eu e JJ não havíamos nos falado novamente assim como Sarah e eu. Cortei com cuidado outro ponto e puxei a linha presa, percebendo que havia ficado uma cicatriz bem fina.
-Não podia ter ido ao médico para retirar isso? -Kiara me perguntou, me encarando desde que eu comecei a fazer isso. -Seria mais seguro. Você nem sabe se podia tirar agora.
-Podendo ou não, já tirei quase todos. -eu respondi dando de ombros. -E para que ir ao médico se eu posso fazer? -perguntei a ela.
-Sabem, eu andei pensando... -Pope começou. -Acho que a Limbrey contou aquilo porque deixou escapar. "A chave leva á cruz de Santo Domingo".
-Eu posso ver? -JJ perguntou e Pope entregou a chave a ele.
-Deveríamos saber o que é? -Sarah perguntou e eu ajeitei o meu cabelo, prendendo uma bandana preta na minha cabeça como se eu fosse pirata e apoiando os meus pés no banco em seguida.
-Acho que é um artefato histórico de grande relevância. -Pope continuou.
-Chocante. -eu ironizei e ele revirou seus olhos, a pegando de volta das mãos do loiro antes que ele sumisse com ela.
-De acordo com a internet, foi um presente da Nova Espanha para o rei espanhol. -Kie disse lendo em seu celular.
-Nova Espanha? Tem uma velha? -JJ perguntou.
-Nossa, que presente exagerado! -Kie falou. -Olhem isso. Tem uma pessoa como referência. -ela virou o celular na nossa direção e eu olhei o desenho de uma cruz gigante. -A cruz foi considerada, na época, como o tributo mais extravagante das províncias. Foi perdida na costa das Bermudas em 1829.
-Está falando do triângulo? -JJ perguntou a ela ao se virar para trás. -Tudo de estranho acontece lá.
-O que uma chave achada no antigo apartamente da sua avó tem haver com isso? -eu perguntei ao Pope, que até então, estava olhando pela janela. -Onde entramos nessa história?
-Boa pergunta, eu não sei. -ele disse.
Nós deixamos o Pope no asilo em que sua avó agora morava e em seguida, fomos para uma lanchonete já que Kie estava com fome e havia mencionado isso durante todo o caminho. Ela abriu a porta assim que John B estacionou e ela desceu, sendo seguida por Sarah, que pelo visto não queria continuar nesse clima estranho aqui dentro nem comigo e nem com o namorado.
-Você vem? -Kie perguntou e eu sorri sem mostrar os dentes.
-Divirtam-se. -eu falei e Sarah revirou seus olhos, batendo a porta da kombi, o que me fez apontar o meu dedo do meio para ela. Ela me fez uma careta apontando o seu de volta e eu respirei fundo. -Agindo feito uma sonsa. -eu resmunguei.
-Que bom que estamos todos nos dando muito bem hoje. -JJ ironizou e eu peguei o meu celular, para checar se havia alguma mensagem do meu pai ou alguma ligação perdida. -Se lembram de quando a vida era simples? -ele perguntou.
-Não. -eu e John B respondemos juntos e eu passei meus olhos pela minha caixa de mensagens vazia.
-Pensem comigo... O Ward ainda está solto e está com o ouro. -John B falou e eu o olhei. -E ele matou o meu pai.
-E está planejando fazer o mesmo com o meu, pelo visto. -eu completei me sentando direito. -E comigo. Por eu falar demais.
-E não vamos deixar isso passar. -JJ disse. -Porém, eu estou preocupado com você, cara. -ele falou ao amigo. -Parece que é você ou ele. Sabe com quem eu me preocupo também? Com a Sarah. -eu franzi o cenho me entreolhando com John B. -É o pai dela. Entendem o que eu digo? E o seu pai sabe onde ele estava se metendo ao ajudar o Ward, Lya.
-Por isso agora ele deve morrer? -eu perguntei a ele, não entendendo onde ele queria chegar com isso. -Por isso, tudo bem se o Ward tentar matar ele para proteger o Rafe? Uau JJ.
-Eu não disse isso. -o loiro respondeu se virando para trás para me olhar. -Mas, querem saber? Ela é a sua melhor amiga e sua namorada, não deviam estar colocando ela para escolher um lado ou tomar uma posição sobre isso.
-Ela sabe o que ele fez. -John B respondeu e eu respirei fundo.
-Não estou conseguindo falar com o meu pai desde cedo. Vou tentar ligar para ele. -eu abri a porta da kombi e saí, dando alguns passos na direção contrária da lanchonete e do automóvel estacionado. Eu cliquei no contato dele, me escorando em uma mesinha, e soltei um suspiro, esperando que ele atendesse dessa vez. Eu olhei para o lado vendo Sarah e Kie saindo da lanchonete com copos de refrigerante e desliguei a chamada, procurando o contato da minha mãe. Eu liguei para ela ouvindo a ligação chamando e quando caiu na caixa postal, eu me afastei mais alguns passos, pensando no que deixar na mensagem. -Oi mãe, sou eu, a Lyanna. Eu não sei que horas deve ser aí por conta do fuso horário então, me desculpa se for muito cedo ou muito tarde... Eu estou tentando falar com o papai desde cedo e não consegui, ele não está atendendo o celular e eu não o vi pela ilha também, então... Me avisa se falou com ele hoje ou se sabe de algo. Estou achando que algo pode ter acontecido ou que vai acontecer então é isso. Tchau. -eu enviei a mensagem e desliguei a chamada.
-LYA! -eu ouvi JJ me gritando e o olhei. -VENHA, PRECISAMOS IR! -eu assenti voltando para kombi e respirei fundo, entrando e fechando a porta. Eu e as meninas nos entreolhamos rapidamente e John B a dirigiu para irmos pegar o Pope.
-E então? -Kie perguntou assim que ele entrou, e nós o encaramos ao ver a cara que ele estava. -O que aconteceu?
-Bom, a coisa acabou de ficar mais pessoal. -ele respondeu e nós franzimos o cenho, nos entreolhando rapidamente antes de voltarmos a olhar para o menino, que parecia estar até um pouco pálido. -Se preparem para o que irão ouvir...
Cara olha que irônico, enquanto eu escrevia esse cap (que por sinal ficou uma merda) eu estou vendo Outer Banks dnv pela milésima vez