Juntando Cifras e Palavras {n...

By btsdistrict

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Seokjin tem seu mundo virado de cabeça para baixo quando seu noivo decide terminar o relacionamento sem dar m... More

Avisos
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Agradecimentos

Capítulo 4

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By btsdistrict

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Namjoon caminha lentamente de cabeça baixa, sem observar o mundo a sua volta dessa vez, sendo algo totalmente incomum para ele, era perceptível que ele estava ou com a cabeça cheia ou chateado. O fato, na verdade, é que ele não conseguia tirar a imagem do vizinho enfezado de cabelos bagunçados, roupas amassadas e descalço na sua porta o obrigando a parar de fazer barulho tão tarde da noite.

Ele ainda se sentia mal por ser o motivo de uma pessoa ter se incomodado e se privado de dormir. Mas não só isso, sua cabeça ficava voltando no momento em que o outro afirmava que precisava dormir, como se fosse o momento em que mais ficava livre do que quer que fosse que precisava se livrar. Namjoon conhecia bem a situação, já tinha passado por ela duas vezes, tendo apenas seus melhores amigos como amparo. Ele saiu dessas, mas odiava ver outras pessoas tentando desviar de seus sentimentos e acabando ainda mais frustradas e irritadas no processo. Não era nenhum psicólogo como Yoongi era, mas ele sabia que era necessário falar sobre o problema e o fazer sair, ao invés de guardar para si e ficar ruminando como se fosse uma vaca comendo capim.

Mas Namjoon não era nada para o vizinho, então ele queria apenas se desculpar de uma forma apropriada e deixar o assunto ir, sem incomodar mais a paz alheia até que finalmente seu momento glorioso chegasse e ele pudesse ter seu estúdio com isolamento acústico para fazer o barulho que quisesse. O Kim suspirou com o pensamento, tentava não pensar muito nisso mas ficava claro que quanto mais os dias passavam mais ele se sentia tenso imaginando que não conseguiria ser contratado mais uma vez e teria de desistir de tudo já que ele tinha jurado para si mesmo que seria a última tentativa de todas.

Ele não podia falhar.

A cabeça de Namjoon estava trabalhando tão rápido com as engrenagens girando que quase passou da entrada da panificadora, que era o seu destino inicial. Tirou uma das mãos do bolso e empurrou a porta que fez um leve barulho soar pelo local. Gostava muito do estabelecimento, não só pelos bolos magníficos, pelos pães sempre crocantes, mas também pela decoração e pelo sino não ser do tipo estridente como aqueles disponíveis em praticamente noventa por cento dos comércios.

Foi até o balcão e sorriu para a atendente de sempre, que o cumprimentou sorrindo e perguntou se ele queria o mesmo bolo de sempre, floresta negra com prestígio. Mas ele não queria esse, dessa vez, não era para ele então não poderia errar no pedido. Ficou por alguns minutos observando a variedade de bolos e de sabores fazendo com que quisesse levar todos eles e comer todos sozinhos até ter um desmaio por ter ingerido tanto açúcar.

— Vou levar esse de ganache meio amargo com creme de oreo. Inteiro mesmo — disse para a atendente que prontamente separou uma caixa e acomodou o bolo dentro embalando com maestria e a prática de quem já fazia isso muitas vezes ao dia.

Agradeceu pagando pelo bolo e deixou o estabelecimento segurando a caixa em uma das mãos, confiando plenamente na sua capacidade de segurar sem derrubá-lo. Começou seu trajeto de volta para casa, já se sentindo mais leve do que quando foi até a panificadora comprar o doce. Caminha sempre fazia bem a ele e pensar em formas de se desculpar e se retratar com a pessoa era uma característica muito Namjoon de ser. Não importava se ele era o certo na situação, ele sempre iria arrumar uma forma de fazer com que a situação terminasse de forma saudável.

Ou seja, sempre gastava dinheiro comprando bolos. O que,do ponto de vista biológico, não colocava um ponto final nas situações de uma forma muito saudável.

Observou sua casa ficando cada vez mais próxima e a ignorou quando passou por ela, indo diretamente para a porta do vizinho torcendo para que ele estivesse em casa naquele momento. Pois, apesar do Kim gostar de encerrar assuntos e não deixar as coisas o dominar, ele também fugia às vezes. E um vizinho enfezado era desculpa o suficiente para fugir e fingir que nunca tentou nada amigável.

Infelizmente ou felizmente, dependendo do ponto de vista, poucos minutos depois que Namjoon criou coragem para bater na porta, ela foi aberta revelando o vizinho. Dessa vez ele estava com os cabelos alinhados, uma blusa cinza de botões com três deles abertos, uma calça jeans preta e nos pés um slipper branco com uma alpaca na tira que parecia pra lá de confortável.

Namjoon percebeu ele franzindo o cenho ao perceber que era ele que estava ali e então observou ele cruzando os braços como se estivesse pronto para brigar por seu ponto de vista. Bom, o Kim mais novo não estava ali para brigar, portanto esse gostinho ele não teria, caso estivesse interessado.

— Boa tarde! — Namjoon cumprimentou sorrindo de uma forma tranquila enquanto segurava o bolo com as duas mãos agora, para evitar qualquer contato desnecessário. — Trouxe esse bolo para você, para pedir desculpas por ter sido inconveniente nessas últimas semanas. Sei que já se passaram três dias desde que você foi reclamar comigo, mas eu não me sentiria bem comigo mesmo se eu não fizesse isso.

— Oh! É sério? Você não precisava ter se incomodado — o vizinho disse soltando os braços do lado do corpo e curvando os ombros como se estivesse chateado. — Eu quem deveria pedir desculpas. Agi como um gato de rua raivoso que procura por briga na primeira oportunidade.

— Não, você estava certo até certo ponto, precisava mesmo me dizer "Oi, tô aqui. Eu existo me deixe descansar" Você tinha toda razão em me pedir para não incomodá-lo. — Sorriu sem mostrar os dentes e suas covinhas pareceram ainda mais adoráveis assim.

— Certo. Mas eu preciso mesmo que você me perdoe pela forma que eu tratei o assunto — ele se curvou um pouco. Eu realmente poderia ter sido mais civilizado, mas não estava em um dia bom.

— Está tudo bem. Esse bolo vai encerrar essa questão e podemos começar novamente nossa relação de vizinhos. — Namjoon estendeu o bolo para o outro que ficou olhando para a caixa com olhos caídos. Seus ombros largos também estavam curvados ainda. Ele parecia querer aceitar, mas ao mesmo tempo queria rejeitar terrivelmente.

— Eu aceito o bolo se você entrar e comer comigo — o vizinho tirou os olhos turbulentos do bolo para colocá-los nos de Namjoon. — Eu moro sozinho e não seria nada fácil acabar com esse bolo, então entre por favor. Podemos ir nos conhecendo!

— Ótimo! Muito obrigado — Namjoon agradeceu tirando seus sapatos e os deixando na porta antes de seguir o outro para dentro até a cozinha.

Namjoon se permitiu dar uma olhada na casa, para ele não parecia uma casa muito aconchegante, já que era completamente diferente das paredes creme e prateleiras com plantas, que ele tinha em sua casa. Mas ele não poderia dizer nada, se o vizinho encontrava aconchego em algumas paredes cinza com alguns toques de verde aqui e ali, quem era ele pra dizer alguma coisa? A cozinha tinha móveis brancos e bancada de madeira, o chão era cinza e as paredes eram brancas. Ali ele encontrou um pouco de aconchego.

Dali ele conseguia ver a sala e a mesa estava repleta de papéis espalhados. Em uma parede oposta ele avistou uma imensa estante de livros, alguns cuidadosamente organizados e outros ainda empilhados para serem realocados. Antes que pudesse perceber mais alguma coisa um movimento chamou sua atenção e o vizinho estava vindo até ele com dois pratinhos e talheres.

— Eu ainda não perguntei o seu nome, perdão. — Namjoon olhos nos olhos do outro por breves segundos e então se concentrou em colocar o bolo na bancada, sem abrir a embalagem já que o bolo era do vizinho.

— É Seokjin... Hm Kim Seokjin — ele respondeu sem olhar na direção de Namjoon enquanto colocava os talheres na mesa e abria a embalagem do bolo cuidadosamente.

— Seokjin — Namjoon experimentou o nome em sua língua e o vizinho assentiu distraidamente. — Nós temos o sobrenome em comum, Seokjin.

— Oh, então você também é um Kim. — O vizinho levou a embalagem até perto da pia e voltou com uma espátula de cortar bolos. Namjoon ficou observando como os ombros dele eram largos e pareciam fortes.

— Mais um pra família. — Namjoon abriu um sorrisinho e Seokjin não disse nada apenas fatiando o bolo.

O Kim mais novo entre eles ficou observando o então Seokjin fatiar todos os pedaços do bolo com uma previsão impecável que parecia que estava fazendo uma cirurgia de alto risco. Embora ele estivesse apenas fazendo isso com um bolo, Namjoon não deixou de pensar que era uma forma dele de fugir de pensamentos invasivos, prestando atenção o máximo possível em atividades tão banais e fáceis, como cortar um bolo.

Ele não era ninguém para dizer qualquer coisa sobre o outro, é óbvio. Mas sua mania de tentar ler as pessoas e criar uma ficha mental, para saber que caminhos deveria seguir, acontecia de maneira automática e quando ele via já estava na porta alheia levando um bolo médio como pedido de desculpas.

Namjoon não podia negar, ele tinha ficado profundamente intrigado com a forma que o vizinho tinha aparecido em sua porta, parecendo completamente desconcertado, como se nem ele próprio acreditava que estava fazendo algo daquele tipo. Mas o que mais cutucava a cabeça de Namjoon era que na verdade nem parecia que Seokjin tinha se dado conta de que sabia o estado em que estava quando bateu na porta alheia. Isso tinha atormentado Namjoon por três dias.

— Namjoon? — Uma voz tirou sua cabeça de seus devaneios e ele focou no rosto do outro lado da bancada que o olhava com curiosidade.

— Hm oi? Você disse alguma coisa? — Namjoon pigarreou e mudou o pé de apoio um pouco Nervoso por ter ficado pensando em Seokjin a ponto de ficar fora de órbita.

— Sim — Seokjin deu uma risadinha que Namjoon achou adorável —, eu disse para você se sentar e perguntei se você quer beber alguma coisa junto com o bolo.

— Ah! — Namjoon coçou a nuca e puxou o banquinho debaixo da bancada e se sentou. — Não, estou bem apenas com o bolo. Obrigado.

Seokjin resmungou em concordância e empurrou um pratinho com um pedaço do bolo para Namjoon e se sentou do outro lado. O mais novo estava a caminho de comer um pedaço do bolo quando ouviu um murmúrio de deleite e ergueu a cabeça para o vizinho que estava com os olhos fechados mastigando o bolo.

— Esse bolo é muito bom! — Namjoon olhou rapidamente para o seu próprio pedaço antes que Seokjin o pegasse em meio a uma observação. — Onde você comprou?

— Ah, comprei na minha padaria favorita. Fica a umas quatro quadras daqui. Se chama Sunshine — Namjoon disse sorrindo porque gostava de dizer o motivo do nome da padaria ser esse. — Escolheram esse nome porque ela fica exatamente em uma parte da rua que pega um raio de sol em algumas horas do dia. O único espaço da rua onde o sol bate. Legal, não?

— Sim! Isso é genial. Amo como as pessoas podem ser criativas com o marketing — Seokjin disse sorrindo e Namjoon continuou com o seu aberto em resposta. — Também amei como eles fazem um bolo incrível assim.

— Todos os bolos de lá são ótimos. Eu nem gosto muito de bolos brancos, mas eu falo sério quando digo que o da Sunshine eu como com gosto. Porque são ótimos.

— Vemos um cliente assíduo aqui. Foi pego pela barriga. — Namjoon riu com sinceridade e pelo pequeno espaço de seus olhos, que ainda enxergava alguma coisa por estar rindo, ele observou Seokjin sorrindo em sua direção.

Tudo o que ele conseguiu pensar foi que ele ficava bonito sorrindo daquela forma, tão diferente de como aparecera a porta de Namjoon três dias atrás. Seus olhos até brilhavam um pouquinho ofuscando a turbulência por trás. Como ele ficaria lindo em plena felicidade, era o que Namjoon pensava.

— Me desculpa mesmo por te incomodar mas madrugadas — Namjoon disse ainda meio perdido em pensamentos. — Queria acentuar que ainda terão alguns dias, porque eu realmente preciso terminar de gravar. Mas se te incomodar demais você pode bater na minha porta e pedir para diminuir, certo?

— Tudo bem — Seokjin assentiu voltando a ficar sério. — Eu também peço desculpas pela forma que apareci na sua porta. Eu só me dei conta quando cheguei em casa, eu tinha acabado de acordar. Pode deixar que vou te avisar se me incomodar demais.

Namjoon assentiu e eles ficaram ali em silêncio comendo do bolo preenchendo lacunas mentais e as barrigas daquela massa doce e maravilhosa. O mais novo ainda se perguntando o que teria acontecido para que a casa fosse tão fria e tivesse uma aparência tão distante. Tão diferente de um espaço preenchido de emoções calorosas e acolhedoras. As janelas ficavam fechadas, as cortinas ficavam fechadas, os tons dos móveis tinham aparência fechada, era tudo tão recluso; fazia Namjoon pensar que talvez fosse assim que Seokjin se sentia por dentro.

Uma casa reflete o interior e o exterior do dono. Se o dono aparenta estar tão recluso dentro de si mesmo passando por turbulências internas, feridas que são abertas constantemente, talvez por ele mesmo, fazia sentido a casa parecer assim. Em sua análise silenciosa Namjoon chegou a conclusão que queria deixar as coisas mais calorosas para o vizinho, ele era uma pessoa que gostava de fornecer calor para as pessoas, seria ótimo saber que estava sendo útil de alguma forma. Nem que fosse para fazê-lo sorrir como fez minutos atrás.

Um pouquinho que ele pudesse ajudar, já seria suficiente.

🪴

Namjoon foi para sua casa após trocar mais algumas palavras com Seokjin que agradeceu pelo bolo mais uma vez e disse que iria fazer uma visita para a padaria Sunshine. O Kim mais novo esperava que ele gostasse do espaço, era mais aconchegante que a sala dele de qualquer maneira.

Andando pela sala de estante em estante, Namjoon regou suas plantinhas cantarolando alguma música calma e tranquila que ele não lembrava de quem era nem as letras. Quando ele enfim terminou, abriu um sorriso alegre e satisfeito, olhou para suas janelas da sala, a luz do sol da tarde entrava feliz ali levando um calor reconfortante e brilho para a sala e vida dele. As cortinas abraçavam com alegria os raios que passavam pela janela enquanto elas estavam abertas, permitindo que tudo fosse banhado por aquela cor dourada.

Era tão diferente da casa de Seokjin que Namjoon quis chorar. Quis correr até a casa vizinha e abrir todas as janelas, todas as cortinas e implorar por favor que o sol entrasse ali e banhasse todas as partes escuras e frias. Ele não sabia porque estava se sentindo tão angustiado com a dor alheia, mas ele estava e queria desesperadamente fazer alguma coisa para ajudar.

Namjoon deu um pulinho de susto no meio da sala quando seu celular tocou em algum lugar na cozinha. Correu até lá colocando o borrifador e pegando o aparelho sorrindo largo quando leu o nome que brilhava na tela.

— Jimin! — o Kim quase gritou assim que aceitou a chamada, suas bochechas já doendo de tão grande que seu sorriso estava e as covinhas deram um oizinho deixando ela com uma aparência fofa e totalmente feliz.

Oh Namjoon! Quanto tempo — o mais novo choramingou do outro lado e Namjoon se desmanchou de amor com o quão adorável Jimin podia ser. — Eu estou com tanta saudade.

— Eu também! Mas você só liga para o Yoongi — o mais velho estalou a língua no céu da boca fingindo estar chateado e com ciúmes.

Isso é uma mentira deslavada, seu salafrário falso! — Jimin resmungou fazendo Namjoon soltar uma risada e se jogar no sofá olhando o teto. — Ele me enche o saco, me ligando toda hora!

— Eu vou contar isso pra ele. Fica esperto — ameaçou de brincadeira ouvindo Jimin bufar.

Não vai dizer nada se ainda quiser me ver na sua vida. Você sabe que eu posso muito bem viver te ignorando pelo resto dos meus dias — Jimin disse com aquela voz que indicava que todas as suas palavras estavam saindo com os lábios em forma de biquinho adorável. E Namjoon sabia que sim, ele conseguiria sumir por um tempo, mas se ele sorrisse com covinhas Jimin não aguentaria.

— Eu posso muito bem sorrir com minhas covinhas e você volta rapidinho — Namjoon se gabou tentando não rir.

Por que eu sou seu amigo mesmo?

— Porque você não consegue viver sem mim!

Isso também é mentira, eu vivi muito bem sem você aqui — Jimin tentou argumentar mas tudo que Namjoon fez foi soltar uma risada alta em resposta. — Para de rir.

— Nós dois sabemos que isso é uma mentira deslavada. Só eu sei das noites que tu me ligava chorando. Eu sei viu.

E você prometeu nunca contar pro Yoongi pra ele não ficar preocupado — Jimin lembrou e Namjoon assentiu logo lembrando que ele não poderia ver.

— Sim, eu sei. Ele não sabe de nada — Namjoon assegurou. — Não estou te julgando, você sabe, eu sei como é assustador viver em um país que você não conhece ninguém por tanto tempo. Eu te admiro demais, Jimin.

Assim eu vou chorar! Eu estou realmente com tanta saudade que só de pensar em vocês meus olhos se enchem como se eu fosse a praia em maré alta — ele disse com a voz já embargada e Namjoon sentiu que ia chorar a qualquer momento também.

— Para com isso que eu vou chorar junto e vai virar dois chorões no telefone sem ninguém entender nada! — Jimin soltou uma risadinha o que fez o Kim sorrir. — Você logo estará aqui e tudo vai ficar bem e em família de novo.

Estou tão ansioso por isso — a expectativa e a saudade na voz de Jimin eram perceptíveis mesmo pelo telefone. — Eu comprei presentes!

— Obaaaa — Namjoon comemorou arrastando a última palavra. — Mas o maior presente vai ser você aqui mesmo, não esquece.

Se você continuar tentando me fazer chorar eu serei obrigado a desligar e te bloquear — Jimin bradou do outro lado e Namjoon riu se sentando no sofá. Estava se sentindo genuinamente feliz e só iria melhorar depois que o Park enfim chegasse no país.

— Desculpe, eu parei, juro.

Okay, vou acreditar — Jimin disse soando meio desconfiado. — Como estão as coisas aí? Yoongi não sabe contar nada direito.

— Acho que passar o dia fofocando com os pacientes faz com que ele se esvazie de palavras no fim do dia. — Namjoon sorriu ao escutar a risada alta de Jimin e imaginou ele com os olhinhos completamente fechados e inclinando a cabeça para trás até quase cair de onde estava sentado... então ele ouviu um barulho alto. — Jimin?

Eu caí do sofá! — Jimin resmungou com a voz um pouco abafada e dessa vez foi Namjoon quem riu alto.

— Algumas coisas nunca mudam — o mais velho disse soando nostálgico.

Um saco mesmo viu — continuou resmungando até que parecesse que estava bem e sentado de novo. — Deixa só o Yoongi saber que tu fala que ele fica fofocando.

— É por isso que esse é o nosso segredo. — Namjoon sorriu e Jimin riu cúmplice do outro lado.

Ambos continuaram conversando e colocando o papo em dia por longos minutos. Namjoon estava completamente feliz em saber que essa seria a última vez que conversariam por celular com vários países entre eles. Logo poderia encher o saco do baixinho de perto e isso para ele não tinha preço.

📚

Seokjin estava sentado no sofá com sua playlist de música triste rodando de fundo para a sua cena mental de tristeza e sofrimento. Parecia que aquele lugar era o melhor espaço para sentar e pensar em coisas que não deveria estar pensando. Se perguntava se deveria parar de sentar naquele sofá, parecia atrair todos os pensamentos negativos que ele tentava afogar em algum lugar de sua mente.

Mas foi inevitável quando ele ligou a sua playlist de chorar e se jogou ali olhando a televisão desligada, outras vez. Parecia que tudo ali era tão silencioso que era o cenário perfeito para sua mente vagar diretamente para momentos que aconteceram no passado. Momentos que ele deveria superar mas que ficavam cada vez mais complicados e difíceis de controlar.

O momento da vez assombrava Seokjin o levando de volta para o dia que estava na sala de sua casa antiga com os móveis em tons marrons que ele tanto gostava. Ele estava sentado de frente para seu computador trabalhando, enquanto esperava Jihae chegar do trabalho para que pudessem começar o jantar. No fundo tocava alguma das playlists de Seokjin com algumas músicas calmas mas animadas, que ele chamava de "beautiful days" já que o dia passava exatamente assim, calmo e tranquilo, um dia bom.

Minutos depois ele ouviu o som da fechadura e abriu um sorriso involuntário para o computador, antes mesmo do noivo passar pela porta com uma mochila sendo sustentada apenas por um dos ombros. Os dois olharam um para o outro e sorriram, o Kim se levantou indo em direção do noivo e se cumprimentaram com um selinho enquanto Ryu deixava a mochila em cima da mesinha de centro da sala e puxava Seokjin pela cintura para dançarem.

Estava no meio de alguma música qualquer que Seokjin dava graças a Deus por não se lembrar qual era. O Kim enlaçou o pescoço de Jihae com os braços e ambos sorrindo dançaram pela sala. Nada foi dito por algumas músicas, apenas os dois aproveitando o momento juntos, e ali não sentiam que precisavam dizer qualquer coisa.

Seokjin cruzou os braços lembrando do momento, ele estava realmente feliz na época, ele sentia que sim. Mas agora ele só sentia descrença, como tudo aquilo que ele sentia tinha ido pro ralo? Seus sentimentos estavam tão confusos assim? Jihae realmente só estava com ele como segunda opção? Estava com Seokjin apenas se nada de seus principais sonhos dessem certo?

Em qual posição Seokjin estava na lista de prioridades de Jihae?

O Kim sabia que Jihae estava em primeiro lugar na sua lista de prioridades quando estavam juntos. Até mesmo acima de itens de sobrevivência. Talvez tenha sido esse o erro de Seokjin, tinha se entregado ao outro e deixado seus olhos e mãos nas mãos do outro, para que ele fosse seus olhos e o guiasse. Seus sentimentos eram seus, mas ele estava cego para não ter visto as mudanças sutis no comportamento, na época ele deixava se levar pelas vontades de Jihae, sem nem perceber.

Não que o relacionamento fosse tóxico ou algo do tipo, não era. Jihae nunca tinha dito a Seokjin palavras ruins, gritado com ele, diminuído ele, tratado como se estivesse com Seokjin apenas por favor, porque nenhum outro iria querer ele. Não foi assim e olha que Seokjin ainda pesquisou ainda mais para entender bem do assunto. Então ele chegou a conclusão que ele mesmo, sua própria consciência tomava as vontades de Ryu como suas próprias, como se ele automaticamente passasse a gostar das coisas apenas por Jihae dizer que gostava.

Foi isso que ele percebeu, ele demorou pra entender que lhe faltava vontade própria então ele só se deixou levar nas vontades do outro. Mas agora ele entendia, não as razões de Jihae de tê-lo deixado sem ter dado satisfações, mas entendia o seu lado aliviado com toda a situação. Era sua hora, seu momento de começar a se entender mais e dizer "sim" e "não" para o que quisesse ou não fazer. Até para si mesmo.

Então Seokjin se levantou do sofá se sentindo um pouquinho melhor, o doce do bolo que tinha acabado de comer antes de sentar ali ainda estava presente em sua língua. Isso ele só poderia agradecer a Namjoon, o vizinho barulheiro que no fundo aparentava ser uma pessoa incrível que fez Seokjin se sentir um pouquinho melhor quando foi até ali com o bolo em mãos.

Após escovar os dentes e se deitar, Seokjin deitou abraçando um de seus quatro travesseiros e naquela noite, mesmo um pouco incomodado pelo vizinho que cantava, foi embalado pela voz e melodia suave e triste que invadiam seu quarto. Nessa noite ele não sentiu necessidade de pedir para parar, apenas se deixou ser levado para o mundo dos sonhos.

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