Haviam poucos marujos a bordo no Black Swan, a grande maioria se encontrava nos bordéis da Ilha, ou nas pousadas e tavernas que ainda mantinham-se reservadas para simples viajantes que não estivessem à procura de diversão sexual.
Um navio vazio consegue ser tão assustador quanto um cheio de piratas. Com o presente silêncio, a movimentação da água que batia contra o casco do Black Swan fazia a madeira ranger, à medida que Arata seguia pelos corredores.
O Ômega ignorou o medo e seguiu até a cozinha. Ele usou a chama de uma lamparina para acender o fogo da lenha já encaixada na fornalha e esquentou água para então fazer o chá. Enquanto voltava para a companhia de Sven, já no pavimento superior, ouviu parte da conversa entre dois piratas e as três crianças:
— Não quero armas — Taesung afirmou. — Quero ser médico como o papai.
— Seu pai não é médico — Bob riu. — Ele é um prostituto.
A resposta do Alfa fez Arata voltar alguns passos.
— Não devia falar essas coisas pras crianças.
— Ih, olha lá o merdinha querendo se meter onde não foi chamado — Bob afirmou, Dylan cruzou os braços concordando. — Chispa daqui coisinha intrometida.
Arata hesitou, segurando a caneca com firmeza. Os Alfas pareciam muito ameaçadores, ele se afastou alguns passos, mas antes de se retirar, dirigiu-se às crianças:
— Acho que ouvi seus pais chamando vocês da enfermaria.
Os meninos assentiram e desceram as escadas imediatamente. Bob fez um gesto depravado com a língua, Arata virou o rosto e continuou seguindo até a popa, onde encontrou com Sven para ouvir a história daquele que havia traído o Capitão Jeon e sobreviveu.
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— Estavam nos chamando, papai? — Jungwon foi o primeiro a entrar na enfermaria, sendo seguido pelas outras duas crianças e o coelho.
Jimin estava sentado conversando com Sungjae, enquanto o médico limpava as prateleiras de medicamentos. O pequeno Ômega foi recebido pelo pai, que ajeitou alguns fios de seu cabelo preto, que vivia bagunçado devido às artes do menino pelo navio.
— O que estava fazendo lá por cima? — Jimin não havia chamado por ele, mas aproveitou o momento para saber de suas atividades.
— Brincando — Jungwon deu de ombros, olhando para as outras crianças perto do pai delas. — Papai, eu quero saber uma coisa.
— É sobre o presente que você quer? Pode escolher qualquer coisa.
— O presente… Ah, o presente! Sim! Quero enviar uma carta para o Lian. Mas não sei onde ele mora.
— Ele é filho do Almirante, não será algo difícil. — Jungwon sorriu feliz. — Era sobre isso que queria falar?
— Hmm… eu esqueci.
— Depois você lembra.
Jungwon assentiu e saindo de perto do pai, voltou a brincar com os Alfas e o coelho.
Um pirata retornou mais cedo da Ilha porque havia quebrado uma garrafa e machucou a mão. Sungjae suturou a mão do Alfa, e este logo tratou de seguir para o quarto, devido a dor latejante na palma costurada.
Jimin subiu com seu filho enquanto os pequenos Alfas permaneceram na companhia de seu pai, na enfermaria. Já que Jungkook não estava no navio, ele pretendia adiantar alguns registros para poupá-lo do trabalho. No entanto, encontrou dificuldades para entrar na própria cabine.
Bob e Dylan estavam guardando a porta, sob as ordens do Capitão Jeon. Ignorando o fato de que era bastante absurdo impedir a entrada de Jimin, os piratas seguiram com o pretexto de que eram apenas ordens. Mas o verdadeiro motivo para todo aquele obstáculo, era que eles não gostavam muito da ideia de que o Ômega fosse um líder no Black Swan. A ideia de mostrar a Jimin que ele não mandava em nada ali, lhes pareceu bastante proveitosa.
— Eu realmente sinto muito — Bob repetiu com visível fingimento. — Não que você se importe com as regras impostas pelo Capitão, mas ordens são ordens.
Jimin estava boquiaberto, com os braços cruzados. O absurdo da cena o deixou momentaneamente sem reação.
— Senta ai — Dylan balançou a mão, indicou um canto qualquer no convés. — Daqui a pouco o Capitão Jeon chega, e vocês vão poder entrar.
— Eu não vou esperar ninguém, eu vou entrar agora! — Jimin reagiu. — Esta cabine também é minha.
Bob e Dylan entreolharam-se rindo. O primeiro respondeu:
— Não obedecemos suas ordens. Vai esperar como qualquer um.
O lúpus seguiu entre os Alfas e colocou a mão na maçaneta, mas não chegou a girar. Antes disso, a mão de Bob agarrou seu pulso e o impediu de se mover.
— Solte. — Jimin exigiu.
— Não vai entrar.
— Algum problema, Jimin? — O Ômega ruivo assustou os quatro que estavam diante da cabine.
Baekhyun estava quieto no convés superior, logo acima da porta, Chanyeol estava mais atrás. Ambos estavam juntos e quando ouviram as vezes exaltadas, o Ômega decidiu verificar o que acontecia. Ele desceu as escadas dando sua atenção apenas para o lúpus.
Os Alfas mudaram a postura relaxada para uma mais defensiva.
— Não tem problema nenhum aqui. — Dylan respondeu.
— Eu falei com meu Capitão — Baek esclareceu, ainda encarando o lúpus.
Bob e Dylan trincaram os dentes, mas não ousaram exprimir qualquer rosnado.
— Jungkook disse para que ninguém entrasse na cabine, agora estão com a ideia ridícula de que eu e Jungwon também estamos incluídos nisso. — Jimin finalmente respondeu.
— Tire suas mãos do meu pai. — Jungwon exigiu.
Jungwon estava mais afastada, enquanto Jimin, Baekhyun e os outros Alfas estavam mais próximos da porta. Todos olharam para trás ao ouvirem a exigência do pequeno Ômega. Bob sorriu para ele, totalmente despreocupado com a ordem de uma simples criança. Mas esse sentimento se desfez quando sentiram um movimento estranho nas águas ao redor do Black Swan.
Bob largou o pulso de Jimin imediatamente e sorriu amarelo, tentando disfarçar o medo daquilo que ele sabia muito bem do que se tratava. O menino controlava o Kraken, uma ordem e Bob deixa de respirar no mesmo segundo. Para os dois Alfas, a pior coisa que poderia ter acontecido, depois do Capitão ter marcado um Ômega, era ter tido um filho com o mesmo.
— Só estávamos cumprindo ordens. — Dylan deu de ombros.
— Ah, você gosta de seguir ordens... — Jimin ponderou. — Então aqui vai uma pra vocês; saiam do caminho!
Os Alfas olharam para o Ômega de cabelo vermelho, depois para Jimin e em seguida, desceram o olhar até Jungwon. Se lidar com Baekhyun seria um grande problema, o Kraken estaria em um patamar que eles não pretendiam descobrir.
Bob saiu da frente da porta e Dylan também se afastou para o lado, desse modo, Jimin e seu filho seguiram para dentro da cabine. Do lado de fora, os Alfas engoliram rosnados e evitaram socar a porta.
— Eu pensei que o Kraken seria a grande vantagem do Black Swan — Dylan resmungou. — Mas está sendo apenas uma pedra no nosso sapato.
— O Capitão está treinando o filho dele para melhor poder controlar a besta — Bob explicou. — O problema é o Jimin. Ele não gosta dessa ideia, e quando se trata dele o Capitão Jeon amolece demais.
— Boa noite, Capitão Jeon! — Baekhyun disse alto, olhando para atrás dos piratas.
Dylan e Bob sobressaltaram juntos e quase caíram para trás, quando viraram-se. Não havia ninguém atrás deles. Baekhyun começou a rir alto, ignorando os rosnados dos Alfas.
— Isso não teve a mínima graça, seu maluco.
— Psiu — Chanyeol chamou. Quando o Ômega olhou para cima ele perguntou: — Não vai voltar?
— Ah, eu vou sim. Vai que a covardia seja contagiosa.
Baekhyun subiu de volta para o convés superior onde seu Alfa o aguardava ansioso. Bob e seu parceiro se concentraram guardando a porta da cabine, com o sonho cada vez mais distante de se divertir nem que fosse um pouco naquela Ilha.
Já dentro da cabine, Jimin estava tendo uma conversa bastante séria com seu filho.
— Eu juro que não chamei ele, papai!
— E o que foi aquilo lá fora? — Jimin cruzou os braços.
— Eu não sei… eu senti muita raiva, e aí ele se aproximou tão rapidamente que provocou as ondas em volta do Black Swan.
Jimin agachou-se até chegar à mesma altura do filho. Ele observou o rosto apreensivo do pequeno, em um esforço para transmitir sinceridade.
— Você entende porque eu não quero que você fale com esse monstro?
— Ele não é um monstro. É só uma criatura que viveu sozinha por todos esses anos.
— Você andou conversando com o Kraken?
— Não… ele pode ouvir meus pensamentos, mas ele não fala comigo. Nunca falou desde o ataque à Marinha.
— Eu preciso falar com aquela Gama… — Jimin pensou em voz alta. — Certo, que continue assim. Se ele entrar em contato com você, quero que me comunique imediatamente, ou ao seu pai. Tudo bem?
— Sim, papai.
Jimin o abraçou fortemente. O Kraken era descrito como uma criatura marinha que não apenas destruía os navios, mas também devorava todos que estavam a bordo. Sempre viveu livremente pelos mares e agora estava sob os comandos de uma criança. Se ele pretendia se libertar daquele vínculo matando aquele que o dominava, Jimin não iria permitir.
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A maioria dos piratas só retornaram na noite do último dia dado pelo Capitão. Estavam cansados ou bêbados demais para qualquer atividade, e devido a isso a partida ficou planejada para o dia seguinte.
Assim que amanheceu, Jimin acordou com uma movimentação estranha na cama em que dormia com seu Alfa. Ele abriu os olhos e viu Jungwon pulando no colchão. O menino se jogou entre os pais, fazendo Jungkook acordar também. O Alfa estava deitado de costas, quando abriu os olhos viu o coelho também na cama, de frente para ele e o encarando curioso, movimentando o pequeno nariz.
— Céus, que euforia é essa?! — Jimin sorriu. — Parece até que tem alguém completando nove aninhos hoje…
Jungwon sorriu ainda mais.
— Eu quero um bolo! No livro tem um menino que fez aniversário e ganhou um bolo da mãe.
— Vou mandar Junbuu fazer um. — Jungkook afirmou com voz de sono.
— Não. Eu quero um bolo dos papais. Vocês sabem fazer, não é?
— Sei… — Jimin confirmou, olhando para o Alfa. — Sabemos.
— Não precisa ser bonito como o do livro.
— Você merece um bolo muito mais bonito do que aquele — Jimin afirmou. — Vamos fazer o bolo mais bonito e mais gostoso.
— Jura!?
Ainda deitado, Jimin o puxou para um abraço e o beijou, confirmando a pergunta do filho. Jungkook se juntou ao abraço e ficou em cima deles.
— Pai, você é muito pesado!
Puffy pulou e começou a roer o travesseiro. Jungkook o ergueu e colocou no chão.
— Esse coelho vai roer o navio inteiro se deixar.
Jungwon desceu da cama, pegou o coelhinho e saiu da cabine com ele. Jimin esticou os braços, girou o corpo e trocou as posições em que eles estavam, agora ficando deitado em cima do Alfa.
— Você sabe que eu não faço ideia de como se faz um bolo, não é? — Jungkook perguntou acariciando o cabelo dele, encarando o teto de madeira.
— É fácil. Você só precisa fazer o que eu mandar.
— Como aprendeu a fazer essas coisas?
— Nas aulas de como ser um bom Ômega e marido. — Jimin revirou os olhos.
— E por que você nunca fez um bolo pra mim? — O Alfa perguntou. Jimin ergueu o rosto e o encarou sério. Jungkook riu divertido e o puxou para deitar-se em seu peito novamente. — Estou brincando, coração.
Os lúpus ainda permaneceram deitados juntos por alguns minutos, logo a necessidade de comandar a tripulação e seguir uma nova rota fez o Alfa levantar-se. Jimin o acompanhou.
Após a rota ser confirmada para a Ilha de Nabuco, Jimin e seu Alfa seguiram para a cozinha do navio. Jungkook encostou-se em uma bancada com os braços cruzados, apenas olhando o Ômega separar algumas das coisas que iriam utilizar.
— Quebra os ovos aqui dentro pra mim? — Jimin lhe entregou uma vasilha e alguns ovos.
O Alfa observou o recipiente, deu de ombros e lançou um ovo dentro. Quando estava prestes a fazer o mesmo com o segundo, Jimin o interrompeu.
— O que você tá fazendo?!
— Quebrando os ovos.
— Não é assim, Jungkook… — Jimin tentou não rir. — Não pode colocar as cascas também!
— Você não disse.
O Ômega piscou incrédulo.
— Ah, certo. Então… — ele buscou ao redor e indicou: — Pegue um torrão de açúcar e o sove nessa peneira aqui.
— Aqui dentro? — Jungkook mostrou o recipiente em que Jimin havia retirado as cascas.
— Sim, aí dentro.
— Desse jeito?
— Isso, Jungkookie, isso. Muito bem.
Jimin deixou o Alfa sovando o torrão de açúcar enquanto cuidava das outras etapas. Alguns materiais que não tinha no momento, ele adaptou usando semelhantes.
— E agora, o que eu faço? — Jungkook inclinou-se para ver o que ele estava fazendo.
— Acende o fogo. — Jimin respondeu.
— Como eu vou fazer isso? — Jungkook seguiu até o forno.
Tinham algumas lenhas já encaixadas embaixo, junto com uma certa quantidade de pólvora. Certamente o cozinheiro deixa pronto para iniciar o preparo das próximas refeições.
Jimin estava ocupado adicionando mel na massa, não prestou muita atenção na dúvida do Alfa, queria que aquele recheio ficasse delicioso. Jungkook deu de ombros, puxou uma pistola e disparou contra as lenhas. O barulho assustou o loiro e ele soltou um gritinho.
— Aaah! Que susto!
— Acendi o fogo — calmamente, ele apontou a pistola mostrando a fornalha.
— Estou vendo. — Respondeu, massageando o peito.
— E agora, o que eu faço?
— Que tal guardar essa pistola pra não explodir nós dois aqui? — Jimin indicou. O Alfa fez como ele disse. — Pronto. Agora você limpa essa bagunça e eu faço suco com essas laranjas.
O Alfa concordou e pegou uma vassoura, enquanto Jimin descascava as frutas e retirava o suco delas.
O cheiro do bolo estava chegando em todos os compartimentos. No pavimento superior, os piratas ficaram sabendo sobre o aniversário do pequeno pirata através do mesmo.
— Tragam o-... — Taehyung congelou, sorrindo amarelo. — Eita… tragam o suco?
Alguns que estavam próximos riram.
Jungwon reuniu a maioria dos bucaneiros na proa, queria que todos participassem da sua comemoração, mas alguns não fizeram questão, considerando que não passava de bobagens de criança.
Ainda a pedido do aniversariante, o bolo foi levado até a frente da embarcação. Todos cantaram uma música que os bucaneiros costumavam cantar enquanto trabalhavam. Assim como havia no livro, Jungwon fechou os olhos e fez um pedido.
— No livro, o menino entregou o primeiro pedaço do bolo a uma pessoa muito especial para ele — o pequeno Ômega disse. — Eu gostaria de fazer o mesmo.
— Eu vou buscar uma faca.
— Não precisa. — Jungkook puxou uma adaga e partiu o bolo.
— Céus!
— Estão limpas. Relaxe.
Os piratas prostraram-se ansiosos para ver a quem Jungwon entregaria o tal primeiro pedaço especial. Se seria para Jimin ou Jungkook. Mas o menino surpreendeu a todos quando ofereceu para outra pessoa:
— Jay. — Jungwon o chamou. O mais novo se aproximou, tímido. — Você é a minha pessoa especial em todo o mundo.
Jimin e Sungjae só faltaram se derreter de tanto amor. Scott disfarçou quando o Capitão Jeon o encarou intenso.
Com isso, Jimin entregou um pedacinho para cada bucaneiro que fez questão de aceitar o convite do pequeno Jungwon. Eles gostavam da criança, e não acharam nada demais participar daquela pequena comemoração.
— Tragam o rum para a minha caneca — Taehyung cantarolou baixinho, adicionando o conteúdo no suco de laranja.
— Você não tem jeito, não é? — Yoongi o repreendeu, em seguida ergueu a própria cabeça: — Coloca aqui também.
— Eu também quero. — Hoseok e outros piratas se aproximaram disfarçando.
Jungwon separou um pedacinho de bolo e seguiu sozinho até a popa da embarcação, onde não tinha ninguém. Ele subiu na balaustrada e encarou o oceano ligeiramente calmo, se não pelas ondas deixadas à medida que o navio avançava.
O Ômega olhou para trás e vendo que todos os piratas ainda permaneceram na proa, cantando e festejando entre si, ele voltou a atenção para o oceano e lançou o pedacinho de bolo para uma certa criatura que os seguia para onde quer que o Black Swan e seu pequeno marujo fossem.
Continua...
Olha que amooooooooor, q coisa mais linda q @g_cubone fez e me mostrou lá no twitter: