De Vante Para Jungkook

By avantaegarde

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Jungkook achava que não era feito para o amor, nenhuma grande emoção na sua morna vida de cumprir obrigações... More

Notas da autora
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By avantaegarde

Playlist: https://open.spotify.com/playlist/2cyuAiI9CANcT0EuBpYvbm

N/A: ATENÇÃO esse capítulo é o 5, eu não sei por que ele ficou publicado antes do 4 e eu não consigo mudar a ordem porque o wattpad me odeia então por favor leiam o 4 (próximo capítulo) antes dele ou nada vai fazer sentido

Yoongi secava seu cabelo preto com uma toalha quando Jungkook entrou no quarto, o ar cheirando a sabonete.

"Boa noite, hyung!" Jungkook cumprimentou animado, correndo para a escrivaninha.

"Boa noite..." Ele respondeu com uma leve desconfiança, assistindo Jungkook esvaziar a mochila.

"Eu acho que o Vante é da música."

"Quê?" Yoongi enrugou a testa, deitando nos lençóis brancos da sua cama. Jungkook pegou as fitas e o aparelho para tocá-las que tinha acabado de correr Seoul para encontrar.

"Eu tenho recebido fitas de alguém chamado Vante," ele explicou rapidamente colocando a fita número 3 para tocar, "lembra que te perguntei se você conhecia esse nome?"

Ele passou o toca-fitas para as mãos do colega de quarto que ainda estava perdido.

"É um admirador secreto?" Ele perguntou com um meio sorriso.

"Mais ou menos isso. Enfim ele cantou uma música que disse que compôs o que me faz pensar que ele pode ser do seu curso."

"Não necessariamente," Yoongi o puxou para a realidade.

"É minha única pista. Por favor, escuta um pouquinho a voz dele," Jungkook insistiu segurando os fones de ouvido e praticamente os empurrando na cara do outro, "e depois me diz se é familiar."

Yoongi cedeu, pegando os fones dele. Jungkook sentou à sua frente na cadeira da escrivaninha, observando atentamente cada expressão do seu rosto enquanto ele ouvia Vante.

"Isso é bem meloso," ele riu sem jeito.

Só então Jungkook percebeu o quanto aquilo era constrangedor. Aquelas palavras meigas tinham sido compartilhadas em sussurro de Vante para ele, ninguém mais deveria escutá-las. Mas a curiosidade sobre sua identidade era grande o suficiente para fazê-lo trair sua confiança. Talvez não merecesse saber. Ele virou o rosto, sentindo sua transformação em pimenta se aproximando com cada aumento no sorriso de Yoongi. Ele ouviu até o fim e lhe devolveu os objetos. Kook o observou cheio de expectativa, mas o músico sacudiu a cabeça.

"Não soa familiar."

Jungkook exalou o ar que estava preso em seus pulmões, incapaz de esconder sua tristeza.

"Obrigado mesmo assim."

Guardou a preciosa fita junto das demais na sua gaveta. Já eram três e mesmo assim ele não estava nem um pouco mais próximo de saber quem era Vante. Existiam em dois mundos diferentes e apenas o outro conseguia vê-lo através de uma fenda que Kook não tinha achado. Mas não desistiria ainda. Se Vante realmente sentisse tudo aquilo que dizia nas fitas, ele aceitaria seu convite e apareceria para o piquenique.

Acordou mais cedo no dia seguinte e preparou cuidadosamente duas lancheiras com a comida que sua mãe havia deixado, grato pela quantidade excessiva. Cantarolava a música de Vante, que tinha ouvido mais umas 5 vezes antes de pegar no sono. Pela primeira vez desde que era calouro, Jungkook estava verdadeiramente animado para ir à aula. A ansiedade borbulhava em seu estômago enquanto ele ensaiava o que dizer na sua cabeça. Tentava imaginar como seria o rosto de Vante, a boca da qual saia aquela voz, mas não parecia certo. Era melhor se deixar surpreender e apreciar a pessoa que viesse, como quer que fosse.

A aula da manhã se arrastava. Jungkook checava o relógio a todo momento, seu joelho sacudindo desesperadamente.

"Tá me desconcentrando," Yugyeom reclamou baixinho, lançando um olhar azedo na direção dele. Jungkook forçou o movimento a cessar com a mão.

"Desculpa."

"Tá tudo bem?"

"Ótimo."

Exceto pelo relógio que devia estar quebrado já que cada minuto era uma hora. Jungkook simplesmente não se aguentou, deixando a polidez de lado para sair de fininho antes do final da explicação que não tinha registrado. Queria chegar ao gramado do mural com antecedência e deixar tudo pronto para o almoço dos dois.

Estendeu a toalha quadriculada sob a sombra de uma árvore antiga, onde outros amantes tinham gravado seus nomes. O frio do ar não o incomodava tanto quanto o frio na sua barriga. Não sabia o que aconteceria quando se encontrassem pessoalmente, se Vante ainda o acharia interessante da mesma forma, mas queria que tivessem um momento só dos dois como era na biblioteca. Colocou as lancheiras milimetricamente separadas para que ele e Vante pudessem se olhar enquanto comiam e ao mesmo tempo ter a visão das obras pintadas no muro. E mesmo assim Jungkook passou os 15 minutos que faltavam até o almoço rearrumando cada detalhe do cenário do primeiro encontro dos dois.

Os estudantes foram liberados meio dia e logo a grama ganhou outros ocupantes. Jungkook olhava atentamente cada rosto, tentando identificar à qual pertencia sua querida voz e se decepcionando toda vez que sentavam em outro lugar. Se perguntava se, ao olhar nos olhos de Vante, reconheceria que era quem ele estivera esperando. Gostaria de pensar que sim, que talvez até mesmo fosse ouvir os sinos tocarem ou sentir algo se mover em seu coração. Mas não era tão simples. Todas as suas apostas estavam erradas. Alunos vieram e foram. Nenhum de seus possíveis Vantes se aproximou. Nenhum Vante, ponto.

As duas horas do intervalo de almoço passaram sob aquela árvore, o almoço intocado foi esfriando enquanto aguardava junto do seu companheiro pela chegada da companhia de Jungkook. As folhas caíram sobre o lugar vazio da toalha. O gramado se esvaziou de novo, até que só ele tinha restado. Jungkook xingou seus canais lacrimais quando eles cederam, deixando escapar algumas lágrimas infantis de decepção. Abraçou seus joelhos e escondeu o rosto molhado na calça jeans preta, seu casacão quase o engolindo. Vante não gostava dele tanto assim afinal. Se gostasse, não o deixaria esperando como um idiota no frio. Mas aquele encontro nunca tinha sido combinado. Não sabia nem se o menino tinha lido a carta. E mesmo que tivesse, ele já tinha negado o pedido precocemente. Vante avisara que não iriam se conhecer. Jungkook que fora bobo de se permitir ter esperança.

Depois daquilo, sua já debilitada vontade de ir à aula morreu de vez. Seguiu para a biblioteca que também estava vazia, nenhuma explicação ou pedido de desculpas o aguardando. Jungkook encarou a mesa vazia, sentindo uma rejeição dupla.

"Nada hoje?" Jihyo questionou quando ele arrastou os pés até a saída.

"Não. Deve ser um sinal para eu para de me iludir e me concentrar nos meus trabalhos."

Ela abriu um sorriso triste.

"Não desanime, Jungkook, tenho certeza que ele vai voltar."

Jungkook não queria mais ter esperança nenhuma.

Todavia, a discussão sobre as reais intenções e identidade de Vante continuou na sala de redação onde ele se escondeu antes da reunião. Jungkook finalmente decidiu comer seu almoço frio, a fome aparecendo toda de uma vez. Jimin e Hoseok sentavam ao seu lado, acariciando suas costas em consolo e dividindo a segunda marmita que ninguém tinha vindo reclamar.

"Talvez ele seja feio," Jimin sugeriu, estalando os lábios depois de comer o kimchi, "por isso ele não quer se mostrar."

"Talvez seja o Nosferatu," Hoseok sugeriu, enchendo a boca de bibimbap. Jungkook juntou as sobrancelhas.

"Quem?"

"Um menino esquisito da biologia de olhos esbugalhados, que anda sempre meio travado e usa um casacão na qual daria para esconder armas. Nunca viu?"

Os hashi de Jungkook brincavam com a comida.

"Acho que não. Mas eu conheço o Vante. Marginalmente."

"Por que você acha isso?"

"Ele sabe que sou do jornal e que já estive no time de futebol."

"Isso não é difícil de descobrir," Hoseok argumentou, oferecendo seu refrigerante para ele beber.

"E sabe que eu arrecadei mais que todos ano passado."

"O reitor te premiou por isso," Jimin relembrou.

"Mas ele disse que eu já sorri para ele e o fotografei."

"E se for um stalker?" Hoseok questionou, a possibilidade lhe ocorrendo apenas naquele momento, "Isso é um pouco estranho, parando pra pensar."

"Vocês não entendem," Jungkook sacudiu a cabeça, "a maneira como ele fala comigo é muito doce, muito pura, não sinto nada de ruim nas fitas."

"Mas então por que ele não se revela?" Hoseok reclamou frustrado como se fosse ele o mais interessado. "Não é muito doce te deixar esperando no frio."

"Talvez ele não goste de piqueniques."

"Acho que ele é inseguro," Kook concluiu, murchando sobre a cadeira igual um balão velho, "acho que pensa que, se eu souber quem ele é, vou ficar decepcionado ou algo assim. Mas não consigo entender. Ele é uma pessoa maravilhosa."

"Requer coragem ser quem a gente é," Jimin refletiu, "talvez ser o Vante, ironicamente, torne ele mais ele mesmo."

"Ou talvez ele tenha medo que o Jungkook queira o Vante e não o resto dele," Hoseok contrapôs, balançando seus palitinhos no ar.

O barulho de mais pessoas chegando na sala para a reunião encerrou a conversa dos três. Jungkook percebeu a forma silenciosa de Taehyung se esgueirando pelos cantos da sala, sua bolsa-carteiro repousando precariamente sobre o ombro. Havia algo diferente sobre ele naquele dia. Levou um momento para analisar suas roupas e postura até que Jungkook se desse conta do que tinha mudado. Naquele dia Taehyung não estava olhando. Pelo contrário, seus olhos eram o sol no fim da tarde, se escondendo quando ele encarava o chão. Devia ter sido um alívio, mas nós se formaram no peito de Jungkook ao ver seus ombros encolhidos, uma visão pura de pesar.

Só então percebeu que ainda não havia o elogiado pelo seu trabalho excelente no artigo. Naquilo Vante tinha se enganado, as palavras de Taehyung tinham sido tão importantes quanto as imagens de Jungkook para criar aquela matéria. Para a sua surpresa, os dois realmente se entendiam melhor do que pensavam. Ele enviou uma mensagem de parabéns. Taehyung nem tocou o celular, parecendo preso em outro mundo. Algo devia ter acontecido para chateá-lo. Jungkook nunca o tinha o visto derrotado daquela forma. Estava decidido a puxar papo com o artista na próxima oportunidade, quem sabe a quinta tentativa fosse ser a premiada.

Durante o horário de almoço de quarta-feira, enxergou uma calça branca manchada de tinta estirada sobre o gramado próximo ao refeitório. O suéter e a cabeça de caracóis pretos não deixavam dúvidas de que aquele era Taehyung, deitado sobre a terra. Outra visão que pegou Jungkook desprevinido. Curiosidade assumiu o controle, e o fotógrafo chegou mais perto para estudar aquela flor incomum. Taehyung tinha os olhos de medusa fechados, permitindo que ele fosse Perseu e se aproximasse sem hesitar. Em vez de um urso de pelúcia, o artista abraçava um livro sobre expressionismo que Jungkook se lembrava de já ter folheado na biblioteca até cair naquele mesmo sono. Suas mãos adquiriram vontade própria e furtivamente pegaram seu celular do bolso para tirar um foto da cena quando ninguém estava passando. Não entendia ao certo seus motivos, uma pergunta como muitas de provas que não saberia justificar.

Mas se realmente tivesse que tentar, diria que o Taehyung adormecido era belo mesmo, sem dúvida. Já conviviam havia algumas semanas e, ainda assim, Jungkook não achava que aquela beleza era algo com que poderia se acostumar facilmente, ainda que jamais fosse admitir. Os traços desenhados de Taehyung potencializavam o poder de suas expressões. Jungkook não conseguia apreciá-los na maioria dos dias, então era mais fácil ignorar. Porém naquele pedaço quieto do campus, sentia-se de volta a estaca zero, quando vira pela primeira vez aquele rosto tão belo que o deixava sem jeito. Seus lábios formaram um sorriso involuntário ao escutar os pequenos sons engraçados que o artista fazia enquanto dormia. A recém descoberta vulnerabilidade daquele homem, que geralmente era tão intimidador, prendia Jungkook na sua observação. Taehyung sempre parecia seguro de si, caminhando acima de todos naquela universidade. Era interessante o ver se tornar um filhotinho de cachorro enquanto tirava uma soneca. Mas sua contemplação foi interrompida por uma ligação de Yoongi. Jungkook ignorou, no entanto seu colega de quarto insistiu.

"O que foi?" Ele sussurrou, dando alguns passos para não perturbar o sono de Taehyung.

"Eu estou almoçando aqui no jardim do mural e o seu Vante fez uma pintura. Eu achei o nome dele e tenho quase certeza de que não estava aqui antes."

Jungkook não esperou mais detalhes. Começou a correr instintivamente para procurar o homem que Yoongi chamara de seu. Seria tudo aquilo um grande jogo de caça ao tesouro? Jungkook esperava que ao fim o prêmio fosse saber a verdadeira identidade de Vante. Mas não havia nenhuma pista quando chegou ao mural. A pintura, muito como as fitas, era sobre ele e não sobre seu autor.

"Um lírio tigre," Jungkook suspirou impressionado com o talento artístico de Vante. Tocou a tinta laranja que se fundia à pedra com as pontas dos dedos.

"Isso significa algo para você?" Yoongi questionou, parado ao seu lado.

"É a flor do meu aniversário."

"Como ele sabe disso?"

"Não é difícil descobrir o meu aniversário," Jungkook riu, ainda encantado com o vívido retrato da flor que amava, "eu sempre desenho essa flor no meu caderno, quero tatuar ela um dia."

"Que romântico, você ganhou uma obra de arte personalizada. O melhor que eu já ganhei foi um café."

A imagem quase saia da pedra, sem dúvidas feita por alguém que entendia de pintura. Tinha trazido a primavera até ele antes do tempo. Jungkook deu um passo para trás, admirando a beleza do seu presente, cada delicado traço do pincel. Devia ter levado horas para fazer. Embaixo, o nome que ele buscava estava escrito, a constelação de letras que ele já estava se acostumando a ler.

Pegou o celular para fotografar o lírio e guardá-lo consigo. A foto de Taehyung ainda estava na tela. Jungkook a excluiu rapidamente, antes que Yoongi pudesse ver, uma pontinha de dor surgindo após o raro retrato sumir. Focalizou a pintura, tentando e falhando em capturar toda a sua beleza. Apenas quem se sentasse sob as árvores, observando o toque do sol na tinta, quem conhecesse aquele nome que só ele conhecia, iria entender tudo o que aquela obra significava. Jungkook enxergou as palavras escondidas na imagem, apenas quatro em vez de mil, mas que tinham tanto peso quanto.

"Por favor, me ame," ele murmurou, florescendo seu próprio jardim.

"O quê?"

"Esse é o significado do lírio-tigre," explicou para Yoongi, "por favor, me ame."

"Você acha que ele quis dizer isso?"

"Talvez."

Jungkook acabou ficando por ali mesmo, comendo junto com Yoongi. Era a primeira vez que passavam tempo juntos na universidade, mas era agradável. Yoongi era fácil de conversar, ao mesmo tempo em que sabia manter confortavelmente os silêncios. E Jungkook não queria ir embora e deixar a obra de arte ali, sem olhos que a amassem. Queria que Vante lhe fizesse uma versão que pudesse pendurar em casa. Queria o desenho em sua pele.

"Você precisa de uma distração acho," Yoongi sugeriu, quando os dois foram forçados a retornar às aulas no fim do período de almoço e Jungkook arrastava os pés pelo corredor gelado, "o pessoal vai tocar amanhã no Sowoozoo, você não quer ir?"

"Mas amanhã é quinta."

"E? A gente só é jovem uma vez Jungkook, é a hora de viver. Convenço até o Doyeon a te deixar cantar uma se você for."

Jungkook apertou as alças da mochila, sabendo que tomar cerveja e escutar música boa vencia sem dificuldades uma noite de estudar e quebrar a cabeça pensando em quem seria Vante. Assentiu, abraçando a chance de se divertir.

"Tá bom."

Sob o pretexto de que adiantaria algumas coisas que precisava fazer, Jungkook foi até a biblioteca, secretamente esperando encontrar uma surpresa familiar lá. Naquele dia, Vante tinha decidido compensar a decepção anterior. Jungkook abriu a caixinha da fita correndo, como uma criança abrindo presentes no natal, e colocou-a para rodar no próprio toca-fitas.

"Jungkook, preciso me desculpar de novo nessa fita." Jungkook se retesou ao ouvir a seriedade da sua voz. "Não fui ao seu encontro e por isso sinto muito. Eu queria, queria mesmo, mas não consegui. Sei que minhas ações covardes devem ter te desapontado e te irritado, mas acho que seria pior se eu tivesse ido, sinceramente."

"Não é possível," Jungkook discordou, revirando os olhos um pouco cansado do mistério

"A pintura foi meu presente e meu pedido de desculpas. Espero que você tenha gostado. O lírio-tigre é uma flor bem apropriada para você, na minha opinião. É bela, vibrante, e conflagra a delicadeza do lírio com a força do tigre. Sempre que olhar aquela pintura pensarei em você. Espero que você pense em mim."

"É claro que vou pensar."

"Você queria saber quem eu sou. Bem, eu não sou o Vante. Não sei expressar o que sinto como você pensa que sei, se soubesse estaria ao seu lado agora e não nessa fita," ele soltou o ar em um pequeno riso sem humor, "por isso eu desenho. Sou o segundo filho de pais que não tinham muito a oferecer nem pra um. Minha mãe talvez tenha se dado conta disso pois ela foi embora quando eu tinha 13 anos. Mas já tinha dado checkout um bom tempo antes disso. Meu pai não deve ter percebido já que ele passa tanto tempo trabalhando. Ele é médico, assim como você. Até achei que parecia algum tipo de karma quando descobri o que você estuda. Mas seria pretensioso demais de mim imaginar que o universo se importa tanto. As pessoas me olhavam com muita pena ou muito desprezo por causa da minha mãe, mas não diria que tive uma vida particularmente difícil. Estudei em boas escolas, comi boa comida, vesti boas roupas. Vivi poucos bons momentos. Acho um absurdo que você se considere morno, pois é o que pensava da minha vida até conhecer você. Um grande morno, uma quarta, um agosto, um nublado, um outono, nem muito isso nem muito aquilo. Por isso falo muito de você, a melhor parte de mim sem nem ser meu. Nunca tive ninguém na verdade. Nunca quis me dedicar a alguém. Mas gosto de me dedicar a você, vá entender. E o que mais, hmmm, realmente não há muito o que falar... Ah, eu tenho um cachorro. Lindo, acho que você gostaria dele. Minha cor favorita é verde. Gosto de comer morangos, principalmente os que o meu tio me leva colher na fazenda dele. Meu feriado favorito costumava ser o Natal, mas faz muitos anos que não tenho um bom Natal, desde que minha mãe foi embora acho. Foi um pouco antes do feriado inclusive, ganhamos presentes extra naquele ano para compensar. Às vezes gostaria de poder apreciar essa época de novo. Escuto músicas antigas, mas nunca tinha mostrado minhas próprias músicas para ninguém antes de você. Gosto de expressões artísticas variadas, acho que você já deve ter percebido, mas também sempre senti que não tenho muito a expressar. Então obrigado Jungkook por me inspirar. Falo como alguém tem sentimentos que parecem grandes demais para esse meu pequeno coração e também como um artista que admira o trabalho do outro."

"E eu admiro o seu," falou sincero, sabendo que ele não ouviria.

"É bom poder colocar tudo que sinto nessas fitas. Por muito tempo quis te dizer. Quis me sentar ao seu lado e saber o que se passa na sua mente quando você fica aqui enquanto o sol se põe nas janelas altas e te joga nas sombras e você fica quase deitado folheando livros. Você já olhou para mim aqui algumas vezes, mas acho que nunca me viu. E, por isso, acho que talvez seja melhor encerrar essa nossa conversa aqui."

"O quê?" Jungkook falou alto o suficiente para atrair o olhar feio de censura da velha bibliotecária, Sra. Moon. Seu coração tropeçou nas batidas rápidas, caindo no chão e se espatifando.

"Sinto que estou te iludindo e te deixando sonhar com alguém que não existe. Não acho que qualquer coisa que eu te mostre sobre o resto do meu eu seria tão cativante para você quanto o Vante apaixonado que só você conheceu. Agora estamos apenas caminhando um caminho lento que leva à decepção. Se eu não for ao seu encontro, eu te decepciono. Mas se eu for, também. Só não digo que foi um erro mandar as fitas, porque nunca seria um erro sentir o que sinto e te fazer feliz. Mas acho que é melhor parar antes que tudo fique mais complicado. Espero que você guarde essas quatro fitas e retorne a elas sempre que precisar ouvir uma voz diferente da sua. Eu vou continuar admirando você de longe. Acho que vai ser melhor assim."

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