Voltei a guardar meu celular na bolsa, ignorando completamente as notificações que estavam estranhamente insistentes naquela manhã, e me apressei a sair do apartamento.
E ao descer as escadas tranquilamente, enquanto acenava para o vizinho gato do outro lado do corredor como se não tivesse nenhum problema na vida, mal tendo ideia da bagunça que se tornaria o meu dia, e que o lindo sonho que prometi acreditar que nunca acontecera, acabou se tornando um de meus piores pesadelos.
(...)
Entrei no uber com a expressão mais despreocupada do mundo - afinal, depois de ontem, com meu projeto que fora concluído perfeitamente, não havia mais nada naquele fim de mês que poderia me preocupar desta vez - que mal notei o rosto curioso de meu motorista que passou a me encarar pelo espelho retrovisor durante todo o percurso de viagem.
Entretanto, assim que cheguei a entrada da empresa, vi que algo estava muito estranho. Pois logo que passei meu cartão de funcionário para o segurança que ficava em frente a catraca de passagem para o elevador, o mesmo ficou encarando minha foto de ID e meu rosto por muito mais tempo que o necessário, e logo pensei se não estava com a maquiagem borrada ou, talvez, que uma espinha enorme poderia ter brotado em meu rosto. Porém, depois de um longo - e quase invasivo - minuto, o segurança meu deixou passar, sem dizer uma palavra.
O problema realmente começou quando cheguei em meu corredor.
Assim que as portas do elevador se abriram, quase que automaticamente, todas as cabeças que estavam presentes no corredor se viraram para mim. Pensava seriamente o que havia de errado com o meu rosto, e se em vez de maquiagem havia colocado muito pó de arroz no nariz, e agora parecia uma palhaça ou uma desequilibrada viciada em cocaína.
Andava lentamente entre o corredor que não tirava os olhos de mim, e imaginava o quão ruim eu estava para que ninguém fizesse o esforço de disfarçar seu horror ao olhar em minha direção. Mas assim que cheguei a minha mesa, e olhei mais do que depressa para o pequeno espelho que havia em cima da mesa, e qual foi minha surpresa ao ver que... não havia nada de errado com meu rosto.
Voltei a olhar aquele corredor cheio de olhos curiosos e, mesmo que um pouco mais sutis, ainda me encarravam diligentemente.
O que há de errado com aquelas pessoas?!
Resolvi ignorá-las por agora, e passei minha atenção em organizar minha mesa e ligar o computador, até ver a gerente Im se aproximar.
− Eu pensei que fossemos amigas! − Ralhou de forma magoada assim que estava bem a minha frente, me deixando ainda mais confusa com tudo aquilo.
− Nós somos amigas, Yoon-ah*. − Ditei simples, dando de ombros, ainda não entendendo do que ela estava reclamando.
− Então, por que não me contou antes? − Se agachou em frente à minha mesa, enquanto falava baixinho.
− Contei o quê? − Respondi mais impaciente, e só ouvi ela responder um murmúrio inaudível, que me deixou mais irritada ao ver que todos ao redor ainda estavam atentos em nossa conversa. − Pelo amor de Deus, o que há de errado com vocês?! − Falei mais alto ao me dirigir para aquele bando de pessoas curiosas. − Eu sou uma celebridade por acaso? Ou será que estou realmente tão bonita hoje, que vocês não conseguem tirar os olhos de mim?!
Como se não bastasse todo o período de fofoca que sofri com meu chefe há alguns meses atrás, ainda me vem isso, será que essas pessoas não tinham mais nada para fazer?!
− Você está sendo irônica agora? − Ouvi alguém começar.
− Depois de todo aquele escândalo de ontem à noite, e quando ele finalmente se pronunciou hoje de manhã, a srta. ainda acha que não temos o direito de ficar no mínimo surpresos...? − O sr. Kang que mesmo sendo extremamente reservado, se pronunciou, porém, isso em nada ajudou para que eu entendesse o que estava havendo.
− Bem que eu desconfiei que, em todos esses anos, você dizia não estar em nenhum relacionamento, mas agora, tudo faz sentido...− A sra. Na observava, como se toda aquela bagunça fizesse algum sentido na minha cabeça, mas antes que eu voltasse a falar qualquer coisa, Yoon-ah se pôs de pé a minha frente e interrompeu todos os murmúrios.
− Como vocês viram, ela teve os seus motivos, então, por favor a deixem em paz! − Todos começaram a resmungar de volta em voz baixa. − O mais importante é... − Yoon-ah se voltou para mim com uma expressão animada. − ... Que você vai conseguir um autógrafo dele para mim, não é amiga?
− O quê? − Minha expressão não poderia estar mais confusa. − Do que vocês estão falando?
− Querida... Não precisa mais fingir, todos já sabem, ele até mesmo confirmou hoje cedo... − Yoon-ah pousava seu cotovelo sobre minha mesa com um semblante despreocupado, como se isso esclarecesse alguma coisa. − Agora entendo o fora que você deu no -
Com minha expressão completamente perdida, e até mesmo com um leve medo do desconhecido que todos os outros sabiam, menos eu, Yoon-ah finalmente teve pena de minha pobre alma e disse que me explicaria melhor.
Tirando o celular do bolso de seu blazer, abriu seu twitter, e clicou em um dos tópicos em destaque, e virou a tela do aparelho em minha direção.
− Será que isso refresca a sua memória?
E assim que foquei meus olhos no vídeo que estava sendo reproduzido, minha boca caiu em choque.
A câmera que filmava aquela cena estava obviamente sem flash, mas, podia ver claramente as duas pessoas que se beijavam naquele local estrategicamente bem iluminado.
Aquilo tinha de ser um pesadelo.
N/A: talvez eu esteja enrolando demais, mas eu estou amando isso!