LUNA MILLER
Cátia nos levou até a sala da diretora do colégio. Ela deu três batidas e logo em seguida ouvi um "entre".
Ela abriu a porta e permitiu que a gente entrasse, assim que entramos na sala e ela fechou a porta.
- Luna? Que prazer te ver novamente!
- o prazer é todo meu em rever a senhora. - mentira, se não fosse importante eu nunca mais voltaria aqui, e muito menos gostaria de ver quem trabalha aqui.
- e você? Quem é? - perguntou ela dócilmente a Jake.
- sou Jake.
- você é o irmão dela, certo?
- sim.
- o que devo a honra de ter vocês dois aqui?
- então... - começou Jake.
- espera aí, Jake.
Fui até a porta em passos silenciosos e abri a porta rapidamente. Cátia que estava com um copo e o corpo encostado na porta tropeçou e deixou o copo cair no chão, que automaticamente se quebrou.
- Cátia! Era pra você estar cuidando das crianças!
- desculpa diretora, é que...
- pare de inventar desculpas e volte ao seu trabalho.
- essa daí superou o meu vô. - disse Jake me fazendo soltar um sorriso.
Ela soltou um "sim senhora" e se retirou da sala.
- me desculpe o comportamento dela, ela não costuma costuma agir assim.
- na verdade, costuma sim.
- é ela sempre faz isso... Bom qual motivo de vocês estarem aqui?
- então... É que eu gostaria de saber se você tem alguma informação sobre o meu passado antes de eu acabar aqui.
- sinto muito querida mas eu não tenho informações sobre o seu passado, orfanatos costumam saber pouco ou até mesmo nada do passado das crianças.
- ah sim.
- mas tem uma coisa sobre você que eu acho que você nunca soube. Quando você chegou você falava brasileiro, não, português. Você tem dupla nacionalidade.
- português?
- sim, você veio do Brasil.
Por essa eu não esperava.
- meus pais queriam realmente se livrar de mim...
- seus pais? Você não sabe?
- sabe de quê?
- oh céus! Ninguém nunca te contou?
- contou o quê?
- eu pensei que você sabia...
- dá pra parar de enrolar. - falou Jake.
- então querida... Seus pais... Seus pais morreram.
Meu mundo parou.
Passei quatorze anos com a esperança de poder conhecer eles, e ele estão mortos?
- como? - perguntei engulindo em seco.
- as crianças que chegam aqui eu sempre me esqueço da maioria de suas histórias, mas você eu nunca esqueci, eu nunca esqueci de quando você chegou aqui. Você sofreu tanto que teve que ir ao psicólogo, quem te deixou aqui foi uma tia sua, eu ainda consigo me lembrar dela perfeitamente aqui me dizendo que era sua única parente viva e que não possuía condições de cuidar de você.
- eu não sabia... Por que eu nunca soube?
- eu achava que você se lembrava.
- bom.. - disse Jake quando percebeu que eu não iria dizer mais nada. - muito obrigado pelas informações, agora nós temos que ir.
Me despedi com um aceno de cabeça, e um sorriso falso no rosto.
Antes de sair da sala recebi um daqueles olhares piedosos, eu odeio quando me olham assim.
- você está bem? - perguntou Jake.
- sim, estou. Por não estaria?
- você acabou de descobrir que seus pais morreram!
- e estou ótima! Como vou sentir falta de pessoas que eu não sei como é... Foi o rosto deles um dia. Eu não sinto nada além de frustração.
Eu realmente não sinto nada, e isso me preocupa.
- lulu...
- Não gosto quando me chama assim.
- tudo bem, Luna. Você quer um abraço?
- acho... Acho que quero sim. - respondi.
Sou o tipo de pessoa que não gosta de contato, mas eu gostaria de um abraço agora, todo mundo merece um pouco de carinho e atenção, né?
Jake me deu um abraço bem forte e quentinho.
- tá bom, abraçou, já deu.
- credo! Tem sentimentos não?
- Não.
O que me dói é saber que isso é verdade. Não é que eu não sinta nada, é que é extranho de explicar. Mas é um vazio.
Fomos andando até o carro, e entramos, Jake ligou o carro e saímos daquele inferno disfarçado de orfanato.
Ficamos uns 30 minutos em silêncio.
- toc toc. - disse Jake e eu o encarei com uma cara confusa.
- toc toc. - silêncio. - responde, toc toc.
- quem é. - disse suspirando.
- hiena.
- hiena?
- hi é na sola da bota, hi é na palma da mão.
- que merda! - disse sorrindo.
- foi ruim mas eu consegui arrancar um sorriso seu.
- okay, minha vez. Por que o Pinheiro não se perde na floresta?
- Não sei.
- por que ele tem uma pinha, sacou? Mapinha.
- essa foi de fuder. - disse ele rindo. - qual o cereal favorito do vampiro?
- a véia.
- Não teve graça você sabia a resposta.
- teve sim.
Fomos o restante do caminho contando piadas sem graça mas que pra gente era muito engraçados.
Ao chegar em casa me deparei com lua brincando no jardim.
- quem é a minha neném? Em? quem é coisinha mais gostosa do mundo? É você! É você neném. - falei afinando a voz.
Quem não fala com cachorro como se não estivesse falando com um bebê nem é gente.
Nesses últimos dias ela já ganhou um peso ideal e já dobrou de tamanho.
- tá feliz que a mãe voltou? - ela pulou em mim quase me derrubando. - a que coisa gostosa.
Olhei pra trás e percebi Jake me encarando.
-o hospício é pra lá. - disse ele apontando pra direita.
Dei o dedo do meio pra ele e continuei a fazer carinho em lua, ele passou por mim para entrar dentro de casa.
- pega lua, pega!
Ela foi em direção a Jake e o derrubou no chão.
- caralho! Uma cachorra desse tamanho conseguiu te derrubar! - falei começando a rir.
- em minha defesa eu não esperava. E a sua risada parece uma chaleira. - disse ele se sentando na grama e fazendo carinho em lua.
- tu respeita minha risada! Levanta desse chão, tá difícil saber quem é o cachorro e quem é você.
- ah não volta aqui lulu. Você me ofendeu agora. - disse ele se levantando e vindo correndo em minha direção.
- era um elogio! Olha como a lua é fofa. - disse começando a correr.
Não adiantou nada ele continuou a correr atrás de mim.
Corri atrás da tia da limpeza.
- tia, faz a Jake parar. - disse e já sai de trás dela.
A coitada não teve nem tempo de raciocínar o que aconteceu.
Lua entendeu que eu estava brincando com ela e me derrubou no chão.
- bem feito! - disse Jake rindo da minha cara.
A risada dele parecia um trator ligando e uma galinha gritando. Era estranha e engraçada ao mesmo tempo.
Eu nunca tinha visto ele rir dessa forma antes.
- palhaço!
- vem eu te ajudo a se levantar. - disse me estendo a mão.
Quando fui pegar na mão dele ele tirou a mão.
- eu vou te bater!
- tá bom.
Dessa vez ele não tirou a mão mas em compensação ele me puxou pra cima com força.
- isso! Arranca meu braço. Eu não preciso dele mesmo!
- dramática!
- cachorro!
- com muito orgulho.
- alguns instantes atrás vc reclamou que eu te chamei de cachorro.
CONTINUA...
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