Manacled | Dramione

By moonletterss

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Para maiores de 18 anos. Fanfic concluída. Harry Potter está morto. Após a guerra, a fim de fortalecer o pode... More

Nota da tradutora
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75. Epílogo 1
76. Epílogo 2
77. Epílogo 3
Drabble Pós-Manacled
Manacled, Draco & Aurore
Para sempre é composto por agora
Nota da tradutora

46. Flashback 21

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By moonletterss

Natal de 2002

Os Weasleys passaram o Natal em Shell Cottage. Quando Padma chegou para assumir o turno do hospital, Hermione trocou de roupa e aparatou para se juntar a eles.

Ela ficou do lado de fora, na neve, por vários minutos, enquanto tentava se preparar. A conversa com Angelina a deixou desnorteada e ela se sentiu como se estivesse tentando manter o controle.

Ela olhou para a porta da frente e ensaiou mentalmente o dia. O Natal seria tranquilo; muito diferente dos feriados passados. A cada ano, todos estavam um pouco mais calmos e um pouco mais bêbados. No ano anterior, Arthur havia ficado sobrecarregado com o número de pessoas e teve um ataque até que Molly foi forçada a ir embora com ele.

Hermione podia fazer o que quisesse. Sorrir. Cantar canções de natal. Verificar como estavam Arthur e George. Ela respirou fundo e abriu a porta.

— Oi! A Hermione está aqui! — Fred gritou quando ela entrou.

Todos se viraram e caíram sobre ela. Estavam todos surpreendentemente bem-humorados, alegres e bêbados. Uma caneca de wassail foi enfiada em suas mãos antes que ela atravessasse a sala.

Todos estavam enfeitados com os pulôveres de Natal de Molly.

Hermione alinhou sub-repticiamente frascos de poção para ressaca no alto da lareira.

Bill estava sentado em um canto, quieto em meio à agitação. Fleur estava sentada no braço de sua cadeira, passando os dedos pelos cabelos dele.

Harry e Ginny estavam espremidos em uma poltrona, sussurrando juntos. Harry e Ron haviam retornado de outra caçada às horcruxes apenas alguns dias antes.

— Hermione, querida, que bom que você conseguiu vir. Isto é para você — Molly colocou um presente, embrulhado em papel de seda, nas mãos de Hermione.

Hermione sentou-se em uma poltrona e abriu o presente. Um moletom verde com um H no meio.

— Obrigada, Molly — disse ela. — É lindo.

— Mãe, por que você está vestindo a Hermione de verde Sonserina? — disse Ron, dando uma olhada.

Molly deu um tapa nele, com uma expressão de ofensa. — Ronald! É verde-esmeralda e é uma cor linda para o tom de pele dela. Me fez lembrar dos olhos do Harry.

— Para mim, parece verde Sonserina. — Ron fez uma careta quando Hermione o colocou sobre a cabeça. — Ugh. Me dá pesadelos só de olhar para ele.

O relacionamento de Hermione e Molly era um pouco tenso. Quando Arthur foi amaldiçoado pela primeira vez, havia uma grande esperança de que Hermione e Bill pudessem, em conjunto, reverter ou quebrar a maldição. Molly tinha sido efusiva em sua apreciação de todos os esforços de Hermione. Entretanto, com o passar do tempo e a diminuição da esperança, Molly se afastou. Não se tratava de culpa, propriamente dita. Foi simplesmente doloroso. Hermione representava uma esperança profunda que havia fracassado.

Suas interações ainda eram calorosas, mas elas se limitavam a isso.

Hermione sabia, por relatos de segunda mão, que Molly fazia objeções veementes à sua defesa das Artes das Trevas, mas essa não era uma conversa que elas tivessem tido juntas.

Hermione não tinha certeza se Molly havia escolhido a cor com base no tom de pele ou se era uma forma de reprovação. Não valia a pena pensar nisso. Ela estava tão cansada de discutir inutilmente sobre isso.

Ela deixou Ron e Molly discutindo e foi procurar Arthur.

O Sr. Weasley estava sentado no chão, no canto, folheando um livro de abrir e fechar. Hermione o observou atentamente e lançou um feitiço de diagnóstico em seu cérebro. Arthur Weasley adulto ainda estava trancado em algum lugar. A maldição usada por Lucius não havia enlouquecido Arthur ou apagado sua memória. A magia havia suspendido a mente de Arthur em um ponto específico da primeira infância. O resto de Arthur ainda estava lá dentro, esperando para sair; Hermione podia ver isso no diagnóstico. Mas ela não sabia como romper a magia sem causar danos cerebrais reais e graves.

As partes perdidas do cérebro de Arthur estavam se deteriorando lentamente. Sua atividade cerebral diminuía gradualmente à medida que as conexões neurais fora de uso morriam.

Não havia nada que Hermione pudesse fazer a respeito.

— Arthur — Hermione se ajoelhou ao lado dele, — tenho um presente de Natal para você.

Ele levantou os olhos de seu livro com expectativa. Toda vez que seus olhos se encontravam, ela sentia uma pontada no peito e um desejo irresistível de pedir desculpas que ele não conseguia entender. Eu sinto muito. Desculpe-me por não conseguir tirá-lo disso. Sinto muito por não conseguir consertar isso.

— Eu não ia comprar presentes para ninguém este ano, mas vi isso em uma loja e sabia que tinha que comprar para você. — Hermione enfiou a mão no bolso e tirou o presente. — Chama-se pato de borracha. Ele flutua na água. Você pode usá-lo em seus banhos. Ou colocá-lo na pia.

Arthur pegou o presente da mão dela e se levantou de repente. Hermione agarrou sua varinha. Ela já havia sido derrubada por ele em uma sala em várias ocasiões, quando ele ficava superexcitado ou irritado.

— Bill! Bill, faça isso. — Sua voz era de adulto, mas suas palavras e o tom insistente eram infantis. Ele acenou com o pato sobre sua cabeça. — Na pia!

Bill fez a falsa expressão de alegria que sempre usava perto do pai e se inclinou para frente. — O que você tem aí?

Arthur o carregou e empurrou o brinquedo em direção ao rosto de Bill, até que ele quase o acertou no olho. Hermione estremeceu.

— Um pato! Na pia.

— Certo, vamos ver como ele flutua? — Bill se levantou. Arthur deu um salto e começou a correr pelo corredor em direção ao banheiro. — Não corra, Arthur!

Hermione entrou na casa e encontrou Fred e George do lado de fora, nos jardins. George estava tentando fazer uma parada de mão com suas muletas. Quando Hermione abriu a porta, ele perdeu o equilíbrio e caiu de cara em um monte de neve.

— George! — Hermione o puxou para fora, tirando a neve com um tapa. — Se você vai fazer coisas como essa, pelo menos esteja sóbrio.

— Desculpe, mamãe. — disse George, brincando, enquanto deixava que ela o puxasse para cima e o tratasse com carinho, enquanto Fred pegava as muletas.

Hermione revirou os olhos para ele e ele a beijou com força nos lábios.

Ela o encarou atônita.

— Feliz Natal, Herms. Uma garota bonita merece um beijo de Natal. Fred prometeu o dele para Angelina, então eu fiquei com a última palavra e tive que beijar a mulher que salvou minha vida. — Ele colocou a mão sobre o coração e sorriu lindamente.

Hermione balançou a cabeça. — Você é horrível. E se esse tivesse sido meu primeiro beijo?

George fez uma expressão de desespero elaborada. — Não foi? Você já estava beijando outros pacientes seus antes de mim?

Hermione sentiu as pontas de suas orelhas esquentarem e desviou o olhar. — Na verdade, meu primeiro beijo foi com Viktor.

— Você partiu meu coração. — George cambaleou para trás dramaticamente com suas muletas. — É porque eu não sou suficientemente rude, não é? Ou talvez você só goste de apanhadores.

Hermione balançou a cabeça e tentou não pensar em mau humor ou em apanhadores. — Vou voltar para dentro. Se precisa arriscar seu pescoço depois de tudo o que fiz para curá-lo, pelo menos faça isso quando eu não estiver olhando.

Ela voltou para dentro e se sentou no sofá no canto, observando as festividades com uma sensação de perplexidade.

Charlie estava provocando Ginny e Harry, inclinando a cabeça para trás e rindo. Hermione não conseguia se lembrar da última vez que ouvira Charlie rir. Ou Ron ou Harry.

Eles estavam todos felizes. Mais felizes do que ela os via há anos.

Enquanto Hermione observava isso, uma sensação assustadora de horror tomou conta dela.

A alegria que transbordava dentro do chalé era mais do que alegria natalina e álcool. A casa estava transbordando, quase vibrando com uma sensação de esperança.

Hermione não teria entendido se não fosse pela conversa com Angelina.

Não era apenas a Resistência. Os membros da Ordem também acreditavam que estavam a caminho de vencer a guerra.

Enquanto Hermione estava sentada no canto, absorvendo tudo aquilo, ela se sentia como se estivesse presa em um encanto de devaneio enquanto o mundo ao seu redor queimava.

A Ordem nunca mudaria de tática agora; nunca concordaria em usar as Artes das Trevas. Ela havia feito isso.

Se Draco se voltasse contra eles, ou conseguisse qualquer expiação que estivesse buscando e encerrasse seu serviço, a Resistência começaria a cair em queda livre e não haveria nada para pegá-los.

E se a Ordem descobrisse sobre Draco, em qualquer contexto... isso provavelmente quebraria toda a organização. A confiança em Kingsley e Moody seria destruída.

Hermione sentiu que poderia estar doente. Ela queria ir embora.

Sentou-se no canto como uma estátua.

Harry veio e se sentou no sofá ao lado dela. Eles observaram a sala. Ginny estava com Arthur. Ron, Fred e George pareciam estar no meio de uma brincadeira de algum tipo. Molly estava ocupada, preparando a comida e Charlie a estava ajudando.

— Isso é tudo o que eu sempre quis — disse Harry depois de um minuto. — É isso que me faz continuar. Todos os dias.

Hermione ficou em silêncio.

— Você está pensando na sua família? — Harry a estudou cuidadosamente. Hermione fez um breve aceno de cabeça. Harry passou um braço ao redor do ombro dela e a puxou para perto. — Um dia seus pais estarão aqui conosco também.

Hermione observou Molly fazer uma pausa para dar um beijo na testa de Arthur e admirar sua pata.

— Eles - eles não vão voltar; eles nunca voltarão da Austrália — disse ela calmamente. Harry olhou para ela com confusão. Os olhos dela baixaram para o colo. — O esquecimento extenso tem apenas uma certa janela para reversão. Caso contrário, há um alto risco de dano cerebral agudo. Se eu fosse reverter o encanto da memória, isso precisava ser feito antes do Natal do ano passado, antes da marca de cinco anos.

Houve um longo silêncio.

— Você nunca me disse isso. — A voz de Harry estava arrasada.

Hermione se remexeu na manga do moletom e não olhou para ele. — Era mais fácil me concentrar no trabalho do que pensar nisso. Eu sabia do risco quando decidi escondê-los.

— Sinto muito. — Harry apertou a mão dela. — Sinto muito, Hermione.

— Está tudo bem. Já aceitei o fato de que proteger as pessoas pode significar perdê-las.

— Bem, eu não. Vocês sempre serão minha família.

Antes que Hermione pudesse dizer qualquer coisa, Molly apareceu, segurando uma câmera e arrastando Ron com ela. — Vamos tirar uma foto de vocês três. Hermione, afaste-se um pouco, querida, para que Ron possa se sentar ao seu lado. Agora sim. Braços em volta um do outro. Harry, tente alisar seu cabelo. Ah, não importa. Sorria...

Hermione não conseguiu dar um sorriso. Os cantos de sua boca se curvaram levemente enquanto os braços pesados de Ron e Harry envolviam seus ombros. Houve um clarão ofuscante.

— Isso vai ser lindo. Há anos que não tiramos uma foto de vocês juntos. — Molly foi tirar uma foto de Bill e Fleur.

Ron bufou ao ver sua mãe posando para Fleur e, em seguida, puxou um dos cachos de Hermione que havia se soltado de suas tranças. — Um cabelo fora do lugar; acho que você não é uma Sonserina, afinal de contas.

Hermione deu um leve sorriso. — Deve ter sido por isso que o Chapéu Seletor me colocou na Grifinória. Deve ser por isso que o Harry também não foi mandado para lá.

Ela e Ron olharam para o cabelo emaranhado de Harry. Parecia que ele tinha sido eletrocutado e tentava esconder o fato com pomada. Metade dele parecia ter sido penteado em algum momento, mas o resto estava espetado e apontava em várias direções.

— O que você fez com ele? — disse Hermione, balançando a cabeça em descrença.

Harry ficou corado. — Eu o penteei. E depois eu e a Ginny... beijamos.

Ron fez um som de engasgo. — Beijamos. — Ele zombou. — Essa é a minha irmã mais nova. Só de pensar em vocês dois me dá vontade de arrancar meus olhos.

— Acredite, eu já quis — murmurou Hermione. — Juro que nenhum dos dois sabe o básico sobre privacidade ou encantos de bloqueio.

Harry parecia horrorizado.

— Ronald — disse Molly do outro lado da sala. — Quero tirar uma foto com todos os irmãos! Venha até a árvore. Fique ao lado de Ginny.

Hermione e Harry observaram Ron se aproximar e posar para a foto de família. Hermione sentiu como se seu peito estivesse sendo esmagado.

Harry olhou para Hermione e ela percebeu que a expressão dele mudou ligeiramente antes de falar. — Quando isso acabar, espero que as coisas voltem a ser como eram.

Ele a encarou, e seus olhos eram jovens e velhos ao mesmo tempo. Uma vida inteira de lembranças foi evocada por aqueles olhos. O coração de Hermione ficou preso na garganta enquanto ela olhava para ele.

Ela começou a abrir a boca para dizer que também desejava isso. Porque ela desejava. Ela faria qualquer coisa para, de alguma forma, sair do outro lado da guerra e ainda ter alguma coisa.

Mas antes que ela pudesse dizer isso, Harry segurou sua mão e a segurou. — Você é minha família. E eu sempre serei a sua. Sei que temos brigado muito um com o outro ultimamente. Mas sei que tudo o que você queria fazer era porque estava tentando nos proteger. Só não consigo suportar a ideia de ver o que a magia negra faria com você. Não sei como lutar para vencer essa guerra sem que você, o Ron e a Família Weasley estejam comigo do outro lado dela. Gostaria de ter lhe contado isso antes, mas quero que consertemos as coisas agora. Você sempre cuidou de mim, melhor do que ninguém. Quero que saiba que eu sei disso.

Os olhos de Hermione se encheram de lágrimas e seu corpo inteiro tremeu.

Harry, você nem sabe tudo o que eu estaria disposta a fazer por você.

Ela abriu a boca e depois a fechou, engolindo o que queria dizer.

— Ainda não vencemos, Harry — disse ela finalmente com a voz rouca.

— Eu sei. Sei que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas não quero esperar para dizer isso. — Harry respirou fundo. — Eu não cuidei de você e sinto muito por isso. Eu estava tão preocupado com as invasões de todos, que nunca parei para pensar em como seria para você. Ginny e eu estávamos conversando e ela mencionou como é horrível a sua enfermaria no hospital; que tudo o que você vê é o pior de cada batalha, repetidamente, e eu realmente sinto muito, eu nunca percebi - quando Ron e eu lutamos no passado, ele sempre teve a família dele e eu sempre tive você, mas com essa luta sobre as Artes das Trevas, ele e eu estávamos tão concentrados na Resistência que não pensamos em você. Nós três sempre fomos mais fortes juntos. Quero que voltemos a ser assim. O que você acha?

Hermione olhou para Harry e hesitou.

Seu amigo. Seu melhor amigo. Seu primeiro amigo. Ela faria qualquer coisa por ele. Qualquer coisa para protegê-lo.

Qualquer coisa.

Até mesmo desistir dele.

Você já fez sua escolha. Se tentar fazer isso, só vai magoá-lo ainda mais quando ele descobrir o que você fez. Você só vai se machucar mais se se permitir acreditar que isso é real.

Ela engoliu e lentamente afastou a mão. Era como se estivesse batendo em câmera lenta. Saber e fazer mesmo assim.

— Acho que não sei mais como ser sua amiga, Harry. — Sua voz era baixa e firme.

Harry a encarou, com os olhos arregalados e atônitos. — O que você quer dizer com isso?

Hermione olhou para as mãos. Uma sensação fria e arrepiante se espalhou por ela. — Nós - nós não somos amigos há anos, Harry — disse ela com naturalidade. — Quando exatamente foi a última vez que você me tratou como sua amiga? Quando foi que você entrou na ala hospitalar, se não foi para visitar outra pessoa?

— Eu..

— Eu me tornei uma curandeira para tentar protegê-lo e você me abandonou por isso.

— Eu não abandonei. Hermione, admito que eu poderia ter feito melhor, mas não é como se Ron e eu estivéssemos nos divertindo sem você.

— Claro. — Hermione não conseguia respirar. Ela continuou falando com a voz cruel e implacável que aprendera com Draco. — Você não teve tempo. Obviamente, os membros da Armada têm prioridade, para o bem da coesão da unidade. Se você não estivesse tão ocupado, tenho certeza de que tudo seria diferente. Você teria sido capaz de oferecer algum tipo de reconhecimento ao longo dos anos. Mas como não teve tempo, não teve outra escolha a não ser dar um tapinha no ombro do Ron depois que ele me chamou de vadia na frente de toda a Ordem. Afinal de contas, ele é seu parceiro de duelo. — Seu tom era ácido.

— Você estava dizendo que deveríamos usar a Maldição da Morte. — A voz de Harry era amarga e incrédula.

Hermione deu uma risada fraca. — Eu ainda quero que você use.

Houve um silêncio atônito. A sala inteira ficou em silêncio. Harry ficou sem palavras por um minuto inteiro. — Ainda?

Hermione fez um breve aceno de cabeça.

Harry balançou a cabeça lentamente, como se não pudesse acreditar.

— Sou realista, Harry. Quero que essa guerra termine. Não quero que a Ordem pense que venceu e que tudo comece de novo em quatorze anos, como aconteceu da última vez. — Seu tom era duro. Cansado.

Ela sabia exatamente onde cortar.

Seu coração doía, seu peito também. Sentia como se houvesse algo queimando dentro de sua cavidade abdominal. Se Harry ainda estivesse segurando a mão dela, sentiria que ela estava tremendo.

— Você tem alguma ideia do que a magia negra faz com uma pessoa? — A voz de Harry estava furiosa.

Hermione manteve sua expressão fria. — Claro que tenho; sou uma curandeira. Essa é a minha especialidade. E estou lhe dizendo que vale a pena o custo. Não estou dizendo para usar Rituais das Trevas ou beber sangue de unicórnio, estou apenas dizendo para matar as pessoas que estão tentando matá-lo. Você realmente acha que pode simplesmente colocá-los na prisão de alguma forma? Você realmente acha que vai derrotá-los com um expelliarmus? Está disposto a apostar sua vida nisso? A do Ron? Da Ginny? Toda a Resistência? Vale a pena matá-los e a seus apoiadores. Será que, de alguma forma, você ainda não os odeia o suficiente para conseguir fazer isso?

— Não odeio. Porque nunca vai valer a pena — retrucou Harry. — Não venceremos dessa forma. Eu não consigo lutar dessa forma. Quando luto, penso em todas as pessoas que amo. Como as estou protegendo e como quero vê-las novamente. Qual é o sentido de tudo isso, se vencer significa apenas ver você e todos os outros morrerem lentamente? Toda batalha é um teste. Não ceder ao ódio é uma escolha. Você não pode escolher entre o amor e o ódio. Não serei como Tom Riddle para vencer. A lição da primeira guerra é que o Amor supera tudo quando as pessoas acreditam nele. Temos de escolher entre o que é fácil e o que é certo. Se errarmos, nunca o derrotaremos.

— Você está me acusando de querer escolhas fáceis? — Hermione estava legitimamente atônita.

— Você quer usar as Artes das Trevas porque elas seriam mais "eficazes". Sim, eu diria que essa é claramente uma escolha fácil em vez de certa. — Harry estava pálido, com os punhos cerrados até os nós dos dedos ficarem brancos. — A luta entre o Bem e o Mal é um teste. Você não foi apenas reprovada, Hermione, você está tentando levar toda a Resistência com você. Por um tempo, achei que era porque você passava muito tempo com Snape. Mas agora estou percebendo que é você. Você realmente acredita nisso.

Hermione não precisou mais fingir que estava furiosa ou amargurada. Ela zombou na cara dele. — É claro que eu acredito. Pense no Colin, Harry. Pense em como Colin morreu na sua frente e depois multiplique isso. Multiplique para incluir as baixas de todas as batalhas e ataques nos últimos TRÊS ANOS. Isso — ela fez um gesto brusco ao redor de si mesma, — tem sido minha vida desde o momento em que voltei do treinamento. É assim que seus amigos estão morrendo.

— Você não precisa me contar, Hermione. — A voz de Harry estava trêmula e ele se inclinou na direção dela, com os dentes brilhando. — Eles eram meus amigos. Eu os treinei. Lutei com eles. Eu os carreguei de volta. Eu morreria por eles. Faria quase tudo para salvá-los. Mas quando se trata de Magia da Luz e Magia Negra, isso importa. Nunca vale a pena se entregar às Artes das Trevas, não importa o que você acha que vai ganhar com isso. A Ordem vai continuar sendo da Luz.

Algo dentro de Hermione estalou. — Você não é da Luz se deixa que as pessoas se sacrifiquem para manter suas mãos e sua alma limpas. — Ela zombou dele.

Harry ficou pálido.

— Como você se atreve? — ele finalmente disse em uma voz que vibrava de raiva. — Como você se atreve, porra? Eu nunca - e nunca - pediria a alguém para morrer por mim. Tudo o que eu sempre quis foi que as pessoas parassem de morrer por minha causa. Não quero ser o escolhido. Não quero essa maldita guerra. Tudo o que eu sempre quis foi uma família. As pessoas nesta sala são tudo o que tenho. Meus pais estão mortos. Eles se sacrificaram acreditando no amor acima do ódio, e você está dizendo o quê? Que eles estavam errados? Que se eles fossem tão inteligentes quanto você, eu ainda os teria? Meu padrinho está morto. Pelo menos seus pais estão vivos em algum lugar. Eu não tenho nem esse pedaço de consolo. Eu morreria para vencer esta guerra com um sorriso no rosto. Lutarei pelo tempo que for necessário. Mas não deixarei que as pessoas envenenem suas almas. Não vou dizer a elas para irem para lá. Não vou dar esse tipo de exemplo para a Resistência.

Ele olhou fixamente para Hermione e ela pôde sentir as ondas de raiva que emanavam dele. Isso a fez lembrar, de uma forma horrível, de Draco.

— Ron estava certo — acrescentou Harry depois de um momento. A raiva em seu tom de voz de repente desapareceu, ele parecia quase arrasado. — Você é uma vadia. Você realmente não entende o objetivo da Ordem.

— Proteger os mundos mágico e trouxa de Tom Riddle e seus Comensais da Morte — disse Hermione calmamente. — Esse é o objetivo da Ordem da Fênix.

Ela se levantou e olhou para Harry, memorizando-o com seus olhos por um momento antes de desviar o olhar. — Mas acho que você tem razão, eu sou uma vadia. Acho que não adianta negar isso a essa altura. — Ela deu uma risada sufocada. — Parece ser a única coisa que todo mundo sempre me diz. Espero que você esteja certo sobre a guerra, Harry. Espero realmente que o que você está fazendo seja suficiente.

Hermione deu meia-volta e saiu de Shell Cottage.

Atravessou o jardim e foi até as colinas. Ela continuou andando. Seu coração batia tão forte que chegava a doer. O sangue que batia em seus ouvidos era tão alto que ela mal conseguia ouvir o vento, embora sentisse o frio dele cortando suas bochechas.

Finalmente, ela parou e olhou em volta para o branco infinito que a cercava. Era um lindo Natal. Hermione não se lembrava da última vez que havia nevado no dia de Natal.

Suas mãos e pés estavam dormentes de frio. Ela queria ficar ali. Ficar lá e congelar. Não poderia se sentir pior do que já estava se sentindo.

Ela não queria pensar em como estava se sentindo mal no momento. O quanto sua cabeça doía. E seu coração. Parecia um abismo em seu peito. Como se alguém tivesse serrado seu esterno e separado o osso com um afastador, como os trouxas faziam em uma cirurgia cardíaca. Ela foi aberta e isso simplesmente doeu. Uma agonia fria como o inverno dentro de si mesma.

Se ela olhasse para baixo, haveria sangue na neve.

— Hermione! — A voz de Ginny cortou o vento.

Hermione se virou.

— Hermione... — Ginny caminhou pela neve em direção a ela. — O que há de errado? O que você está fazendo?

Hermione olhou fixamente para Ginny. — Fazendo?

— Você fez isso de propósito - eu percebi - para que Harry ficasse bravo e a deixasse ir embora. Por que? Ele e o Ron são tudo o que você tem. Eles podem se esquecer disso na maior parte do tempo, mas eu sei disso. O que está fazendo? Do que você tem medo? Mesmo antes de o Harry ir para lá. Você estava sentada no sofá, parecendo que estava assistindo aos nossos funerais. O que há de errado?

Hermione olhou para Ginny em silêncio, tremendo no verde Sonserina.

Ginny estendeu a mão e lançou um amuleto de aquecimento sobre ela.

— Eu... — a voz de Hermione começou e depois falhou por vários segundos. — Não posso mais fazer isso, Ginny. Não posso fingir que tudo vai ficar bem. Mesmo que ganhemos amanhã de manhã, não vou mudar minha opinião de que poderíamos ter feito melhor. As Artes das Trevas poderiam encurtar a guerra e salvar os combatentes da Resistência. Se Harry espera que eu esteja ao lado dele sorrindo quando tudo isso acabar, ele deveria desfazer essa ilusão agora.

Ginny olhou fixamente para Hermione. Seus cílios tinham cristais de gelo presos neles, brilhando à luz. Seu cabelo foi jogado para trás pelo vento, expondo a cicatriz que corria ao longo de seu rosto; os meses a haviam desbotado um pouco, mas o frio a fez parecer mais nítida contra sua pele pálida. A desfiguração tornava a beleza de Ginny mais surpreendente, e o contraste dos elementos a tornava impressionante. Um tipo trágico de hipnotização.

— Você não espera ficar conosco — disse Ginny lentamente, com os olhos arregalados e sóbrios. — Depois da guerra.

— Eu me entreguei a essa guerra, Ginny. Quando ela acabar, não sobrará nada de mim.

Ginny balançou a cabeça e estendeu a mão para Hermione. — Não diga isso, Hermione.

— Ginny, se me oferecerem mais uma palavra vazia de incentivo, eu posso me arrebentar. — A voz de Hermione era plana. Ela respirou fundo, depois exalou e viu a condensação desaparecer no céu. — Não posso - não tenho energia para fingir para todos vocês. Estou muito cansada.

Ginny abriu a boca para responder, mas Hermione aparatou para ir embora.

Ela voltou para Grimmauld Place e se escondeu na biblioteca.

No dia seguinte, sentiu-se congelada enquanto trabalhava. Não queria falar com ninguém. Sentia como se seu coração tivesse se partido. Ela podia ocultar os aspectos mentais, mas não havia percebido o quanto a dor podia machucar fisicamente.

Moody a encontrou trabalhando em poções.

— Granger, Severus quer ver você hoje à noite.

Hermione se virou para encarar Moody com uma expressão cautelosa. — Por quê?

— Para discutir seu progresso.

Os olhos de Hermione se estreitaram. "Achei que você o mantinha informado.

A expressão de Moody não mudou. — Ele tem perguntas que quer ver respondidas.

Hermione sentiu uma leve sensação de afundamento no estômago. — A que horas?

— Sete.

— Tudo bem, estarei lá então. — Ela se voltou para seu caldeirão. Não olhou para Moody, que ficou observando-a por vários segundos antes de se virar para sair.

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