Manacled | Dramione

By moonletterss

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Para maiores de 18 anos. Fanfic concluída. Harry Potter está morto. Após a guerra, a fim de fortalecer o pode... More

Nota da tradutora
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75. Epílogo 1
76. Epílogo 2
77. Epílogo 3
Drabble Pós-Manacled
Manacled, Draco & Aurore
Para sempre é composto por agora
Nota da tradutora

29. Flashback 4

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By moonletterss

Abril de 2002

Na vez seguinte em que ela chegou à cabana, mal havia passado pela porta quando Malfoy apareceu abruptamente, quase em cima dela.

Ele a agarrou com firmeza e a encostou contra a parede enquanto seus lábios se chocavam contra os dela.

Hermione mal teve tempo de pensar ou reagir. Seus olhos se arregalaram de espanto e, quando isso aconteceu, os olhos dele encontraram os dela e ele invadiu abruptamente sua mente.

Ela ficou tão assustada que suas paredes de oclusão caíram. A distração aterrorizante do corpo dele pressionado contra o dela enquanto a beijava dificultou a concentração apenas na sensação da mente dele abrindo caminho pela consciência dela.

Ele percorreu as memórias recentes dela; preparando uma poção de invisibilidade para o anel que ele lhe dera, levando Lee Jordan e deixando-o no St Mungo's. Ele encontrou a memória dela do encontro anterior.

Ela podia senti-lo vivenciando-a, ao mesmo tempo em que estava ciente de seus lábios se afastando dos dela e beijando sua mandíbula, enquanto suas mãos deslizavam por seu corpo.

Ele começou a se mover em direção à lembrança da conversa dela com Snape. Não. Ela não queria que ele visse essa. Embora tivesse certeza de que ele saberia o que ela estava tentando fazer, não queria que ele tivesse a confirmação disso.

Ela se forçou a não afastar a lembrança ou escondê-la. Em vez disso, agarrou-se à primeira coisa que lhe ocorreu e a empurrou com força para dentro de suas lembranças. Malfoy devia saber que se tratava de uma farsa, mas foi atrás dela. Depois de mantê-la longe dele por alguns segundos, ela deixou que ele a pegasse.

Malfoy, do terceiro ano, ficou na frente dela, fazendo uma careta.

— Você já viu algo tão patético? — disse Malfoy. — E ele deveria ser nosso professor!

Harry e Rony se aproximaram dele com raiva, mas Hermione foi a mais rápida - SMAK!

Ela deu um tapa no rosto de Malfoy com toda a força que conseguiu reunir. A mão dela parecia em chamas devido à força e a pele pálida dele imediatamente ficou escarlate onde ela o atingiu. Ele cambaleou, olhando para ela com um misto de dor e espanto.

— Não se atreva a chamar o Hagrid de patético, seu nojento - seu malvado — ela rugiu.

Malfoy saiu abruptamente da mente dela e se afastou, tremendo.

Hermione o encarou, esperando que ele ficasse furioso por ela tê-lo enganado com aquela lembrança. Depois de um momento, ela percebeu que ele estava rindo.

Isso foi mais aterrorizante.

— Muito bem — disse ele, ainda rindo depois de um minuto. — Eu esperava que você demorasse mais para conseguir fazer isso.

Hermione estava encostada na parede, tentando se recuperar do ataque físico e mental combinado dele. Uma enxaqueca já estava começando a se aproximar dela.

— É assim que você costuma ensinar oclumência? — disse ela depois de um momento.

Os lábios dele se contraíram levemente.

— Somente com você — disse ele com um sorriso fino. — Não posso deixar que duvide da minha sinceridade, não é mesmo? Eu precisava fazer algo para pegá-la desprevenida. Então... — ele deu de ombros. — Dois gnomos, um kneazle. Tenho certeza de que você não esperava que eu mantivesse minhas mãos inteiramente para mim.

Hermione lutou contra a vontade de zombar dele.

— Devo usar meias da próxima vez que vier? — perguntou ela, com uma voz cáustica.

Os olhos dele pareceram escurecer.

— Hmm. Não. Eu gosto de você assim. Estar suja e maltrapilha com roupas de trouxa combina com você. E eu pretendo saborear você. Não precisa começar a usá-las - ainda.

Hermione sentiu um arrepio percorrê-la; de medo, mas também da tensão entre eles, uma tensão de animosidade e cálculo enchia o ar.

Ele se aproximou dela e segurou sua mão esquerda, levantando-a enquanto deslizava o polegar pelo anel que reapareceu em sua mão quando ele a olhou fixamente.

— Como isso funciona?

— A poção é baseada em princípios mágicos semelhantes aos do Fidelius — disse ela, soltando a mão. — Ele só é visível se você souber procurar por ele. Caso contrário, é indetectável. Somente você e eu podemos vê-lo.

Malfoy ergueu uma sobrancelha em sinal de aprovação.

— Acho que nunca ouvi falar dessa poção.

— É nova — disse ela com rigidez.

— É sua?

Hermione fez um aceno relutante com a cabeça. — Na verdade, não é muito útil. Só funciona com metais.

— Interessante — murmurou ele, aproximando-se mais.

Toda vez que ele se aproximava, ela sentia uma consciência renovada do quanto ele era perigoso. A magia negra se desprendia dele em ondas; ela se agarrava às suas roupas e ao seu cabelo e quase emanava de sua pele. Era como se ele usasse um manto de escuridão e raiva que ele simplesmente mantinha sob controle ao redor dela.

Havia tanta escuridão. Todas as mortes pelas quais ele era responsável.

Ele estava encharcado delas.

— Vamos tentar novamente. E ver quanto tempo você consegue manter isso. — Seus lábios se contraíram em um breve sorriso. — Eu não vou beijar você - desta vez.

Ele entrou em sua mente novamente. Ela o manteve afastado com suas paredes por um minuto enquanto organizava sua mente e suas memórias. Em seguida, fingiu que o escudo havia sido entregue.

Ela não tinha certeza se era realmente boa nisso, ou se ele estava tendo a decência de se restringir a vasculhar todas as suas memórias. Ele permitiu que as fortes tentativas dela de distraí-lo fossem bem-sucedidas. Depois que ela conseguiu fazer isso uma dúzia de vezes, ele se retirou.

Hermione sentiu como se sua cabeça estivesse prestes a se abrir, como se a dor fosse uma forma de pressão que ameaçava romper seu crânio. A dor era agonizante. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela mordeu o lábio para tentar não chorar.

— Beba isso — ele ordenou, colocando um frasco de poção para alívio da dor na mão dela. — Caso contrário, você pode desmaiar quando tentar aparatar. Eu não recomendo isso.

Ela engoliu, certa de que ele não iria envenená-la.

— Isso aconteceu com você? — ela perguntou quando a dor começou a diminuir, de modo que ela pôde falar novamente e sua visão não estava mais repleta de pontos pretos piscantes.

— Mais de uma vez — disse Malfoy rapidamente. — Meu treinamento foi rigoroso.

Ela assentiu. Ainda parecia difícil acreditar que ele era o mesmo valentão da escola que ela havia conhecido.

A frieza e a aspereza foram construídas em torno dele como as paredes de um castelo. Toda aquela raiva mal contida.

O garoto que ganhava caixas de doces e tinha uma vaga no time de quadribol, que chorava e se lamentava por causa de um braço arranhado, havia desaparecido. Tudo o que era suave, indolente e mimado nele foi destruído pela guerra. Ele não havia comprado seu lugar nas fileiras de Voldemort com galeões. Ele pagou com sangue.

Tudo era tão difícil e exigente. Seu sorriso, seu olhar de soslaio e os caprichos de sua cortesia pareciam uma encenação. Como uma máscara que ele estava usando para disfarçar o quão frio ele era.

Se ela quisesse ter sucesso, precisaria superar a máscara, a frieza e a raiva dele. Ele poderia ter a intenção de usá-la apenas como uma forma de vingança ou de alívio do estresse, mas ela ainda estava determinada a ser mais.

Ela precisava extrair a confiança dele até que pudesse entender sua motivação - até que encontrasse uma vulnerabilidade pela qual pudesse passar.

Ninguém era puro gelo. Nem mesmo Malfoy.

Havia algo nele. Em seus olhos. Algo que parecia ser fogo escondido em seu interior. Ela precisava encontrar uma maneira de alcançá-lo e transformá-lo em algo que pudesse utilizar.

Ele esperava que ela o odiasse e tentasse manipulá-lo com falsa bondade e simpatia. Ela tinha que ser esperta para isso. Mais esperta do que ele.

— Isso foi depois do quinto ano?

Ele a olhou com certa severidade.

— Sim — disse ele em um tom cortado.

— Sua tia?

— Hmm — ele murmurou em confirmação.

Os dois estavam se olhando atentamente.

— Não foi a única coisa que você aprendeu naquele verão — disse ela.

— Está precisando de uma confissão para alguma coisa, Granger? Devo lhe contar tudo o que fiz? — Ele se aproximou mais, de modo que se elevou acima dela e zombou de seu rosto.

Ela se forçou a não recuar ou se encolher. Olhou fixamente para os olhos dele.

— Você quer? — ela perguntou.

Havia um leve lampejo de surpresa em sua expressão. Ele parecia ter sido pego de surpresa pela pergunta.

Ele era solitário. Ela já suspeitava disso, mas agora tinha certeza. Mãe morta, pai louco. Ele estava no alto escalão de Voldemort e, notoriamente, era cheio de traições. Se ele tinha algum arrependimento, nunca havia contado a ninguém.

— Não — disse ele, com a voz afiada, enquanto se afastava dela.

Ela não empurrou. Se ele achasse que ela estava pressionando, ele se calaria como um molusco. Ela não precisava saber. Ela só precisava que ele percebesse que queria contar a alguém...

... que ele queria contar a ela.

Isso a tornaria emocionalmente valiosa para ele. Seria um gancho. Uma abertura.

Isso a tornaria interessante.

— Você quer fazer de novo? — perguntou ela depois de um momento.

Ele a olhou fixamente, com os olhos prateados. — Quando eu era treinado, ela pedia para alguém me crucificar enquanto tentava entrar em minha mente. Isso é provavelmente o que acontecerá com você, se for pega.

Ele não lhe deu tempo para reagir à informação antes de entrar com força. Quando parou, ele não esperou que ela recuperasse o fôlego antes de deixar cair um novo pergaminho de informações ao lado dela e desaparecer.

Naquela semana, Hermione voltou à Waterstones. Ela comprou livros sobre os efeitos psicológicos da solidão. Livros sobre órfãos. Pesquisas sobre a psicologia de crianças-soldados.

Ela não hesitou ao sublinhar as seções sobre suas vulnerabilidades; as maneiras pelas quais elas eram propensas a serem aproveitadas e manipuladas.

Em um caderno no qual ela colocou uma maldição de segurança bastante desagradável, ela começou a fazer um esboço psicológico de Draco Malfoy. O que ela havia notado nele. Perguntas e teorias que ela tinha.

O centro dele - sua motivação - continuava sendo um misterioso espaço em branco. Mas ela sentiu que estava começando a ter uma noção das bordas dele.

Na terça-feira seguinte, ele não começou forçando sua atenção sobre ela. Ele se dedicou a provocá-la de outras maneiras.

Ele não se conteve nem um pouco quando invadiu a mente dela para outra rodada de treinamento de oclumência. Ele vasculhou o fundo da mente dela e, em seguida, percorreu as memórias que encontrou. Forçando-a a reviver algumas das mortes sobre as quais ela se esforçava ao máximo para não se debruçar. Então, por acidente, ele se deparou com a memória imediatamente após a conversa dela com Snape. Ela estremeceu quando ele se aproximou, e ele imediatamente atacou.

Ele a observou examinar criticamente suas características faciais antes de entrar no chuveiro. E quando ela saiu e avaliou seu corpo nu no espelho, ele parou e ficou olhando, acompanhando sua busca mental de falhas. Ela podia sentir sua diversão condescendente enquanto ele a observava. Ela se contorceu de vergonha, e ele também sentiu isso.

Ele permaneceu na memória por muito mais tempo do que ela durou e depois se retirou completamente da mente dela.

— Bem — disse ele, parecendo que estava prestes a começar a rir. — Essa é certamente uma maneira de distrair um legilimens.

Ela o encarou. Ela estava muito tentada a chutá-lo na virilha e depois tentar arrancar seus dentes.

— Satisfeito com sua barganha? — Seu tom era corrosivo.

Ele deu uma risada curta e baixa. — Você é bem magrinha. Se você tivesse me enviado a memória antes, eu poderia ter pedido outra pessoa — disse ele ao dar um passo atrás para observá-la pessoalmente.

— Uma pena para nós dois, então — disse ela, com a boca torcendo enquanto cruzava os braços na defensiva.

— Talvez... Mas, por outro lado, se eu não a tivesse escolhido, nunca teria tido a chance de conhecer um cérebro organizado como um armário de arquivos. — Sua voz era leve e casual, mas seus olhos de prata movediça endureceram abruptamente. Ele inclinou a cabeça ligeiramente para o lado. — Moody não a treinou. Você é uma oclumens natural.

Hermione acenou com a cabeça resignadamente. Ela havia presumido que ele acabaria percebendo isso. Quando inventou a mentira, não esperava que ele passasse tanto tempo bisbilhotando sua cabeça.

— Então, você é autodidata?

— Eu tinha um livro — disse ela com rigidez.

Ele deu uma risada estridente. — É claro.

Ele estava olhando para ela com uma expressão que ela não conseguia identificar. Como se a estivesse reavaliando. A constatação parecia estar fazendo com que ele reavaliasse algo sobre ela.

Hermione não queria que ele reavaliasse. Se o fizesse, ele poderia decidir mudar sua estratégia. Ela gostava da maneira atual, em que não estava fazendo sexo com ele.

— O que foi? — ela o encarou com impaciência, na esperança de interromper sua linha de raciocínio. Pareceu funcionar, a expressão estreita dos olhos dele diminuiu um pouco.

— Nada — ele a afastou. — Eu apenas nunca encontrei um antes.

Ele sorriu.

Ela o encarou com seus próprios olhos estreitados.

— Você também é um — disse ela com um horror crescente. Ela estava tentando passar pelas defesas de alguém que também podia se fechar e isolar suas emoções e desejos.

Ele fez uma reverência zombeteira.

— Quais são as chances? — ele pensou com um leve encolher de ombros.

Houve um longo silêncio.

Os dois estavam reavaliando.

— Você ainda vai me ensinar oclumência, então? — ela perguntou demoradamente.

— Sim... — disse ele lentamente. — Seria um descuido fazer isso apenas pela metade. Você conseguirá aprender mais rápido do que eu esperava.

— Certo. — Ela assentiu e se preparou.

Ele se aproximou mais dela. Seu coração gaguejou.

O movimento a fez lembrar de um animal perseguindo uma presa. Lento, sutil, gradual e, de repente, perto demais.

Ela olhou para o rosto dele para não se concentrar na fisicalidade dele, na facilidade com que ele poderia quebrá-la com as próprias mãos.

Os dedos dele subiram e tocaram o queixo dela de leve, inclinando a cabeça dela ainda mais para trás, de modo que sua garganta ficou à mostra.

— Você é tão cheia de surpresas — disse ele, com o olhar percorrendo o rosto dela antes de se fixar em seus olhos.

Hermione arregalou os olhos brevemente.

— Você diz isso para todas as garotas? — disse ela em um tom sarcasticamente doce.

Ela não se incomodou com as paredes externas enquanto ele mergulhava em sua consciência. Foi o processo de rompê-las que fez sua cabeça doer mais. Ela já se sentia razoavelmente confiante em sua capacidade de fingir que elas eram facilmente rompidas.

Ele não fez com que a invasão fosse dolorosa. O que a assustou. Ela havia presumido que a legilimência era inerentemente dolorosa. Em vez disso, sentiu como se a mente dela fosse uma reflexão na qual ele estava simplesmente caindo. A consciência dela e a dele se fundiram.

Ele parecia estar absorvendo o estado mental natural dela.

Sem a dor do ataque de legilimência, Hermione foi capaz de ser mais sutil e intencional em sua estratégia. Ela embaralhava as lembranças com um falso descuido, chamando a atenção dele e, em seguida, levando algumas delas para outros cantos da mente.

Era como aprender a dançar. Ou talvez aprender artes marciais. Todos os movimentos eram feitos lentamente. Sem força.

Ele lhe deu tempo para aprender a técnica. Sentir como era fazer isso corretamente. Revisando as formas. Ensinando-a repetidamente até que ela conseguisse fazê-la instintivamente, sem precisar pensar.

Por fim, ele se retirou e olhou para o pulso. — Fizemos hora extra.

— Oh — disse ela em voz baixa, ainda mentalmente preocupada com a técnica que estava tentando acertar.

Ele ficou olhando para ela até que ela se endireitou e olhou para ele.

— Você tem alguma informação esta semana?

— Na verdade, não. Há mais vampiros chegando da Romênia este mês. Ainda não há detalhes específicos.

— Se... —Hermione hesitou.

Ele ergueu uma sobrancelha para ela, olhando para baixo e esperando.

— Se - nós precisássemos de algo. Você poderia conseguir isso para nós? — ela perguntou.

— Depende do que for.

— Um livro.

Ele bufou.

— Chama-se O segredo da Arte das Trevas. Tentei de tudo para encontrá-lo. Mas os recursos da Ordem são limitados.

— Vou ver o que posso fazer. — Ele deu um suspiro irritado.

— Tenha cuidado — ela se viu dizendo.

Ele pareceu surpreso.

— Você não vai querer que Voldemort saiba que você está procurando por ele.

— Qual é a importância desse livro? — perguntou ele com os olhos estreitados.

— Eu não sei. Pode não ser nada. Ou pode ser muito importante. Mas não estrague seu disfarce por causa disso.

Ele revirou os olhos.

— Como se eu fosse — ele murmurou antes de olhá-la com atenção. — Você deveria ir. Tenho certeza de que Potter está ansioso por você.

Hermione pegou sua mochila com os ingredientes da poção e saiu da cabana.

Malfoy estava olhando para ela contemplativamente enquanto ela fechava a porta e aparatava.

Quando voltou a Grimmauld Place, ela estava pensativa enquanto engarrafava e preparava os ingredientes.

Malfoy não era o que ela esperava.

Ele era muito menos cruel do que ela havia previsto. Ela continuava esperando que a malícia dele fosse subitamente cortada através de sua fachada. Mas, ou ele era menos malicioso do que ela pensava, ou queria algo mais complexo e sutil de suas interações com ele. Ela já tinha quase certeza de que ele não tinha nenhuma inclinação especial para machucá-la.

Ela não conseguia identificar o que ele queria.

Severus estava certo. Malfoy já estava se revelando um excelente espião. Todas as informações que ele dera a Moody tinham sido de alta qualidade e úteis. A Ordem havia invadido uma prisão com sucesso e tirado mais de cinquenta pessoas de lá.

No entanto, o motivo dele continuava sendo um mistério.

Ela não conseguia entender o que ele poderia ganhar com a espionagem. Com sua posição no exército de Voldemort, ele certamente colheria grandes recompensas com a morte da Ordem.

Se a Ordem vencesse, mesmo com um perdão, ele sem dúvida se tornaria um pária no mundo dos bruxos pelo resto de sua vida. Espiões e traidores mereciam pouco respeito, por mais importantes que fossem suas contribuições.

Além disso, Lucius Malfoy era um devoto seguidor de Voldemort. Ele culpava Ron e Harry pela morte de Narcissa e direcionava quase toda a sua energia para se vingar deles. Embora Draco talvez não compartilhasse desse sentimento - colocar-se em desacordo com seu pai parecia duvidoso. Ele havia se moldado tão cuidadosamente ao seu pai na época da escola e havia ficado furioso com a prisão do pai em Azkaban no final do quinto ano.

Hermione colocou uma bandeja cheia de dittany e lançou um feitiço de calor com a ponta da varinha. Massageando levemente as têmporas com a outra mão, ela observava as folhas secarem constantemente.

Malfoy não estava interessado nela, não fisicamente. Pelo menos não mais do que um homem tende a se interessar por qualquer mulher aleatória. Ela havia estudado a fisiologia da atração sexual e ele não mostrava quase nenhum dos sinais, mesmo depois de passar vários minutos olhando fixamente para seu reflexo nu.

Ela ficou ruborizada. A experiência foi classificada inequivocamente como o momento mais embaraçoso de sua vida.

Então, do que se tratava? Por que os beijos e as apalpadelas? Se tudo aquilo era para provocá-la e enfurecê-la, a pergunta do porquê ainda permanecia.

Por que ele queria provocá-la? O que estava motivando as várias táticas que ele estava empregando?

Inicialmente, ele claramente esperava que ela ficasse tão cheia de ódio por ele que não conseguisse reprimi-lo. Então, quando ele a beijou agressivamente para romper seus escudos de oclumência, ele pareceu pensar que poderia usar isso para deixá-la consumida demais pelas emoções para pensar com clareza. A maneira como ele a avaliou no espelho também tinha a intenção clara de ferir.

Ele queria que ela o odiasse.

Mas quando ele percebeu que ela era uma occlumens, aparentemente decidiu mudar de tática novamente. Ele finalmente percebeu por que não conseguia provocá-la facilmente e se adaptou mais uma vez.

Mas adaptado para quê? Qual era o objetivo?

Ela não conseguia entender.

Hermione colocou todas as folhas secas de dittany em um pilão grande e começou a moê-las até virar pó.

— Mione? — Charlie entrou com a cabeça em seu armário de poções.

— Sim?

— O Snape passou aqui mais cedo procurando por você.

— Oh, ele disse por quê?

— Acho que ele tinha uma receita nova para você. Deu-a à Poppy. Para curar uma nova maldição que ele ajudou a inventar.

A expressão de Charlie estava distorcida de raiva. Muitos dos membros da Ordem culpavam Severus por cada maldição desenvolvida na divisão de maldições de Voldemort. Eles achavam que, se Severus estivesse realmente do lado da Ordem, ele encontraria uma maneira de sabotar tudo.

Hermione revirou os olhos.

— Você sabe que, se ele não estivesse lá, perderíamos mais dezenas de pessoas antes de descobrirmos as contra-maldições. Suas informações são vitais para que eu tenha tempo de me preparar.

— Sim, e quantos dos nossos você acha que ele matou para obter essas informações? Eles estão fazendo experimentos com nosso pessoal para criar os feitiços. Ele está matando pessoas, mas está tudo bem porque está nos enviando informações sobre contrafeitiços. Será que isso realmente funciona assim?

Hermione parou de triturar seu dittany.

— Ele é um espião, Charlie. Esse é o tipo de coisa que eles precisam fazer para manter seu disfarce. Se ele estragasse tudo para salvar um grupo de prisioneiros ou tentasse sabotar o local, Voldemort simplesmente criaria um novo e perderíamos a inteligência. A perda nunca compensaria a longo prazo.

— É o que você diz — disse Charlie, com os lábios finos e os olhos duros, virou-se e foi embora.

Hermione moeu o dittany por mais alguns minutos antes de colocá-lo em um frasco.

Severus deve ter desenvolvido uma poção para curar a maldição do ácido. Ela esperava que fosse diferente daquela em que ele estava trabalhando quando ela passou pela Spinner's End.

Ela não tinha veneno de acromântula. Para comprar em boticários, era necessário ter uma identificação emitida pelo Ministério. Ela teria de tentar encontrar uma fonte no mercado negro, o que provavelmente custaria várias centenas de galões. A Ordem estava com poucos recursos.

Os Goblins haviam assumido uma posição neutra na guerra, mas, embora Gringotts continuasse aberto à Ordem, entrar no banco para sacar dinheiro sem ser preso era um desafio. Sem mencionar que ser nascido trouxa era um crime passível de prisão.

A maioria dos membros da Resistência não tinha emprego, seja por sangue ou por associação.

Era uma sorte que Harry tivesse um cofre grande, pois, caso contrário, eles provavelmente teriam morrido de fome.

Se a poção exigisse veneno de acromântula - bem, com sorte Severus poderia lhe dar algumas gotas. Caso contrário, ela duvidava que a Ordem fosse comprar alguma coisa, a menos que a maldição estivesse sendo usada constantemente.

Ela cruzou os dedos e foi procurar Poppy.

A ala hospitalar estava lotada novamente.

O resgate na prisão tinha sido bem-sucedido, mas muitos dos prisioneiros tinham ferimentos causados pela tortura ou estavam desnutridos. Houve um tiroteio durante a fuga, e alguns xingamentos brutais foram usados.

Aqueles com ferimentos leves foram enviados para alguns dos outros esconderijos, mas Grimmauld Place manteve os ferimentos mais complexos e difíceis para Hermione e Poppy cuidarem.

Poppy estava debruçada sobre a cama de Rolanda Hooch. Uma pequena incisão na traqueia de Hooch continuava reaparecendo e crescendo lentamente, apesar de todos os esforços para curá-la. Quem quer que estivesse de plantão na enfermaria do hospital tinha de manter um cronômetro de dois minutos funcionando em um ciclo constante para monitorá-la.

— Alguma mudança? — perguntou Hermione, inclinando-se e examinando o ferimento ao lado de Poppy.

— Oh, Hermione, você está de volta — disse Poppy com uma voz triste. — Severus veio e deu uma olhada. Ele disse que não é uma das novas de Voldemort. Então, é provável que seja uma maldição mal lançada.

Hermione suspirou de alívio antes de ser atingida por uma forte onda de culpa. Se fosse uma maldição mal lançada, era improvável que eles a encontrassem novamente. Mas isso também significava que eles provavelmente não conseguiriam curar Rolanda. Hermione havia tentado, sem sucesso, desconstruir o ferimento com a análise de feitiços, tentando desvendá-lo. A estrutura estava tão manchada que não havia como curá-la. A estrutura estava tão mutilada e inconsistente que era impossível neutralizá-la.

— Por quanto tempo mais você acha que os feitiços de cura vão funcionar? — Pomfrey perguntou calmamente, olhando com tristeza para sua colega de longa data.

Hermione calculou mentalmente o tempo que havia se passado desde que Madame Hooch havia sido trazida. Era um conhecimento obscuro, mas eventualmente os feitiços de cura deixavam de funcionar quando usados em uma frequência muito grande. Nem mesmo a magia poderia forçar um corpo a continuar se reparando além de um certo ponto.

— Se continuarmos a curá-la a cada dois minutos, os feitiços provavelmente continuarão funcionando por mais vinte horas — disse Hermione gentilmente.

Poppy assentiu e enrolou os cobertores delicadamente em volta do corpo de Rolanda.

— Severus deixou uma nova receita para você — disse ela a Hermione. — Ele disse que você deveria preparar uma jarra.

Poppy enfiou a mão no bolso e retirou um pequeno rolo de pergaminho e um frasco.

Hermione levantou o frasco em direção à luz.

Duas gotas de veneno de Acromântula. Provavelmente valiam mais de cinquenta galeões.

Ela não podia se dar ao luxo de cometer nenhum erro. Ela colocou o frasco no bolso e abriu a receita para ver o que seria necessário para prepará-la.

Ela tinha todos os ingredientes. Exceto a erva-doce, que teria de colher sob a lua cheia. Ela calculou o próximo ciclo lunar. Teria de esperar uma semana para ter tudo o que precisava para fazer uma fornada.

Se a maldição fosse tão séria quanto Severus havia indicado, ela teria de torcer para que não houvesse escaramuças antes da lua cheia. O que provavelmente era uma noção ilusória.

No final da receita, Severus incluíra o contrafeitiço para a maldição do ácido em sua caligrafia pontiaguda. Ela o examinou. Era simples, como ele havia dito.

Hermione copiou o contrafeitiço em uma nova folha de pergaminho. Um ferimento envolvendo ácido precisaria ser combatido imediatamente. Esperar alguns segundos a mais para chamar um curandeiro ou transportar o ferido poderia acrescentar dias à recuperação. A contraprova era bastante simples; todo membro da Resistência poderia aprendê-la.

Ela escreveu uma breve nota explicativa e, com um movimento de sua varinha, dobrou a nota em um avião de papel e o enviou voando pela casa para encontrar Harry.

— Você poderia fazer seu turno mais cedo? — disse Poppy.

Hermione olhou para cima e percebeu que Poppy estava com um olhar cinzento de tristeza.

— É claro — disse Hermione rapidamente.

— Quero escrever para o Filius, a Pomona e a Minerva. Talvez eles queiram vir se despedir — disse Poppy, com os ombros caídos. — As anotações sobre o que fiz estão todas no diário de bordo e acabei de selar novamente a incisão. Portanto, você pode começar a contar os dois minutos agora.

Hermione observou Poppy Pomfrey enquanto ela caminhava com passos lentos e pesados para fora da ala hospitalar.

Hermione foi até lá e deu uma olhada no livro de registros. Não havia surpresas nele. Ela caminhou em silêncio de leito em leito. Todos ainda estavam dormindo, e alguns estavam sendo medicados com o caldo da morte viva. Era um método de mantê-los vivos enquanto certas poções de fermentação lenta estavam sendo preparadas para curá-los. Ela fez um diagnóstico preventivo em cada corpo e fez uma lista de verificação mental das poções que precisava preparar. Ela precisava enviar as primeiras doses da poção wolfsbane para todos os licantropos da Ordem.

Foi um dia tranquilo na ala hospitalar. Com exceção da constante reformulação do feitiço de cura em Madame Hooch, a maioria dos outros ferimentos simplesmente exigia supervisão cuidadosa e tempo.

Hermione sentou-se e especulou sobre como Malfoy poderia ser no próximo encontro.

O fato de ele também ser um oclumens natural era problemático, para dizer o mínimo.

Isso significava que seu controle era profundo. Tentar encontrá-la e torná-lo leal seria quase impossível se ele fosse capaz de eliminar e conter qualquer efeito que ela tivesse sobre ele.

Se ela quisesse ter alguma chance de sucesso, teria de ser lenta e insidiosa. Enraizar-se tão profundamente em sua psique que ele não pudesse arrastá-la ou filtrá-la. Encontrar um caminho para o coração dele. O único lugar que nenhuma quantidade de oclumência poderia bloquear ou sequestrar.

Ela estremeceu levemente.

Nunca havia se sentido cruel antes. Fria. Insensível. Ela já havia sido chamada dessas coisas e acreditava que talvez fossem verdadeiras. Mas cruel era uma linha que ela sempre se considerou acima. Mas o que ela estava pensando era possivelmente uma das coisas mais cruéis que poderia imaginar.

Ela esmagou a hesitação.

Era ele quem a havia exigido.

Agora e depois da guerra.

Ela estava em seu direito de garantir que ele pagasse o preço total por suas exigências. Se ele não a queria, não deveria ter pedido.

Ela se preparou e tirou um livro de sua bolsa.

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