MOTIVOS | L7NNON |

By virtualjournalx

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Você já conheceu alguém que fez você começar a parar de sentir a sensação de estar caindo, e começar a sentir... More

INTRODUÇÃO // AVISOS
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By virtualjournalx

Eu consegui escapar do Lennon acelerando meus passos o mais rápido possível.

Acho irritante o quão seguro de si mesmo ele é, eu não conseguiria agir assim nunca na minha vida – aquele sorriso maldito e o jeito que ele ficou entretido com o fato de que eu deixei claro que não ia sair com ele fez eu querer arrancar meus cabelos.

Talvez eu esteja tão irritada porque me irrita o fato de que eu quero ser indiferente com ele, mas desde eu conheci quele idiota sorridente eu pensei nele mais vezes do que eu deveria.

Estou percebendo que a persistência que o Erick tem nele é definitivamente algo que vem de família.

Perdi muito tempo pensando sobre isso, mas matou o tempo de espera na área de recepção que eu estou já faz vinte minutos.

Às vezes me pergunto sobre as outras pessoas sentadas na sala de espera do consultório do psicólogo, fico curiosa pra saber o motivo deles estarem aqui.

Não é de uma forma intrometida, só curiosidade.

Sou observadora demais para o meu próprio bem, muitas vezes gostaria de poder andar por aí alegremente ignorante e não pensar demais sobre tudo e todos. É exaustivo estar sempre hiper consciente o tempo todo, sempre atenta sobre como as pessoas ao meu redor estão, se estão felizes, tristes, encomodados, se estou fazendo algo errado...

Acho que essa é outra razão pela qual gosto de gatos, na maior parte eles são simples de lidar.

Acho que eu penso demais.

Quando finalmente cheguei no consultório, me sentei no mesmo sofá branco que me sento por uma hora uma vez por mês já faz três anos, olhando para aqueles olhos castanhos atrás do óculos de armação bege.

"Como você está hoje, Cat?" Erica pergunta, inclinando a cabeça com um sorriso amigável.

"Não tentei enfiar a cabeça no forno e ligar, então acho que estou bem." Digo com um sorriso meigo e um tom divertido.

Erica ri, completamente acostumada com o meu senso de humor – que confesso que as vezes passa dos limites quando estou aqui. Acho que meu cérebro buga e eu saio falando qualquer coisa para descontrair.

"Então, julgando pelo seu humor e pelo que você acabou de dizer, as coisas não estão tão boas esse mês."

Essa mulher me lê igual um livro.

"Como vão as coisas com a sua mãe?"

Eu encolho meus ombros. "Iguais. Nada muda."

"Você já pensou mais sobre o que falamos na sua última consulta?" Ela pergunta, mantendo seu comportamento calmo e amigável. 

"Sobre ela ser uma sociopata? Sim, eu pesquisei. Fez muito sentido." Eu digo sem demonstrar nenhuma emoção quanto a isso.

"Como você se sente sobre isso? Agora que você sabe que isso tem a ver com ela?" Ela pergunta.

"Eu não sei. Eu não sinto nada sobre isso. Só explica muita coisa." Eu descarto, sem realmente sentir vontade de entrar em emoções que não consigo lidar e sentindo como se meu cérebro queimasse quando entro nesses assuntos.

Erica me lança um olhar incrédulo. "Catarina, você e eu sabemos que você sente tudo, você é simplesmente fantástica em esconder isso. É por isso que ter a mãe que você tem foi tão traumático para você, entre outras coisas que você passou. Agora tente, por mim, me fala o sentimento que tá aí dentro."

Eu suspiro, relaxando meus ombros. "Provavelmente alívio"

"Alívio? Por que essa sensação?" Ela pergunta, mantendo sua atenção focada em mim.

Levanto e solto os ombros, balançando a cabeça com olhos preguiçosos. "Não sei, porque isso significa que ela não me ama porque provavelmente não pode, e não porque tem alguma coisa errada comigo."

"Você realmente acredita nisso? Que o jeito que sua mãe te trata é porque tem algo errado com você?" Erica pergunta, mas ainda mantém sua voz suave.

Sinto um leve aperto no peito com essa pergunta e minha compostura vacila, eu limpo minha garganta, olhando ao redor da sala e vendo os certificados emoldurados nas paredes e algumas plantas.  "Vamos falar sobre outra coisa?" Eu pergunto, alisando minhas mãos na minha coxa.

"Você se sente desconfortável..." Erica afirma de uma forma compreensiva. "Podemos falar sobre outra coisa, mas antes, esse desconforto que você tem – essa sensação, você pode me mostrar onde ela está no seu corpo? Onde você se sente isso?"

Eu aponto para a base da minha garganta, sentindo como se tivesse uma pedra ali.

"Entendi..." Erica balança a cabeça, cruzando as mãos no colo. "Faz quase um ano desde que você teve o seu incidente... você já pensou nisso? Você ainda tem o seu diário?"

Eu jogo minhas mãos para cima, olhando para ela com uma expressão incrédula. "O que aconteceu com você hoje? Me dá um tiro logo!"

Erica ri, empurrando os óculos para cima com o dedo indicador. "Falar dos seus sentimentos é meu trabalho Cat, mesmo que você torne isso extremamente difícil."

Eu concordo com a cabeça, me encostando no sofá. "E sim, eu escrevo no meu diário todos os dias."

"Alguma novidade?" Ela pergunta sempre com a mesma expectativa de que eu tenha escrito algo legal ou diferente.

"Na verdade..." Eu paro, trazendo minha mão para bagunçar meu cabelo e puxo meus lábios para o lado, me perguntando se eu falo isso ou não.

Eu sei que ela vai me perguntar sobre isso nas próximas consultas e tentar descobrir o que significa, e eu não sei se vou conseguir lidar com isso porque nem eu sei o que significa.

"Nos últimos dois dias eu escrevi uma coisa nova..." Digo a ela, observando suas sobrancelhas se arquearem de surpresa. "Acho que é a primeira vez desde que comecei, que não escrevi só sobre o Chico..."

{...}

Eu sei que deveria estar aproveitando esse tempo que minha mãe está fora, mas, estou sentada no sofá pensando no que fazer desde que voltei da psicóloga.

Estou tentando relaxar, mas tentar relaxar está me estressando porque não sei como relaxar.

Passei uma boa hora andando pela casa sem rumo, pensando no que fazer.

Eu nunca fui tão ruim assim, piorou no último ano. Quase não sei o que fazer quando não envolve só existir para servir a outra pessoa – esqueci o que é acordar e apenas fazer o que tenho vontade de fazer.

O que eu ainda sinto vontade de fazer?

Eu deveria pintar, é algo que eu realmente amo, mas não me lembro da última vez que tive uma inspiração pra isso.

Três batidas fortes na minha porta da frente chamam minha atenção, e eu olho para ela com as sobrancelhas franzidas.

Outras duas batidas me fazem ter certeza que não estou ficando louca e eu encaro com olhos desconfiados e semicerrados enquanto me levanto do sofá e caminho em direção dela.

Quem tá na minha casa? São quase 20h, porque o porteiro não me avisou nada?

Deve ser o vizinho aqui da frente me pedindo açúcar emprestado de novo.

Pego a maçaneta da porta e giro abrindo a porta, e assim que aqueles olhos batem nos meus, estou empurrando porta mais rápido do que a velocidade da luz.

Infelizmente esse idiota tem um ótimo reflexo, porque ele encosta na porta antes que ela se feche, pressionando a palma da mão contra ela.

Dou um passo para trás enquanto ele empurra a porta, se encostando no batente da porta e me olhando com um sorriso bobo.

"Você sempre atende a porta assim?" Lennon pergunta, enfiando as mãos no bolso da sua calça larga e preta. Eu olho para o resto da sua roupa, uma camiseta preta que dá destaque para duas correntes de ouro extremamente brilhantes e um tênis da Nike com detalhes em verde. Seu cabelo está mais impecável do que de manhã, com cachos mais definidos e o degradê impecável – fora que o seu perfume está simplesmente infestando o ambiente.

Por que tem um projeto de perdição parado na minha porta?

"O que você quer?" Eu pergunto, mantendo minha voz séria e cruzo os braços sobre o peito.

Lennon inclina a cabeça, passando os olhos por mim e franzindo os lábios. "Temos planos ué."

Eu amassei meu rosto com as mãos, depois jogando para os lados em descrença. "Sua mãe jogou você de cabeça quando você era bebê? Ou você é literalmente tão burro assim?"

Lennon levanta as sobrancelhas, rindo pelo nariz com um sorriso largo. "Deve ser muito legal ter um encontro com você, sempre tão fofa."

Eu olho para ele, piscando e me perguntando por que eu ainda estou aqui falando.

"Bom, escuta aqui pela centésima vez – eu não quero ter um encontro com você, então pode ir!"

"Não é um encontro" Ele diz ignorando completamente tudo o que acabei de dizer.  "Só vamos sair juntos"

É, acho que eu vou estar sempre rodeada de loucos.

"Eu não vou sair com você!"

"Tem certeza?" Ele pergunta, parecendo animado.

Em questão de segundos ele tira a mão do bolso, segurando um pequeno porco rosa preso em cordão, com duas asas de anjo. Lennon vira o enfeite em sua mão, colocando bem na minha visão.

"Você disse que ia sair comigo se visse um porco com asas, então toma um porco com asas." Ele sorri, balançando o porco de um lado pro outro pelo cordão.

Incrível como hoje em dia a gente encontra de tudo em uma loja de R$1,99 né?

Eu fico olhando para o porquinho rosa incrédula. Esse filho da mãe literalmente foi e procurou um porco com asas.

Eu me recuso a rir disso, sou muito teimosa e estou ainda mais irritada por achar isso engraçado.

E um pouco fofo.

Ok, talvez eu não vá conseguir segurar meu sorriso vendo essa cena.

Eu mastigo o interior da minha bochecha, olhando para o porco.

Eu juro que até o maldito porco tá sorrindo pra mim. 

"Você tá me chantageando com um porco?" Eu digo ainda segurando o riso.

Lennon estala a língua. "Não é chantagem, só segui suas regras."

"Você não vai desistir disso né?" Eu pergunto querendo acabar com isso logo pra ele ver que eu não sou a pessoa com quem ele quer passar o tempo. 

Não posso explicar por que estou considerando isso.

"Na verdade não!"

Eu bufo. "Tá bom então, só vou fazer isso por causa do porquinho – mas já avisando, você vai se arrepender disso."

"Não seja negativa" Lennon sorri, parecendo feliz enquanto enfia o porco de volta no bolso. "Você pode acabar se divertindo, vai saber né?"

***

Agora a capa da fanfic faz sentido?
kkkkk

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