[ 6 MESES DEPOIS]
Yeon olhava surpreso para o contato que aparecia na tela do seu celular. Depois de tudo que havia acontecido, ele não tinha mais recebido notícia alguma do submundo, e pensava que não teria, agora que havia se transformado em humano pensou tal gesto não aconteceria mais.
— Vovó!
— YA! — Taluipa grita no telefone. — É PRECISO EU TER QUE LIGAR PARA OUVIR NOTÍCIAS SUAS, SEU MOLEQUE?
— Mas humanos não...
— Eu fiz a regras desse lugar, Yeon. Preciso que você venha aqui, até o fim da tarde.
Antes mesmo de dar uma resposta a anciã, ouviu ela desligar. Ele olhou para a tela do celular e deu de ombros, se perguntando o que aquela senhora mal-humorada tinha para dizer.
Lee Yeon havia se recuperado de todas as suas lesões, e agora estava tentando se habituar a sua nova vida. De cara algumas coisas mudaram drasticamente: sentia mais fome que o comum, e seu estômago já não era tão tolerante a receber sorvete de menta com chocolate logo pela manhã, mas ás vezes ele ainda encarava, mesmo se sentindo enjoado depois. Além disso, tinha dias que não tinha pique para acompanhar o ritmo frenético de Mi-rae, e a noite já não conseguia ler com tanta clareza.
Mas para ele o mais difícil não era ter que lidar com as mudanças nele mesmo, e sim ter que aceitar a regra humana de que "as coisas acontecem e não há nada que você possa fazer". Um grande exemplo disso foi a filha que levou uma queda espetacular no parquinho, ele não foi rápido o suficiente para impedir que ela batesse no chão. Sabia que esse tipo de coisa aconteceria e não teria nada que ele poderia fazer, ele já não poderia mais salvar o mundo.
Agora ele estava aprendendo a ser mais cuidadoso, e isso era um grande desafio também, principalmente com Ji-ah, estava na reta final da gravidez e poderia entrar em trabalho de parto a qualquer momento. A ex raposa estava sempre por perto e não a deixava sozinha, ficava atento a cada expressão diferente dela.
— Você precisa de alguma coisa, amor? — Yeon perguntou pela milésima vez naquela tarde.
— Não, querido... Talvez só colocar mais um travesseiro nas minhas costas.
Nam Ji-ah estava levando a gravidez bem, na medida do possível, não teve mais sustos ao ponto de ter que ir ao hospital, grande parte disso era culpa de Mi-rae que todo mês dava um pouquinho de energia a mãe e a irmã com a supervisão do pai. Ainda assim, ela ficava grande parte do tempo na cama. Ela e Yeon estavam se preparando para ver um filme quando o celular dele toca.
— Alô? Sim, é ele. Ah... — a voz dele foi sumindo ao ouvir a senhora falando do outro lado da linha. — Eu estarei aí sim, não se preocupe.
— O que foi?
— Era da creche da Mi-rae, parece que vai ter uma apresentação e a professora quer falar algo sobre isso comigo. O filme vai ter que ficar para outra hora. Você quer que eu traga alguma coisa?
— Sim! Pés de galinhas apimentados. — Yeon assentiu ao ouvir o que a esposa disse e se despediu dando um beijo na testa dela.
Por sorte, tinha recebido o telefonema de Taluipa antes, e já tinha avisado a Yu-ri que precisaria dela. Assim, não tardou muito para que a raposa chegasse cheia de sacolas nas mãos.
— Yu-ri, desse jeito vamos precisar de mais um bebê para conseguir usar todas essas roupas. — Yeon disse antes de sair.
Ele dirigiu até a escola pensando no cenário que encontraria. A diretora foi bem específica ao dizer que a Mi-rae tinha causado problemas. Se perguntava o que poderia ter acontecido para que a filha fizesse algo na escola, teria ela usado seus poderes? E se tivesse, o que ele faria? Teria que convencer a diretora apenas com desculpas. Como ele ia contar isso para a Ji-ah...
— Senhor Lee, fico contente que não tenha demorado. — a jovem senhora disse passando a mão nos cabelos e desamassando a blusa. "Então vou ter que usar do meu maior talento", Yeon pensou ao se dar conta do gesto da diretora.
— O que houve exatamente?
— A turma estava brincando no parquinho, as professoras não souberam dizer como começou, mas a sua filha deu um soco num coleguinha.
— Ufa... — o homem deixou escapar.
— Desculpe?
— Nossa! Eu estou muito surpreso, a Mi-rae nunca foi de bater.
— Sim, por isso o chamei aqui. Ela disse que foi ensinada, como sei que o senhor não faria algo do tipo... Talvez alguém que ela tenha tido contato recente?
Rang... Yeon pensou.
— Ah, deve ter sido nosso novo vizinho, eles brincaram juntos algumas vezes. O garotinho se machucou muito? Quebrou alguma coisa?
— Por Deus, senhor Lee! O que pensa que a sua filha é? O garotinho não quebrou nada, mas ganhou um hematoma.
— ENTÃO ESSE É O PAI DAQUELA... — uma mulher extremamente nervosa entra na sala, no entanto, assim que o ruivo se vira para encará-la ela perde a voz. Fica olhando admirada para ele por alguns minutos.
— Senhora Kwon, este é o senhor Lee, pai da Mi-rae.
— O-Olá. — ela disse estendendo a mão a ele. — Perdoe meu jeito ainda pouco, o sol está muito quente acabei sendo indelicada.
— Sem problemas, eu que tenho que pedir desculpas pelo comportamento da minha filha. — Yeon disse com o seu sorriso mais encantador.
— Ah, tudo bem, eles são crianças, acontece.
— Vou conversar com ela e isso não se repetirá mais, eu garanto.
— Aigoo, fico feliz que tenham se entendido logo de cara, geralmente tenho problemas com os pais. Suas crianças estão na secretaria, podem ir pegá-los.
Lee Yeon encontrou Mi-rae sentada num banquinho de frente para o colega agredido, ela conversava com o garotinho chateada, quando o pai se aproximou conseguiu pegar apenas o final da conversa.
— Eu disse que posso sarar o seu dodói.
— Não. — o garotinho disse colocando a mão pequenina perto do olho.
— Você é bobo.
Antes que os dois voltassem a brigar Yeon resolveu interferir.
— Filha?
— Papai, não conta para a mamãe por favor. — Mi-rae disse se jogando nos braços dele.
— Vamos conversar sobre isso no caminho.
No carro, ele olhou para o relógio, não daria tempo de deixar a filha em casa para ir se encontrar com Taluipa.
— Princesa, vamos passar em um lugar antes de ir para casa, ok?
— Onde?
— Preciso falar com a vovó.
— Você também está com problemas papai?
— Não, ela só quer ver o papai. Agora me conte, o que foi que aconteceu?
Mi-rae se endireitou na cadeirinha e contou como foi todo o caso. Yeon precisou se controlar muito para que não risse na frente da filha.
— Aí ele me empurrou duas vezes papai. O tio Rang disse que era para eu fazer isso se tivesse que me defender. Ele tem TRÊS anos é mais velho do que eu.
— Querida, mas ainda assim você sabe que é mais forte que ele não sabe? Não podia só ter empurrado de volta? Mas foi um belo soco, ele não vai mais mexer com você. — Lee Yeon piscou para a filha, que deu um grande sorriso. — No entanto, você não pode mais fazer isso na creche ok? Se não, a mamãe vai ficar sabendo de tudo.
— Tudo bem papai, eu pro...
— Não precisa prometer não, o papai sabe que você não vai fazer mais. — sabia que isso era algo que aconteceria outras vezes e não teria como fazer a filha prometer algo assim.
Chegaram no Escrito de Imigração de Vida após a Morte no tempo limite. Como Taluipa falou, Yeon não teve problemas para passar pela porta com a filha.
— Yeon! Nossa, como a baixinha tá enorme! — Hyun Eui-ong disse se abaixando para que Mi-rae o desse um abraço.
— Vovô!
— Fica com ela enquanto eu vou conversar com a anciã?
— Claro! — o senhor colocou Mi-rae nos ombros. — Vamos dar uma volta por aqui?
Yeon observou por uns instantes Hyun Eui-ong sair correndo brincando com a filha enquanto ela dava pequenos gritinhos se segurando pelos cabelos do senhor. Assim que sumiram pelo corredor ele entrou na sala de Taluipa.
— Pensei que não viesse. — disse Taluipa fingindo estar concentrada demais no computador para olhar para ele.
— Jamais recusaria uma ordem sua. — Yeon disse sentando na poltrona de frente para a mesa de trabalho dela. Fazia tanto tempo que não ia naquele lugar, ficou olhando paras as longas prateleiras e quase sentiu falta de quando frequentava aquela sala quase diariamente.
— Trouxe aquela pestinha?
— Sim, ela teve um problema na escola e me atrasaria se ainda fosse deixa-la em casa. E a Mi-rae não é uma pestinha.
— Vamos ver até quando você vai dizer isso... Bom, o chamei aqui para dar um recado de Yeomra.
O sangue de Yeon gelou. Estaria ele agora querendo cobrar pelo que fez a meses atrás?
— Você e Rang tem que parar de se sacrificarem um pelo outro. Extrapolaram todos os limites possíveis da ordem no submundo. — ela parou de mexer no computador e olhou para ele. —Você permanecerá humano, envelhecerá e morrerá como qualquer um e como sempre quis, não tem mais os seus poderes de raposa, mas você já foi um espírito da montanha e a sua conexão com os seres ainda está aí. E quanto ao Rang, o submundo decidiu que ele pagará por tudo que fez na terra, viverá bem, e, por ter se redimido ficará perto daqueles que gosta. No entanto, a terra será o seu purgatório, logo, nem tudo será um mar de rosas.
Yeon entendeu o que ela quis dizer, e de certa forma, Rang já estava pagando com a perda dos pais adotivos.
— Bom, isso é tudo. Pode ir.
— Já, ficou esse tempo todo sem me ver e não vai me dar um abraço? — Yeon deu a volta na mesa e parou de braços abertos para ela. — Vem cá, pare de ser uma velha ranzinza.
Taluipa se levantou prendendo o riso quando Yeon a puxou pelo braço.
— Tenha uma boa vida, seu moleque.
— Obrigado, vovó.
— Agora vá! Eu tenho mais o que fazer!
Na verdade, ela estava prestes a ficar emocionada, e não queria que o homem a visse daquele jeito. Yeon se despediu e andou em direção a porta, quando estava fechando a porta ela o chamou:
— Yeon. — ela não se conteve. — Caso um dia precise, seu acesso e da pirralha serão livres aqui.
— Obrigado. Vou mandar presentes no natal.
Foi preciso Yeon prometer um bolo de chocolate para fazer com que Mi-rae saísse do colo de Hyun Eui-ong.
— Yeon, ela é um doce de criança. Vou visitar vocês mais vezes.
— Vem vovô, a minha irmãzinha vai nascer logo.
— Quem diria, hein? Você pai de duas meninas...
— Eu vou indo antes que você comece a ficar emotivo.
O antigo espírito da montanha se despediu do guia das almas do submundo e voltou para o carro com a sua cópia em miniatura. Ele se sentia bem quando diziam que a garotinha era a cara dele, e era verdade. Os dois eram extremamente parecidos não só fisicamente. A personalidade também parecia muito, além da teimosia, essa ele dizia que Mi-rae havia puxado de Ji-ah.
Enquanto eles dirigiam para casa, Yeon pensava sobre o que Taluipa havia dito, tinha deixado claro que as portas estavam abertas para ele e a filha, se perguntava se ela cruzaria aquelas portas algum dia, como ele fez.
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Lee Rang teve muito trabalho durante os meses que se passaram, foram necessários muitos encontros e contatos visuais com todos que estavam no círculo de amizade de Yu-na e Jihoon. O casal agora que podia desfrutar de um encontro ao ar livre sem preocupações de encontrar algum conhecido e saber do relacionamento deles.
Foram reconstruindo um relacionamento praticamente do zero, a humana foi conhecendo um pouco mais sobre os gostos da raposa, e ele tendo pela primeira vez uma relação amorosa saudável e duradoura. Já não via os humanos como brinquedo ou refeição, e sabia que existia outros meios de resolver seus problemas sem precisar mostrar as garras. Em relação aos pais de Yu-na tudo ia na mais perfeita harmonia, participava de almoços e jantares em família e todos o receberam muito bem. Já havia conseguido dormir uma noite na casa de Yu-na, que segundo ela foi o maior nível alcançado por nenhum dos seus namorados.
Yu-na estava nervosa, estava num café com Oh Yeon Seo quando Rang ligou perguntando onde ela estava, pois precisava conversar com ela algo importantíssimo. Por mais que a amiga tentasse dizer palavras de conforto, depois do que eles passaram, e por ele ser quem ele é já pensou que algo teria acontecido e que os momentos de paz entre os dois haviam acabado. O celular dela toca e era ele novamente.
— Yu-na-ssi, você pode me esperar na porta? Eu estou dobrando a rua.
— Ele... — Yu-na se levantou e correu depressa até a porta. Yeon Seo preferiu espera-la na mesa do café, mas de onde estava pode observar toda a cena do casal.
Rang vinha andando devagar, trazia algo por debaixo da jaqueta branca, a humana não conseguia ver o que era, mas fazia um volume.
— Rang? O que houve? Você me assustou, o que você está escondendo aí?
— Eu trouxe um presente. — Rang soltou a gola da jaqueta e o que saiu dela fez com que Yu-na desse dois passos para trás, uma bola de pelo preta colocou a cabeça para fora e deu uma lambida no queixo do homem. — Ei, ei, não precisa ter medo, confia em mim, ela não vai te machucar. Vem. — a raposa estendeu a mão a ela.
Yu-na olhava cheia de desconfiança para o filhote de cachorro no colo dele, com a mão tremula segurou a do namorado, tentou puxar de volta quando o arrependimento bateu, mas ele já tinha pego.
— Calma, você primeiro coloca a mão assim na frente dela, para que ela sinta seu cheiro. — Yu-na fechou os olhos quando sentiu o focinho gelado encostar na mão dela. — Eu queria muito que você superasse o seu medo de cães e pensei que talvez um filhote por perto amenizasse as coisas.
— Você não vai me dar não é? — a garota se afastou novamente. — Okay, ela é muito fofa, e eu deixei que me cheirasse, mas cuidar dela assim...
— Ela é sua, mas vai ficar lá em casa, dando um passo de cada vez sei que você vai conseguir superar isso.
A cachorrinha olhou para Yu-na como se dissesse para ela confiar no rapaz e dar uma chance, em seguida, deu um espirro e escondeu a cabeça dentro da jaqueta, Rang fez carinho no corpo gordo e felpudo. A jovem ao olhar os dois até conseguiu sorrir e achar a cena fofa, talvez muito aos poucos e com cuidado ela conseguisse pelo menos conviver bem com a bola de pelo.
— Ela já tem nome?
— Claro que não, como eu falei, você é a dona. — Rang observou a humana. Conseguia sentir que ela ainda tinha muito receio de estar perto do animal assim, mas aquele terror que tinha no dia que estavam no parque não estava lá. — Quer passar a mão nela de novo? Aproveita que ela está dormindo.
Yu-na esticou a mão e sentiu o pelo e a quentura do filhote por alguns segundos, mas logo a retraiu.
— Acho que já sei como ela pode se chamar. Bo Mi.
— Bo Mi. Gostei. Bom, eu não posso entrar com ela no café, então eu já vou, mais tarde eu passo na sua casa, okay? — Rang roubou um beijo de Yu-na e saiu embalando a mascote nos braços. Ele realmente sentia muita falta de ter um cachorro, e agora ele poderia dizer que estava completo.
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— Finalmente consegui fazer a Mi-rae dormir e pude tomar um banho. — Yeon disse com uma toalha de rosto no pescoço. Deitou na cama ainda com o cabelo molhado. — Ji-ah?
A humana estava sem cor e suando frio, estava deitada e era difícil dizer se ela estava tendo um pesadelo ou perdendo a consciência. Yeon correu até ela e sentiu o seu pulso, e o que ouviu fez com que ele se assustasse. Seus batimentos estavam quase inaudíveis, ele sem pensar duas vezes a carregou no colo.
— Sogra! Sogra! Acorde, a Ji-ah não está bem, preciso levá-la ao hospital agora. — gritou Yeon na porta do quarto de hóspedes.
— Omo! — a senhora disse enrolada num robe ao abrir a porta. — Yeon, ela está sangrando! Vá depressa, vá.
Yeon nunca havia se arrependido tanto de ser um humano como agora, se ainda fosse uma raposa, conseguiria carrega-la com mais agilidade e rapidez, e poderia chegar no carro rápido como gostaria.
— Amor, fique comigo, okay? — Yeon disse colocando a humana quase desfalecida no carro. — Fique acordada, sim? — ele verificou o estado dela mais uma vez, seu sangramento já não era muito, o que deixou o homem agradecido.
Lee Yeon desde que se tornara humano, adquiriu o hábito de ser mais cuidadoso, no trânsito também, no entanto, àquela hora ele não podia esperar muito, ultrapassou o limite de velocidade, e todos os sinais vermelhos que encontrou pelo caminho.
— Yu-ri-ah. — ele disse ao telefone. — Estou indo com a Ji-ah para o hospital, você pode organizar as coisas com o Shin-joo?
— Como ela está?
— Eu não sei...
— Vá para o hospital, eu não demoro.
No caminho ligou para o médico dela, o que facilitou, ao chegar já tinha uma equipe médica esperando. Assim que o médico a viu e mediu seus sinais vitais disse:
— Levem ela imediatamente para a sala de cirurgia.
— Ela vai ficar bem não vai?
— O quadro dela não é bom, a pressão está muito baixa. Teremos que fazer uma cesárea de emergência. — o médico disse antes de fechar a porta da ala grande emergência para salvar a vida de mãe e filha.
Yeon sentou no chão do corredor, olhou para as mãos que ainda estavam sujas do sangue de Ji-ah. Estava preocupado, tudo havia acontecido tão de repente, em um minuto havia deixado Ji-ah confortável e ido tomar banho, no instante em que saiu, ela já não estava bem. E não poder fazer nada além de esperar o deixava ainda mais angustiado.
"Ji-ah, seja forte, meu amor. " Ele pensou, tentava pensar que se fosse acontecer algo de grave, Mi-rae provavelmente teria falado algo, ou a própria Taluipa quando o encontrou mais cedo. Então o silêncio das duas poderia significar que tudo acabaria bem, ele tinha que acreditar nisso.
— Hyung. — Rang disse sentando ao lado dele no chão. —Yu-ri foi na sua casa pegar as coisas, ela já deve estar a caminho daqui. Tome, limpe isso. — entregou um lenço ao irmão.
O tempo parecia se arrastar, Lee Yeon não conseguia mensurar quanto tempo ficou a espera de que alguém saísse de dentro daquela sala, estava com a cabeça apoiada nas mãos quando viu os sapatos brancos chegando perto dele.
— Terminamos a cirurgia, ela estava com a pressão muito baixa e perdeu um pouco de sangue, mas não foi necessária transfusão. Foi um parto difícil...
— Doutor, o senhor pode pular os termos técnicos e só dizer se as duas estão bem? — Rang disse perdendo a paciência.
— Desculpe. Sim, as duas estão bem. A criança precisará ficar ainda uns dias na UTIN para ganhar força necessária para ir para casa. A mãe, em torno de três dias vai poder ir para casa.
Yeon teve que se controlar para não cair no choro de tão aliviado.
— Eu já posso vê-las?
— Assim, que os enfermeiros levarem a Ji-ah para o quarto você pode ir falar com ela. Enquanto sua filha, pode vê-la na UTIN ali no outro corredor, uma enfermeira vai te auxiliar.
— Vá, vá, eu espero a Yu-ri aqui. — Rang disse sentando num banquinho.
Yeon quase correu na direção que o médico havia dito, uma enfermeira o esperava na porta, para entrar ele colocou a roupa de proteção, luvas, máscara e touca. A sala era bastante limpa, e junto com Ma-rin haviam mais três bebês.
— Aqui. — a enfermeira mostrou o berço em que o pequeno bebê estava. — Ela está bastante saudável, só precisa ganhar o peso exigido para sair do hospital. Coloque seu braço aí se quiser segurar a mãozinha.
Lee Yeon fez o que a enfermeira disse. A pequena Ma-rin era a cara da mãe, com exceção da boca, o cantinho que se formava quando ela estava com a boca levemente aberta era igual à do pai. O resto, como cabelo, cor da pele, formato dos dedinhos da mão, tudo era parecido com Ji-ah.
— Ela é tão pequena... — Yeon segurou a mão pequenina com o dedo indicador.
Ma-rin se mexeu assim que sentiu o toque do seu pai na sua mão. Bem devagar ela começou a abrir os olhos, o pai ficou ansioso, lembrou de Mi-rae quando nasceu, a primeira coisa que fez foi mostrar os seus olhos de raposa. Mas quando a sua caçula abriu os olhos não tinha nada de anormal, seus olhinhos permaneciam negros e bem humanos. Ainda estaria cedo para filha mostrar os seus poderes, ou ela simplesmente não os tinha? Era possível ela ter nascido completamente humana?
***
Já era madrugada quando Ji-ah foi transferida para um quarto e os três puderam vê-la. A humana estava com a aparência cansada, mas já não estava extremamente pálida, como havia chegado no hospital. Yeon sentou na beira da cama e passou a mão nos seus cabelos, ela abriu os olhos.
— Como você está?
— Agora estou bem. E a nossa filha?
— Ela é linda.
Os dois ouviram um suspiro vindo do canto do quarto, Rang estava encostado com os braços cruzados olhando tediosamente para a cena.
— Bom, agora que já está tudo bem, eu vou embora.
— Obrigada pela visita, Rang.
— Não me agradeça. — ele disse já fechando a porta.
Yu-ri se aproximou dos dois.
— Ji-ah, eu trouxe as duas bolsas que estavam prontas, e também coloquei mais algumas coisas, porque não tinha previsão de você sair ainda.
— Obrigada, tia Yu. — Ji-ah brincou falando como a Mi-rae gosta de chama-la.
— Você não quer ir para casa Yeon? Eu posso ficar com ela a noite.
— Não, eu fico. Amanhã eu vou cedo para casa, antes da Mi-rae acordar.
— Tudo bem. A senhora Nam mandou algumas coisas para você naquela sacola. Eu já vou indo então, amanhã cedo estou aqui para ver a mais nova princesa.
— E então, tem um espaço para mim aí? — Yeon perguntou dando um sorriso terno para Ji-ah. — Eu vou arrastar essa poltrona aqui. — disse ele arrastando a poltrona para o lado da cama. — E não desgrudar de você.
______֎______
Quando Rang chegou em seu quarto, Bo Mi dormia profundamente no meio de sua cama, foi inevitável não deixar de sorrir. Deitou ao lado da cachorrinha e enviou uma foto para Yu-na.
03h55
Rang:
-Foto
Pelo visto você não é a única que gosta de tomar conta da cama toda.
Para a sua surpresa, instantes depois ouve um bip como resposta.
03h56
Yu-na ♡:
Estava estudando. Agora estou com inveja de uma cachorrinha. :(
Rang riu. Deitou na cama mais confortavelmente para responder a garota.
03h57
Rang:
É só dizer sim e eu vou te buscar. ;)
Não obteve resposta, dessa vez viu o nome dela aparecer na tela.
— Rang, já já vai amanhecer, eu não posso sair assim.
— É só você deixar um bilhete dizendo que saiu cedo para faculdade, quando eles acordarem, vão ver.
Silêncio.
— Não demora.
Rang calçou os sapatos rapidamente e saiu. Não esperava que ela fosse topar, e nem que ficaria tão animado por isso.
— Bo Mi, o papai já volta.
***
Yu-na estava extremamente desconfiada ao entrar dentro do apartamento de Rang, não queria ser vista por Yu-ri ou Shin-joo chegando em casa no meio da noite.
— Relaxa, o dono desse apartamento sou eu.
A humana parou em frente a porta do quarto.
— Hey, vamos.
— A Bo Mi... — ela tinha esquecido que teria que lidar com o cachorro caso fosse lá.
— Ela está dormindo, não vai nem notar que você chegou. Veja.
Rang tinha razão, a filhotinha dormia com a barriga para cima. Ele foi até a cama e carregou a bolinha de pelo e a colocou na caminha que havia comprado, a cachorra não acordou, apenas reclamou e se acomodou confortavelmente em sua própria cama.
— Prontinho, a cama é toda sua. — Rang disse chegando perto de Yu-na e a segurou pela cintura. Yu-na o olhou travessa brincando com os botões da camisa dele.
Ele terminou de desabotoar a camisa e os dois caíram na cama.
Yu-na dormia profundamente nos braços de Rang quando a raposa acordou com o choramingo de Bo Mi. O sol já começava a raiar.
— O que foi? — ele esticou o pescoço para ver a cachorrinha que chorava sentadinha do seu lado da cama. — Não chora, sua mãe tá dormindo.
Bo Mi respondeu com um pequeno latido que quase a fez cambalear. Yu-na se remexeu debaixo dos lençóis.
— O que foi? — a humana perguntou sem abrir os olhos, passou o braço pela cintura de Rang, alisando distraidamente a cicatriz que ele tinha em seu abdômen.
— A Bo Mi quer vir para a cama.
— Chega mais pra cá e coloca ela aí do seu lado. — a humana disse já chegando mais para o lado direito e puxando ele pela cintura.
Rang não sabia dizer se ela estava apenas sonolenta, por isso que disse isso, ou se realmente estava ciente do que havia falado. Mas ele obedeceu e pegou o filhote do chão. Deu as costas para Yu-na e ficou observando a cachorra se ajeitar no espaço que lhe foi concedido. A raposa era a única coisa que separava Bo Mi de Yu-na e ele precisava ficar atento caso a bolinha de pelo quisesse mais espaço na cama.
Sentiu Yu-na lhe abraçar por trás e lhe dar um beijo nas costas, Rang logo sentiu ela respirar pesado novamente, a mão que lhe apertava pendeu e acabou caindo em cima de Bo Mi. A humana apenas afagou a cachorrinha inconscientemente e continuou dormindo.
Rang ainda tinha muita coisa a aprender sobre a capacidade humana de superar medos, ou, como no caso de Yu-na, tentar superá-los. Ele ficou ali, observando a condição que estava até pegar no sono novamente.