Heart to the Ocean

By AllMeryt

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Magnus nasceu com magia no corpo e fugiu para navegar sob uma bandeira pirata para sentir que pertencia a alg... More

Heart to the Ocean

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By AllMeryt

Magnus era capitão de um navio a anos e navegava a ainda mais tempo sob uma bandeira pirata. Erros de cálculo não eram algo comum, mas não eram impossíveis.

Um exemplo? Bem, aquele era um bom exemplo.

— Quem diabos transporta escravos em um navio mercante?! — Magnus exclamou, se escondendo atrás de um caixote para desviar da bala que um dos oficiais disparava. 

— Eu não sei! Vamos acabar logo com isso! Eu não vou morrer para esses filhotes de abutre! — Ragnor, seu imediato, gritou em resposta, saindo de trás do caixote oposto e Magnus o imitou, sacando sua arma e atirando em quem podia.

A questão era que… navios escravos não continham ouro, nem jóias, nem qualquer coisa valiosa e sim pessoas... escravos.

— Que merda. — Ele suspirou depois de, algum modo, chegar às celas onde os escravos eram mantidos. Pelo menos cinquenta, talvez dez enfiados em uma mesma cela como ovos em conserva. Condições ainda mais ruins do que seria se fosse verdadeiramente um navio escravo.

— Por favor… nos liberte… nos liberte! 

— Nos liberte! Nos tire daqui…!

— Acho que ela morreu..!

— Nos ajude…! Água, estou com sede...

— Esperem! Esperem! — Ele se apressou em dizer, enfiando a espada em um dos anéis da corrente e as rompendo, ele não conseguia entender tudo o que falavam, mas uma olhada rápida em todas as velas, podia-se ver que eram todas mulheres… as "escravas" eram apenas mulheres e Magnus estava vivo tempo o suficiente para saber qual teria sido o destino delas se não tivessem invadido o navio. — Ragnor! desça aqui! — Ele gritou, se ocupando em quebrar as correntes das outras celas. — Vocês conseguem me entender? — Perguntou, preocupado para algumas das mulheres, algumas balançaram as cabeças em concordância, outras pareciam com medo demais até mesmo para isso. — Pela lua… vamos, sentem-se no chão mesmo, respirem… Ragnor!

— Pelas barbas de Poseidon. — Ragnor resmungou quando finalmente chegou às celas, seus olhos esverdeados parecendo um pouco esbugalhados com a cena. — Estão todos bem?

— Alexander o afogaria se escutasse você falando isso. — Magnus tentou soar bem humorado, mas o que saiu foi um tom amargo enquanto quebrava a última corrente. — Verifique elas. Elas estão desidratadas, com fome, com medo e precisam de… oh Lua… — Antes que ele pudesse realmente enxergar o que estava acontecendo em sua frente, houve um choro de bebê… Não mais alto que um miado de gato. 

Havia um bebê… e havia o corpo imóvel de uma mulher abaixo dele, braços protetores o rodeando mas não o apertando. 

Ele mal lembrou de enfiar a espada no cinto antes de cair de joelhos e rastejar para dentro da cela. Mesmo que soubesse que não deveria ter esperanças, ele enfiou uma mão sob o nariz da mulher para verificar se havia alguma respiração… mas não encontrou nada. Em uma última tentativa ele tentou encontrar alguma pulsação em seu pescoço.

Não havia nada.

Então veio o miado fraco novamente e Magnus finalmente voltou sua atenção para o bebê protegido pelos braços rígidos da morte. Ele comprimiu os lábios enquanto tentava tirar o pequeno bebê do aperto, ele não queria usar a força, mas ele usou o necessário para não machucar o bebê sem desrespeitar sua falecida mãe.

— Isso aí é um bebê? — Ragnor perguntou em algum lugar atrás dele, parecendo incrédulo.

— Não, é um filhote de Kraken que soltaram dentro de uma cela cheia de mulheres. — Magnus sibilou. — Vamos… vamos… isso! Oh bebezinho. — Sussurrou um pouco cantarolante, trazendo o pequeno filhote para perto de seu rosto. Estava respirando, estava chorando… fraco, mas estava. Porra, aquilo era um bebê… um bebê! — Leve todas as mulheres para o Labirinto Espiral, procure qualquer coisa de valor nesse pedaço de madeira flutuante e queime depois! O navio, não o ouro!

Suas ordens foram rápidas enquanto se apressava em ficar de pé, aninhando o bebê em seu peito. Ele precisava voltar para seu navio, lá ele cuidaria do bebê… ele precisava sobreviver, era apenas um bebê, não merecia morrer ao mar.

— E os corpos, capitão?

— Corpos? — Ele parou na saída, olhando para trás. Foi só aí que ele notou que a mãe do bebê não era a única vítima. Havia pelo menos mais cinco que haviam sido enfileiradas fora das celas. — … — Ele engoliu em seco. Que Hades tenham suas almas. — As leve para o navio, vamos dar uma passagem digna a elas.

— Irei precisar da ajuda de Catarina. — Ragnor apontou, assentindo. — E esse bebê?

— Eu cuido dele. — Respondeu sem hesitar, voltando a ficar de costas para seu imediato. Sua magia não era feita para cura, mas sua mãe era a deusa da feitiçaria… ele aprendeu uma coisa ou outra com o passar dos anos.

Magnus se apressou em voltar para o convés do navio escravo, os corpos dos traficantes de mulheres estavam jogados pela madeira, apunhalados ou com alguma parte decepada. Ele não se importou e usou uma das mãos para chamar uma das cordas para si e a segurou com força enquanto o bebê continuava a choramingar em seu peito.

— Fique quieto, pequeno… estamos chegando. — Adulou, olhando para seu navio do outro lado. O Labirinto Espiral. Era um navio de porte médio, sua estrutura sendo talhada com a mesma madeira da árvore de Atlas e velas negras como se fossem sujas de óleo… uma bandeira de ossos cruzados esvoaçando acima do mastro.

Seu navio… um lugar seguro para todos aqueles que amam o mar e querem fazer dele sua casa. Um lugar onde que, qualquer um que suba com intenções más no coração, ficam cegos pela magia, se perdem no convés e se jogam na água.

Essa era a magia no Labirinto Espiral.

Ele aumentou o seu aperto na corda e usou magia para se sustentar sem grandes problemas, então, com um impulso, se atirou para frente e segundos depois estavam no convés de madeira avermelhada. Seu navio estava agitado, os marujos trabalhando na ordem do navio, controlando as velas, limpando os canhões.

— Capitão! Capitão! — Magnus parou no caminho para a sua cabine, ele olhou exasperado por cima do ombro, encontrando Simon pulando em sua direção. — Quais as ordens?

— Chame Catarina para ajudar Ragnor, há mulheres feridas subindo a bordo. Quando ela estiver desocupada a mande para a minha cabine. — Informou. — Mande Raphael para a minha cabine com leite de cabra. — Houve mais um choramingo do bebê em seus braços, mas mal era audível com o som da agitação da tripulação e as ondas do mar. — Vá!

Magnus não esperou nenhuma resposta do outro pirata antes de continuar seu caminho. Não houve mais nenhuma interrupção e logo ele estava chutando a porta com força… um contraste notável com a delicadeza com a qual ele deixou o pequeno bebê, nu, na cama no canto da cabine.

Ele não esperou mais nenhum segundo para despejar sua magia sobre o pequeno ser, desejando a sua mãe que aquele bebê sobrevivesse.

**

O bebê iria sobreviver… Magnus nunca esteve tão aliviado desde que ele e a tripulação conseguiram despistar o navio da marinha real no Mar Mediterrâneo. 

Três dias depois do resgate ele ainda era pequeno e frágil e Magnus fez questão de o cobrir com pequenas roupas quentes, que ele costurou com magia, e o prendeu contra seu peito com os melhores panos que pôde encontrar em sua cabine, Catarina havia dito que o calor e proximidade com alguém quente, vivo, é bom para bebês da idade dele.

Magnus podia deixá-lo em sua cabine, protegido pelos travesseiros de penas de ganso. Mas ele não queria correr o risco de deixar o bebê rolar por aí como um barril solto! Divina seja a lua! Aquilo era um maldito navio! O bebê podia ser um guerreiro desde o ventre, mas isso não quer dizer que Poseidon não iria o afogar caso caísse no mar sem querer!

"E também…" Ele não pôde deixar de lamentar, saindo de sua cabine, encontrando o restante de sua tripulação e as mulheres resgatadas esperando por ele para liberar os corpos, embrulhados em lençóis brancos e embebidos de magia, que evitava o mal odor e desacelerava a decomposição de seus corpos, para o mar. "O garoto merece estar presente no velório de quem o deu a luz."

As outras mulheres contaram o que aconteceu com ela. Melinda foi capturada de sua própria casa… ela era robusta o suficiente para que seus sete meses não fossem tão visíveis e resistiu bravamente até semanas depois. Ela deu à luz em seu cativeiro e sangrou até que desfaleceu, protegendo seu bebê que mal havia provado de seu leite.

Uma mulher guerreira assim como as outras.

— Que a lua ilumine seus caminhos para o Nix e que os juízes concedam os campos de Elísios para suas almas. — Desejou, erguendo seu copo. — Ergam seus copos e honrem as almas de quem não está mais aqui… essas mulheres não eram piratas, mas partiram no mar e partiram lutando. Que os deuses lhe entreguem a recompensa merecida!

— Que os deuses lhe entreguem a recompensa merecida! — Todos os outros repetiram, então beberam o rum e jogaram o resto no convés, 

**

Eles encontraram uma tempestade no caminho de volta para a ilha Roux… eles não puderam desviar e Magnus fez de tudo para manter o bebê aquecido em seu corpo, já que ele precisava de toda a tripulação trabalhando. Eles sempre voltavam para essa ilha, para reabastecer, beber, descansar… visitar camas conhecidas e descobrir qualquer nova fofoca que navegava pelas vastas águas. 

O que era muito comum, já que o lugar era repleto de outros piratas, prostitutas, açougueiros e fugitivos da lei. Magnus tinha certa esperança de saber o que faria com o bebê quando chegasse lá.

Com algum esforço, eles conseguiram passar por ela até que conseguissem enxergar céus mais limpos, limpos o suficiente para que as estrelas fossem visíveis e a lua cheia, que começava a minguar, brilhasse.

— Obrigado mãe. — Ele agradeceu, tirando o chapéu com uma mão antes de o devolver para a cabeça enquanto o bebê em seu peito começasse a chorar, cortando o clima calmo de vitória da tripulação.

— Alimente o seu bebê capitão! — Raphael gritou em algum lugar à esquerda de Simon e Magnus semicerrou os olhos em sua direção, dando pequenos tapinhas com a mão livre enquanto a outra ficava no timão.

— Traga leite para o meu bebê então, mandrião! — Magnus ordenou alto. — Apenas o melhor para o garoto, vamos!

— Crie vergonha, Bane! — Ragnor bateu forte em seu ombro antes de o empurrar para o lado com cuidado o suficiente para não machucar o bebê. — Alimente o bebê que você salvou, eu cuido daqui até você conseguir algum leite!

— Pare de agir como se eu não tivesse responsabilidades! Respeito por seu capitão, Fell! — Ele se fingiu de afrontado, mas sua expressão relaxou assim que o bebê decidiu ser mais incisivo com seus desejos. — Certo, certo! Estou indo, pequeno filhote de kraken! 

Eles chegaram à ilha sem nenhum outro imprevisto e Magnus pode sentir a tensão começando a sair de seus ombros à medida em que ele via a sua tripulação se preparando para atracar no porto.

— Não se esqueça de conseguir roupas mais quentes para o bebê. — Catarina lhe disse pelo o que ele acha ser a trigésima vez. — E mais leite se você está decidido a ficar com ele! Ele vai precisar de um lugar para deitar no navio!

— Eu não disse que iria ficar com ele, disse? — Magnus ergueu uma sobrancelha, a encarando. 

— Magnus, você praticamente não desgrudou desse bebê desde que o resgatou, seja sincero consigo mesmo! — A curandeira bufou, parecendo muito mais exasperada do que divertida.

— Eu sou um pirata, Catarina, piratas não são sinceros. — Ele franziu o cenho. — Mas também… É claro que eu resgataria o bebê. — Ele revirou os olhos, vendo as mulheres resgatadas sendo guiadas para fora do navio. — Queria que eu fizesse o que? O deixasse morrer?

— Não, claro que não! — A mulher balançou a cabeça. — Mas você não pode me culpar por achar estranho ver você assim…

— Assim como?

— Assim… — Ela usou uma mão para indicar todo o seu corpo. — Apegado a um bebê. Você, Capitão Bane, um pirata, Capitão do terrível Labirinto Espiral, filho de Circe … apegado a um bebê e fazendo de tudo para manter esse pequeno ser vivo.

— Sou um pirata e todas essas outras coisas… mas ainda tenho um coração. — Ele acenou com a mão em descaso antes de o repousar nas costinhas do bebê, que estava confortavelmente preso em seu peito. — Ele é muito novo para ter o seu fio do destino cortado tão cedo.

— Você vai contar para Alec? — Ela se apoiou no mastro, olhando para a movimentação no cais. 

— Alexander vai me matar. — Estremeceu, um flash rápido de olhos azuis tempestuosos brilhando com fúria em suas lembranças. — Ele vai me afogar no barril de rum!

— Boa sorte. Idiota.

Não foi surpresa nenhuma que o bebê começou a ficar agitado quando ele entrou na taverna, mas ele não poderia fazer nada, afinal, aquilo era uma taverna e não um lar de freiras! Ele precisava de rum… e Alexander. 

Felizmente ele encontrou Alec limpando fervorosamente um barril de rum.

—  Alexander! Temo que se você continuar entregando esse barril com tanta força ele vai quebrar e o rum será desperdiçado! — Magnus disse para chamar sua atenção. — Seria uma pena desperdiçar um bom rum!

— Magnus! — Alexander virou a cabeça em sua direção, tão rápido quanto um chicote. Houve um esboço de um sorriso antes da expressão de Alexander se tornar estático. Ele largou o trapo sujo em cima de pedaço de madeira e foi até ele. — Como você tem um bebê?... Não, espere! — Alec ergueu uma mão, o interrompendo antes que ele pudesse começar. — Com quem você deitou?

— Eu não me deitei com ninguém! — Ele se apressou em tentar se defender, escandalizado. — Eu não me deitei com ninguém! Eu juro em nome de minha mãe!

— Hm. — Alec semicerrou os olhos em direção ao seu ex/atual/ex namorado. Magnus era um pirata e, querendo ou não, às vezes tinha a tendência de agir como um… juramentos falsos incluídos. Mas ele decidiu deixar isso de lado quando o bebê começou a choramingar e então a chorar de verdade, o barulho dos bêbados e piratas animados finalmente o alcançando. — James! — Chamou o mais alto que pôde, atraindo a atenção de seu braço direito, que servia bebidas para um grupo de pessoas em uma mesa próxima. Alec fez sinal para ele de aproximar e o platinado prontamente obedeceu, notando o capitão pirata ali e o saudando com um aceno. — Cuide da taverna… se algum desses vermes puxar uma arma, os jogue fora, entendeu? Prefiro perder clientes do que gastar água e óleo para tirar o sangue do chão!

— Pode deixar. — James assentiu, jogando a bandeja de lado e apontou para o porrete de madeira perto dos barris. — Tenho tudo sob controle. Bem vindo de volta Capitão Bane!

— James. — Magnus o saudou tirando o chapéu, antes de ser puxado por Alexander, que o arrastou até os fundos da taverna… um cômodo anexado, separado por uma cortina de contas de madeira e proibida para qualquer cliente. — Wow, calma!

— Estou calmo. Me dê o bebê. — Alexander disse e Magnus não perdeu tempo em começar a afrouxar com cuidado os panos que seguravam o pequeno menino chorão. Alec o ajudou, segurando o bebê em seus braços assim que a pequena criaturinha se tornou livre. 

Magnus era um pirata. Ele matou pessoas, que mereciam, saqueou mais navios do que poderia lembrar… mas mesmo assim ele sentiu seu coração falhar uma batida ao ver Alexander acomodar um bebê em seus braços, o embalando como se tivesse experiência.

— Eu realmente não me deitei com ninguém, Alexander. — Magnus suspirou, pendurando o restante dos panos de qualquer jeito em um ombro.

— Eu acredito em você. — Alec disse sem o encarar, muito ocupado em pegar um dos panos, que foi junto com o bebê, e o tornar encharcado do nada. Um som, muito parecido com um cantarolar, saiu de sua garganta enquanto ele começava a acalmar o bebê, usando o pano molhado para limpar algumas das dobras avermelhadas do menino. O bebê ainda era tão novo.

— Confundi um navio escravo com um navio mercante. — Magnus começou a explicar, cruzando os braços em frente ao corpo. — Ele estava em uma das celas cheias de mulheres, a mãe dele deu à luz e morreu horas depois do parto, ele foi alimentado antes disso.

— Deuses. — Alexander arfou, o olhando com olhos arregalados. Então voltou a encarar o bebê. — Oh pequeno guerreiro.

— Eu não podia deixar ele lá. — Magnus murmurou e Alexander estalou a língua para ele, tentando não sorrir… mas era impossivel, porque Magnus era Magnus, um idiota que se fazia se durão, mas seu coração era feito de esponja.

— É claro que você não o deixaria. — Comentou, continuando o seu trabalho com o pano. — Pirata velho… pensei que com a sua idade você saberia reconhecer um navio de outro, já que vive no mar.

— Eu sou filho de Circe e não de Poseidon. 

— Acredite em mim, você não está perdendo nada. — Alexander fez careta e afastou um pouco o bebê para examiná-lo com cuidado. Ele gostava de pensar que ter anos trabalhando na taverna, servindo bebidas e chutando idiotas para a sarjeta o fez ter um equilíbrio admirável. — Você cuidou bem dele, ele parece saudável… com o que você o alimentou?

— Leite, é claro. — Magnus respondeu, seus olhos não se desviando dos dois… era realmente uma cena linda. — Leite de cabra… que não estava azedo, não se preocupe, eu verifiquei.

— Bom. — Alec assentiu, largando o pano de qualquer jeito no chão. O bebê havia parado de chorar, e lhe encarava com olhos castanhos sonolentos. — Você vai ficar com ele?

— Sim.

Alexander não esperava por isso, foi por isso que ele não soube o que responder no momento… e foi por isso que, com certeza, trouxe o bebê para mais perto.

— Um navio não é o melhor para um bebê. — Alec falou, tentando deixar a expressão de dor longe de seu rosto. Magnus com um bebê… Seu ex… alguma coisa… e um bebê. Um filho.

— E quer que eu faça o que? Deixe aqui? — Magnus piscou algumas vezes, confuso. — Alexander, uma taverna também não é o melhor para um bebê.

— Magnus! Anos atrás você recusou a ideia de ter filhos! — Alexander se controlou para não gritar. — Qual o problema? Eu? Por que agora Magnus?

"Porque eu literalmente encontrei um bebê recém nascido!" Magnus se segurou para não responder, ele sabia qual era o problema e podia prever a discussão que se aproximava.

— Deuses! Eu não iria abandonar um bebê… ou qualquer criança! — Ele explicou, exasperado. — Você sabe como cresci praticamente jogado em um canto por Asmodeus depois que a mamãe me deixou na porta dele!

Alec engoliu em seco, se aproximando e entregando o bebê para Magnus, que felizmente parecia ter pego a prática.

— Suba para o quarto… eu preciso cuidar da taverna. — Alexander passou a mão pelo cabelo, tentando se acalmar… ele conseguiu alguma prática com isso. — Vamos conversar quando eu terminar.

— Por que você está fazendo tanto caso sobre isso? — Magnus perguntou, tentando não parecer estrangulado. Certo, ele odiava essa situação, ele odeia brigar com Alexander!

— Por que? — Alexander o encarou com fúria. — Porque nós compartilhamos uma cama Magnus! Tínhamos um compromisso antes… e então nós separamos porque você não queria uma família e não consegue ficar longe do mar e eu não vou pôr os pés no mar!

Então Alexander saiu, agitando a cortina de contas, deixando Magnus e um bebê, que começava a choramingar, sozinhos.

Magnus demorou um pouco para se recuperar e para seu cérebro reiniciar… apenas para notar que o bebê em seus braços havia começado a chorar, estressado.

— Que dia cheio, não é? — Magnus resmungou, o balançando para tentar acalmá-lo. — Eu queria dizer que Alexander não é tão estressado assim o tempo todo… mas ele é meio esquentadinho. — Ele forçou um riso, trazendo o bebê para seu ombro. — Shiii…. Shhh… não é com você, a culpa é toda minha, ele está com raiva de mim… você é uma coisinha muito fofa e não tem culpa de nada. — Ele sussurrou, indo em direção as escadas no canto da sala e subiu degrau por degrau com cuidado.

Faziam meses em que ele esteve no quarto de Alec pela última vez, já que ele teve que partir para o mar novamente… a decoração era a mesma, simples e arrumado. Uma cama grande encostada em uma das paredes, coberto por lençóis finos e travesseiros fofos, duas cadeiras ao redor de uma mesa pequena, que servia de apoio para algumas pilhas de papéis de desenho e carvão. Baú de roupas e mais um sofá de dois lugares no canto.

Magnus acomodou o bebê na cama, entre alguns dos lençóis e mais alguns travesseiros para que o bebê não rolasse… mesmo que o menino não fosse um bebê agitado. Com longo suspiro, ele se sentou ao seu lado, um pouco deitado.

Demoraria um pouco mais para o bebê sentir fome, já que Magnus havia o alimentado antes de descer do navio.

"Uma família." Pensou, observando o bebê agarrar uma de suas mãozinhas com curiosidade.

Não é que Magnus não quisesse uma família... Ele queria, céus, ele queria. Mas esse era o mesmo desejo que ele tinha pelo mar, onde, ironicamente, Alexander se recusava a ir. 

Magnus entendia isso… e tudo bem. Alexander também entendia o amor dele pelo o mar, pelo horizonte. 

Ele ergueu uma mão, fazendo magia dançar em seus dedos, magia dourada e azul… borboletas dançando em círculos e espirais logo acima do bebê… o distraindo, encantando. 

Magnus nasceu com magia em seu corpo. Ele não lembrava da primeira vez que a usou, mas ele sabia que sempre esteve ali.

Ele tinha lembranças das coisas ruins que aconteceram no passado, mas não das boas. Demorou muito para ele voltar a se agradar com essa parte da sua vida onde magia era como outro membro seu.

Havia coisas que ele nunca esqueceria. Coisas que traumatizaram uma criança. Coisas como ser tratado como aberração pelo próprio pai ou como Asmodeus o espancou com a ripa quando o pegou fazendo aqueles mesmo truques de borboletas.

Magnus gostava de borboletas… elas eram bonitas e livres, viviam toda a sua curta vida voando por aí depois que ganhavam suas asas. Elas se transformaram em uma pequena lagarta para se tornarem flores dançando com o vento.

Ele fugiu de casa com nove anos e, de algum modo, se viu trabalhando em um navio pirata como marujo, isso após o capitão desse mesmo navio o encontrou escondido atrás de alguns barris de pólvora.

Magnus aprendeu muito com isso, coisas boas, coisas ruins... Mas o que ele descobriu, e que valeu a pena, é que o horizonte não tinha um limite e ele estava disposto a explorar tudo o que havia a oferecer.

Ele conheceu Alexander naquela ilha, Roux, entre ladrões, mendigos, piratas bêbados e promíscuos... Ele floresceu ali, autoritário, decidido. O único filho de Poseidon que odiava os domínios do pai, felizmente não odiar piratas não estava na lista… fazia mal para os negócios da taverna.

Talvez tenha sido essa coisa em comum sobre ter uma linhagem sanguínea de merda, ou apenas… ou apenas porque era Alexander, que os aproximou. Não havia demorado uma semana, uma noite antes de Magnus ter que voltar para o mar em busca de uma nova aventura que ele havia traçado com Ragnor pelo mediterrâneo, onde Alexander e ele caíram em uma cama juntos.

Um erro... Um erro porque ele quase não conseguiu sair na manhã seguinte... Um erro, porque Alexander era bonito e precioso demais para ser deixado como uma diversão passageira de uma noite.

Pelo menos dezessete anos antes… ano 78 d.C.


Alexander acordou aos poucos… suas pernas se esticando pela cama de casal, tremendo um pouco com o fato de que o lençol de linho mal o cobria. Ele piscou algumas vezes antes de bocejar, seus olhos indo para  a janela sem cortinas, reparando que ainda estava escuro do lado de fora.

Ele se sentou… apenas para encontrar Magnus sentado em uma das cadeiras perto da mesa.

— Eu pensei que você já tinha saído. — Alexander comentou, ignorando os batimentos acelerados de seu coração enquanto puxava os lençóis para cobrir a sua nudez. Não é como se Magnus não tivesse visto ele assim, mas ele se sentia menos frágil assim.

— Eu também. — Magnus riu, parecendo nervoso… o que lhe entregou foi o mesmo brincando com o anel de leão em seu dedo mindinho. — Eu não sei porque estou aqui ainda, mas… você é diferente. — Ali estava o tom nervoso novamente. — Isso é estranho.

— Isso não deveria ser estranho. — Alec disse, desviando o olhar para a janela… ainda escuro, um tímido tom rosado manchando uma nuvem ou outra. — Isso… o que tivemos… não precisa ser mais do que é.

— E o que isso foi? — Magnus perguntou e Alec podia achar que havia um tom de esperança em sua voz. Mas Alexander não iria mentir.

— Um caso de uma noite. — Alec voltou a encará-lo. — Eu sei que você passa muito tempo no mar… Magnus, você é mais filho de Poseidon do que eu nunca poderia ser!

— Alexander… — Magnus engoliu, mordendo a língua para evitar falar qualquer coisa sem pensar. Ele abaixou o olhar para seu colo, onde ele descansava seu chapéu. Ele já estava arrumado para partir, sua espada no cinto, assim como suas armas e facas… Ragnor estava esperando por ele no Labirinto Espiral. — Não precisa ser apenas uma noite.

— E o que isso deveria significar? 

— Eu… voltaria, podemos nos encontrar aqui em Roux todas as vezes. — Magnus tentou explicar, não notando seus dedos amassando a aba de couro do chapéu.

— Por que? — Alexander não pode deixar de perguntar, ele podia sentir seu rosto esquentando aos poucos, suas bochechas deviam estar ficando notavelmente rosadas… felizmente ainda era escuro o suficiente para Magnus não poder notá-lo.

— Tem algo em você que fez você importante para mim. — Magnus falou com a mesma seriedade com que ele decidiu fugir de casa e se esconder em um navio pirata. — E eu não vou deixar isso para trás.

Anos atuais… Ano 95 d.C.


Alexander estava fedendo a bebida… Ele odiava feder a bebida, mesmo que trabalhasse a anos em uma taverna. Infelizmente ele terminou o expediente mais uma vez assim porque algum idiota decidiu começar uma briga e acabou derramando rum nele quando ele tentou separar.

Tentando não fazer barulho ele entrou no quarto, não ficando surpreso ao encontrar Magnus e o bebê dormindo na sua cama, lado a lado. Parecia confortável… Alexander não pode deixar de desejar deitar ao lado deles e dormir, fingir um pouco de normalidade.

— Pare com isso! —  Sussurrou para si mesmo, se forçando a deixar a pequeno cantil de leite, que ele pegou para o bebê, na mesinha ao lado de seus desenhos.

Ele vai até os fundos do quarto e afasta a cortina, revelando a grande bacia de madeira que ele mantinha ali, a água chegando apenas até a metade de sua capacidade e não parecia usada.  Alexander faz careta para isso… por que isso significava que Magnus não havia tomado banho antes de se deitar na cama.

Balançando a cabeça ele se despe e se acomoda dentro da bacia, começando a se lavar, tentando se livrar de todo o cheiro do álcool.

Demorou um pouco para ele se sentir limpo o suficiente, mas ele logo se enxugou o melhor que pôde e vestiu uma camisola de linho, que estava grudando um pouco em seu corpo por conta da umidade de sua pele.

Foi nesse momento que o bebê escolheu começar a choramingar e Alexander se apressou e o resgatar da cama, bem a tempo de evitar que Magnus acordasse… não que fosse preciso toda essa preocupação, Magnus conseguia dormir até sob uma tempestade quando ele não era necessário.

— Hora de comer, não é? — Perguntou com um sorriso pequeno no rosto, embalando o bebê até chegar ao cantil de leite. — Eu peguei uma coisa para você… ainda deve estar morno, pequeno pãozinho.

Com cuidado ele guiou o bico para a boca o arrumando em uma boa posição para que o mesmo não engasgasse. 

"Eu só queria uma vida normal." Ele pensou, se movendo devagar em seu próprio lugar, balançando de um lado para o outro. "... Um marido… um filho… uma família."

— E você também, pequeno. — Ele murmurou. Aquele bebê havia passado por tanto mesmo com pouca idade... Mas vida amaldiçoada é o que todos têm. Ele mesmo era um exemplo.

Criado por uma mãe abandonada com seus irmãos, fruto de um abuso... Um fardo. Ele fugiu em busca de tirar satisfação com um deus... Esse foi o caminho que o levou ao alto mar... Que o levou para um meio de tempestade em que o navio só não foi engolido pelas águas revoltadas porque ele as controlou, guiando o navio até a ilha Roux em segurança. 

Mas ao invés de se sentir orgulhoso de seus poderes, ele sentiu nojo, aqueles poderes, o poder de controlar as marés e causar terremotos era apenas uma prova da onde ele veio e como foi concebido.

Alexander se instalou em Roux e pretendia nunca mais pôr os pés na água, ele mantinha contato com seus irmãos, agora oficiais da marinha. Jace, Izzy e Max vinham para a ilha em segredo como pessoas comuns quando tinham folga, afinal eles trabalhavam para as autoridades e estavam em uma ilha repleta de ladrões.

Alexander vez ou outra recebia notícias de sua mãe, uma carta entregue por seus irmãos a cada três ou dois meses. Maryse não estava satisfeita com a vida que ele levava… ou entendia o porquê dele não querer voltar para casa.

Ele nunca pensou em voltar para a água, mas agora… mas agora com Magnus e aquele bebê... eles o faziam tremer. 

Pensar e pensar.

— Você precisa de um nome, pãozinho. — Alec olhou para o bebê, que o encarava com aqueles doces olhos castanhos. — Acho que Rafael combina com você.

**

Magnus acordou cedo na manhã seguinte, no entanto ele não conseguiu ter forças para sair do lugar… ele tinha um pouco de receio de Alexander e o bebê dormindo ao seu lado era apenas uma miragem.

Ele queria que fosse real. Ele queria aqueles dois e também queria não precisar deixar o mar de lado. Mas ele não podia forçar Alec a voltar para algo que ele odeia. 

Magnus podia entender que Alexander estava na mesma posição, mas a diferença é que Magnus não odeia a terra... Ele apenas, depois de tantos anos no mar, não conseguia se imaginar ficando longe por meses a dentro.

E mesmo assim ele se viu tomando uma decisão.

Ele precisava conversar com Ragnor… Ragnor poderia arrancar a sua cabeça? Sim! Magnus pensou muito sobre isso? Sim também! Ele realmente não fazia do tipo impulsivo… pelo menos em momentos muito importantes.

Ele encontrou Ragnor no Labirinto Espiral, olhando o céu começando a ganhar cor.

— Me dê um pouco, mandrião. — Magnus provocou, se jogando ao seu lado na proa do navio.

— Pegue, bastardo preguiçoso. — Ragnor retribuiu, lhe entregando a garrafa de rum e Magnus prontamente tomou um bom gole, o líquido amargo descendo queimando. — O que você está fazendo aqui? Você não estava com o seu garoto do mar? Uau… é a primeira vez que te vejo longe daquele bebê em semanas!

— Alexander o afogaria se ouvisse você o chamando assim. — Magnus alertou, passando o punho pela boca antes de beber mais um gole e devolver a garrafa para o amigo. — Alexander e o bebê estão dormindo.

— O que ele não escuta, não o machuca. — Ragnor apontou, tomando um pouco de álcool. — Não ignore a minha pergunta, Bane. O que faz aqui? 

— O navio é meu, não posso mais vir aqui?

— Bane.

— Ah, certo! — Magnus bufou, tomando a bebida das mãos do amigo e bebeu mais um gole… e então… e então olhou para o horizonte em busca de coragem. — Eu quero que assuma o comando do Labirinto Espiral.

— Bem… — Ragnor riu ao seu lado, não tentando reivindicar a garrafa e sim pegando um cantil de metal preso em um colar de couro. —… não posso dizer que estou surpreso, eu esperava por isso?... Sim, é, eu esperava por isso!

— Eu sou tão previsível assim? 

— Não… mas você é um homem apaixonado. — Ragnor corrigiu. — Demorou anos até você tomar essa decisão… e você ama tanto aquele homem que está decidindo deixar o Labirinto Espiral para mim, você entende a grandeza disso? Você encontrou alguém cujo superou o seu amor pela liberdade do horizonte.

— Você faz isso parecer… bonito. — Magnus transferiu o peso de seu copo para o outro pé.

— Por que é, amigo. — O Fell respondeu, virando-se para ele.  — Você sempre será bem vindo a assumir o controle do Labirinto Espiral novamente.

— Sempre ao dispor do capitão? — Magnus ergueu um punho.

— Sempre ao dispor do capitão. — Ragnor bateu o próprio punho ao dele.

O sol começava a nascer quando Magnus entrou no quarto de Alec mais uma vez ele encontrou o filho de Poseidon acordado.

Alexander estava acordado… mas seus olhos estavam marejados e vermelhos pelo choro.

— Alexander? — Ele se aproximou e Alec desviou o olhar, enxugando as lágrimas com as mãos. — Querido, o que aconteceu?

— Nada, não é nada. 

— Alexander. — Magnus suspirou, caindo de joelhos na frente de Alec até que ele pudesse se apoiar nas pernas do outro homem. — Por favor…

— Eu pensei que você tinha partido mais uma vez. — Alexander engoliu, ainda não o encarando. — Pensei que você havia me abandonado com um bebê e escolhido o mar.

— Eu vou ficar. — Magnus se apressou em falar. — Eu vou ficar com vocês.

— Eu não quero tirar o mar de você… Magnus! Não me faça sentir culpa!

— Você não está tirando nada de mim, o mar sempre vai estar no meu coração. — Magnus disse, estendendo uma mão para acariciar o rosto de Alec, fazendo com que o mesmo o encarasse, finalmente. — Assim como você… o mar me teve por anos, é a vez de eu ficar do seu lado... ter uma família com você.

— Essa não… — Alexander respirou fundo, tentando não gaguejar, o que era difícil porque ele se sentia trêmulo. — Essa não é uma decisão que se pode voltar atrás, Magnus… é um bebê… e eu.

— Eu não vou deixar nenhum dos dois para trás. — Magnus sorriu, corajoso. — Eu sei o peso dessa decisão e… e você já até escolheu o nome do nosso filho sem mim.

— Você escutou. — A respiração de Alec falhou, e ele riu, choroso, assentindo. — É claro que escutou.

— Escutei. — Magnus riu junto, ainda apoiado na perna de Alexander. — Rafael então?

— Sim. — Alexander desviou os olhos para o bebê ainda dormindo, sereno. — Rafael.

E é assim que os meses se passaram. Alexander, apesar dos protestos de Magnus, fez com que a cada dez meses o mesmo viajasse com Ragnor em uma nova aventura… curta, mas ainda uma aventura.

Magnus não podia negar que não gostava de estar sob a bandeira pirata do Labirinto Espiral e com Ragnor ao seu lado. Viagens como essas não duravam mais de dois meses e ele sempre voltava para sua família.

Alexander e o filho deles sempre esperavam pelo navio pirata no cais de Roux. Alec brincando com a água para encantar o filho ou até mesmo em uma pequena canoa para brincar com os peixes, o que era um grande progresso para quem rejeitava totalmente a ideia de usar seus poderes. 

Quando estavam os três juntos... Eles ficavam no cais para ver o sol se pôr.Todos os dias, como uma tradição.

Paz. Deuses acima, mortais abaixo, e ainda sim feliz.

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