Physical

By agustchanel

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Para Min Yoongi tudo tinha um significado e mesmo consideravelmente novo ele valorizava muito as pequenas coi... More

Prólogo
I
III
IV

II

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By agustchanel

Era ele ali, me observando com um sorriso aberto de orelha a orelha, seus dentinhos de coelho e suas singelas covinhas aparentes, que, como Jin dizia, eram os "defeitos" genéticos mais lindos que alguém poderia ter.

― É linda, não é mesmo? – Perguntou com uma voz aveludada, deixando transparecer todas suas boas energias, que me circularam como em um manto de proteção. Ele tinha ao seu redor um campo de força que me atraía. Seu cheiro me embriagou de forma suave, como um dia em um campo aberto. Era um "cheiro de paz".

― Sim, é sim. – Respondi, com toda certeza não falando da moto. Meus olhos iam direto aos dele e tive mais certeza ainda que aquele que me inebriava o percebeu, pois desviou o olhar para um pilar e ficou violentamente corado. Com a mão direita cobrindo um riso silencioso, ele segurava uma chave junto a um chaveiro do Mang.

Talvez tenha sido egoísta em pensar Merda ele realmente é o preferido dele com uma ponta de ciúmes, sem sequer saber de onde vinha esse sentimento. Ele parecia completamente artificial. Poderia ser resultado da bomba de hormônios que aquele campo de força estava me causando. Se em algum momento duvidei do garoto ser um ligado, neste momento essa dúvida se dissipou por completo.

― Eu mandei envelopá-la a pouco tempo. – Comentou, quebrando o silêncio e voltando a me olhar nos olhos. Eu não havia movido um único músculo e continuava a o olhar com a mesma intensidade, lentamente absorvendo as palavras e só então direcionando minha atenção à moto.

― Ela era preta, não é? – Questionei, mais em um tom de afirmação. No mesmo momento me arrependi, pois ele pareceu surpreso por eu saber disto. Meus olhos me traíram e voltaram a encará-lo. Ficamos ali em silêncio, nos olhando pelo que pareceu uma eternidade. Até ele corar de novo e forçar uma pequena tosse, como que se preparando para falar e levando a mão a sua orelha.

― Era sim, era preta. – Disse por fim, com um pequeno sorriso enquanto passava a mão pelas bochechas, como se tentando tirar todo rubor com os próprios dígitos. Quase que desconfortável.

Por um momento ficamos novamente em um silencio por mais estranho que fosse ainda parados ali, entretanto meu interior se contorcia por algo e acabei cedendo.

― Taehyung, prazer. – Estendi a mão em comprimento e sorri o mais aberto que pude. Ele acolheu minha mão hesitante em um suave toque, que me entregou uma onda eletrizante. Não pude sentir sua mão por completo, luvas de couro cobriam sua palma, deixando somente as pontas dos dedos expostos, o que impediu que a onda fosse ainda maior. Na mão contrária segurava um capacete branco fosco com um detalhe holográfico. Era o símbolo do grupo e ele se mostrou acanhado quando percebeu que notei. ― Vi você no show.

Falei achando que isso o faria se acalmar e talvez ficar mais confortável, mas os olhos arregalados mostraram que não. Ele parecia até mesmo desconfortável com toda aquela situação e eu já não sabia dizer o por que, talvez fosse o fato de nem por um segundo eu ter desviado os olhos enquanto ele continuava a desviar para qualquer que fosse o lugar. Ainda segurando minha mão ele murmurou inquieto um 'Woah', quase que suspirado.

― Desculpe, eu não tenho muita facilidade em conversar com as pessoas no geral. – Contou mexendo nervosamente em sua pulseira – a mesma de antes – contra o próprio jeans, ele soltou uma lufada de ar que pelo inverno rigoroso criou certa nuvem de fumaça que logo sumiu. ― É um prazer conhecê-lo Kim Taehyung-ssi. – Cumprimentou em voz baixa. Pareceu ponderar por um momento e quando seus lábios se abriram novamente ele soou tão mais baixo quanto um sussurro, mas eu ouvi claramente. ― Park Hyungsun.

Se apresentou, mas por algum motivo soou como uma grande mentira. Todo seu corpo respondia quase que em repúdio ao próprio nome e suas feições não pareciam contentes em pronunciá-lo.

Era visível que ele mesmo negava seu nome, como um estudante do ensino médio usando identidade falsa para frequentar um bar ou uma balada.

― Esperei você postar fotos das polaroides, mas acho que você quis manter como algo exclusivo. – Comentei tentando lê-lo, mas era mais difícil do que imaginava, normalmente tenho facilidade em ler as pessoas e saber como são de verdade, mas aquele garoto que não passava da altura do meu queixo de dentinhos de coelho e olhos de corça, parecia um livro muito bem decodificado. Eu estava perdido, afogado em teorias, sem sequer saber por que razões ele atiçava tanto minha curiosidade.

― Na verdade não é isso... só não tive tempo. – Respondeu se perdendo em pensamentos e gaguejos, parecendo cada vez mais desconfortável. Sequer parecia o mesmo do show, muito menos o que Ji e Hope descreveram, que esbanjava confiança e calava a todos até mesmo Sejin com um único levantar de dedos. O completo oposto de quando mesmo acanhado falava de sua moto. Parecia com medo.

"Park" você tem medo de mim?

― Desculpe, não quis ser inconveniente. – Pronunciei curvando levemente a cabeça e enfim soltando a sua mão a qual ainda nos ligava, pois estava tão absorto nele que sequer percebi. Nesse momento a cor pareceu voltar a seu rosto e ele respirou fundo; como se o toque de sua mão com a minha tivesse a impedido de respirar.

Era só um aperto de mão, não em sua garganta.

Foi o que pensei por um segundo, notando-o passar as pontas dos dedos sobe a pele do pescoço e a borda da gola alta de seu suéter azul – como a pelúcia de seu chaveiro – a expressão dele era de puro alivio e um leve suspiro se desprendeu de seus lábios.

― Está tudo bem Taehyung-ssi, acontece. – Foi o que respondeu visivelmente não se referindo as fotos, ele se direcionou a moto e por um momento achei que iria me dar as costas e ir embora naquele automóvel. Me enganei. O mais jovem alcançou o tanque que estava aberto e com um clique o fechou, se virando em direção aos elevadores com o braço estendido como que me indicando o caminho. Em um silêncio que me corroía, ele aguardou para juntos entramos na caixa metálica que começou a me sufocar aos poucos. Minha culpa por ter insinuado – mesmo que como uma brincadeira – egoísmo da parte do garoto, estava me sufocando. Ele parecia ter levado a sério ou entendido errado, eu só queria puxar assunto.

― Você gostou do show? – Me arrisquei em uma última tentativa e ele pareceu gostar, quando me devolveu um sorriso brilhante como o do estacionamento.

― Foi, sem sombra de dúvidas, o melhor dia da minha vida. – Respondeu radiante e sem titubear.

O elevador parou no oitavo andar e ele se curvou, logo sumindo em segundos corredor a dentro. Assim que as portas fecharam meu interior se normalizou. Toda a tensão e estranha energia que me rodeava fazendo meu corpo ter pequenos espasmos e choques se esvaiu. Eu nunca tinha me aproximado de um ligado em transição, para ser sincero as pouquíssimas vezes que vi um ligado foram de longe ou por curtos momentos.

Era de comum entendimento que recém ligados eram como baterias ambulantes. Faziam com que o humor e os sentimentos de todos ao seu redor se tornassem um pouco instável e um tanto quanto embaralhados. Ligados por si, já possuem um círculo energético, muito atrativo para a maioria e repulsivo para outros – poucos – fazendo deles no geral pessoas populares, rodeadas por pessoas que se banhavam nos prazeres de suas ondas energéticas. Muito perigoso em alguns casos raros de ligados que possuem transtornos psicológicos.

Ligados por si são raros.

As sensações que um recém ligado trazem pro ambiente em que ele se encontra variam muito, depende do ligado e do receptor. Alguém propenso a receber as sensações pode sentir exatamente os mesmos sentimentos que os ligado, já alguém com poucos receptores pode não sentir nada além de uma pequena alegria ou tristeza dependendo do estado do ligado. Naquele momento eu não sabia dizer se eu havia sentido todo aquele desconforto e desconfiança por ele ou por mim. Eu relembrava todo conteúdo que estudei no ensino médio na matéria de ligações, porém nunca fui um ótimo aluno, então muito do conteúdo não se prendeu em minha mente. Em meio a meus devaneios tentando montar esse quebra-cabeça, as portas se abriram.

Assim que saí do elevador no décimo terceiro andar – lugar onde todo o grupo trabalhava – quase que corri apressado ao Genius Lab, precisava conversar com Yoongi, ele era quem mais sabia sobre o assunto. Já que tendo a própria ligação, mesmo que raramente falando sobre ela – pois sabia que dificilmente iria encontrá-la – era um assunto que ele dominava. Quando éramos trainees, ele ainda tinha esperança de encontrá-la, contudo, depois de alguns anos – diria que depois de termos feito tantas turnês – ele desistiu. Ano após ano ele falava menos e menos, até meses atrás acordar chorando completamente desesperado e sentindo dores absurdas em uma manhã. Ele nunca explicou, entretanto ficou claro que ela havia morrido. Se tornou um tópico sensível, quase um tabu entre nós, mas não evitava a parte teórica do assunto. Não tocando no fato dele ter uma ligação, ele poderia passar horas e horas falando sobre sem se importar, como um físico com PhD em ligados e suas propriedades ou um médico especialista.

Bati com certa inquietação na porta do estúdio do mais velho, mas nem sinal de que estava ali. Mandei mensagens e liguei duas vezes. Ele estava nos evitando?

― Namjoon Hyung, você viu o Yoongi Hyung? – Perguntei sem colocar meu corpo por completo no estúdio do nosso líder, que virou a cadeira para me responder.

― Vi sim Tae, ele me trouxe pra empresa e depois saiu, acho que daqui a pouco ele chega. – Respondeu com um sorriso pequeno e voltou a trabalhar.

― Nam, você sabe mais do que eu sobre ligados, não é mesmo? – Questionei mesmo sabendo que a resposta era sim, Namjoon sabia mais do que eu sobre muitos assuntos. Esperei ele me responder, mas ele parecia congelado na cadeira completamente travado por um momento.

― Talvez. – Disse por fim, voltando a me fitar com uma expressão no mínimo estranha. ― Por quê?

― Eu encontrei com o garoto das polaroides, lembra? O que a gente 'tava dizendo ter uma ligação. – Falei sentando no sofá dele. ― O nome dele é Park Hyungsun, quer dizer, foi o que ele disse. – Disse dando uma leve revirada de olhos, odiava quando mentiam para mim e a primeira coisa que ele fez foi mentir.

― O que tem ele? – Apreensivo, perguntou enquanto tirava os óculos de grau.

― Não sei, ele é meio estranho e mente, além de trabalhar no oitavo andar. – Respondi sincero. ― Mas o que eu queria saber é, eu estava conversando com ele e senti um desconforto esquisito quando apertamos as mãos e depois quando ele disse se chamar Park Hyungsun, cara eu soube que era mentira.

― Tae, não necessariamente é mentira, talvez ele não goste do próprio nome. – Respondeu suspirando e passando a mão pela testa. ― Além de que você pode ter sentido o que ele sentiu, ainda mais se ele realmente for um ligado em transição para fechar o ligamento, isso leva uns seis meses ou mais em alguns casos.

― Então ele estava desconfortável em pegar na minha mão e se apresentar? Não faz sentido, eu me senti normal quando ele estava falando da moto, mas assim que eu me apresentei ficou tudo estranho, se eu realmente senti o que ele estava sentindo, não deveria ter ficado desconfortável desde do começo? – Por que eu continuava questionando sobre? Por que meu subconsciente me dizia que eu tinha que saber mais sobre? Eu não era assim, não iria ficar futricando em outra situação. O que de errado estava acontecendo, que algo em mim falava para descobrir?

― Não sei Tae, talvez... – Ele soltou uma lufada de ar e virou para seu computador. ― Olha, senta aqui – Apontou para o sofá no canto do estúdio. – Respira, esse não é você, isso tudo é reação de se encontrar com um ligado, talvez ele não goste de apresentações por não gostar do próprio nome, pensa.

― É verdade eu estou sendo manipulado pela enxurrada de emoções. – Constatei me acalmando aos poucos e minha mente lentamente voltando ao normal.

― Isso se acalma e pensa com clareza, ele provavelmente é army já que foi ao nosso show. – Pontuou com a voz em um tom pacifico. – Imagina como ele deveria estar um turbilhão de sentimentos ao te ver assim tão perto, Taehyung ele é nosso fã e pegou na sua mão, como foi pra você quando abraçou o John Legend?

― Eu não tinha pensado assim, foi uma bagunça de sentimentos eu não parava de tremer. – Relembrei me dando conta de quão dominado pela onda de energia eu havia sido.

― Então, deve ter sido o mesmo para ele. – Falou por fim sorrindo ao me ver concordar em entendimento. – Agora eu vou voltar ao trabalho, cuidado com esse assunto com o Yoon, ele anda meio sensível.

Foi a seu último conselho antes de suspirar profundamente e bagunçar os cabelos.

Saí do estúdio decidido a esquecer o assunto. Não podia confundir minhas vontades e sentimentos com os que eram causados pelas ondas energéticas nas quais fui banhado.

Isso era um saco, ninguém tinha que passar por essa situação, ela poderia ficar em casa durante esse período.

Havia sido um de meus pensamentos antes daquela conversa, por alguns momentos sendo mesquinho como nunca fui.

Assim que me sentei de frente a mesa onde iria trabalhar, suspirei e bufei. Eu havia agido feito uma criança invejosa e mimada. Quando pequeno, ter uma ligação era tudo que eu mais poderia desejar. Acho que com o fim da infância, esse desejo não acabou, só se escondeu. E que por nunca ter conversado com um ligado, não notei. Havia visto duas ou três vezes um certo idol em uma premiação, que a carreira talvez se resuma a isso. Era sempre assim, a pessoa podia entregar um trabalho razoável, mas que por ser um ligado, acabava sendo endeusado.

Passei a mão pelos cabelos, os puxando com força para aliviar o estresse. Yoongi sempre deixou claro que nunca revelaria ter uma ligação caso não a encontrasse. Se ele fizesse parte da minúscula porcentagem que consegue completar o ligamento, ele acabaria sendo obrigado a trazer isso à tona. Já que seria quase impossível esconder os olhos lilás. Por isso ele sempre pareceu mais e mais focado em mostrar ser um artista completo, e com isso o grupo também. Para nunca dizerem que nosso sucesso veio apoiado em um dos membros ser "puro", um dos muitos termos que algumas pessoas ainda chamavam os ligados.

Em alguns lugares faz parte da cultura fazer de ligados líderes políticos ou religiosos e cultuá-los como entidades divinas, mesmo com a ciência mostrando que a ligação nada mais é que a expressão de um gene. Um mísero gene que eu sempre desejei ter a graça de expressar. Mas visivelmente esse não era meu destino.

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