O salão comunal principal estava cheio, o cheiro de comida era tentador, o suficiente para despertar a fome de qualquer um. Alunos da lufa-lufa comentavam sobre os novos jogadores do time de quadribol, em especial, eu. A curiosidade e desconfiança eram enormes, mas tenho esperança de que conquistarei o respeito e admiração de cada um deles, é o meu objetivo.
Mordi a maçã e continuei focada lendo o livro de DCAT, teremos prova ainda hoje e a fama do professor não é das melhores, ele é rígido e extremamente controlador, sempre exigindo os melhores resultados. Anna praticamente chorava ao meu lado, ela não estudou e agora sentia as consequências e o peso de suas escolhas.
Por outro lado, Severo e eu passamos a semana estudando, nossos hábitos e gostos são muito parecidos, isso contribuiu ainda mais com a nossa aproximação e amizade. O sonserino, por sorte, aceitou os livros que ofereci e tenho notado a sua evolução e aprimoramento, Snape inclusive despertou o interesse de Slughorn.
Temos realizado inúmeras poções lado a lado, realizando alterações na composição e ingredientes utilizados, reduzindo o tempo e a dificuldade de sua realização. Entretanto, fui despertada quando ouvi o barulho familiar de asas batendo, inúmeras corujas entraram no local, inclusive a minha, ela se chama Nix, em homenagem a deusa.
"Strix varia", sua espécie, é uma coruja grande, de cabeça redonda que é muito difundida na América do Norte. Elas preferem viver em florestas e bosques e se tornam agressivas se perturbadas. Não é possível ouvir estas corujas, quando vão a atacar. Elas focam na cabeça durante o ataque, o que resulta em feridas graves.
Nix voou pelo salão principal e sua cor cinza chamou atenção, além dos olhos azuis, a quantidade de cartas e presentes foi muito além das expectativas. Suas garras afiadas e pontiagudas carregavam embrulhos de todas as cores, lembrancinhas de meus amigos do Brasil, corei ao perceber que era observada e o alvo da atenção coletiva.
Resolvi ignorar os olhares persistentes e comecei a ler as primeiras cartas, elas tinham breves resumos das aventuras vividas pelos bruxos brasileiros. Outras, exigiam respostas mais rápidas e extensas, entretanto, haviam excessões, algumas eram cheias de emoções positivas e saudades. Sorri enquanto lia cada uma delas, o nervosismo desapareceu.
- De quem são os presentes? - Indagou Cameron chacoalhando um dos embrulhos de cor azul com listras pretas.
- Meus amigos do Castelo Bruxo - Sorri e terminei a leitura de outra correspondência, a sensação de felicidade e realização inundou meu coração.
- Eles parecem gostar muito de você, eu estou com um pouquinho de inveja - Brincou Justin rindo, seus olhos dizendo justamente o contrário.
Dei uma olhada rápida sobre a mesa e identifiquei alguns doces, seria divertido fazer com que os lufanos provassem algumas das iguarias de meu país. Coloquei tudo dentro da bolsa, graças a um feitiço expansor, abriria os presentes quando tivesse tempo disponível, o momento foi reservado para estudo e preparo psicológico e emocional para a prova de DCAT, eu preciso garantir um "O".
- Nos vemos na sala - Sorri provocativa e os lufanos bufaram, ocupados demais lendo e tentando assimilar o conteúdo de uma hora para outra.
- Porque tão malvada, Jasmim? - Justin questionou irônico.
Bebi o restante do suco dentro do copo e segui andando pelo lance de escada, admito ter ficado impressionada com as escadas que se movem sozinhas. Cheguei ao corredor e os alunos da grifinória estavam por toda parte, a aula de DCAT é justamente com os leões e os bruxos costumam não ser pontuais, isso pode ser indício de desespero.
Os comprimentei ao longo do caminho e entrei na sala, ficando um pouco chocada ao ver que Sirius ocupou a mesma bancada que costumo usar. O grifano sempre se sentou ao lado de seus amigos, leões e texugos não tem o costume de sentar juntos, por mais que as conversas e brincadeiras sejam inevitáveis, os lufanos são receptivos.
Notei que um pouco mais adiante, Lilian parecia estar incomodada, ela tentava a todo custo conversar com James, ele por outro lado, não demonstrou o mínimo interesse. Me sentei do lado de Sirius e o garoto sorriu abertamente, a beleza do bruxo é indiscutível, sorri de forma educada e amistosa.
- Bom dia, Sirius - Comprimentei e abri o livro, lendo a última página restante.
- Bom dia, linda - Respondeu lançando o típico sorriso galanteador.
- Você está sentado do lado errado, seus amigos concordaram? - Questionei e ele riu, o som despertou a curiosidade dos estudantes no local.
- Estou aqui em missão - Sirius contou e identifiquei sinais de ansiedade em sua voz e postura.
- E que missão é essa? - Respirei fundo e agradeci por ter terminado a leitura, dando a atenção integral para Black.
- James quer outra chance de conversar com você - Ele informou e ergui a sobrancelha de imediato.
- E porque ele mesmo não vem aqui? É o mínimo que deveria ser feito - Insisti olhando para Potter tentando compreender do que sua mente é capaz.
- James gosta de você, Jasmim, e não é só gostar, ele sentiu o seu perfume na poção amortentia - Contou e perdi o fôlego.
- Ele gosta de mim? - Repeti incrédula, o que esse garoto tem na cabeça?
- Sim, por isso ele tem agido de maneira estranha ao seu redor, ele desmaiou porque o nervosismo foi demais para suportar - Ele riu conforme narrava os fatos.
Fiquei em silêncio tentando assimilar as reviravoltas inesperadas, será que James está sendo sincero ou é apenas uma brincadeira de mau gosto? Olhei para Potter e ele acenou e sorriu timidamente, seu rosto ficou corado e o cabelo castanho estava mais bagunçado e caótico que o habitual, seu óculos redondo e prateado era charmoso.
As palavras de Esther invadiram minha mente, "viva e experimente enquanto pode", é exatamente o que pretendo fazer, mas espero não me arrepender futuramente. James é sempre divertido e muito bonito, porém foi o principal responsável por causar dor à Snape ao longo de anos. Nenhum mal foi feito para mim, mas amigos em primeiro lugar.
- Eu não sei... - Murmurei indecisa, levei a mão até o cabelo e brinquei com as pontas soltas.
- O que? - Sirius ficou sério e o sorriso foi apagado do rosto.
- Seu amigo é muito bonito e gentil, mas o problema é que ele tem feito brincadeiras e piadas cruéis contra Snape, e eu jamais faria algo que fosse magoa-lo, é uma questão de lealdade - Respondi e Sirius acentiu.
- O ranhoso tem sorte de tê-la como sua amiga - Ele revirou os olhos, inconformado.
- O nome dele é Severo - Contrapus e os outros bruxos chegaram - É melhor ir para seu lugar, Anna está vindo - Sorri provocativa.
- Não gostou da minha companhia? - Ele desdenhou, mas guardou seus pertences e se apoiou na bancada de madeira.
- Adeus, Sirius - Acenei e o bruxo riu e foi para junto de seus amigos.
O restante do pessoal chegou e também o professor, a atmosfera densa era reflexo do nervosismo e ansiedade, sorri ao ver a reação de Anna ao ver a quantidade de questões no pergaminho. Peguei a pena e comecei a ler e a responder as perguntas, o pergaminho foi sendo preenchido aos poucos, o conteúdo foi de fácil entendimento.
Entretanto, meus colegas não pareciam ter a mesma facilidade, exceto por Lilian, ela também demonstrou genuína tranquilidade e serenidade. Após alguns minutos, terminei de responder a última questão e fiquei satisfeita e orgulhosa do resultado, levantei e caminhei até a mesa do professor, senti os olhares nas minhas costas, mas ignorei.
- Pois não? - Murmurou sem ao menos direcionar o olhar para mim.
- A prova, senhor - Estendi o pergaminho perfeitamente enrolado com um laço amarelo e preto.
- Pode se retirar, senhorita - O professor pegou a prova grosseiramente, não satisfeito com a rapidez com que concluí.
Virei e retornei para o meu lugar, peguei a bolsa e caminhei para fora da sala, surpresa com o comportamento hostil do professor, ele não deveria estar feliz que alguém demonstre interesse na matéria? Respirei fundo e andei até a biblioteca, é provável que encontrarei Severo por lá, o sonserino tem o período livre e prefere ficar sozinho e ler.