ULTRAVIOLENCE │ JASON TODD

By houndwolfz

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𝐔𝐋𝐓𝐑𝐀. 𝑨 cidade de Gotham é conhecida por criar criminosos de todos os tipos. Dos mais lunáti... More

𝗨𝗟𝗧𝗥𝗔𝗩𝗜𝗢𝗟𝗘𝗡𝗖𝗘.
𝙑𝙄𝙎𝙐𝘼𝙇𝙎 𝙄 . . .
𝙑𝙄𝙎𝙐𝘼𝙇𝙎 𝙄𝙄 . . .
𝗘𝗣𝗜𝗚𝗥𝗔𝗣𝗛.
#𝟬𝟬. PONTO DE PARTIDA
──── 𝖵𝖮𝖫. 𝒊 : 𝗜𝗡𝗖𝗢𝗡𝗦𝗧𝗔𝗡𝗧
#𝟬𝟭. ALGUMAS DESAVENÇAS
#𝟬𝟯. NOITE LONGA E AGITADA
#𝟬𝟰. PARA SALVAR UM PASSARINHO

#𝟬𝟮. PROCURANDO POR ALGO

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By houndwolfz

02. CAPÍTULO DOIS
PROCURANDO POR ALGO

SAN FRANCISCO
NOVEMBRO 14, 22H54

AS VEZES, QUANDO TUDO EM SUA CABEÇA SE TORNAVA uma completa confusão, Josie desejava retornar a tempos mais simples. O passado que, por mais doloroso que fosse, um dia já lhe trouxe algum tipo estranho de conforto. Era complicado, porém ao menos tinha um caminho para seguir. Ou melhor, alguém para seguir.

Ao respirar profundamente, levou a mão ao pingente do colar que usava. A ponta do dedo passando pelos entalhes e pela pequena pedra brilhante no tom escarlate. Foi involuntário, uma ação que fazia naturalmente quando estava pensativa ou aflita. Apenas uma pequena distração que a fez se lembrar do passado. Antes que pudesse imaginar, Josie se lembrou do seu tempo em Gotham.

As ruas frias da cidade pareciam ainda mais opressoras naquela época do ano. Por mais que fosse Natal e as ruas praticamente vazias, alguns retardatários ainda estavam perambulando pelas veredas da cidade. Barris queimavam lixo para aquecer os mendigos, outros estavam enrolados em cobertores gastos ou em abrigos improvisados de papelão. Naquela época, Baird havia deixado o Orfanato Martha Wayne a 1 semana. Depois de fugir de 3 orfanatos antes daquele, já havia aceitado que não tinha para onde ir.

Sua última oportunidade de se ajeitar foi naquele lugar. Não era um Orfanato ruim, nem de longe. Bruce Wayne havia trabalhado, garantido conforto para as crianças que poderiam ser o futuro de Gotham. Josie apenas não se via como alguém merecedora de tal ato. Talvez ela apenas estivesse acostumada com o pior que a vida tinha para lhe oferecer ou sua inconstância fosse um problema pertinente. Também tinha os traumas dos orfanatos anteriores, aquele que fechou porque não tinha mais verba; aquele onde as "irmãs" lhe davam castigos horríveis; aquele onde foi excluída das outras crianças. Era uma lista extensa de problemas pertinentes e tudo isso somava para que não conseguisse ficar. O medo da história se repetir era grande.

Caminhando com passos calmos, suas botas surradas deixavam pegadas sobre a neve fofa. As luvas que usava tinha furos para os dedos, por isso fazia o possível para aquecê-los antes que congelassem graças ao frio soprando um pouco de ar quente dentro das mãos em concha. Todas as roupas que tinha já estavam velhas, todas eram doações das antigas instituições em que esteve. Desde a touca que usava, até às meias que já estavam furadas pelo uso contínuo. Era no mínimo deprimente, porém ninguém realmente se importava com uma criança de rua.

Seu antigo melhor amigo, Jed, gostava de dizer que Gotham era feito de pessoas hipócritas. Todos diziam que faziam de tudo pela vida, pelo bem dos cidadãos e dos seus filhos, mas não faziam nada por aqueles que morriam no frio de dezembro. A verdade era: se você não era importante para sociedade, você não valia nada. Depois de um tempo, Josie aceitou o que Jed dizia, não apenas para Gotham mas sim para todo lugar. O mundo era feito de pessoas hipócritas. Porém também existiam aqueles que realmente estavam dispostos a ajudar. Algumas poucas almas pura de coração que realmente buscam pelo melhor no mundo ou que apenas cediam seu tempo para abrigar um gato de rua e conseguiam fazer toda a diferença.

Ao ajustar o casaco desbotado que vestia, os olhos brilhantes daquela Josie Baird de 13 anos observavam com atenção as luzes natalinas em uma loja de eletrônicos. As TVs na vitrine mostravam uma propaganda sobre uma família feliz e reunida para celebrar a ceia de natal. A mesa farta, os sorrisos, todos contentes e comemorando aquela noite. Aquilo era algo tão distante de sua realidade, porém algo que sempre almejou tanto. Principalmente saber quem eram os seus pais, como eles eram e qual o motivo que os levou a abandoná-la. Ao enxugar as lágrimas que nem havia percebido que derramou, fungou tristemente. Naquela época, aquilo era tão importante e a afetava tanto.

Tentando se recompor, ouviu um barulho alto de vidro sendo quebrado que lhe chamou atenção. Olhando para o lado, algumas poucas lojas de distância, viu uma vitrine quebrada e um corpo arremessado que deixou um rastro no meio da rua esbranquiçada pela neve. Aquela área estava mais vazia, as poucas pessoas que deveriam estar por ali estavam mais preocupadas em se aquecer. Bandidos aproveitavam o fato de polícias serem como retardatários nessa época do ano e cometiam alguns delitos. Ainda assim, tentavam ser o mais discretos possível, pois o Cavaleiro das Trevas se escondia na noite, apenas aguardando o momento certo para agir.

Enquanto observava, esperava para ver qual seria o próximo ato. Josie se perguntou internamente o que deveria estar acontecendo dentro daquela joalheria, quando algo lhe fez olhar para o lado oposto. Um brilho peculiar na calçada oposta a loja, algo cintilava graças a luz da lua perto de um carro estacionado. Com muita cautela, caminhou sobre a neve até aquilo que lhe chamou a atenção. Esticou a mão até pegá-lo nas mãos e assim pode notar que era um colar. O som de alguém se aproximando a deixou em alerta e Josie foi rápida em se esconder atrás do veículo.

── Nossa, vocês fizeram uma bagunça. ── disse uma voz feminina desconhecida. Era melódica e um pouco arrastada, quase como o ronronar de um gato. ── Decepcionante, garotos. Talvez da próxima vez não tentem atrapalhar os meus negócios.

Curiosa para saber quem era, Josie se esgueirou um pouco até conseguir ver a pessoa através dos vidros do carro. Seus olhos se arregalaram ao notar a mulher vestida com um collant preto apertado, a máscara de gato deixando bem claro quem ela era. A garota não precisava de muito para saber que aquela era Selina Kyle, a Mulher-Gato.

── É Natal, sabe? ── Selina continuou a divagar, enquanto remexia em uma bolsa marrom que deveria estar cheia de jóias roubadas. ── E eu estou apenas pegando os meus presentes. Papai Noel disse que fui muito má esse ano, mas quem se importa com aquele velho barrigudo, não é mesmo?

Kyle continuou a cantarolar, retirando um diamante da bolsa de viagem para observá-lo contra a luz fraca do poste. Ela parecia estonteante, tão impressionante e impotente. Fazia com que Josie quisesse ser como ela, ter a coragem que Selina tinha para pegar o que quisesse, quando bem entendesse. A Mulher-Gato não parecia ter medo do Batman, dos policiais ou dos vilões de Gotham. Josie desejava não ter medo, desejava conseguir as coisas brilhantes que valiam horrores e que seriam os suficiente para pagar não só umas, mas várias refeições decentes.

O homem no chão deu um grunhido, estando parcialmente acordado e bastante ferido. Seu parceiro, aquele que estava nocauteado dentro da joalheria, praticamente nem se mexia. Algo que fez Josie questionar se o bandido estava vivo ou morto. Foi um grande azar da parte deles tentarem roubar uma loja e acabar dando de cara com a Mulher-Gato.

Depois que terminou de vasculhar a bolsa, Selina deu alguns passos até aquele que estava caído no meio da rua e o empurrou com a ponta do sapato algumas vezes, como se estivesse tentando procurar alguma coisa que deveria estar com aquele homem. Não encontrando nada, ela bufou com puro descontentamento. Seus olhos perceptivos olharam em volta, vasculhando a área em busca daquilo que desejava. Quando os olhos vorazes da mulher olharam diretamente para ela através da janela, a respiração de Josie engatou e ela se abaixou o mais rápido que pode.

Fazendo o possível para se manter em silêncio e tentar a sorte, esperando que Selina realmente não a tivesse visto, a garota se encolheu enquanto dava as costas para o carro e abraçava o próprio corpo.

── Acho que você tem algo que me pertence, querida. ── Selina disse, após utilizar seu chicote para se mover rapidamente até a menina e cair em pé na frente dela. Algo que fez Josie arregalar os olhos, sem conseguir responder. ── O que? O gato comeu sua língua?

Josie abriu e fechou sua boca como um peixe fora d'água. O colar ainda envolto por sua palma fechada, enquanto ela olhava para a mulher à sua frente com olhos azuis esbugalhados e brilhantes, ainda tentando encontrar algo para dizer ou como reagir corretamente. Revirando os olhos em puro sinal de irritação, Selina decidiu prosseguir.

── Sorte sua que estou de bom humor. ── explicou a Kyle, ajeitando a bolsa no ombro esquerdo. ── Apenas me entregue o que eu quero e você pode voltar para os seus pais em paz, sem qualquer arranhão desnecessário.

O olhar de Selina de ergueu para o de passos sobre o vidro e uma arma sendo engatilhada. Isso também deixou Josie em alerta, mas chegou a mexer um músculo sequer do lugar em que estava.

── Sua vadia psicopata! ── O ladrão que estava desmaiado dentro da joalheria, espancando e cheio de marcas de unhas afiadas, gritava aquelas palavras para a Mulher-Gato com fúria. ── Você vai pagar por isso!

Quando os disparos ocorreram, Josie se assustou e seu primeiro instinto foi correr para longe dali o mais rápido que podia. Sem ousar olhar para trás, ela continuou correndo até encontrar o primeiro beco em que pudesse se esconder, não notando quando Selina fez questão de impedir que o homem atirasse na direção dela. O colar escarlate ainda estava em sua mão, sendo pressionado em sua palma fechada pelos seus dedos finos. Subindo em cima de uma lixeira, pulou até alcançar uma escada de incêndio dos apartamentos.

Ela continuou subindo até chegar no topo do prédio. Ofegante e um pouco cansada, Josie olhou em volta, conferindo o ambiente e se perguntando o que deveria fazer agora. Sem um lugar para ir, se sentia vulnerável à brutalidade das ruas de Gotham. Talvez, se tivesse um pouco de sorte, conseguiria abater alguma carteira pelo caminho ou arrumar alguma caixa para dormir. Não retornava à antiga rua onde costumava a passar a noite desde um incidente que se envolveu no passado. Apenas a pequena lembrança daquele momento a deixava com os olhos marejados.

Não chegou a dar nem dois passos em direção a uma outra laje, antes de sentir algo envolvendo sua cintura. Olhando para a baixo em surpresa, Josie se viu sendo arrastada por um chicote preto e, antes que pudesse perceber, estava aos pés de uma Selina Kyle furiosa.

── O que você fez não foi muito legal, garota. ── Disse a mulher que a encarava seriamente. ── Minha paciência tem um certo limite e aquele idiota lá embaixo já levou metade dela. O colar, agora!

Josie ainda tentou se soltar, fazendo o possível para forçar o chicote e arrebentá-lo, porém não era tão simples quanto ela esperava que fosse. Vendo as tentativas fracassadas dela, Selina riu.

── Que tal ao invés de tentar se soltar, você tentar ser obediente e me entregar o colar? ── Perguntou Selina, arqueando uma sobrancelha para ela. Algo que foi imperceptível por conta da máscara com orelhas de gato que utilizava.

── Se você me soltar, eu te dou o colar. ── Disse Josie, parando de se mexer e olhando para Kyle.

── Acha mesmo que vou cair nessa? Garota, eu não sou estúpida.

── Não estou mentindo, estou falando sério. ── Ela respondeu, entre dentes. ── Apenas me solta e eu prometo que não vou tentar fugir.

── Mesmo se você tentasse, duvido que conseguiria. ── Murmurou Selina, sorrindo ladino. ── Vou soltar você e, se correr, vou te deixar pendurada em alguma chaminé igual um duende do Papai Noel. Capiche?

Revirando os olhos, Josie assentiu.

── Ótimo, agora isso é um combinado. ── a mulher disse, desenrolando a cintura da garota do chicote e a deixando caída naquele chão frio e coberto de neve. ── Cumpra a sua parte.

── Certo, certo. ── resmungou Baird, limpando a neve da roupa e fazendo o possível para ficar de pé, mesmo se sentindo um pouco dolorida pela queda. ── Tá aqui seu colar.

Estendeu o objeto na direção de Selina, que não pensou duas vezes antes de retirá-lo das mãos magras da garota. Josie decidiu que estava cansada demais para correr e que não valia fazer aquilo tudo por um colar. Pelo menos não com alguém como Selina Kyle. Também não estava afim de ficar presa em nenhuma chaminé.

── É só um colar. ── Disse Josie, enquanto observava Selina guardá-lo dentro da bolsa, junto das outras jóias roubadas. ── Não precisava disso tudo.

── Fala isso porque não é você que ficaria com uma corda em volta do pescoço, caso não cumprisse o combinado. ── Selina respondeu. ── Volta pra sua casa, pros seus pais. Talvez eles te ensinem que a vida não é tão simples assim.

── Se você souber quem eles são, peça para que façam isso. ── Josie debochou, soltando um riso de escárnio. Selina engoliu o seco, claramente mexida pela fala da garota. ── Não me olhe assim. Tenho certeza que não sou a primeira órfã que você conhece.

── Você pelo menos tem alguém pra quem voltar? ── Selina a questionou. Josie negou com a cabeça. ── Não deveria estar em um orfanato ou algo assim?

── Eu fugi. ── Respondeu, ríspida.

── E por que você fez isso?

── Porque eu quis. ── Disse Josie, com os braços cruzados. Sorrindo com presunção, ela encarou Selina.

── Sabe, esse seu jeito não é nada agradável. ── Selina ajeitou a bolsa sobre o ombro. ── Mas eu não te julgo por fugir do orfanato. Já tive a minha cota de alguns na idade. ── ela respirou fundo. ── Você tem pelo menos algum lugar para passar a noite?

── Por que está tão preocupada? Eu posso me virar sozinha. ── Josie respondeu, franzindo as sobrancelhas.

── Estou apenas tentando ser legal. ── Kyle deu de ombros.

── Depois de me derrubar com o seu chicote e me ameaçar? ── Josie arqueou uma sobrancelha para ela.

── Você meio que pediu por isso, então não reclame ── Selina respondeu, rindo fracamente. ── Mas agora eu tô tentando ser legal com você. Deveria ao menos ficar agradecida. Eu poderia facilmente te prender apenas por ter tentado fugir com o meu colar.

── O colar que você roubou. ── Corrigiu.

── Isso é apenas um detalhe. ── Disse a Mulher-Gato, dando de ombros casualmente. Cansada daquela discussão infantil, Selina suspirou pesadamente. ── O que quero dizer é que vou tentar fazer uma boa ação pra você só porque é Natal.

── Nossa, como você é adorável. ── debochou Josie.

── Você é tão irritante. Até que gosto disso em você. ── Murmurou Selina. Um sorriso divertido cresceu em seus lábios em seguida. ── Você tá com fome? Eu tô morrendo de fome. Depois de um roubo tão bem sucedido, nada melhor do que comer alguma coisa. Você pode passar essa noite no meu apartamento se quiser, mas depois disso pode meter o pé. O que acha?

Parando para pensar por alguns minutos, Josie ponderou suas opções. Não tinha escolhas muito agradáveis e aquela era uma proposta que não poderia deixar escapar.

── Pode ser. ── respondeu, assentindo com a cabeça.

── Ótimo. É só você me seguir... qual é o seu nome mesmo? ── perguntou Selina. Dando as costas para a garota. ── Você tem um nome, certo?

── É Josie. ── Ela respondeu, começando a seguir a mulher mais velha. ── Meu nome é Josie.

Depois daquele dia, Selina manteve Josie por perto. O que era pra ser apenas uma noite dormindo no sofá se tornou anos de parceria. Josie até conseguiu ficar com aquele colar ── depois de Selina negociar por ele e ter que pagar a Fish fazendo um trabalho a mais ── e, como uma forma de agradecer, alguns anos depois ela deu um parecido para sua mentora. Aquela lembrança fez a garota sorrir.

Se aconchegando naquele memória, elevou mais o objeto. A luz do abajur refletiu sobre a pedra entalhada, que quase lembrava um coração, e Josie teve um vislumbre de algo dentro. Ela franziu as sobrancelhas, sua mente se enchendo de dúvidas enquanto analisava melhor o que havia notado. Quando algo finalmente clicou em sua mente, seu olhos se arregalaram e Baird soltou uma respiração exasperada.

── Selina, sua filha da mãe. ── Josie murmurou para si mesma no silêncio daquele quarto. Seu olhos estavam focados naquele pingente e no que sabia que estava ali dentro. ── Não acredito que você fez isso.

Após tomar um banho rápido e trocar de roupa em seu quarto, saiu caminhando apressadamente pelos corredores da torre com o chip que retirou de dentro do pingente no bolso da calça de moletom. Deu um certo trabalho partir o pingente ao meio sem comprometer o conteúdo de dentro, entretanto Josie esperava que tudo estivesse certo. Aquela poderia ser sua única oportunidade.

Pensando em conferir o ambiente antes de dar início ao seu plano, ela observou Garfield, Rachel e Jason sentados no sofá, assistindo ao noticiário local que transmitia uma perseguição ao vivo a uma garota de cabelos platinados.

Em outras circunstâncias, Baird teria se juntado a eles, mas agora tinha objetivos mais pertinentes para se preocupar. Dispersando a curiosidade de sua mente, respirou fundo e ajeitou a postura para poder falar naturalmente e chamar a atenção apenas o suficiente. Não precisava de nenhum deles se intrometendo no que planejava.

── Onde está o Dick? ── Josie perguntou em alto e bom som. As cabeças se viraram momentaneamente na sua direção, mas logo retornaram ao que achavam mais interessante.

Jason soltou um riso de escárnio, fazendo questão de ignorar a pergunta da garota como se estivesse no ensino fundamental novamente, deixando claro para ela que seu ego ainda estava ferido. Evitando começar uma discussão, Josie fez o mesmo e o ignorou, com um revirar de olhos imperceptível.

── Ele saiu já faz alguns minutos. ── Rachel respondeu, olhando para ela com uma sobrancelha arqueada. ── Está mais calma agora?

── Estou tranquila. A mais pura tranquilidade. ── afirmou Josie, com um sorriso forçado e se mexendo de forma inquieta. ── Bom, eu ia pedir desculpas pro Dick antes de ir dormir, mas como ele não está aqui agora, vou deixar pra fazer isso amanhã.

── Você ia... pedir desculpas pro Dick? ── Garfield perguntou, um pouco incerto. Sua testa estava franzida e suas expressões deixavam claro a confusão que se passava em sua mente agora.

── Claro. Percebi que peguei muito pesado com ele. ── Tentou manter um sorriso confiante, disfarçando o tom de deboche em seu tom de voz. Levando a mão ao coração, com falsa sensibilidade, Josie prosseguiu ── Não deveria. Agora estou profundamente arrependida.

── Ou essa é você amadurecendo, ou vai explodir o carro do Dick. ── disse Rachel, ainda um pouco desacreditada nas palavras proferidas pela a Baird.

── Eu sei ser madura quando quero, Rachel. ── respondeu Josie. ── Mas se fosse pra descontar minha raiva em alguém, com certeza não seria no Dick. Você sabe, tenho minhas prioridades.

Seu olhar encontrou o de Jason por um momento, os dois transmitindo pura irritação, porém nenhuma palavra foi trocada entre os dois. Isso fez Josie pensar na possibilidade de Dick ter tido mais uma longa conversa com Jason sobre tentar não perder o controle por causa da garota. Nem sempre ele deveria levar as provações dela tão a sério e, naquele momento, Todd deveria estar se segurando.

Apreciando isso, Josie decidiu encerrar sua noite antes de perder o foco no que era importante. Com uma mão no bolso na calça de moletom cinza, ela girou o pequeno chip rastreador entre os dedos.

── Como eu disse antes, estou indo dormir. ── Disse dando alguns poucos passos em direção a saída da sala. ── Vejo vocês amanhã.

Com alguns murmúrios de boa noite, Josie deixou o ambiente e voltou a caminhar pelo corredor dos quartos até a sala de controle da torre. Abrindo a porta e a fechando depois de entrar, encarou os computadores por um momento antes de respirar fundo e puxar a cadeira para se sentar. Já havia estado ali antes, pelos menos várias vezes quando Dick deixava ela participar da busca por Selina. Analisaram as últimas filmagens da Kyle pela cidade, seus últimos rastros deixados e até tentaram rastrear o celular da gata.

Tudo o que tinha a levou para um beco sem saída como se sua mentora tivesse simplesmente desaparecido. Sem respostas. Sem um caminho pra seguir. Foi como andar em círculos. Por isso rezava aos céus para o seu mais novo plano a levar para algum lugar. Ao colocar o chip para ser analisado pelo computador, aguardou pelas respostas. Talvez conseguisse descobrir para onde os sinais de sua localização estavam sendo enviados e assim achar Selina.

Não sabia muito sobre como mexer naquele computador, mas Garfield garantia sempre que não era tão difícil. Sabia onde analisar as câmeras, fazer pesquisas e ativar as medidas de segurança caso fosse necessário. Era o básico e Josie compreendia que aquela tecnologia Wayne poderia fazer muito mais do que ela poderia imaginar. Apenas tinha que ter paciência para aprender, porém isso era o que mais lhe faltava.

Tamborilando os dedos na bancada, esperando as leituras terminarem, Josie mudou uma das outras telas para poder conferir as câmeras. Todos os três continuavam na sala, conversando e assistindo TV, e não havia qualquer sinal de Dick pela torre. Nem mesmo na entrada do prédio até então.

Quando o computador terminou de analisar o chip, Josie conseguiu algumas informações significativas sobre os componentes daquela tecnologia, uma varredura inteira sobre cada circuito e até mesmo a quanto tempo estivera ativo. Porém, a única coisa que realmente lhe chamou atenção, foi o fato de um sinal semelhante àquele ter sido emitido em alguns lugares aleatórios de San Francisco, em dias que ela sabia que não esteve fora da torre ou estava em um lugar oposto.

── O que diabos isso significa? ── Perguntou para si mesma, enquanto tentava obter mais informações. ── Onde você arrumou essa coisa, Selina?

Seus dedos foram ágeis pelas teclas, tentando fazer uma pesquisa mais a fundo. Graças a sua cabeça girando por tantas perguntas sem respostas, Baird quase não percebeu o carro de Dick entrando no estacionamento da torre. Ela bufou em irritação, percebendo agora que seu tempo estava mais curto do que antes.

── Merda. ── Praguejou baixinho, mudando as câmeras para vigiar os titãs que ainda estavam na sala. Jason estava se levantando para ir em algum lugar e, temendo que ele acabasse descobrindo o que ela estava fazendo, Josie decidiu encerrar sua noite guardando o rastreador em seu bolso. ── Certo, acho que posso continuar com isso amanhã.

Apagando seus rastros e desligando todos os computadores, deixando passar o momento em que Dick entrava acompanhado na torre, Josie saiu da sala. Trancou a mesma e foi o mais rápido o que pode para o seu quarto, decidida a tentar ao menos fingir estar dormindo. Algo que dificilmente conseguiria fazer com o tanto de pensamentos que tinha na sua cabeça naquele momento.

Depois de horas rolando para vários lados na cama, Josie se viu olhando para o teto do quarto. Ansiosa e muito tentada a sair novamente para ir na sala de controle, esperava que todos já tivessem ido dormir como era o esperado. A torre estava extremamente silenciosa agora, os murmúrios do lado de fora haviam cessado. Josie esperava que Dick tivesse mandado todos os outros para a cama.

Abrindo a porta de seu quarto, ela observou os dois lados do corredor, até avistar um vulto indo na direção dos elevadores. Franzindo o cenho, ela se perguntou quem estaria saindo da torre em uma hora tão ínfima. Caminhando nas pontas dos pés até a pessoa, observou os cabelos platinados da garota que estava de costas para ela e tentava utilizar sua digital para sair da torre. Como já esperado, havia sido negada.

── Você não vai conseguir sair daqui dessa forma. ── Disse Josie, assustando a garota que olhou para ela com um olho arregalado. O outro estava coberto por um tampão. ── Quem é você?

Observou o momento em que ela ficou tensa, perto de partir para cima e começar uma luta. Buscando amenizar a situação, Josie prosseguiu cautelosamente.

── A minha digital funciona. ── Ela explicou, apontando na direção do elevador. ── Se quiser, posso te ajudar com isso. É só você não tentar me matar. Temos um trato?

Josie deu alguns passos em direção a garota desconhecida, as duas girando uma na direção da outra, tentando manter uma distância favorável. Desconfiança pairando no ar, Josie estava fazendo o possível para não parecer ameaçadora. Quando finalmente consegui chegar até o elevador e ao leitor de digital, ouviu um pigarro atrás de si.

── Estão indo a algum lugar? ── Disse Dick, descontente. Baird suspirou pesadamente antes de se virar para ele e o encarar de volta. A garota ao seu lado também parecia decepcionada por não conseguir fugir.

Rachel, Garfield e Jason apareceram em seguida. Para a irritação de Josie, todos eles estavam bem acordados e olhavam para ela com certa curiosidade e presunção. Ela queria revirar os olhos, porém se conteve.

── Você ia fugir? ── Rachel perguntou, com os braços cruzados.

── Não, mas ela sim. ── Josie apontou na direção daquela de cabelos platinados. ── Eu só estava dando um passeio pela torre. Nada demais.

── Não é o que parece. ── Disse Jason, olhando com satisfação por ver Josie encurralada. O sorriso nos lábios dele a estava irritando fortemente, mas ela não deixaria isso transparecer. ── A gente não vai cair nessa, sabe disso né?

── Que tal você não se intrometer? ── Perguntou a ele, com os braços cruzados.

Rachel repreendeu Jason, impedindo que ele desse alguns passos a frente com sua postura presunçosa. Percebendo que o melhor a fazer era terminar tudo ali, antes que começasse uma discussão desnecessária, Dick pediu que todos fossem para os seus respectivos quartos e que conversaria com Rose a sós. Ele também fez questão de explicar a Josie o que a garota estava fazendo ali.

Sem se opor a ele, todos retornaram para os quartos. Ainda um pouco frustrada pelo fraga, Josie passou por Dick por último. Até ele chamar seu nome e a fazer parar de caminhar.

── Sei que é frustrante pra você estar aqui e não poder fazer nada pra encontrar a Selina. ── Disse Dick, com sinceridade. ── Mas eu juro que estou fazendo o possível e impossível para encontrá-la. Você só tem que esperar mais um pouco.

Ela olhou para ele em silêncio inicialmente. O resposta petulante na ponta da língua, porém decidiu evitar. Desviando o olhar, Josie suspirou. Ponderando sobre as palavras dele, sua reação não foi muito além de balançar a cabeça afirmativamente e dar um sorriso mínimo para Dick, antes de abrir a porta de seu quarto e entrar.

Sua mente já estava muito bem decidida sobre o que iria fazer. Se desejava seguir sozinha dali pra frente, precisava ao menos fingir concordar com os outros. Era questão de se adaptar ao seu ambiente e ser mais perspicaz do que aparentava ser. Já que não conseguiria a ajuda deles, faria tudo sozinha.

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