INNOCUOUS ☯ jjk + pjm

By asterllus

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[EM ANDAMENTO] Durante dias bucólicos completamente normais na cidade onde nada acontece, o imprevisto é raro... More

prologue 🐾
1. bad lucky and rain🐾
2. scratches🐾
3. dreams 🐾
4. your throat here🐾
5. trust🐾
6. cotton candy🐾
7. sweet poison🐾
8. HIM🐾
9. touch me tightly🐾
10. intrusive thoughts 🐾
11. what do you want?🐾
13. it's not just a song🐾
14. the truth untold🐾
15. missing you 🐾
16. déjà vu 🐾
17. poisoned games🐾
18. in love 🐾
19. date 🐾
20 . SAFE 🐾

12. mixed feelings🐾

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By asterllus

#SWEETP0ISON

AVISO DE GATILHO: tem uma cena de crise de ansiedade. Se preferir pular, deixarei um * avisando quando começa e quando termina.

Nunca pensei que ficar sozinho em minha própria casa me lembraria tanto alguém que mal passou tempo aqui, mas que eu o via em cada canto.

E não sei se essa pessoa é Jungkook ou Misuk.

Porque mesmo que eu queira esquecer de vez que Jeon Jungkook existe, não pensar no quanto ele deve me odiar, sua imagem gruda em minha mente. Então mesmo que eu não queira, eu olho para meu sofá e o vejo ali; olho para onde sua jaqueta está pendurada na cadeira, ao lado da blusa dele que eu acidentalmente trouxe para casa, e me seguro para não me vestir com elas, me deitar e ficar sentindo o seu cheiro em mim. Tento não fingir que eu queria que ele estivesse aqui, e não malditas peças de roupa, e às vezes não consigo evitar levá-las ao meu nariz e o senti-lo ao menos um pouquinho.

Já com Misuk, é diferente. Eu o odeio completamente por tudo que me fez passar e ainda faz. Porque mesmo depois de dois meses longe dele e de toda sua toxicidade, ele ainda está impregnado em mim, mas fui idiota por perceber tarde demais. O odeio porque o vejo em minhas atitudes; em minhas relutâncias quando me arrumo; no jeito que negligencio qualquer pensamento amoroso; no jeito que sinto medo de me aproximar de outra pessoa romanticamente e me odeio por o comparar com alguém que não tem nada a ver.

Odeio-o ainda mais porque eu tenho medo de me apaixonar por Jungkook. Ele me olha como ninguém jamais me olhou, me trata de uma forma que eu definitivamente não conhecia e me cobiça de um jeito pateticamente bom.

E mesmo depois disso tudo, Jungkook ainda me faz sentir desse jeito.

Ele sabe o que quer e como me quer. Já eu, tenho receio de o querer tanto assim e não conseguir mais parar; de me apegar de um jeito dependente que me deixe mais destruído. Só não sabia que, mesmo fingindo e tentando negar, eu já o quero mais que tudo. E quero tanto que me sinto envergonhado de admitir depois de tanto tempo negando, porque ele estava certo em cada palavra que disse na última vez que nos encontramos.

Agora que não o tenho nem mais como amigo, é difícil admitir que de tanto o rejeitar, acabei me apaixonando pelo seu sorriso gentil, seu olhar terno e seu toque macio.

O festival estava a um dia de acontecer, então todos estavam muito ocupados. Mesmo assim, antes de irem ajudar a organizar o que faltava, Taehyung, Yoongi e Namjoon passaram na minha casa pela manhã para ver como eu estou e me fazer companhia. Os meninos acabaram descobrindo sobre a minha briga com Jungkook, e não porque Taehyung contou, mas porque aparentemente um de seus primos ouviu quando havia subido para fazer alguma coisa.

Entretanto, me senti melhor por simplesmente saber que meus amigos gostam de mim e se preocupam comigo a ponto de ficarem para assistir um filme, mesmo que tivessem que estar em outro lugar.

ㅡ Pelo amor de Deus, que filme ruim. ㅡ Namu diz assim que os créditos começam a subir na tela. Ele estava sentado na poltrona, com Nébula dormindo em seu colo.

ㅡ E não é? ㅡ Yoongi também comentou, cruzando os braços. Ele estava deitado no sofá, com os pés em Taehyung e a cabeça em meu colo, enquanto eu acariciava os fios de seu cabelo. ㅡ Que sem graça. Era pra ter sido um fantasma, e não uma pessoa de verdade. A casa nem assombrada era!

ㅡ Nunca mais vou assistir essa porcaria na minha vida. ㅡ Taehyung concorda depois de fazer um som desgostoso. Ele olha as notificações de seu celular rapidamente, respirando fundo. ㅡ Temos que ir, Ji...

ㅡ Ah, tudo bem. ㅡ Sorrio serenamente, mesmo que no fundo eu esteja um pouco triste por eles terem que partir.

ㅡ Você não vai mesmo? ㅡ Yoongi me pergunta, me olhando um pouco melancólico.

ㅡ Não. ㅡ digo, porque eu até queria ir, mas não seria bem vindo. ㅡ Jungkook deixou bem claro que não quer me ver, então acho melhor não ir...

Namjoon ia começar a falar, mas surpreendentemente a campainha do meu apartamento ecoou ao ser tocada. Todos nos olhamos com dúvida, já que fora Namu quem os trouxe de carro e os outros estavam muito ocupados para simplesmente vir me ver. A pessoa do outro lado impacientemente bateu na porta com certa força três vezes, então Taehyung fez uma careta e se levantou para abri-la.

ㅡ Tia? ㅡ ele disse, então eu arregalei meus olhos instantaneamente. ㅡ Oi! O que faz aqui?

ㅡ Surpresa! ㅡ Minha mãe entra com um grande sorriso e os braços abertos, mas murcha toda ao ver que estou acompanhado, principalmente ao ver Yoongi deitado em mim. Quando percebe, ele se senta rapidamente. ㅡ Estava devendo uma visita ao apartamento do Jimin, espero que eu não tenha atrapalhado nada.

ㅡ Não, mãe. ㅡ me pronuncio pela primeira vez, me levantando e finalmente indo até ela, abraçando-a relutantemente. ㅡ Estamos apenas vendo um filme. Esses são alguns dos meus novos amigos no qual eu te falei. Esse é Yoongi e esse é o Namjoon. ㅡ Me viro para os meninos, sorrindo forçadamente e mandando um sinal com os olhos que ela não pode ver. ㅡ Gente, essa é minha mãe, Park Soohyun.

Yoongi e Namjoon se curvam respeitosamente, e minha mãe retribui minimamente. O ar fica negativamente tenso quando ela começa a andar pela casa, reparando nos detalhes do meu lar, procurando algo que pudesse julgar.

ㅡ A decoração ficou muito bonita, Jimin. ㅡ ela diz, com os braços cruzados enquanto pego a mala que ela deixou na porta aberta, que fecho rapidamente para que não corresse risco de Nébula fugir. ㅡ Quem te ajudou a arrumar?

Suspiro. Sabia que ela faria esse tipo de coisa, sempre disposta a me lembrar de coisas ruins na minha vida achando que isso me faria "tomar um rumo na vida".

ㅡ Foi Misuk. ㅡ respondi, abaixando a cabeça.

ㅡ Nossa, olha a hora! ㅡ Taehyung disse olhando o relógio em seu pulso, então Namjoon e Yoongi fingiram estar chocado também. ㅡ Estamos... cinco, dez, quinze.... vinte minutos atrasados!

ㅡ Puts! Verdade! ㅡ Yoongi colocou as mãos na cabeça dramaticamente.

ㅡ Poxa, é uma pena termos que ir e não poder conhecer mais a senhora... ㅡ Namjoon foi o que pareceu mais sincero, sorrindo encantadoramente mostrando as covinhas.

ㅡ Tudo bem, queridos. Vou ficar a semana inteira, assim podemos nos conhecer melhor, sim?

Tive que segurar muito para não demonstrar minha expressão de desgosto ao saber que ela ficaria mais que dois dias. Seria a semana mais difícil da minha vida, e eu não sabia o que fazer. Não que eu não gostasse da minha mãe, mas conviver com ela poderia ser incrivelmente insuportável.

Depois de se despedirem apressadamente por estarem um pouco atrasados, os meninos finalmente partiram. Na porta, Taehyung me lançou um olhar sereno e comunicativo, como quem diz "Boa sorte!". Conseguinte, minha mãe continuou a analisar minha sala de estar, passando o dedo nas prateleiras um pouco empoeiradas e fazendo careta, que desmanchou ao erguer as sobrancelhas ao que conheceu Nébula.

A reação dela fora melhor do que eu esperava, mas nem sempre tudo são flores.

ㅡ Tão fofa ela, Jimin! ㅡ Ela tinha minha gatinha em seu colo, fazendo um carinho na sua cabeça. ㅡ Mas você deveria ter adotado um cachorro, que é amigo do homem.

Sério, qual a porra do problema dela?

ㅡ Ela estava na chuva, mãe. Não pude deixar ela lá. ㅡ Não fazia nem vinte minutos que ela havia chegado e eu já me sentia mais exausto do que antes.

As próximas horas foram ainda mais difíceis, já que tive que ouvir de suas críticas quanto a absolutamente tudo, desde a mísera louça na pia ao porta-retratos vazios na estante da televisão. Logo em seguida ela contou histórias sobre meu pai, que não se importava mais comigo a ponto de não querer me visitar ou falar comigo. Depois, ela seguiu com tentativas de mostrar possíveis garotas com potencial para ser minha parceira.

ㅡ Estou sem comida porque ainda não fiz as compras do mês, quer ir comer fora? ㅡ pergunto, incentivado a levá-la para conhecer a cidade.

ㅡ Tá sem dinheiro? Com o que anda gastando o que seu pai e eu enviamos para te ajudar? ㅡ ela pergunta num tom rude de repreensão. Pela sua insinuação, já parece que quer dizer que gasto todo meu dinheiro com drogas e prostituição.

ㅡ Não estou. Apenas não tive tempo apropriado para ir ao mercado. ㅡ Suspiro, me sentindo mentalmente cansado.

Em meu quarto, pela primeira vez, fico um pouco "desleixado" ao me arrumar. Procuro a roupa mais simples e "masculina" o possível, e tudo que consigo encontrar é uma jeans azul com rasgo apenas no joelho direito um pouco justa, uma camisa branca sem estampa e meus all stars brancos. O mais neutro o possível, mas mesmo assim não deixo de me sentir bonito. Entretanto, não passo nenhuma maquiagem.

Depois de chamar minha mãe para finalmente irmos até o restaurante que mais gosto e fica mais perto da minha casa, andamos devagar pelas calçadas de Afogados, enquanto eu mostrava algumas coisas das ruas movimentadas da cidade.

Quando chegamos ao lugar onde iríamos comer, vi uma das poucas vezes Park Soohyun ficar impressionada por um local, mas não a julgo, pois na primeira vez que fui também fiquei assim. As janelas que davam vista a calçada iam do teto ao chão; as mesas eram todas brancas e com cadeiras com estofados cinza acompanhando; a decoração por dentro, ainda mais bonita, já que a luz do sol iluminava praticamente todo o balcão preto e as paredes também cinzas davam um contraste moderno.

ㅡ Não sei se tenho o suficiente comigo para pagar para nós dois ㅡ me pronuncio, olhando minha carteira, reparando que havia esquecido o que eu traria em cima da cama e dando conta que não havia trago o suficiente. ㅡ Esse lugar é um pouco caro, então se quiser ir em outro...

ㅡ Você tá muito desatento, Jimin. ㅡ ela responde, a postura erguida e o olhar superior, como se ao menos eu estivesse ali. ㅡ Não sei como anda conseguindo sobreviver sozinho. Eu pago o meu, você o seu.

ㅡ Certo. Desculpe. ㅡ peço.

Ao sermos redirecionados para a mesa com apenas dois lugares perto da janela, minha mãe foi a frente enquanto eu fui atrás, olhando para baixo o tempo inteiro ao me sentir tão reprimido pela sua presença e suas palavras duras. Durante todo momento fiquei em silêncio, falando apenas para fazer meu pedido ao garçom, comendo sem conversar apropriadamente, apenas concordando com o que quer que ela estivesse dizendo.

Tão absorto ao manter minha cabeça baixa, sou pego desprevenido quando senti meu celular vibrar com a notificação de uma nova mensagem.

Jinnie:

olha pra frente, rabudo.

Tive certeza que, após ler a mensagem de Jin, meu coração parou por um segundo inteiro e meus olhos pularem para fora enquanto o via sorrindo da outra mesa bem em frente a nossa.

E também senti meus batimentos cardíacos acelerarem ao ver seu irmão bem ao seu lado, usando o cabelo com leves ondinhas solto e repartido ao meio, tapando a parte raspada na lateral. Ele usava uma blusa preta de mangas longas, cobrindo todas as tatuagens dos braços, menos a do pescoço, que continuavam bem amostra. Ele ri lindamente de algo que haviam dito, com os olhos grandes enrugando um pouquinho e a pintinha chamativa em baixo do seu lábio, junto com o piercing. Seu riso é o meu favorito, mas o ouço morrer aos poucos quando nossos olhos se encontram e ele percebe minha atenção em sua mesa, principalmente nele, então todo o ar em mim fica subitamente pesado. Jungkook tomou um pouco de sua bebida, desviando o olhar de mim e se voltando para a conversa com as pessoas em sua volta, que reparo serem os membros de sua família. Tudo que consigo imaginar é o quanto ele deve me odiar agora, enquanto eu sequer me acostumei com a avalanche de sentimentos acumulados que tenho por ele.

Jin acenou para mim, então como mágica toda sua família me percebeu e se virou em minha direção. Exceto por ele, que mesmo estando longe, está de frente para mim, mas ainda continuava a me ignorar, depositando toda sua atenção em seu prato.

ㅡ Jimin? ㅡ então Juhyun é a primeira a falar comigo, estando mais próxima e de costas. Ela se virou, sorrindo de orelha a orelha ao me ver. ㅡ Nem te vi aí, querido! Como está?

Me acostumei tão rapidamente a forma carinhosa que Juhyun me chama que, nesse momento, demoro a perceber a carranca confusa de minha mãe, esquecendo um pouco sua presença e o modo que ela faz eu me sentir. Os sobrinhos da progenitora Jeon, assim como seu marido, me cumprimentaram sem se levantar da mesa, todos com tom muito animados e aparentando estarem realmente contentes em me ver. Meu sorriso se tornou tão grande por ter os encontrado que eu mal enxergava, pois chegava aos meus olhos.

Antes que eu pudesse impedir, Seokjin e Juhyun se levantaram para vir até minha mesa, ficando de pé ao lado e sorrindo amigavelmente para minha mãe e eu. Minha mãe sorria educadamente, parecendo interessada em conhecê-los. Consegui ver Jungkook os observar com o olhar, mas parar quando Hajun sussurrou algo em seu ouvido que o fez me olhar, então desviei o meu imediatamente.

ㅡ Olá, prazer em lhe conhecer! Sou Jeon Juhyun, e esse é meu filho, Seokjin. ㅡ ela se apresenta elegantemente, assim como também estava vestida, com um bonito vestido rosa pastel de um pano chique que grita caro. Consigo reparar o exato momento que o sorriso da minha mãe passa de sincero para um falso, e fico me perguntando o porquê, já que na presença de outras pessoas ela costuma bancar a mãe carinhosa.

ㅡ Park Soohyun. ㅡ minha mãe soa um pouco antipática, mas isso não parece impressionar Juhyun, ao contrário de Seokjin, que me olhou de soslaio. ㅡ É igualmente um prazer te conhecer.

Um silêncio constrangedor paira, pois minha mãe passou a comer a própria refeição e começou a ignorar a presença das pessoas que vieram nos cumprimentar.

ㅡ Jiminie! ㅡ Jin quem fala primeiro, chamando-me ao que eu abro um sorriso sincero por vê-lo. ㅡ Está preparado para o festival?

Olhei-o de forma confusa, pois pensei que soubesse que não iria e de toda a situação que me fez negar a possibilidade. Desvio meu olhar para o motivo de não querer comparecer a tal evento e, surpreendente, o pego me olhando com a cabeça apoiada na mão e o cotovelo na mesa, com um olhar um tanto melancólico, mas parecendo repleto de saudades. Ou talvez eu tenha passado a projetar meus sentimentos em suas ações, pois eu sinto falta de tudo o que o envolve, até mesmo quando me estressa. Jungkook desvia o olhar imediatamente, fingindo prestar atenção em Jihoon que estava em sua frente, falando animadamente sobre algo que me deixa curioso e me faz sentir falta da família deles. Um suspiro escapa pelos meus lábios ao tentar forçar um sorriso e negar com a cabeça.

ㅡ Eu não vou poder ir, achei que tinha te falado... ㅡ explico meio cabisbaixo, pois desapontar eles era o que menos queria. ㅡ Minha mãe acabou de chegar de viagem, prometi levá-la para ver as cachoeiras.

Mentira. E ela sabia que era, pois me lançou aquele olhar julgador que me atormentava, pois sabia que eu sequer pretendia fazer isso. E eu sabia exatamente o que significava esse olhar, era pura arrogância e confirmação de que eu precisava de "disciplina".

ㅡ Não seja por isso! ㅡ Juhyun abre um grande sorriso e se vira para minha mãe, que tem sua atenção a ela. ㅡ Soohyun-ssi, minha família irá realizar um festival de caridades amanhã no fim da tarde, no quintal de minha casa. Meu filho mais novo e meus sobrinhos irão se apresentar com uma banda, e outras pessoas talentosas também irão nos ajudar a arrecadar dinheiro para as ONGs da cidade. Também vamos ter algumas barraquinhas de comida, bebidas e artesanatos. Gostaria de participar?

Minha mãe desvia o olhar dela para o prato novamente, largando os talheres lá dentro e bebendo um longo gole de sua água. Fico constrangido, pois a possibilidade de ela apenas ignorá-la ou dizer algo rude me atormenta momentaneamente, mas felizmente ela não havia perdido a educação, ainda.

ㅡ Juhyun-ssi, agradeço pelo convite, mas terei que recusar. Estarei na igreja durante toda a tarde, pois me comprometi em comparecer quando viesse visitar meu filho. ㅡ recusa educadamente, alisando a saia que ia até o joelho e colocando as mãos em frente ao corpo, se equilibrando no salto baixo de maneira um tanto superior, coisa que ela achava ser. ㅡ De qualquer forma, Jimin ainda pode ir, se ele quiser. Agora, com licença, preciso usar o banheiro.

Nunca me senti tão envergonhado em toda minha vida, tanto que sentia meu rosto esquentar enquanto minha mãe se retirava depois de ter desmascarado minha mentira na frente de pessoas que gosto tanto. Abaixei o olhar para minhas próprias coxas, onde mantinha minhas mãos apertando uma à outra para me manter calmo. Uma movimentação retornou minha atenção, era Juhyun se sentando na cadeira em frente a mim enquanto Seokjin se retirava em silêncio, provavelmente a pedido dela.

ㅡ Me desculpe por isso, eu... ㅡ tentei me explicar, mas nada parecia conveniente ser dito.

ㅡ Porque você não quer ir, querido? ㅡ Juhyun usou o tom mais gentil quando eu ao menos esperava, e quando olhei em seu rosto, tão semelhante ao do filho que não saía de minha cabeça, vi um ínfimo sorriso apertado em seus lábios, quase materno. Ela faz com que eu me sinta acolhido. ㅡ É por causa do Jungkook?

ㅡ Então você sabe? ㅡ perguntei. Ela fez que sim com a cabeça. Fiquei ainda mais envergonhado e um pouco recluso, pois pensei que ela iria discutir comigo de alguma forma por ter brigado com ele, mas esses pensamentos foram substituídos ao que me senti observado. Sabia por quem, mas a este ponto não tinha mais coragem de confirmar. ㅡ Eu... Eu só pensei que não seria mais bem vindo depois do que aconteceu. Não achei que ele fosse me querer lá, muito menos você. Se eu fosse ele, não quereria.

ㅡ Bom, eu quero que você vá, mesmo que não tenha como contribuir, pois você nos ajudou na organização também. ㅡ Juhyun pegou minha mão por cima da mesa, me lançando um sorriso doce. ㅡ O que me diz?

ㅡ Tem certeza que não vou ser um incômodo? ㅡ relutante pergunto, retribuindo o aperto em sua mão e o sorriso. ㅡ Não quero que ele fique desconfortável com minha presença.

ㅡ Jimin, se eu conheço o filho que eu tenho, ele está neste exato momento observando cada uma de nossas ações, achando que está sendo discreto. ㅡ assim que fala, nós dois viramos para ver se era verdade, pegando Jungkook no flagra ao tentar desviar rapidamente o olhar e forçar uma risada para cima de Seokjin, que faz uma careta e o empurra de leve. Isso me faz rir ingenuamente. ㅡ Então não se preocupe, porque tenho certeza que a primeira pergunta que ele vai me fazer quando eu me sentar em nossa mesa novamente é se você vai. Ele quer que você vá, mas é muito orgulhoso para admitir.

ㅡ Não sei, Juhyun...

ㅡ Por favor? ㅡ ela pede, o que me surpreende um pouco. ㅡ Sei que todos seus amigos vão estar lá, e agora que está confirmado que ficará sozinho em casa. E quem sabe pode ser uma ótima oportunidade para que você e Jungkook conversem melhor, hum?

Penso rapidamente sobre. Seria a desculpa perfeita para ficar um pouco longe da minha mãe e respirar ar puro. Também poderia ser divertido ficar com meus amigos e assistir as apresentações, as quais eu estava tão ansioso, principalmente para a dos primos. E também me disseram que teria fondue de chocolate, e poxa, queria tanto um chocolatinho...

ㅡ Tudo bem, eu vou. ㅡ confirmo, sorrindo grande em sua direção e voltando a ficar empolgado quando ela sorri tão feliz de volta.

ㅡ Obrigada, Jimin! ㅡ Juhyun estava tão animada que me contagiou de tal forma que não me sentia desde o dia da festa. Ela olha para os fundos do restaurante por um momento, e quando seu olhar volta pra mim, levanta as sobrancelhas de modo cúmplice, piscando os olhos quando se levanta. ㅡ Prometo fazer com que se divirta bastante! Sua mãe está voltando, vou me retirar antes que ela me assassine com os olhos. Até amanhã, qualquer coisa manda mensagem pro Seokjin que ele te passa meu número e a gente conversa!

Quando ela se foi, se sentando na própria mesa novamente, minha mãe voltou para seu lugar. Perdi meus olhos ao observar Jungkook discretamente perguntar algo a Juhyun, que fez que sim com a cabeça. Ele olhou para baixo e sorriu minimamente, levantando a cabeça logo em seguida e me pegando no flagra. Ele desviou seus olhos enquanto continuei observando suas reações. Ele parecia cansado, respirando profundamente, como se estivesse frustrado. Me pergunto se fora por minha causa, já que ele parecia contente antes.

Conversar com sua mãe fazia parecer que ele me odiava um pouco menos, mesmo que eu soubesse que não era verdade.

ㅡ Park Jimin, estou falando com você! ㅡ Soohyun chama minha atenção, me despertando de meus pensamentos. ㅡ Quem são esses?

ㅡ Ah, a família do Seokjin, um dos meus novos amigos ㅡ respondo, claramente deixando de fora a parte que Jungkook e eu éramos amigos também, o que me faz perder a vontade de terminar minha refeição.

ㅡ Aquele deliquentezinho que não para de te olhar. ㅡ Levanto a sobrancelha, confuso com quem ela se refere, mas obviamente apenas uma pessoa não tirava os olhos de mim. ㅡ O que você tem com ele?

ㅡ Nada. ㅡ Ela me olha ameaçadoramente. ㅡ É a verdade, tá bom? Jungkook me odeia, não nos falamos mais.

ㅡ Menos mal. Assim você pode focar em arrumar uma namorada de verdade. ㅡ Ela parece aliviada de certa forma. ㅡ Garotos como ele são a personificação do pecado.

Talvez essa seja a única vez que eu concorde com minha mãe. Porque, com certeza, Jeon Jungkook é a personificação do pecado, e talvez o inferno não seja tão ruim assim.

E talvez eu sinta um pouco falta dele. Principalmente na hora de ir embora, quando paro brevemente na mesa da família para me despedir e ele sequer levanta o olhar para mim, continuando a ignorar minha existência. Sinto falta do jeito que ele tem de me admirar, que faz meu coração querer sair pra fora, e até mesmo do apelido idiota que ele me deu. Queria sentir sua palma acariciando meu rosto mais uma vez, sua boca na pele do meu pescoço e suas palavras me atingirem do jeito gostoso que só ele sabe. Mas tudo que faço é dar as costas e ir embora.

Do lado de fora, caminho com minha mãe pela calçada e, tentando distrair minha cabeça dele, reparo que apesar de às vezes ficar enjoado com a população hipócrita, Afogados é uma cidade incrivelmente linda. As ruas eram sempre movimentadas e coloridas, por conta das árvores e dos prédios que contrastavam justamente. Por ser um local turístico sempre era possível encontrar visitantes tirando fotos pelos cantos, assim como minha mãe também fazia quando paramos no parque enorme cheia de sakuras que formam o caminho para uma caminhada relaxante ou um encontro romântico. Todos os habitantes sempre parecem dispostos e aparentemente felizes enquanto caminham por cima das folhas secas após um dia cheio, apesar de não pouparem olhares julgadores quando alguém diferente ou fora do padrão é avistado.

Em uma dessas voltas pelo parque, enquanto eu finjo escutar o que Soohyun diz, vejo Yoona sentada sozinha em um dos bancos, mexendo no celular e olhando para os lados a todo momento. Em uma dessas olhadas ela me encontrou, então seu sorriso gengival se abriu e ela veio correndo até mim, com os cabelos longos presos em um rabo de cavalo alto, me abraçando fortemente, mal reparando na presença da minha mãe ao meu lado.

ㅡ Jimin! ㅡ ela exclamou, sorrindo abertamente enquanto se desfaz do nosso abraço. ㅡ Pensei que não te veria até você decidir ir lá em casa de novo. E olá? ㅡ Yoona se vira em direção a minha mãe, que lhe entrega o sorriso mais simpático vindo dela que já vi em minha vida. ㅡ Prazer, sou Min Yoona.

ㅡ Olá, querida. Sou a mãe do Jimin, Park Soohyun. O prazer é todo meu! ㅡ ela a cumprimentou calorosamente. Yoona sorria simpática de volta, abraçando-a em um cumprimento amigável.

ㅡ O que faz aqui? ㅡ pergunto-a. Ela estava muito bonita, usando uma blusa xadrez preta, top esportivo e calça jeans com rasgos nos joelhos da mesma cor, o all-star também preto de cano alto, combinando ainda mais.

ㅡ Ah, eu tinha um encontro, mas parece que levei um bolo... ㅡ ela responde um pouco cabisbaixa, abraçando o próprio corpo. ㅡ Mas tudo bem! Pelo menos vocês me salvaram por acaso.

ㅡ Sinto muito, querida. Se quiser, pode nos acompanhar até a casa de Jimin, assim poderíamos nos conhecer melhor! ㅡ Olho um pouco incrédulo assim que minha mãe sugere. Yoona parece um pouco surpresa também, já que tem os olhos arregalados enquanto reveza entre ela e eu.

Imediatamente soube exatamente porque minha mãe decidiu pagar de simpática. Ela acha que Yoona é uma possível pretendente.

ㅡ Não sei... ㅡ Yoona disse meio incerta, também percebendo o que Soohyun pensava que aconteceria entre nós. ㅡ Tenho que ir para a casa dos Jeon para ensaiar para minha apresentação.

Minha mãe fica um pouco desapontada, mas ainda sorri animada com a presença de minha amiga.

ㅡ Tudo bem, querida. Mas nos visite assim que puder, sim? ㅡ minha mãe disse para ela, que sorriu serenamente.

Depois de nos despedirmos de Yoona, seguimos o caminho para o meu prédio. Minha mãe parecia um pouco mais feliz, em comparação a quando saímos de casa mais cedo quando tudo que ela sabia fazer era me despejar palavras cruéis. Entretanto, o pingo de bom humor dela durou míseros minutos, pois depois de um tempo em minha casa, ela teve a brilhante ideia de fazer uma faxina, insistindo que estava tudo sujo mesmo que eu limpasse regularmente.

Em cima da minha cama estavam as roupas de Jungkook, desdobradas pela bolinha de pelos preta que estava deitada dormindo em cima delas. Suspirei pegando-a no colo, me sentando com ela se espreguiçando em meus braços. Soohyun entra no quarto, com uma vassoura e uma pá em mãos. Ela os coloca encostado na parede e começa a dobrar as peças de roupa em cima da minha cama.

ㅡ Onde coloco? ㅡ me pergunta, já abrindo meu armário sem que eu permita antes. Ainda bem que o rosinha está bem escondido.

ㅡ Pode deixar em cima da cadeira. ㅡ Ela me olha em dúvida, então suspiro. ㅡ Não é meu, é do Jungkook. Ele me emprestou.

ㅡ Emprestou ou deixou aqui como uma desculpa para vir te ver? ㅡ ela diz rudemente. ㅡ Pensei que vocês não eram próximos. Nem quero saber o porquê dele deixar as roupas na sua cama.

Foi assim o resto de todo o sábado. Toda hora trazia o assunto sobre meus amigos, inclusive sobre quando chegou e encontrou "outro homem esparramado em meu sofá", se referindo a Yoongi de forma tosca que me dava nos nervos. Além de fazer perguntas invasivas a todo momento sobre Yoona, se ela namorava ou se tinha alguma amiga solteira.

Quando a noite chegou, deixei que ela dormisse em minha cama e dormi no sofá, onde não foi nem um pouco desconfortável, pois eu finalmente teria um pouco de sossego e descanso. Porque se eu tivesse Nébula dormindo em meus pés, eu estava bem.

Sonhei com ele novamente, mas dessa vez foi diferente dos sonhos quentes. Jungkook e eu estávamos abraçados no meu sofá, assistindo televisão e rindo de algo que vimos, com nossas gatinhas dormindo enroladas no nosso meio. Depois que o riso cessava devagar, ele me beijava carinhosamente no rosto e acariciava meu cabelo de um jeito gostoso, que me fazia fechar os olhos. Ele estava sem camisa, com todas suas tatuagens do torso amostra e as das pernas tapadas pela calça de moletom.

No momento não havia malícia alguma, apenas ternura em tudo que ele fazia: do jeito que me olhava com as íris escuras brilhando cheias de vaga-lumes e estrelas; do jeito que me acariciava com a ponta dos dedos, devagarinho, como se um toque mais forte me fizesse quebrar; e do jeito que me beijava, não importando o local, mas sempre lento e de olhos fechados, com toda devoção e delicadeza que ele conseguia, do jeitinho que eu merecia.

Sua boca se arrastava devagar pela minha bochecha em um caminho imaginário, parecia tão real que quase pude sentir a textura do piercing gelado contra minha pele quente. No momento que eu me inclinei contra ele, puxei-o pelo pescoço e fui em direção a sua boca, antes que pudesse o beijar como sempre quis, fui acordado pelos barulhos da cozinha e o sol que vinha da janela aberta, coberta pela tela protetora.

ㅡ Pensei que ia dormir até uma hora da tarde. ㅡ foi a primeira coisa que minha mãe disse quando acordei. Peguei meu celular na mesa de centro para checar o horário. Eram dez e meia da manhã.

A contragosto me levantei, dobrando as roupas de cama que usei para dormir e levei-as para o meu quarto. As roupas de Jungkook estavam dobradas em cima da cadeira da mesinha, e Nébula dormia novamente em cima delas. Guardo os lençóis e cobertores no armário, aproveitando para ver o que eu usaria hoje a tarde. Depois de deixar separado em um cabide, me dirijo até minha morceguinha e a pego em meus braços, levando-a ainda dorminhoca para a cozinha para alimentá-la.

Como ela está crescendo, estou tentando acostuma-la a comer ração, mesmo que um pouco molhada para ficar macia. Entretanto, hoje decidi usar a mamadeira, pois ela está com muita preguiça em meu colo e seria um bom pretexto para evitar estar junto de minha mãe. Por isso que, sentando no sofá, checo minhas mensagens para ver a hora que deveria comparecer a casa dos Jeon nesta tarde, não me surpreendo ao ver que Seokjin me pede para chegar um pouco antes para ajudar nos ajustes finais. Garanto que estarei lá e deixo o celular de lado, terminando de dar de mamar a Nébula, que ficou parecendo uma bolotinha cheia.

Então, durante o almoço com minha mãe, quebro o silêncio para deixar claro que eu iria sair e não ser nenhuma surpresa, mesmo que no dia anterior eu tenha mencionado.

ㅡ O que vai fazer essa tarde? ㅡ pergunto despretensiosamente.

ㅡ Vou na igreja bonita no centro da cidade. ㅡ ela responde, sem ao menos levantar o olhar. ㅡ E você?

ㅡ Vou ao festival. ㅡ Soohyun para de comer, larga os talheres e me olha. ㅡ Juhyun me pediu para ir mais cedo pra ajudar na finalização e garantir que tudo aconteça como deve acontecer. Você não quer ir?

ㅡ Não. Jamais vou me submeter a ficar no mesmo lugar que aquela familiazinha medíocre de novo. E aquela mulher totalmente vulgar, deixa os filhos fazerem o que bem quiserem. Aquele garoto com a pele toda e marcada e perfurada, parece um bandido traficante. Os primos dele igualmente, aposto que fazem parte de gangues e destroem patrimônios culturais. ㅡ Soohyun deu uma pausa, começando a recolher o próprio prato. ㅡ Não sei como consegue falar com gente daquela laia.

ㅡ Como assim "daquela laia"? ㅡ questiono verdadeiramente confuso com todo seu ódio gratuito por alguém que mal conhecia.

ㅡ Nada, deixa.

Optei por deixar como ela disse e ir me banhar, já que não estava afim de perder o último resquício de ânimo que havia me sobrado.

Depois do banho, começo a me arrumar para o festival, não me prolongando mais do que deveria e me vestindo rapidamente. Minha mãe estava assistindo a algum canal religioso, por isso não deve ter reparado quando fui diretamente ao meu quarto para que eu me maquiasse. Optei pela cor roxo bordô, que combinasse com a minha blusa de botões de manga comprida, alguns números maiores que o meu, deixando um pouco larga na parte dos ombros ao que as pontas estavam para dentro do espartilho, mesma cor da calça slim social que usava.

Passei o pincel da maquiagem levemente sobre minha pálpebra, deixando o esfumado mais forte no canto dos meus olhos. Finalizei com uma leve camada de glitter na linha dos cílios, passando o rímel em seguida. Em meus lábios, optei por deixá-lo apenas um pouco vermelhos, não passando mais nada.

Pronto, me sento na cama para por minhas botas favoritas: a pontuda de saltos de plataforma. Depois pego meu celular e meu carregador, indo para a sala e recebendo o olhar desapontado e cheio de julgamento de minha progenitora.

ㅡ Você vai vestido assim? ㅡ ela pergunta, com tom de desgosto.

ㅡ Sim. O filho mais velho de Juhyun me disse que a vestimenta era formal. ㅡ explico, tentando não deixar transparente minha ansiedade devido a frustração de seu tom rude.

ㅡ Então coloca um terno, e não uma roupa de mulher. ㅡ Ela cruza os braços. Suspiro frustrado, me sentindo novamente o filho de quatorze anos que não pode pintar as unhas ou ser muito feminino.

ㅡ Não é roupa de mulher, é a minha roupa, já que foi eu quem comprei. ㅡ refuto, me arrependendo no mesmo momento em que ela se levantou com as sobrancelhas franzidas e os lábios apertados.

ㅡ Como é que é, Park Jimin? ㅡ diz ameaçadoramente. Nébula corre até mim, pedindo para ser pega no colo, o que não nego. ㅡ Deixei claro o que penso sobre aquela gente. Pensei que também tinha deixado claro que você não vai a merda de festival nenhum.

*

Minha respiração começa a falhar e meus pulmões queimam ao que meu tórax sobe e desce, enquanto meu coração bate tão rápido e forte que tudo o que me faz sentir é medo, mesmo que eu não saiba de quê exatamente. Sinto meus olhos encherem e o calor repentino tomar meu corpo enquanto ela despejava ofensas sobre mim que eu já não era capaz de distinguir, já que minha audição estava abafada pelos pensamentos confusos.

ㅡ Eu vou. ㅡ Não soube o momento exato que eu disse isso, mas infelizmente consegui ouvir sua resposta.

ㅡ É uma ordem, Jimin. ㅡ ela diz em tom autoritário. ㅡ Você não vai.

Como um déjà vu, tudo de ruim que ela já me disse na vida volta a tona; todas as situações semelhantes em que ela me humilhava pela minha roupa, meu corpo ou o simples penteado em meu cabelo, e como sempre me impedia de ir nos lugares porque alegava estar com vergonha de quem me tornei, como ela sempre diz:

ㅡ Vai tirar essa roupa. Tá parecendo um viado de merda.

E não foi diferente dessa vez.

A exaustão me predominou, porque eu estava tão cansado da toxicidade da minha vida, principalmente a da minha mãe, mulher que me criou; a pessoa que deveria me amar independente de quem eu gosto ou de como me visto. Ela deveria me amar como sou, não como queria que eu fosse, mas o que faz é completamente ao contrário, já que ao invés de amor, em seus olhos eu só vejo ódio e preconceito.

ㅡ Não vou tirar minha roupa, ou mudar meu jeito e muito menos me relacionar com quem você acha que eu devo. Sou um adulto de vinte e um anos que toma as próprias decisões, e não vai ser você e seu preconceito de merda que vai me impedir de ser quem eu sou na minha própria casa, ou impedir de frequentar os lugares que quero só porque você não gosta dos meus amigos. ㅡ Pauso para tentar recuperar ao menos um pouco do ar. Nébula esfregava o rosto contra meu peito, como se tentasse me acalmar. ㅡ Você não manda mais em mim, eu faço o que eu bem entender com a minha vida.

Me viro de costas quando termino de falar nos segundos de coragem que me preenchem, abrindo a porta para sair o mais rápido possível, mas sua voz me faz hesitar.

ㅡ Você é mesmo igual ao seu avô. Que desgosto. ㅡ Ainda estou de costas, pois não permitiria jamais deixar que ela me visse nesse estado novamente. ㅡ Se sair por essa porta, eu vou embora e não te ajudarei mais com as contas mensalmente.

Rio com ironia, parado estático entre o portal prestes a sair, mas ainda de costas digo:

ㅡ Feche a porta quando sair.

Sigo em direção ao elevador, mal sentindo as unhas de Nébula segurando em mim e me arranhando. Com a mão trêmula, abro o contato de Seokjin em meu celular e ligo para ele enquanto as lágrimas começam a rolar pela minha bochecha.

Alô? ㅡ ele atende, falando apressadamente.

ㅡ Jin? ㅡ o chamo com a voz embargada, não percebendo quando comecei a chorar. ㅡ Você pode vir me buscar agora?

Agora eu não posso, pode esperar um pouco? ㅡ Deixo um soluço escapar. ㅡ Ji, o que foi? Ta tudo bem?

ㅡ S-sim, posso e-esperar. ㅡ O elevador para no térreo e eu fico segurando Nébula na recepção, enquanto uma chuva densa começa a cair lá fora e minha respiração começa a falhar ainda mais.

Vou pedir pra alguém ir te buscar, tudo bem? ㅡ ele diz com a voz mansa.

Concordo com a cabeça mesmo que ele não pudesse me ver, não percebendo quando a ligação foi encerrada. A cada segundo a chuva ficava mais forte, abracei Nébula em meus braços enquanto tentava me acalmar antes que o carro chegasse. Com tudo o que aconteceu ultimamente, me sinto emocionalmente cansado o que faz parecer que o meu corpo está fraco. Mesmo nesse momento, ele me vem à cabeça mesmo que não tenha nada haver com toda a situação.

Começo a me preocupar em como vou conseguir me manter, já que a partir de agora minha mãe vai se recusar a me ajudar e, mesmo que pareça que ela pareça estar blefando, me sinto um pouco aliviado por saber que quando eu voltar ela não vai mais estar lá para me fazer sentir insuficiente novamente. Foi a primeira vez que eu a enfrentei dessa forma, e apesar de estar orgulhoso de mim mesmo, sinto meu sangue ferver em minhas veias pelo nervosismo e a adrenalina.

Me pergunto se realmente vale a pena ficar nessa angústia com meus pais; se vale a pena lutar por mim. Tenho absoluta certeza que quando ela voltar para casa, irá dizer coisas horríveis sobre mim para meu pai, sendo elas inventadas ou não.

Fico receoso, a todo momento olhando através da chuva para o fim da rua e para o elevador no fundo da recepção, esperando pelo carro de Seokjin ou pela minha mãe aos gritos, mesmo que eu soubesse que ela não faria uma cena na frente das pessoas. Minha cabeça estava um verdadeiro furacão; não conseguia manter um pensamento contínuo por mais que cinco segundos. Senti Nébula tentar se esquentar em meus braços e, mesmo sabendo que ela estava aqui, apenas agora reparei que havia trago ela e teria que a levar para onde quer que eu fosse.

Me distraindo de minha mente nada saudável, o carro tão conhecido parou às pressas na calçada, mas a pessoa que sai dele não é quem eu esperava. Quando vejo Jungkook andando pela chuva em minha direção, coberto apenas pelo sobretudo preto, reparo na preocupação em seus olhos, que pousam em mim. Imediatamente o choro começa a ganhar ainda mais força e mais um soluço me escapa quando ele chega perto o suficiente para que não se molhe mais na chuva.

ㅡ Jungkook? ㅡ o chamo confuso, sentindo o bolo formar em minha garganta, principalmente porque achei que eu fosse a última pessoa que ele quisesse ver. Porque sei que ainda me odeia.

ㅡ Você está bem? ㅡ ele pergunta, olhando em meu rosto com nada mais que gentileza em seus olhos, tocando minha bochecha com a palma quente de sua mão. ㅡ Jin não pôde vir, estava muito ocupado. Eu era o único disponível, e ele disse que você estava chorando... Não podia te deixar aqui desse jeito. Vamos pro carro?

ㅡ Jun, eu... ㅡ tento falar, mas minha voz começa a falhar depois de o ouvir novamente. Jungkook inesperadamente me abraça, envolvendo meus ombros com os antebraços, devagar para não esmagar a morceguinha entre nós dois. Não consigo me permitir me perder em seu cheiro ou no seu toque, pois meus sentidos estavam em desordem. Ele se afasta com cuidado, olhando para Nébula e em seguida para mim de novo.

Conforme a chuva ficava na mesma intensidade que minhas lágrimas, não sabia se a tempestade acontecia dentro de mim ou se eu chorava lá fora.

ㅡ Podemos conversar no carro ㅡ ele insiste, respirando com a facilidade que eu ainda não encontrei. Ele pareceu notar isso, já que sua expressão vacila um pouco. ㅡ Nébula está com frio e você precisa se acalmar.

Convencido e querendo sair dali antes que a possibilidade de minha mãe aparecer volte a me atormentar, deixo que ele me guie para o banco traseiro do carro com pressa para que a chuva não nos molhasse. Ao contrário do que achei que ele faria, ao invés de se sentar no banco do motorista, ele se senta ao meu lado, mas tomando todo o cuidado para não invadir meu espaço pessoal.

Solto Nébula para que ela fique livre no carpete quando Jungkook me acolhe em seus braços novamente, me apertando com força quando não encontra relutância de minha parte. Ele começa a fazer barulhos de conforto ao tentar me acalmar, acariciando as minhas costas e pedindo para que eu respire devagar junto com ele. Como se me guiasse, começo a acompanhar o ritmo de sua respiração enquanto sinto sua mão apertar e soltar a minha quando inspiramos e expiramos juntos, como se me certificar de lembrar do momento presente, e aos poucos minha respiração se normalizou.

*

ㅡ Se sente melhor? ㅡ ele pergunta serenamente, não muito próximo de mim ah não ser pelas nossas palmas se escondendo, mas perto o suficiente para que eu me sinta seguro. Faço que sim com a cabeça, enxugando o meu rosto devagar com o lenço que ele me entrega. ㅡ O que aconteceu?

ㅡ Briguei com minha mãe, não é nada demais... Foi só uma crise idiota de ansiedade. ㅡ digo, mesmo que seja a primeira que tive depois de tanto tempo fora de casa. Embora não estejamos nos falando direito, ele parece verdadeiramente concentrado em fazer com que eu me sinta bem, e isso me deixa ainda mais sentimental quando tudo passa porque, assim que volto aos meus eixos, sou atingido novamente pela saudade que sua presença me causa. Mas ele ainda sim consegue me acalmar de uma forma surreal que nem Taehyung conseguia, então tento ignorar esses sentimentos e focar no presente. ㅡ Desculpa por fazer você passar por isso também. Sei que deve ser difícil ficar perto de mim agora, depois de tudo que aconteceu...

ㅡ Tudo bem, Jimin. ㅡ ele desvia o olhar para Nébula deitada no banco do motorista, como se me olhar fosse demais para ele. Entendo, porque também é para mim. ㅡ Sinto muito que tenha passado por isso, mas sua crise não foi idiota. Não precisa diminuir seus sentimentos só porque estou aqui, mesmo que ainda não estejamos bem, não deixaria alguém sozinho em um momento assim, principalmente você.

ㅡ Certo ㅡ digo por fim, olhando para minhas mãos. ㅡ Obrigado, Jungkook.

Ficamos em silêncio por um momento, observando a chuva cair devagar, provando novamente estar no mesmo ritmo que eu quando parei de chover e o céu parou de chorar. Entretanto, a neblina ainda estava presente, porque a consequência da chuva sempre demora mais para passar que as gotas de lágrimas em si.

Acho que céu também sente o efeito anestésico que ele me causa.

ㅡ Vamos aproveitar que a chuva diminuiu para ir? ㅡ Jungkook pergunta. Concordo com um murmúrio, então ele abre a porta e sai no mesmo momento que pego Nébula do banco do motorista para que ele se sente. Depois, ligou o som do carro, deixando tocar músicas calmantes para que não ficássemos em silêncio.

Senti ele me olhar pelo retrovisor durante todo o caminho, como se quisesse garantir que eu estava mesmo tudo bem. Por dentro, eu não estava, mas sabia que logo iria ficar.

Eu tinha que ficar.

iaikk

Então... o próximo cap é o festival :]. Esse foi uma transição entre o sábado e o domingo, dia em que ele acontece. Os futuros namorados ainda não estão 100% bem, maaaas em breve tudo vai ficar! Confia na mãe.

Espaço pra mandar a mãe do Ji se foder.

Enfim, espero que tenham gostado, apesar do cap melancólico :(. Mas vai ficar tudo bem agora, ok?

TT DOS PERSONAGENS:

@ C4NDYJM

@ P0ISONJK

Obrigada de novo por todo carinho de vocês!

Até a próxima beberes '³'

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