"Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos."
- Isaías 55:9
Rio Azul, dezembro de 2021.
A sala de espera do consultório pertencente aos doutores Fábio e Angelina Lopez - psiquiatra e psicóloga respectivamente -, nunca pareceu tão silenciosa na concepção de Isaque, que muito apreciava o silêncio, tal como a solitude. As paredes brancas adornadas por quadros cujos carregavam tanto versículos bíblicos quanto frases motivacionais inspiradas nos próprios, aparentavam produzir ruídos. O som dos dedos da secretária batendo contra as teclas do computador de forma frenética, preenchia as vias auditivas do rapaz contribuindo para o aumento da ansiedade a qual lhe invadia por completo.
O Martins saiu às pressa de Rosa Blanca, viajando até a capital no carro que outrora fora do seu avô e que agora, era ocupado por ele. Aquela foi a primeira vez que ele viajou estando no volante, novamente. E toda a sua afobação para comparecer pessoalmente na consulta agendada para aquela tarde ensolarada de dezembro, fez com que ele esquecesse o seu diário na casa de dona Nádia.
No início, quando doutora Angelina sugeriu que o rapaz descrevesse os seus sentimentos em um diário, Isaque achou a ideia quase que um absurdo, pois segundo ele mesmo, não era mais uma adolescente imaturo para ficar escrevendo a respeito dos seus problemas ao invés de tentar resolve-los como o homem maduro que era. Entretanto, com o passar do tempo, o loiro desenvolveu grande apreço pela escrita e até mesmo, usava seu diário para conversar com Deus - como uma espécie de diário de oração. Por vezes, escrever para o Pai o acalmou e aliviou a ansiedade que tomava o seu ser, mas naquele momento ele não o tinha consigo para extravasar os sentimentos que lhe tomavam.
Ele contava os minutos para ser atendido pela médica e esposa do seu psiquiatra, e com ela compartilhar sua nova descoberta de maneira que ela o ajudasse a encontrar a direção correta. Embora já suspeitasse qual era o direcionamento do Senhor para tal situação, pois sempre que tocava no nome da Santiago do meio durante as suas orações, não demorava muito para que o seu coração fosse cheio da paz que provém - única e exclusivamente - do Pai.
Era como se o próprio Deus estivesse testificando no seu espírito a vontade dEle para com o jovem missionário.
- Isaque Martins - uma jovem mulher vestida com um jaleco branco, chamou-o parada perante a porta do consultório de psicologia, o qual ficava ao lado oposto da sala reservada à psiquiatria.
Fábio e Angelina conheceram-se na igreja de modo que desenvolveram laços afetivos durante a faculdade, casando-se após concluírem seus estudos e então, por uma provisão Divina conseguiram verbas o suficiente para abrir o seu próprio consultório. E hoje, o casal ajudava a restaurar a saúde psicológica de muitas pessoas, tanto com base nos seus conhecimentos profissionais, quanto na Palavra de Deus.
O loiro levantou-se andando até a psicóloga com passos rápidos e precisos, cumprimentando-a ao adentrar o ambiente, que estava praticamente do mesmo jeito desde a última vez em que o jovem esteve ali. Uma cadeira de couro preta jazia posicionada atrás de uma mesa de vidro, enquanto duas menores ficavam em frente a anterior; haviam também duas poltronas confortáveis de cor vinho, cujas eram separadas por uma mesa de centro em uma das extremidades do ambiente, onde a maioria dos pacientes preferiam fazer as suas sessões de terapia.
O Martins deixou que o corpo escorregasse por uma das poltronas em questão, ao passo em que soltava um suspiro alto de maneira que atraiu a atenção da doutora.
- A que devo a honra da presença mais que ilustre, do meu querido paciente fujão? - perguntou acomodando-se no outro assento com uma prancheta suspensa entre as mãos. - Pensei que se daria o trabalho de vir até aqui apenas em janeiro, para receber a sua alta tão almejada - disse em um tom de brincadeira.
- Aconteceu, Angelina - sussurrou fitando a outra com cautela.
- Aconteceu o que, Isaque? - deu início ao interrogatório um pouco confusa ante as palavras do outro.
O tecladista inclinou o corpo para frente de modo que apoiou os cotovelos sobre as pernas, enquanto buscava pelas palavras corretas. Não poderia dizer à Angelina que estava apaixonado, porque os seus sentimentos por Johanna transcendiam essa emoção tão supérflua. Contudo, não sabia se estava pronto para dizer em voz alta que a amava.
- Estou gostando de uma moça - confessou analisando as feições concentradas da mulher.
A médica sempre fizera questão de deixar claro que uma hora ou outra, o rapaz iria ter as suas afeições românticas despertadas, outra vez. E apesar do jovem recusar-se a aceitar esse fato no primeiro ano de tratamento, Angelina sempre voltava a ressaltar que ele estava vivo e, um dia, a sua área sentimental o entenderia de maneira que estimularia o loiro a seguir em frente.
E pelo visto aconteceu. Seu coração foi despertado, novamente, no momento em que Isaque menos esperava e por aquela que sequer imaginava. O Senhor é realmente Deus de surpresas extraordinárias para aqueles os quais O ama com todo o coração, com todo o entendimento e com toda a alma!
- E quem é ela? - Angelina sorriu de forma discreta, ao passo em que cruzava as pernas descansando a prancheta com o relatório clínico do Martins sobre as mesmas posteriormente.
- Johanna Santiago - soltou, sabendo que a doutora entenderia de quem se tratava, tendo em vista que várias sessões foram feitas ao redor daquele nome e o fato de que ele a havia abandonado.
- Sua amiga de infância - constatou ela, voltando a seriedade exigida pela sua profissão.
Isaque inclinou a cabeça levemente para o lado, ajeitando a armação do seu óculos de grau um tanto nervoso. Afinal, já não tinha certeza de que a cacheada ainda era a sua amiga.
- Não sei se ela ainda quer ser a minha amiga - externou, tendo os músculos tensos.
- O que foi que você fez agora, Isaque? - inquiriu em um tom de repreensão.
Angelina Lopez era uma jovem mulher cuja ultrapassava os trinta anos. Os seus cabelos castanhos e escorridos alcançavam a sua cintura, enquanto uma franja reta pairava sobre os seus olhos também castanhos. Quanto a sua pele pálida, esta não possuía muitas marcas, o que fazia com que a psicóloga parecesse muito mais jovem do que realmente era.
- Descobri que ela me amava, então conversamos sobre os nossos sentimentos, e eu briguei com ela. - De repente, encarar o chão frio tornou-se menos difícil do que sustentar o olhar duro cujo a Lopez desprendia sobre a sua imagem. Não tratava-se apenas do olhar de uma médica, mas de uma amiga; uma amiga muito decepcionada, diga-se de passagem. - Eu disse que não aceitaria outra mulher na minha vida além da Ada - confessou sentindo um nó formar-se em sua garganta.
Angelina respirou fundo na tentativa de não esquecer o profissionalismo e lançar a sua prancheta contra o rosto do paciente. E clamando a Deus por domínio próprio e sabedoria, a mulher se pôs a falar:
- Você agiu errado, Isaque. Muito errado mesmo - disse esforçando-se para manter a calma. - Deveria ter me ligado antes de sair falando asneiras para a menina!
- Sei disso - murmurou mantendo os olhos fixos nos próprios pés. - E é justamente por isso que estou aqui. Eu quero seguir em frente, Angelina. Mas não faço ideia de como recomeçar. - Mirou-a, dos seus olhos emanava a mais pura sinceridade.
A de cabelos escorridos pensou por alguns instantes selecionando minunciosamente as palavras que diria ao rapaz. Isaque era muito inteligente, porém o orgulho, a teimosia e os seus traumas, por vezes o cegavam, levando-o a agir de modo impensado.
- Em primeiro lugar, peça perdão à Johanna, e mostre para ela o quão arrependido está. As nossas palavras devem vir acompanhadas de atitudes, então não fale apenas, mas demonstre - aconselhou com voz mansa e suave, fruto da ação do Espírito Santo em sua vida, pois se dependesse da sua natureza humana, estaria gritando com o paciente. - E depois, entenda que você não vai esquecer a Ada.
O Martins franziu a testa ao som das últimas palavras proferidas pela doutora, não querendo dar créditos aquilo quanto lhe foi dito. Estaria ele fadado a viver como um refém das suas próprias lembranças? Não! Aquele peso seria demais para os seus ombros.
- Está me dizendo que vou ter que conviver o resto dos meus dias com o fantasma da Ada? - soou um pouco assustado, ou até mesmo, irritado com a possibilidade.
- Não, Isaque. Estou lhe dizendo que as memórias de tudo o que viveu ao lado dela ficarão dentro de você, e por esta razão precisa encontrar alguém que entenda a sua história; mas que principalmente, compreenda o seu passado. - Pausou a fim de que o loiro digerisse os conselhos a ele confiados. - E tenho certeza que por ter acompanhado tudo de perto, na medida do possível, Johanna saberá abraçar as suas cicatrizes da forma necessária. Então, não desperdice a oportunidade a qual o Senhor está lhe oferecendo para viver uma nova história de amor.
A semelhança contida entre as palavras de Angelina e aquilo quanto a avó lhe dissera há semanas atrás, fez com que o seu interior aquecesse de forma curiosa. Era possível que o Pai estivesse confirmando a Sua vontade para com o jovem missionário através daqueles que o rodeavam.
Isaque sentiu a sua alma regozijar ante a tal constatação de maneira que lágrimas brotaram nos cantos dos seus olhos tornando-os marejados. Ele já sabia o que precisava fazer, ao mesmo tempo em que recusava-se a jogar pela janela aquela preciosa chance com a qual Deus o estava presenteando.
- É isso, Angelina! Eu vou me casar com a Johanna! - exclamou como se houvesse encontrado um balde de ouro. Mas na verdade, o rapaz se deu conta de encontrou uma joia mais preciosa que os rubis, uma mulher virtuosa cuja ele almejava ter como a sua esposa. - Eu vou me casar com a minha Jojo!
Os olhos escuros da médica o fitaram com certa estranheza. Desde que começaram o tratamento, foram raras as vezes em que tivera o prazer de vislumbrar o Martins transbordando de felicidade como naquela ocasião. E nas poucas vezes que demostrara tamanho entusiasmo, fora por algo relacionado a sua vida espiritual. Mas nunca a área sentimental, muito pelo contrário, a simples menção dessa o irritava sobremaneira - até não irritar mais.
O seu coração estava retornando à vida e isso alegrava Angelina, ao passo em que também lhe preocupava. Talvez, devesse adiar a alta do rapaz por precaução.
- Vai com calma, Isaque! Ela pode dizer um belo de um não a você, e eu não quero ninguém chorando na porta do meu consultório depois de estar praticamente recuperado - o alertou tendo o semblante convertido em seriedade. - Estamos entendidos?
O de olhos azuis sorriu travesso antes de prestar uma continência exagerada, dizendo:
- Sim, senhora!
A Lopez não conteve o sorriso, enquanto outro assunto era trazido a sua memória.
- E o seu diário, tem escrito muito nele? - quis saber, descansado o cotovelo esquerdo sobre um dos braços da poltrona apoiando o queixo contra a palma da mão em seguida.
- Eu meio que esqueci ele em Rosa Blanca. - Sorriu amarelo. - Mas tenho escrito sim. Aliás, escrever sobre aquilo que sentimos é terapêutico. Muito libertador!
A mulher liberou uma gargalhada ao ouvir a nova opinião do loiro acerca de ter um diário, pois lembrava-se muito bem da reação do mesmo quando sugeriu que tivesse um. Pelo visto, o Senhor havia feito a Sua obra em Isaque e o seu ponto de vista a respeito de muitas coisas estava mudando. Desde coisas simples, como por exemplo, ter um diário, quanto de coisas complexas, como entrar em um novo relacionamento de cunho romântico.
- Fico feliz que esteja gostando de descrever os seus sentimentos como um adolescente imaturo - repetiu as palavras que o filho de Paulo lhe dissera há meses atrás.
Foi a vez de Isaque rir de si mesmo. Aos poucos, o rapaz sentia o seu orgulho sendo testado e esmiuçado por Deus através das circunstâncias da vida.
- As coisas mudam com o tempo, não é mesmo? - Suspirou ainda rindo da situação na qual encontrava-se.
- Mudam, sim. E graças a Deus por isso! - louvou a mulher, oferecendo um sorriso grato e emocionado para aquele a quem aprendeu a amar semelhante a um irmão mais novo. Como era bom vê-lo evoluindo daquela forma!
E por meio do precioso sangue de Cristo, eles realmente podiam considerar-se e chamar um ao outro de irmão.
- Amém! - concordou pondo-se de pé, e a médica o acompanhou. - Agora, se me der licença, preciso conversar com meus pais a respeito das minhas intenções para com Johanna.
- Que o Pai vá adiante de você, meu irmão - disse segurando as mãos do neto de dona Nádia entre as suas, e ele recebeu as palavras de bênção.
Logo, Isaque deixou o consultório disposto a dar continuidade aos seus planos. O rapaz já havia passado por uma situação como aquela, portanto sabia discernir a voz do Pai bradando sobre as suas barulhentas emoções até que estas se silenciassem por completo. E o que Ele confidenciava ao espírito do Martins era isso:
"Viva, meu filho! Apenas viva, e viva para a minha glória, a fim de que me faças conhecido através do teu testemunho!"
E ele viveria cada vírgula, contanto que estas fossem escritas pelo Autor e Consumador da sua fé.
[...]
Ter o filho em casa era quase como um evento épico para Helena. E mesmo sabendo que o jovem estava apenas de passagem, a mulher se via prestes a soltar fotos de artifício em comemoração ao acontecimento.
Isaque deu um gole em seu café puro sob o olhar atento dos pais. Desde o momento em que pediu para ter uma conversa séria com os senhores Martins, estes ficaram um bocado curiosos e apreensivos em relação aquilo quanto poderia sair de entre os lábios do tecladista.
Afinal, Isaque não dava ponto sem nó e todas as vezes em que pediu para conversar com os progenitores o assunto era demasiadamente sério.
- Não vai dizer que decidiu nos abandonar e mudar-se para a Angola agora, Zac? - A mãe cruzou os braços, ao mesmo tempo em que o fitava de modo inquisidor.
O mais novo sorriu largando a xícara de porcelana sobre mesa de centro, que separava o sofá no qual jazia sentado daquele cujo acomodava o casal à sua frente. E após entrelaçar suas mãos uma na outra, ele finalmente manifestou-se:
- Na verdade, estou ponderando a ideia de deixar a nossa família de vez - disse sem rodeios de modo que a loira arregalou os olhos, quanto ao pai, este tratou de lançar-lhe o seu melhor olhar de indagação.
No fundo, Paulo sabia que as palavras do filho iam muito além de uma simples brincadeira para com a mãe e o seu dramático coração.
- O que quer dizer com isso? - o pastor pediu em um tom calmo.
E esta era mais uma das diferenças gritantes, as quais existiam entre Paulo e Helena. À medida em que a filha de dona Nádia era explosiva e ansiosa, o marido era controlado e cauteloso. E o único filho do casal trazia em sua personalidade um misto dos traços de ambos.
- Estou gostando de uma moça, pai - a confissão foi feita com voz firme e segura, sem falhar em momento algum. - Gostando muito. E quero me casar com ela.
Tais palavras não surpreenderam à mulher, que constatou estar certa quanto as suas suspeitas acerca da vida sentimental do rapaz. Isaque estava seguindo em frente, ou ao menos tentando, e isso encheu o seu coração de gozo.
- Eu sabia! Sempre soube! Afinal, as mães sempre sabem de tudo a respeito dos filhos, não importa o quanto eles neguem! - disparou Helena, exasperada.
- E quem seria a moça em questão? - indagou Paulo.
A senhora Martins desferiu um tapa de leve contra o antebraço do esposo, mirando-o com os olhos esverdeados tomados pelo tédio. Que espécie de pergunta era aquela?
- É óbvio que é a Hanna, meu amor! - falou coberta pela mais pura razão.
Em sua nem tão humilde opinião materna, a Santiago do meio era a melhor ajudadora cuja o Senhor poderia conceder ao filho. Mas se porventura, houvesse outra moça nos planos de Deus, ela se esforçaria para ama-la tal como uma filha.
Entretanto, por ora, a cacheada era a sua possível futura nora preferida.
- Como pode dizer isso com tanta certeza? Tínhamos chegado a conclusão de que a Bethânia também tinha chances - o homem cochichou de maneira que o mais novo também o escutou.
- Claro, que tinha! Mas a Hanna sempre esteve vários passos à frente - replicou no mesmo tom.
Isaque assistia a cena estarrecido em seu lugar. Ele mal podia crer naquilo que chegava aos seus ouvidos por meio da voz daqueles que foram usados para trazê-lo ao mundo. Os pais não aparentavam preocupação igual a Angelina; muito pelo contrário, pareciam extremamente animados com a possibilidade que lhes foi apresentada.
- Então, quer dizer que os senhores ficam debatendo sobre a minha vida sentimental enquanto me faço ausente? - Arqueou as sobrancelhas loiras, fingindo indignação.
A mãe trocou de sofá sentando-se ao lado do jovem missionário de forma que envolveu os seus ombros largos com um dos braços, e acariciando o rosto coberto pela barba bem feita de Zac com a outra mão, disse:
- Às vezes, falta um pouco de emoção juvenil em nossas vidas e acabamos apelando para a sua - explicou tentando soar convincente. - Mas nos conte, é a Hanna, não é?
- Sim, mãe. É a Hanna - contou em meio a um suspiro, ao passo em que bagunçava os próprios cabelos com os dedos.
- E eu posso saber o porquê de estar tão aflito? - Paulo observou a postura rígida e cabisbaixa do filho. - Por acaso existe algo que o incomode nisso?
As orbes azuis do rapaz cravaram-se contra a imagem do pai. No íntimo do seu ser não restavam dúvidas de que esses eram os desígnios Divinos para consigo. Sendo assim, a sua aflição se dava pelo fato de não saber como abordar a moça ou os pais desta, tendo em vista que estragou tudo entre eles.
- Estou seguro de que esta é a vontade do Senhor para com a minha vida, e somente por isso, tendo tido ousadia o suficiente para seguir em frente. Deus tem me encorajado, pai. - Pausou a fim de preparar-se psicologicamente para proferir as próximas palavras. - O que me aflige, é que eu magoei a Johanna, de novo.
Os pastores ouviram com atenção o relato de Isaque acerca do seu desentendimento com a amiga em riqueza de detalhes, e de certa forma entenderam o seu lado. Contudo, fizeram questão de deixar explícito o modo como o loiro feriu o coração da cacheada usando as próprias feridas como justificativas para fazê-lo.
Embora sentissem a dor do filho, jamais passariam a mão sobre a sua cabeça e o esconderiam das consequências advindas das suas atitudes.
- O que fez não foi certo, meu filho. Mas você já entendeu isso - o senhor Martins começou a apresentar a sua linha de raciocínio ao outro. - E se arrependeu-se, pediu perdão a Deus e está disposto a resolver tal situação, não há motivo para ficar ansioso. Confie no nosso Pai, faça a sua parte e deixe que Ele trabalhe em seu favor.
- Exatamente! E se esses forem mesmo os planos do Senhor para vocês, Ele se encarregará de testificar isso ao Ben, à Laura, e especialmente, à própria Hanna - Helena complementou o conselho do esposo.
O jovem missionário sempre admirou a forma como os pais entendiam um ao outro apenas com um simplório olhar; sem falar, na maneira como os dois pareciam viver em constante sintonia. Paulo era tudo quanto Helena não conseguia ser, tal como ela possuía qualidades diferentes das do homem. E isso não era sobre a atração existente entre polos opostos, porém a respeito do modo como estes poderiam se complementar depois de completos em Cristo, a ponto de transbordarem em outras vidas.
Era isso que Isaque almejava para si, e era desse jeito que o rapaz sentia-se quando estava ao lado da Santiago do meio. Ela era o seu complemento perfeito, e o pensamento em questão o fez sorrir de maneira quase involuntária.
"Obrigado por me permitir amar, outra vez, Pai" - sua alma agradeceu ao seu Dono.
- Sabe o que precisa fazer agora, não é? - O mais velho o mirou com certeza expectativa em relação a resposta cuja receberia.
O rapaz assentiu tomando um resfolgo de ar.
- Preciso ter uma conversa franca com os senhores Santiago.
Enfim, o deserto árido cujo habitava o seu coração voltava a florir, novamente, de maneira gradativa e leve. Muito leve. Porque quando vem do Pai não é um fardo, mas uma benção.
E depois de os senhores Martins ministrarem uma oração sobre a vida do filho e os seus sentimentos, ele soube que estava pronto para concluir a próxima etapa com a graça de Deus.