- Deena?
O rapaz a chamou parado na porta da sala de aula completamente vazia. Deena se encontrava sentada esperando o professor e o resto dos alunos dar as caras. Peter percebeu que ela parecia imersa em seus pensamentos então aproximou-se. A mesma estava exatamente submersa aos próprios pensamentos. Ela não conseguia processar tudo. Da água pro vinho, tudo havia mudado, e considerando sua irreverência ela pensou que se há duas semanas atrás lhe dissessem que cairia de amores por Samantha Fraser, ela morreria de rir debochada do insano. Elas eram totalmente diferentes, de mundos diferentes. Elas não se batiam, apesar de descobrir que o ódio de Sam por ela não existia. Ela não pôde evitar em rir abobalhada ao se dar conta da situação em que se encontrava.
- Deena! Tá surda? – Peter a chamou pela quarta vez, já meio irritado.
- Hum? – O olhou surpresa, não havia percebido que ele entrará na sala. - Oi, Peter, estou bem. Claro que estou...
- Ótimo. Então, dá pra você me explicar o que estava fazendo ontem com minha namorada em Lincoln Nebraska?
Deena franziu as sobrancelhas, ele estava visivelmente irritado e ela engoliu em seco.
- Ah... Eu... Como você sabe?
- Talvez seja por que vocês apareceram na Tv? – Revirou os olhos. - Quando resolveu ir pra lá? Por que não me avisou? Eu vi vocês duas se beijando e vi você sorrir com isso. O que deu em você, Deena?! – Estravejou.
- Eu não sabia que ia, só decidi que ia e pronto. Eu nem sabia da existência dessa cidade até ontem, eu só queria fazer Sam se divertir... – A morena tentava se explicar ainda calma.
- Desde quando você faz coisas improvisadas? Não era você a toda certinha e com a rotina sempre perfeitamente programada? Não era você que a um certo tempo odiava minha namorada e agora quer fazê-la se divertir? – Foi sarcástico e Deena apertou os lábios.
- Eu já disse que estava errada sobre Samantha! E eu não estou entendendo aonde você quer chegar. – Foi direta com os braços cruzados.
- Você está estranha, Deena! Eu te conheço, sinto que me esconde algo, que mente pra mim... – A garota deu um longo suspirou antes de olhá-lo novamente.
- Não. Eu não estou escondendo nada à você! Isso é coisa da sua cabeça.
Lhe partia o coração dizer aquilo a pessoa que mais confiava. Não tinha coragem para lhe dizer a verdade, Deena não queria, nunca, em hipótese alguma, perder o seu melhor amigo.
- Achei que fôssemos amigos... – Murmurou baixo, chateado, cortando o coração de Deena. - Achei que fôssemos irmãos, achei que não havia segredos entre nós. Que confiava em mim... Mas vejo que não.
Deena levantou sentindo sua garganta doer.
- Peter, eu... – Tentou explicar com os olhos marejados e o garoto balançou a cabeça em negação.
- Não... Não minta mais pra mim. – A cortou firmemente. - Quando você resolver me contar a verdade, venha me procurar.
Deu por fim aquela conversa saindo da sala vazia que logo foi se enchendo. Deena tentou sussurrar um "espera" mas nada saiu. Tentou sair para segui-lo, mas o professor a proibiu. Por muito custo ela sentou-se na cadeira com os olhos fechados. Tinha machucado seu melhor amigo por uma garota. Pela garota que amava. Ótimo, Deena...
(...)
- Tenho uma surpresa. – Clarice falou empolgada para Sam dando espaço para que a mesma entrasse em sua casa. Sam franziu a testa pela empolgação de sua avó e logo entendeu o porquê quando viu uma pessoa branca igual papel sentada em uma poltrona. Ela automaticamente sorriu.
- Não acredito! – Arregalou os olhos sorrindo ao encontrar uma velha amiga. - Heather!
A garota não teve nem tempo de dizer algo pois Sam já havia se jogado em seus braços a apertando num abraço. A menina sorriu abraçando-a no mesmo entusiasmo.
- Olá, Fraser. – Riu.
- Díos mio... - A olhava apreensiva. – Quando você chegou?
- Hoje mesmo, pela manhã. – Desfizeram do abraço.
- Por que não me disse que vinha? – Olhava pra amiga ao mesmo tempo para sua avó que ria da situação.
- Não olhe pra mim. – Disse Sra. Clarice quando Sam a olhou novamente emburrada.
- Eu nem sabia que ela viria, como sempre fazendo surpresas. Tomei um susto quando a vi na minha porta hoje de manhã.
- Como minha velha disse, queria fazer uma surpresa. Matar a saudades, dessa cidade quente... Já que meu aniversário é daqui a alguns dias e como já faz dois anos que não passo com minha velha e meus velhos amigos então resulta-se que este ano será diferente.
- Pois não sabe como eu me alegro. Senti sua falta. – Sorriu indo abraçá-la novamente.
- Também senti muita a sua falta. – Puxou as duas para um abraço em conjunto.
Dona Clarice foi para a cozinha preparar um lanche para ambas que ainda se encontravam na sala em uma conversa animada, colocando todos os papos em dias apesar de se falarem sempre por Skype. Não era a mesma coisa pessoalmente.
- E seus pais? A escola e namorado? – Quis saber bebericando o chá.
- Você sabe... na medida do possível, meus pais continuam os mesmos. A escola é aquela hipocrisia de sempre e o meu namorado não poderia estar melhor.
- Ah é? Deixe-me adivinhar... eles lhe compraram outro automóvel? – Sam assentiu bufando e Heather riu.
- E quando eu vou conhecer finalmente o infelizardo do seu namorado?
- Não fale assim! – Estapeou-a fraco sorrindo. - Pois agora mesmo eu ligarei e pedirei que ele venha...
Heather assentiu vendo Sam pegar o celular.
Deena passou a tarde inteira tentando ligar para Peter, mas sempre dava na caixa postal. Parecia que ele estava recusando suas chamadas e realmente estava... O rapaz não queria atender. Queria que ela se indignasse e fosse até ele lhe dizer o que se passava. Ela tinha o deixando realmente mal. Não adiantava dizer que nada acontecia, que estava tudo bem. Por que não estava. Ele sabia que não estava. Ele conhecia Deena, e a mesma não sabia mentir e tão pouco sabia mentir para ele. Se não a conhecesse tão bem, o sorriso que vira dela aos dias passados, diria que Deena estaria apaixonada. Era uma hipótese coerente, Deena sempre lhe falava sobre amor, estava melosa demais a semana toda, sempre andava no mundo na lua sorrindo abobalhada. Era realmente esse o ponto. Mas por quem ela estaria apaixonada? A única pessoa com quem passará todo o tempo fora Sam... Que estava completamente fora de cogitação. Ou será que... Não. Deena não faria aquilo com ele. Era um descabimento de sua parte ao pensar em tal insana possibilidade. Mas então, por quem seria?
Seu celular tocou e ela prontamente atendeu apressada sem olhar a tela.
- Peter?
- Oi, meu amor... – Ouviu a voz melodiosa através da linha telefônica e bateu na testa ao dizer o nome do amigo. - Está tudo bem? Está ocupado?
- Estou bem, Samantha. Ocupado não estou, por quê?
- Queria que viesse aqui para que conheça uma pessoa... Sabe a casa ao lado? Venha pra cá.
- Okay, estou indo ai.
Não demorou muito, Deena já se encontrava na casa da senhora Clarice que foi onde Sam lhe dissera que estaria. Teve a mesma reação da loira ao ver quem era a tal pessoa, aquela silhueta tão conhecida. Cabelos loiros um pouco escuro, lisos e grandes olhos azuis.
- Peter, essa é Heather, uma grande ami...
- OH, MEU DEUS, HEATHER – Gritou interrompendo Sam, não se contendo ao vê-la.
Abraçou-a sem mais nem menos, Heather não moveu um músculo não entendendo.
- Vocês se conhecem? – Sam perguntou um pouco contrariada olhando o afeto inesperado de seu namorado com ela.
- Eu realmente não sei o que está acontecendo aqui... – A garota riu sem graça. - Tenho certeza que nunca lhe vi, eu me lembraria com certeza de um moreno alto e gostoso. Sem ofensas, Samantha.
Sam não fez caso ao comentário, não ficou brava, pois sabia como Heather era. Brincalhona e atirada, típico dela. Mas voltou a olhar seu namorado esperando alguma resposta do mesmo.
- Não... a gente não se conhece...(?) – Gaguejou sobre olhares curiosos. Se bateu mentalmente por ser burra em cometer um deslize como aquele.
- E então? – Sam falou levantando as sobrancelhas referindo-se a reação do namorado.
- Hum... Eu me empolguei. É que você falava dela tantas vezes que eu acabei agindo como se a conhecesse à anos... Desculpe-me pelo meu comportamento, Heather, certo? – Fingiu esquecimento e Heather apertou sua mão ainda um pouco confusa.
- Sim. Tudo bem, gatinho. – Sorriu divertida.
A história tinha um fundo de cabimento mas Sam ficou desconfiada com a grande empolgação dele ao ver sua amiga, mas resolveu não contestar. Talvez não fosse nada demais, afinal, ele havia mudado muito e talvez isso fizesse parte da mudança.
A conversa continuou de uma maneira amena, um pouco descontraída já que Deena se limitava a falar o mínimo possível para que não deixasse evidências de que sabia demais sobre Heather. Não queria dar mais um escorregão como aquele de antes então se manteve absorta em seus pensamentos, o que lhe fez surgir uma ideia. Não sabia se daria certo. Mas era a única forma e ela tentaria de qualquer forma. Depois de ficar ali por um tempo, Deena se despediu de Heather com um abraço e Sam com um beijo com uma desculpa esfarrapada de que precisava resolver algo importante.
Chegou em casa já sabendo que deveria por seu plano em ação. Pegou o celular e discou o número de cor mandando uma mensagem logo depois.
Deena: Preciso falar com você urgentemente!
Heather: Primeiro me diz quem é, depois lhe digo se podemos conversar ;)
Deena rolou os olhos lembrando que não estava com o seu celular: Sou eu, Peter.
Heather: Oh. Olá, Peter, como conseguiu meu número?
Deena: Não importa. Eu preciso falar com você, é urgente!
Heather: Sobre oq? O que quer com minha pessoa? Sam sabe sobre isso?
Deena: Eu te explico quando estiver aqui. Venha logo, Heather!
Heather: Ok... Me passa o endereço.