~ Helena ON ~
- O médico disse que ela pode não acordar por mais alguns dias... - consegui ouvir alguém dizer, mas a voz parecia distante.
Como se eu tivesse em um sonho.
- O importante é que ela está bem... - essa foi uma voz feminina.
- Só vou ter certeza disso quando ela realmente acordar... - dessa vez, consegui reconhecer o dono daquela voz.
Bruno.
É o Bruno.
Abri os olhos devagar e a primeira coisa que senti, foi uma dor na barriga. Uma pontada forte que me fez desejar voltar a ficar inconsciente.
E, foi por conta dessa dor, que eu lembrei de tudo.
Lembrei de estar conversando pelo celular com o meu marido e Adam apareceu. Ele me obrigou a entrar em seu carro enquanto me ameaçava com uma arma. Um acidente aconteceu e eu consegui ligar para o Bruno.
- Você vai manter aquela promessa?
- Não precisa pensar nisso agora, eu tô chegando.
Eu quis me despedir com medo daquela ser nossa última conversa, mas não consegui dizer tudo porque acabei perdendo a consciência.
Pedi para ele cuidar das nossas filhas...
- O plano é usar suas filhas para fazer a Sophie falar comigo.
Ao lembrar disso, o desespero tomou conta de mim.
- Ele vai... - tentei falar, querendo chamar a atenção deles, mas minha voz saiu fraca.
Baixa demais.
Quando enxerguei com clareza o teto branco do quarto, fiz menção de sentar na cama, mas falhei, obviamente.
- Helena... - Bruno me chamou, só que nem sua presença conseguiu me acalmar naquele momento.
Eu sentia o mesmo terror que senti enquanto estava presa no carro junto com Adam.
- Ele vai tentar pegar... - tentei novamente, e meu marido segurou meu braço me mantendo deitada na cama.
- Olha pra mim. - ele pediu.
- Você não entende. - exclamei, agoniada. - O Adam...
- Meu amor, está tudo bem. - afirmou.
- Não está. - falei. - Ele disse que vai pegar as duas...
- Adam não pode mais machucar ninguém. - disse, com convicção. - Vai chamar o médico e avisa que ela acordou.
A terceira pessoa que se encontrava no quarto, disse alguma coisa que eu não entendi, e então saiu.
- Como pode ter tanta certeza? - perguntei, olhando para ele pela primeira vez desde que acordei.
Bruno passou a mão em meu rosto talvez tentando me acalmar.
- Ele não resistiu aos ferimentos do acidente. - contou. - Faleceu essa noite.
E, naquele momento, eu senti um alívio tão grande que até me senti mal por isso.
Tenho que me culpar por não lamentar sua morte?
Ele é o culpado por eu estar nessa situação.
Ele ameaçou minhas filhas.
Deitei a cabeça de volta no travesseiro enquanto processava aquela notícia.
- Quanto tempo estou aqui? - perguntei, e voltei a encarar o teto.
E, como em uma passe de mágica, o terror tinha ido embora, junto com o alívio.
Agora, eu sinto um grande vazio no meu peito.
- Duas semanas. - respondeu, e nem o carinho que o mesmo continuava fazendo no meu rosto, aqueceu minha pele. - O acidente foi muito grave... Você acordou até antes do esperado.
Franzi o cenho quando notei um tom estranho na sua voz.
- Grave quanto? - questionei, desconfiada.
Bruno parou de tocar meu rosto e eu notei como ele ficou tenso.
- O médico vai conversar com você.
- Eu quero que você me fale o quão grave foi o acidente. - pedi.
Meu marido segurou minha mão e dessa vez, ele quem pareceu tentar se acalmar.
- Você não pode mais engravidar.
Fiquei alguns segundos calada enquanto aquela informação rondava minha cabeça.
É, não tenho que me sentir culpada por não lamentar a morte de Adam.
Sei que falei várias vezes que não queria engravidar de novo, mas ainda era uma escolha minha.
Ele tirou isso de mim.
No entanto, eu continuo sentindo aquele vazio no peito. Por isso, a dor de saber que eu não podia mais engravidar, não foi tão grande.
Como se uma chavinha tivesse sido rodada na minha cabeça.
Meu cérebro talvez tentando me ajudar a passar por tudo isso.
A lidar com o acidente.
Não sei exatamente o que é, mas me sinto diferente.
Não sinto nada além da dor na barriga causada pelo galho.
Os próximos dias no hospital foram parados e entediantes. Eu realmente odeio aquele lugar, mas sempre sou atraída de volta.
As dores pelo menos diminuíram e segundo o médico, se eu continuar evoluindo na recuperação, vou embora mês que vem.
- Aonde você vai? - perguntei, quando Bruno levantou do sofá.
- Ligar pra casa, saber como as meninas estão. - respondeu, e se aproximou da cama. - Precisa de alguma coisa?
- Que você não demore. - respondi, e sentei na cama. - Já é ruim ficar aqui, ainda mais sozinha.
Ele se inclinou na minha direção e deixou um beijo no topo da minha cabeça.
- Não vou. - prometeu, e quando estava se afastando, pareceu lembrar de algo. - Seu pai disse que vai passar essa noite aqui com você.
- Tudo bem, mas eu quero você amanhã cedinho aqui. - falei.
Ele sorriu.
- Eu vou estar, meu amor.
Quando ele me deixou sozinha, eu virei um pouco meu corpo para tentar ajeitar meu travesseiro.
Ouvindo o barulho da porta, pensei que fosse o Bruno ou alguma enfermeira, por isso, não liguei. No entanto, quando me ajeitei, tomei um leve susto com a presença do Damon.
- Ah, é você. - falei, não escondendo minha decepção. - Bruno acabou de sair, talvez encontre ele no corredor.
- Não vim falar com o Bruno. - disse, e parou no meio do quarto, na frente da minha cama. - Toda essa situação me causa um certo déjà-vu.
É, eu tenho a mesma sensação. Todas as vezes que fiquei internada, Damon veio me visitar.
- Pode falar. - exclamei, me encostando nos travesseiros.
- É sobre nossa última conversa. - começou.
- Se refere aquela conversa que você me expulsou do seu escritório? - questionei.
- Sim, ela mesma. - respondeu, nem um pouco arrependido.
Suspirei.
- Damon, eu quase fui cortada ao meio e tô me sentindo um lixo por causa de todos os remédios que estou sendo obrigada a tomar. Então, já pode imaginar porque não quero conversar com você. - exclamei. - Muito menos com você.
Ele cruzou os braços assumindo uma postura mais firme.
- Vim na esperança da gente se resolver. Não é o que você quer?
Sorri, não acreditando.
- Você só me atura porque sou a filha da sua mulher, e infelizmente pra você, a esposa do seu filho. - falei. - Você não se importa com o que eu quero. É até engraçado fingir que liga.
Ele deu de ombros.
- Bom, eu tentei. - disse. - Mas você não está facilitando.
- Quer que eu facilite? Vamos fazer assim, se você não é paciente e nem trabalha aqui, conhece a saída. - falei.
Ele ficou me olhando por alguns segundos, e eu mantive o contato visual.
- Tenha uma boa recuperação, Helena. - e finalmente saiu.
Não vou deixar mais ninguém me atingir.
Não vou mais confiar.
Ser legal demais só me ferrou, só me trouxe problemas.
Eu tenho que deixar de ser assim.
Será que vocês vão gostar dessa mudança da Helena...
Até.