Call me King

By juliaavie

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E se um dia você acordasse e percebesse que agora é uma lady em um reino há 300 anos e se apaixonasse pelo re... More

MAPA
01 - Prólogo
02 - Quem sou eu?
03 - A Chegada
04 - Sebastian e Lucian
05 - Mãos Dadas
06 - Um Novo Rosto
07 - Em Quem Acreditar
08 - Duas em Uma
09 - Uma saída
10 - Ameaça
11 - Cuidado
12- Culpada?
13 - Espiã
14 - Brigas e Mentiras
15 - Coroação do Rei - Parte I
16 - Coroação do Rei - Parte II
17 - O Baile
18 - Explosão!
19 - Lucian!
20 - Eu Gosto Do Rei
21 - Eu Odeio o Rei
22 - Meu Herói
23 - Corra até ele!
24 - Vamos Fugir!
25 - Ela Perdeu a Memória
26 - Você não ama Ela
27 - Noivado Cancelado
28 - Inocente
29 - Salve-se Quem Puder
30 - Contra o Tempo
31 - Eu Amo Ela
32 - Eternamente NÓS
33 - Despedida
34 - A Santa
35 - Memórias Perdidas
36 - Quem é ela?
37 - Quebra-Cabeça
38 - A Verdade
39 - Papai?
40 - Condenado
41 - Cruel
42 - O Rei do Sul
42 - Castiel POV
43 - Deixe Nevar
44 - Ajoelhe-se ao Rei
45 - Fúria e Vingança
46 - Amor e Destino
47 - Profecia e Guerra
48 - Sede de Força
49 - Ambição e Desejo
50 - Reencontros
51 - Assassina
52 - Álibi
53 - Caos e Cosmos
54 - Xeque-mate
56 - Adversários
57 - Tentação
58 - Espiãs
59 - Lua e Sol
60 - Intuição
61 - Gananciosos
62 - Mentiras e Segredos
63 - Morte e Vingança
64 - Beijo
65 - O Começo do Fim
66 - Sanguinária
67 - Dança de Lâminas
68 - Cercear
69 - Desejo Obscuro
70 - Impetuosa
71 - Elimine o Inimigo
72 - Piloto Automático
73 - O Casamento Real
74 - Fronteira em Chamas

55 - Repressão

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By juliaavie

    Seus lábios pareciam tão convidativos que por um momento pensei que poderia apenas beijá-lo e esquecer de todo o enorme caos que estava acontecendo.

– Vai continuar sem me responder? – ele questionou e se afastou, apoiando as mãos na mesa que estava logo atrás de suas costas.

Lucian puxou todo ar de seu pulmão e expirou ele, enquanto encarava o tapete no chão do escritório. Ele não parecia só esgotado fisicamente, mas mentalmente também. Meu coração doeu... tanto, mas tanto que engoli seco para impedir que as lágrimas se formassem em meus olhos.

Sua mãe estava morta, seu pai estava morto, suas memórias estavam perdidas, seu tio era um traidor e agora o reino estava mergulhado em fome, além de estarmos entrando em uma guerra. De repente, todos meus problemas pareceram patéticos comparado aos dele.

– Está tudo bem... se você... quiser chorar.

Ainda me lembrava das palavras de Jake, quando ele me viu chorando pela milésima vez e eu me senti tão patética e fraca. Mas ele estava certo, chorar não dizia nada sobre sua força ou sua história.

– Eu não choro. – ele disse e continuou encarando o tapete.

– Eu sei que você foi criado para governar, para lutar, para tentar sempre fazer a melhor decisão e ser justo para seu povo. Desde que você nasceu tudo era sobre isso... sobre ser o próximo rei. Mas, não precisa ser só sobre isso.

– O que está dizendo? – ele me encarou e apoiei a mão em seu ombro.

– Estou dizendo que ser rei é o seu trabalho, mas é também uma imagem que você precisa representar. E você não precisa ser isso o tempo todo. Você é um rei, mas também é um ser humano como qualquer um nesse mundo. Você erra como todos erram. Mas também acerta várias vezes. E você tem sentimentos, não é porque você é um rei que precisa se privar da felicidade, do amor, da raiva e da tristeza.

Apesar de dizer tudo aquilo, genuinamente e do fundo de meu coração, eu não poderia imaginar que Lucian começaria a chorar na minha frente. As lágrimas começaram a percorrer seu rosto e seus olhos cinzas pareciam cristais quando ficaram marejados por elas.

– Estou perdendo eles... Minha família. – ele disse com a voz embargada.

Meu coração doeu. Mais do que já doía. Provavelmente era isso o amor, se alegrar ao ver quem você amava alegre e se contorcer de dor ao ver quem você amava em um lugar de tristeza do qual você não poderia ajudar. E eu era a culpada por ele estar assim agora. Talvez eu não tivesse o direito de estar ali, tentando consolar ele. Mas eu não conseguia não estar.

– Lucian...

– Eu entrei na biblioteca... e lá estava o corpo dela. Ela levou uma facada nas costas e depois no peito... seu vestido parecia ser vermelho de tanto sangue que havia no tecido. – ele descrevia com um terror e a tristeza estampados em seu rosto.

– Eu sinto muito.

– Eu falhei com meus pais. Eu falhei ao não matar o lorde Jones. E eu falhei com meu reino.

– Não, não! Você não falhou com ninguém. – coloquei as mãos e segurei seu rosto, enquanto limpava uma lágrima com meu polegar direito. – Esse reino precisa de você, então não fique se culpando por coisas que estão fora do seu controle. Entendeu?

Ele me encarou com aqueles olhos marejados e então eu não resisti ao envolver meus braços ao seu redor. Lucian ficou estático, sem saber o que fazer até me abraçar forte contra seu peito. Eu conseguia escutar as batidas rápidas de seu coração e o calor que preenchia todo o meu corpo. Por tanto tempo eu quis fazer aquilo e agora eu só queria que o tempo desacelerasse para que eu pudesse guardar cada detalhe de sensação e de seu toque.

– Perdão. Estou noivo, não podemos fazer isso. – ele rapidamente se desvencilhou para o lado e eu encarei a mesa, ainda sentindo o seu corpo grudado ao meu.

– Eu que te abracei primeiro... Foi apenas um gesto de amizade. – olhei para sua direção e ele assentiu com a cabeça, após terminar de enxugar as lágrimas.

– Amizade... sim, claro. Podemos ser amigos.

– Amigos... – pensei em voz alta.

Eu sabia que a rainha mesmo morta, havia ganhado. Porque eu nunca teria a audácia de ficar com Lucian, não quando eu precisaria guardar o segredo sobre a morte de sua amada mãe. Eu não podia. E era esse o meu castigo e ela provavelmente sabia quando disse aquelas coisas para que Victoria terminasse de matá-la.
Parece que no fim... ela havia vencido.

– Quando eu achar o culpado da morte de minha mãe... – Lucian passou a mão pela bainha de sua espada que estava na cintura. – ele só morrerá depois de eu arrancar cada parte do seu corpo e decepá-lo inteirinho.

Meu estômago se revirou e meu coração parecia ter parado por segundos. A tristeza que havia em seu olhar agora a pouco, havia se tornado em um ódio tão puro que eu jamais tinha visto nele. Quanto mais longe eu me mantivesse dele, mais seguras eu e Victoria estaríamos.

LUCIAN POV

Após ter conseguido jogar para fora todos aqueles sentimentos de tristeza, apenas a dor do ódio e a raiva consumiam minha alma. Eu havia falhado em proteger minha mãe, mas eu não falharia em vingá-la. E disso, eu poderia ter certeza. Porque eu iria até o inferno se fosse para encontrar o assassino e independente de quem fosse, eu daria o pior fim que qualquer um desejasse ter.

Jurei a mim mesmo, enquanto sentia o leão de diamante incrustado acima do punho da espada que era uma herança de família.

Após abraçar Marie, eu não tive dúvidas em saber que ela era a garota que aparecia em meus sonhos e pesadelos. Eu não tive dúvidas de que aquele perfume, que um dia eu pensei que pudesse ser de Anna, era na verdade dela. E por um momento, sentir seu corpo ao redor de meus braços foi perturbador. Como se houvesse algo adormecido dentro de mim e que ela fosse capaz de acordar.

Porém, eu sabia que aquilo era um erro. Eu precisava me casar com Anna e ficar curioso sobre o que era aquilo que Marie me fazia sentir, seria apenas um empecilho em meu caminho que poderia me levar a mais uma falha.

– Imagino que esteja cansado. Eu irei para meu quarto dormir. – ela reverenciou e me encarou com aqueles olhos tristes.

Eu não suportava aquele olhar dela. O olhar de piedade. Alguém como eu não precisava disso... mesmo que viesse dela.

– Claro. Vá e descanse.

Foi a única coisa que consegui dizer, enquanto a olhava caminhar até a porta, vestindo aquele traje sulista que ficava bem nela, mas seria melhor se fosse algo do Norte. E eu não sabia porque me importava tanto com algo banal assim.

"Eu amo você, Marie. E quero que você esteja eternamente junto a mim. É isso que essa pulseira significa."

Era como se houvessem fantasmas sussurrando em meu ouvido, fantasmas com minha voz e a dela. Eu não conseguia discernir se aquilo era real ou minha mente estava piorando por tantas noites mal dormidas. Eu a amava? Disso eu não sabia e ela não me contava nada, mas eu iria procurar essa pulseira assim que tudo se resolvesse e descobriria a verdade.

MARIE POV

O sol fresco e quente do Norte beijava meu rosto, junto com o vento que dançava nas cortinas esvoaçantes da janela aberta. Eu havia chegado no quarto e me jogado na cama, desabando em um sono profundo de tanto cansaço. Mas agora, que meus olhos estavam abertos e minha mente mais equilibrada e consciente, eu não conseguia acreditar em tudo que havia acontecido. E lembrar da cena com Lucian só piorava tudo. Meu comportamento desesperado e infantil por causa do álcool. Eu iria me desculpar, depois de tomar um pouco de vinho para que eu pudesse tentar parecer não tão atormentada e aterrorizada.

Olhar para aquele quarto e estar nele, me trazia lembranças de Bulut e de Lola. Memórias de uma pessoa que eu já não era mais. Era como se já tivessem passado 50 anos desde minha ida para o Sul. E aquele quarto me lembrava a antiga eu e tudo que eu já não era mais.

Me levantei e abri o guarda roupa, comecei a puxar todos vestidos de dentro e jogá-los na cama. Aquilo não me pertencia mais, e eu tinha certeza de que alguma camponesa faria ótimo proveito.

– Marie?

Lola entrou no quarto e me encarou. Fazia um bom tempo que eu não a via. Traidora.

Sim, era isso o que ela era. Se fingiu de minha amiga por tanto tempo e enquanto eu me matava de dúvidas e questionamentos, ela nunca me contou nada da verdade. Sua lealdade estava e sempre estaria com Victoria.

– O que está fazendo aqui? – questionei e voltei a retirar os sapatos de cetim do armário.

– Sou sua dama de companhia. – ela fechou a porta e caminhou até mim, olhando os vestidos sobre a cama.

– Você é? Que engraçado, porque quando a Victoria chegou você sumiu.

– Ela... me disse que você já sabe de tudo. E me disse sobre a... você sabe.

– Realmente ela confia cegamente em você então, já que te contou. Ou você está aqui para me espionar e contar para ela cada passo que dou?

– Me perdoe, por favor. Eu sei que errei. Mas, Marie, você mais do que ninguém sabe tudo que ela viveu. E eu estive ao lado dela e presenciei toda essa luta por todos anos.

Lola abaixou a cabeça e suspirou. Ela não era leal a mim, mas pelo menos era para minha irmã. E apesar de ainda sentir ódio de Lola, eu não conseguia imaginar o que seria de minha irmã se não a tivesse... se estivesse completamente sozinha nesse castelo.

– Doe esses vestidos. E compre apenas calças, botas e túnicas. Não quero mais nada em meu armário que não seja isso... E arrume um jeito desse quarto se tornar mais escuro. Não aguento mais tanta claridade. – apenas dei as ordens e fui para o banheiro lavar o rosto e tentei ajeitar o cabelo.

Me encarei no espelho e não foi surpresa ter enxergado como meu rosto estava. Com olheiras, os olhos pequenos de cansaço e o cabelo todo embaraçado. Me arrumei e após um banho, vesti outro conjunto sulista todo preto que eu havia trago na mala.

Saí do banheiro e olhei Lola dobrando os vestidos na cama. Apenas dei de ombros e saí do meu quarto, fechando a porta.

– Mas que cama macia que me deram... minhas costas estão até deslocadas de dormir nessa cama miserável! – Morgana reclamou, enquanto fechava a porta de seu quarto que aparentemente era de frente para o meu.

– Se quiser posso pedir para que alguém troque.

– Não, não. O melhor é ficar desconfortável. Só nosso lar é confortável para nós e é por isso que chamamos de casa.

Aquilo me fez refletir por um segundo sobre como me acostumei tão rápido com o Sul e agora me sentia desconfortável aqui.

– Venha, vamos tomar café.

Caminhei pelos corredores com Morgana, enquanto ela ficava tagarelando que não queria ver Victoria nem pintada de ouro e sobre como Castiel ficava insuportável quando não dormia direito e por isso eu deveria evitá-lo. Apenas assenti, sem me importar muito, e continuei andando até o salão de jantar.

Meu estômago se revirou e minha espinha gelou de cima a baixo quando passamos em frente à biblioteca. A porta estava fechada com quatro guardas na frente, mas pude ver quando ela se abriu para que um homem com óculos entrasse, acompanhado de uma espécie de médico. O corpo não parecia estar mais lá, pensei comigo mesma, obviamente já havia sido levado. Mas eles parecia investigar a cena do crime até agora.

Chegamos no salão jantar, a mesa comum havia sido substituída por uma mais longa para que coubesse outros nobres que se mantinham no palácio. Muitos rostos conhecidos já estavam lá, como Sebastian, Victoria, Jake e Laura. Me perguntei onde Castiel e Lucian estavam. Mas o que achei engraçado foi ver que não era um café da manhã e sim um almoço, claramente eu não havia acordado sete da manhã e sim mais de meio dia.

Morgana riu com escárnio e nos sentamos uma do lado da outra. Algumas pessoas nobres que pareciam de fora, começaram a olhar para mim e Victoria enquanto comentavam entre cochichos, provavelmente sobre o fato de sermos parecidas. Todos na mesa estavam vestidos de preto, provavelmente por causa do luto e devido ao respeito a rainha falecida. Felizmente eu havia vestido a túnica preta, porque a última coisa que lembrei foi o luto que penderia no palácio.

Encarei meu prato de comida de porcelana com detalhas de ouro nas bordas. Eu conseguia sentir o vazio em meu estômago, mas era como se não importasse porque eu não conseguia sentir nenhum apetite, mesmo com tantas comidas gostosas postas à mesa.

– Espero que descubram logo quem fez isso... Mal consegui dormir com medo de ficar nesse palácio. – uma mulher desconhecida que pareci ser uma duquesa disse.

– Pobre rei... ele estava muito abatido no funeral mais cedo. – o homem ao lado dela respondeu e eu pude ouvir, o que me deixou surpresa.

– O funeral já aconteceu? – sussurrei baixo para Morgana.

– Sim, foi bem cedo. Você não compareceu garota?

– Não... eu estava dormindo. Será que alguém notou? – senti meus pelos se arrepiarem.

– Tenho certeza que certas pessoas notaram. – Morgana levou o pedaço de frango até a boca, comendo com muito apetite.

– Com licença. – me levantei da mesa e saí do salão de jantar.

Eu precisava encontrar Lucian para me desculpar por não ter comparecido. Na verdade, me aliviava o fato de não ter sido avisada, não sei se conseguiria estar presente nessa situação e não surtar. Assim que comecei a andar pelo corredor do castelo, uma mão se enroscou em meu braço e me puxou, notei que era Victoria assim que olhei para trás.

Havia uma espécie de escritório ou seja lá o que era aquele cômodo para onde ela me fez entrar e em seguida fechou a porta.

– Você está bem? – foi a primeira coisa que ela perguntou.

Victoria usava um longo vestido preto e mesmo sendo de uma seda simples, ela continuava deslumbrante com o contraste do tecido com sua pele branca e seus cabelos tão escuros quanto.

– É claro que não estou. Não consigo parar de pensar nisso e que seremos pegas a qualquer segundo.

– Você precisa se acalmar e colocar sua cabeça em ordem, ou então vamos acabar sendo incriminadas mesmo.

– Eu preciso te contar uma coisa...

Victoria me encarou, como se já pressentisse que viria notícia ruim.

– Eu estava dançando com o Castiel e ele viu uma mancha de sangue em mim, eu tive que contar que fui eu quem matei a rainha. Não havia outra saída. – confessei e ela colocou a mão na boca com semblante de terror.

– Por que você disse que foi você?! Ele com certeza vai te denunciar para livrar a barra dele. Já tem boatos acusando ele.

– Você me salvou. E além de tudo... isso é o que irmãos fazem um pelo outro, não é mesmo?

– Marie...

– Ele não vai me entregar. Não precisa se preocupar com isso.

– Você não conhece nada sobre ele, não é mesmo? Ele é um dos homens mais ardilosos, frios e manipuladores que eu já conheci. Tudo que importa para ele é expandir seu próprio reino, seu legado e vencer. Sempre. Independente de qualquer coisa.

Abaixei a cabeça e respirei fundo. Eu sabia que era isso que falavam sobre ele, também já havia dito para mim mesma tudo isso e como ele não era confiável. Mas eu não conseguia parar de possuir aquela conexão inexplicável que eu sentia sempre que estava próxima a ele, como se eu pudesse dizer e fazer qualquer coisa. Como se eu me sentisse segura, mesmo sendo ele.

– Ele não vai contar... afinal, se fosse para me denunciar, nesse momento eu já estaria na masmorra. – desabafei.

– Realmente... Mas não pense que ele não contou porque está te ajudando, com certeza ele já tem um plano futuro para usar sua confissão como chantagem.

E eu não duvidava daquilo.

– E você? Preciso que me diga se vai continuar com essa sua necessidade de vingança. Porque em breve estaremos dentro de uma guerra generalizada e não precisamos de uma guerra interior também.

– Então você não sabe de tudo, não é mesmo? Aquela velha não deve saber tudo que eu faço.

– Apenas responda, Victoria.

– Não se preocupe. Eu já tive minha vingança e coincidentemente dei um fim à última pessoa que eu precisava finalizar: a rainha. Claro que eu fiz isso para te salvar, mas não vou mentir... me sinto totalmente leve e livre agora.

Eu gostaria de dar um sermão nela por pensar naquilo, afinal ela havia matado alguém. Porém, enquanto meu lado ideológico pensava nisso, havia um lado obscuro em meu coração que se sentia vingado por isso. Por tudo que ela fez a mim, a minha irmã, aos meus pais.

– Você foi no enterro? – perguntei.

– Sim. A mesma cerimônia chata e longa de sempre. O que me lembra de que preciso perguntar o porquê de você não ter comparecido.

– Eu estava dormindo profundamente, nem fiquei sabendo de nada. Mas irei prestar minhas condolências ao rei.

– Faça isso mesmo, e tente inventar uma desculpa bem convencível.

Victoria começou a caminhar até a porta para ir embora, mas eu a interrompi ao perguntar: – E você está bem? – ela se virou e me encarou, ainda com a mão sobre a maçaneta.

– Sim. Eu não estaria se tivesse permitido que ela levasse a última coisa importante em minha vida.

Se fosse há um tempo atrás, eu provavelmente já estaria chorando. Mas, agora, era como se não existisse mais lágrimas dentro de mim para serem colocadas para fora.

– E o Sebastian? – questionei e ela abaixou o olhar, engolindo seco.

– Ele não era próximo da mãe dele como o Lucian e nem gostava tanto dela quanto seu irmão mais velho. Porém, ele ainda está abalado e... apesar de amar ele, eu jamais poderei contar sobre isso. E eu sei que você me entende, porque eu sei que você ama o Lucian.

Senti o ácido subir a minha garganta. Eu gostaria de saber como ela poderia ficar com ele após ter feito isso, mas era bom que ela conseguisse fazer isso. Os dois mereciam ficar juntos, depois de tudo que a rainha fez para atrapalhá-los. E Victoria merecia ser amada e amar.

– Se precisar de algo, apenas venha me dizer. E... tome cuidado com o rei Castiel. E com Lucian. – ela disse e saiu do lugar, me deixando sozinha com meus pensamentos intermináveis.

Após alguns minutos, saí em direção ao salão do trono, onde provavelmente o rei estava. Caminhei pelos corredores e subi desci a escadaria. Me aproximei dos dois guardas que estavam na frente da porta e ao questionar se vossa majestade estava presente, eles negaram e se recusaram a dizer sua localização. Apenas suspirei e saí caminhando para o jardim e ao adentrar, pude notar de longe que Castiel estava bebendo um chá com Lucian.

Há quanto tempo estavam ali? Talvez estivessem falando do Oeste e o outro continente? Ou estavam falando da rainha falecida? Talvez até de quando o noivado seria realmente realizado. Eu tinha tantas questões.

Me aproximei lentamente e eles me encararam simultaneamente.

– Lady Marie, não deveria estar almoçando? – Lucian disse e eu reverenciei ambos.

– Estou sem apetite, vossa majestade.

– Bom, eu estava prestes a mostrar os campos de flores para Castiel, gostaria de nos acompanhar? – ele disse e se levantou da mesa, juntamente de Castiel.

Assenti com a cabeça e então segui os dois, enquanto Lucian caminhava para uma direção do jardim que eu não havia ido ainda. Continuamos andando por uns minutos, enquanto Lucian e Castiel conversavam sobre caçadas, como se não estivesse nenhum problema gigante acontecendo. Eles realmente pareciam estar em outra realidade.

Fiquei sem fôlego, assim que descemos uma escadaria de pedra e nos aproximamos de uma das coisas mais belas que meus olhos já haviam visto.

– Meu Deus...

Havia um grande campo de cultivo de tulipas, crisântemos, rosas, cravos e margaridas. Todos tão coloridos como um arco íris e distribuídos em longas faixas.

Lucian me olhou e sorriu.

Desci a escada rápido e saí andando na frente deles para chegar rapidamente ao campo. Eu havia visto as plantas da estuda e dos jardins, mas nunca tinha imaginado que existia algo do tipo naquele lugar.

Encostei a mão, delicadamente, na tulipa cor de rosa e senti com meu toque a suavidade de suas pétalas.

– Já tem um tempo que os botânicos e jardineiros vieram trabalhando nisso, mas só agora elas foram desabrochar. – Lucian explicou e se aproximou me encarando. – É uma bela imagem. – ele disse, provavelmente se referindo ao campo.

– É um belíssimo campo. – Castiel ficou ao meu lado e analisou as flores.

– Estou apaixonada! – sorri e eles me encararam rapidamente. – É uma das coisas mais perfeitas que eu já vi.

– Não imaginei que gostava tanto de flores.

LUCIAN POV

Eu não conseguia tirar os meus olhos daquela imagem. O brilho em seu olhar e o sorriso largo igual de uma criança quando ganha um presente, poderia passar o resto do meu dia apenas vendo ela feliz e aquele sentimento me deixava mais cauteloso ainda.

Castiel parecia leve quando estava conversando mais cedo comigo e bebendo o chá que foi servido, mas agora ele mantinha aquela expressão rígida e com uma indiferença fria em seus olhos. Talvez fosse coincidência ele ficar assim sempre que ela estava por perto? Eu ainda não conseguia entender tal comportamento.

Marie saiu andando e passando a mão nas flores, enquanto parecia rir sozinha. Aquilo quase havia me feito esquecer do porquê ela não tinha comparecido ao funeral.

Castiel cruzou os braços e ficou rígido como uma muralha. Caminhei até Marie, próxima as rosas vermelhas, ela jogou seu cabelo para o lado e então se aproximou para sentir o aroma da flor.

E então, um flash de memória surgiu em minha mente.

Ela estava lá parada próxima as rosas e então eu coloquei a mão em seu braço, perguntando:

– Você está bem?

– E você se importa?

– Marie...

– Você está praticamente noivo, não é correto mantermos tanta intimidade assim. De agora em diante, vamos fingir que não nos conhecemos. – ela baixou a cabeça, como se cuspisse as palavras contra sua vontade.

– Fingir que não nos conhecemos?! – eu disse, com o coração apertado e doloroso.

– Sim. Seremos o que realmente sempre fomos... um rei e uma súdita. Boa noite, vossa majestade. – ela se curvou e eu pude ver o brilho das lágrimas em seus olhos.

Eu coloquei a mão em seu cabelo, tentando me conter para não beijá-la ali mesmo. Eu não podia.

– Você realmente deseja isso?

Perguntei e ela foi embora sem responder.

CASTIEL POV

Desde que Morgana havia me revelado que aquela garota era minha ikizi, eu não conseguia acreditar. Não havia nada em minha vida que eu perdi de controle e eu nunca estive interessado em relacionamentos amorosos por puro sentimentalismo, afinal, casamentos eram para fins políticos e de poder, não por essa bobagem de amor.

Amor era apenas uma invenção dessas pessoas que não tem mais o que fazer e precisam de grandes histórias para comover os outros. Mas tudo isso de alma gêmea era apenas uma criação humana, não existia de fato. Mesmo que Morgana tentasse me convencer que se tratava do destino e que eu deveria saber pois poderia ser minha ruína ou salvação, eu ainda não conseguia realmente acreditar que aquela garota poderia me levar a tal fim.

Desde então, tentei me manter o mais longe. Apesar de saber que aquela velha não mentia, eu realmente não acreditava que havia uma força maior que pudesse me fazer amar alguém que como ela. Isso com certeza era um absurdo. Eu sempre controlei minhas emoções e nunca fui o tipo de pessoa que possuía muitos, para ser sincero. Talvez Morgana tivesse se confundido pela primeira vez.

Era inacreditável como duas pessoas apaixonadas conseguiam acreditar mesmo naquilo e viam o parceiro como se fossem aquilo que mostravam ser. O ser humano não é e nunca será confiável, todos se escondem por trás de uma máscara. Mas eu sempre soube que os mais perigosos são aqueles que fingem ser bons. Todos temos obscuridade dentro de nós, claro que alguns mais do que outros, mas me intrigava saber qual era esse lado dentro dela.

Afinal, era óbvio também que ela não havia matado a rainha. Sua irmã era uma grande manipuladora e estrategista, e a maçã nunca cai longe da árvore. Havia muito o que temer nesse mundo e o ser humano era o maior de tudo. As pessoas quando querem sobreviver, são capazes de qualquer coisa, todos são cruéis e egoístas no fundo.

Analisei a garota sorrindo como idiota para o campo que realmente era belo. Aquele sorriso me incomodava, era como se ela sorrisse com o olhar. Assim como sorriu ao ver a neve caindo pela primeira vez.

Ela cheirou a rosa e então olhou para mim.

– Você não quer sentir? – seus olhos brilhantes me encaravam.

– Não.

Lucian mantinha seus olhos fixados nela, porém distantes como se estivesse vendo um fantasma. E ela não se importava dele estar tão próximo.

– Marie... – ele pronunciou o nome dela e eu franzi a testa. Ela o encarou confusa sem entender também o que ele havia visto ou descoberto.

Seria possível que as memórias de tivessem retornado? Meu coração se apertou forte, enquanto eu parecia um intruso entre os dois.

•••

Gostaria de agradecer imensamente por todo amor, apoio e carinho que vocês dão para a história. O único motivo de eu continuar escrevendo são vocês. Obrigada por tudo e por sempre me fazerem rir com seus comentários!

Espero que gostem de mais um capítulo! Votem e comentem para ajudar a história! ♥️

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