A Dama do Luar: Bruxas Vitori...

By BC_Siqueira

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HISTÓRIA COMPLETA NA AMAZON 🌙 Genevieve Johnson guarda um segredo. Escondida sob o véu da noite, protegida p... More

Nota da Autora
🌒 PROMESSA 🌘
🌒 PRÓLOGO 🌘
🌒 CAPÍTULO 1 🌘
🌒 CAPÍTULO 2 🌘
🌒 CAPÍTULO 3 🌘
🌒 CAPÍTULO 5 🌘
🌒 CAPÍTULO 6 🌘
🌒 Nota da Autora 🌘
🌒 Bruxas Vitorianas na Amazon 🌘

🌒 CAPÍTULO 4 🌘

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By BC_Siqueira

Whitewood Grove era uma construção imponente, com diversos cômodos e, ainda no exterior da residência, ao olhar através de uma janelas, Genevieve foi acometida por um calafrio subindo desde a base de sua espinha e se propagando pelos braços. Olhos pesados e vítreos recaiam sobre a casa. Era uma força de sabor metálico, como sangue se espalhando em sua boca, e de cheiro bolorento.

Algo apodrecia lá dentro.

Havia um chamativo contraste entre as duas propriedades vizinhas. Violet Valley era robustez e delicadeza, com sua fachada de pedras e madeira rústica cercada pelo singelo jardim de violetas, convergindo em um recanto acolhedor, por outro lado Whitewood Grove era sombria, com suas cores fechadas, repelia ao invés de convidar, o jardim possuía mais folhagens do que flores, era bem cuidado, mas mesmo assim havia algo de errado na propriedade como um todo, hostil.

Seus instintos gritavam em sua cabeça, levando-a a quase fugir, mas não poderia retroceder. A cada passo que dava em direção a porta, a dor em sua cabeça aumentava, pulsando feito um coração, agitado na frequência de um bater de asas de uma ave enlouquecida. Genevieve lutava com todas as forças contra a sua própria natureza, ao se aproximar do cerne da tormenta, da ferida que vertia pus e infeccionava aquelas terras.

Até mesmo o ato de caminhar era prejudicado, a sensação era a de estar afundando na lama, com os pés presos no chão, mas o gramado era perfeitamente aparado e destituído de lodo, embora houvesse pequenas possas por conta da garoa fina que caía intermitente, não deveria ter tanta dificuldade assim ao atravessar a propriedade.

O ar era igualmente denso e impregnado, como se estivesse no fundo de um lago escuro, sofrendo a pressão da água em cada ponto de seu corpo. Seus pulmões mal eram capazes de se inflarem com oxigênio, pois se afogavam, e afogamentos provocavam uma última tentativa desesperada de braços agitados segurarem algo que pudessem impedir que o corpo afundasse, mas não havia nada em que Genevieve pudesse se segurar.

— Precisamos ir embora — sussurrou para Ethan, sem saber se ele escutaria sua voz quase inexistente.

— Não fique receosa sobre as coisas que Will disse no jantar, ele se equivoca em suas impressões sobre Sarah.

— Não é isso... — Como poderia explicar?

— Se sairá muito bem, tenho certeza. — Sorriu e ofereceu o braço a ela, interpretando erroneamente a aflição que Genevieve apresentava.

A dama engoliu em seco e recusou entrar de braços dados com Ethan, mantendo as mãos unidas diante das saias do vestido cinza lilás que usou na noite anterior, vestido esse que ficava muito comprido para ela, de modo que as barras arrastavam no chão e por isso se encharcaram.

Quando subiram os degraus que finalmente conduziam até a porta, Genevieve lançou um último olhar para a carruagem emprestada por William, pesarosa por sua chance de escapar, estar prestes a ser levada embora pelo cocheiro, que retornaria somente ao entardecer para buscá-los. Em verdade, pelo céu escuro e as brumas espessas que se mantinham suspensas, se poderia dizer que estavam mais próximos da noite do que da hora de servirem o desjejum.

Um homem de fios grisalhos e marcas do tempo espalhadas pelo rosto, os recepcionou. Ethan o cumprimentou pelo nome e a apresentou a ele, mas Genevieve não conseguiu se atentar ao diálogo, pois seu interior revirava. O mal estar era tão grande que ela temia se dobrar ali mesmo e derramar todo o conteúdo de seu estômago no chão. Como poderiam não perceber aquele cheiro terrível?

— Sente-se bem? — Ethan questionou ao analisá-la, transparecendo preocupação na face.

Genevieve supôs que ele se preocupava com o sucesso do próprio plano, apenas.

— É um mal estar passageiro.

Ele retirou um lenço do bolso e fez menção de tocar a testa de Genevieve com ele, mas a dama deu um passo para trás antes que ele conseguisse. Inconscientemente, encostou na fronte com o dorso da mão, notando, apesar de permanecer de luvas, que estava molhada, tanto de sereno quanto de suor frio.

— Vamos, vou levá-la até a sala para que possa se sentar — chamou.

— Não. Dê-me apenas alguns minutos.
Ethan pareceu querer dizer mais alguma coisa, mas se calou, aguardando em silêncio, que ela se recuperasse.

A respiração de Genevieve estava superficial, algo a envenenava, entrava pelas fissuras de sua pele e se espalhava como uma doença.

Para se distrair, passou a observar as pinturas e fotografias dispostas na entrada. Com molduras elaboradas, os retratos de um mesmo homem ocupavam todos os espaços de todas as paredes disponíveis. Em alguns, a pose dele era leve e despreocupada, em outros estoica, e em outros quadros, Genevieve poderia jurar que não estava vivo. Sabia ser um costume de algumas famílias, manterem uma última lembrança antes que o ente querido fosse perpetuamente levado para baixo da terra.

— No início do período de luto, Sarah ordenou que todos esses quadros fossem trazidos para cá. Confesso que os diversos pares de olhos de Sr. Whitewood me incomodavam quando passei a trabalhar aqui, porém me habituei a eles.

Genevieve deu um passo em direção a parede abarrotada, o retrato que estava na altura de seu rosto fora claramente feito após a morte. Os olhos dele estavam fechados e sua postura ao se sentar na cadeira estava rígida demais, sua pele aparentava um tom mais escuro do que nas outras pinturas e fotografias, quando ainda respirava.

Sem notar, Genevieve diminuiu ainda mais a distância ente ela e a parede, de modo que sua respiração alta e quente se condensava no vidro da moldura. Algo a empurrava para frente, algo mantinha seus olhos presos ao rosto que revelava os primeiros sinais de decomposição.

As pálpebras de Sr. Whitewood se abriram, a boca dele também. Um som rouco e grave, vindo do próprio além-mundo, como se um túmulo profano fosse aberto, apossou-se dos ouvidos de Genevieve. Ela quis cobrir as orelhas com as mãos, mas seus braços estavam tão rígidos quanto os do homem da fotografia. A dama pensou estar perdendo a razão, quando viu um ponto negro se insinuar pela boa aberta de Whitewood, sem demora, o restante do corpo da criatura apareceu, revelando uma serpente feita de sombras.

“Cuidado"

Genevieve deu um salto para trás, se chocando de costas contra o peito de Ethan, que a amparou com as duas mãos em seus braços, em uma posição logo abaixo de seus ombros, segurando-a com firmeza para equilibrá-la. Um grito estrangulado estava preso na garganta dela e as sensações dissonantes quase a rasgaram no meio.

Ethan era o avesso do medo e da escuridão, lavando para fora dela os espectros sepulcrais, dissipando com a imponência de seu toque todas as forças ocultas que se empenhavam a devorá-la. Os joelhos ameaçaram ceder, Genevieve quase foi arrastada pelo vórtice rodopiante que se avolumava sobre ela.

E Ethan não percebia, percebia que ele...

Ele o quê?

Genevieve não sabia “o quê”, mas era alguma coisa!

“Lembre-se e permita sua alma despertar
Lembre-se e permita sua alma despertar"


— Genevieve?

A girou delicadamente para que ficasse de frente para si, ainda mantendo as mãos em seus braços; o horror deveria ser evidente no semblante de Genevieve, pois ele disse:

— Talvez seja melhor irmos embora, podemos retornar outro dia.

Quis responder que sim, que concordava, mas foi interrompida.

— Ora, se não é o meu mais estimado administrador.

Genevieve se afastou de Ethan, desvencilhando-se de seu toque, e foi abrupto como uma foice cortando todas linhas que os conectaram há pouco.
Uma mulher alta, de cabelos louros opacos, com um penteado severo e um vestido preto, os observava com curiosidade.

—  Pelo que eu me recordo, a senhora possui somente um. — Ethan forjou um sorriso atrevido, não completamente sincero. Seu rosto ainda guardava a sobriedade despertada pela preocupação.

— Não seja tão apegado aos detalhes, saiba receber um elogio. — Fez um gesto despreocupado.

— Perdoe-me, não estou familiarizado a palavras de gentilezas sendo direcionadas a mim pela senhora.

— E não espere que um dia se tornem corriqueiras. — Elevou a cabeça e exibiu algum divertimento em seus lábios, contudo seu semblante se alterou ao avaliar Genevieve. — Quem é essa pobre criatura que traz consigo?

— Srta. Genevieve Johnson de Massachusetts, prima de meu amigo, William Carter.

— E acaso as despensas de Violet Valley estão vazias, para que não a alimentassem? — Sarah correu os olhos por ela, das barras molhadas e compridas que ocultavam seus pés, ao topo de sua cabeça.

Que mulher grosseira. Genevieve odiava o fato de algumas pessoas considerarem que a idade avançada justificasse as descortesias que pronunciavam.

— Posso assegurar que estão abastecidas, tive excelentes e fartas refeições desde que fui recepcionada na casa de meu primo — Genevieve atirou, mantendo um sorriso sereno nos lábios.

Era consciente de que tinha uma função a desempenhar, a visita surtiria impacto diretamente no êxito de Ethan, mas ela se recusava a permitir que qualquer pessoa que a ofendesse não escutasse ao menos uma réplica de sua parte.

— Que pena, minha querida, devo supor assim que o defeito encontra-se na senhorita.

— O defeito está na língua de minha mais estimada empregadora — Ethan devolveu o elogio recebido por Sarah, ao passo que enviava uma reprimenda à viúva.

Inesperadamente, a mulher gargalhou, o som flutuou feito gralhas arranhando o teto.

— Venham, chegaram na hora do desjejum, aproveitem que os bolos ainda estão quentes e o chá também.
Genevieve e Ethan trocaram um breve olhar antes de seguirem Sarah.

Conforme atravessavam os cômodos, a temperatura parecia cair, ao ponto de Genevieve ter convicção de que estava mais frio lá dentro do que no exterior; o ar era como estilhaços de vidro nos pulmões. As mangas longas do vestido, as luvas e a gola alta, não foram suficientes para resguardá-la, além disso, suas pernas gelaram por conta do tecido encharcado que envolvia seus tornozelos.

Na longa mesa de ardósia, havia uma infinidade de pães, bolos, torradas, biscoitos e geleias. Uma quantidade que excedia ao número de participantes do desjejum; antes de Genevieve e Ethan chegarem, seriam apenas dois, ou melhor, duas. A anfitriã Sarah e uma jovem, de cabelos dourados e olhos avelã. O rosto dela era redondo, corado e acolhedor.

— Vejam quem decidiu nos presentear com uma visita em seu dia de folga — Sarah pronunciou.

— É sempre um deleite revê-lo, Sr. Hamilton.

A moça sorriu para ele, e foi como se o céu se abrisse, permitindo que o sol lançasse réstias mornas no salão obscuro.

— E ele nos trouxe Srta. Genevieve Johnson, prima de meu vizinho. Suponho que ela seja próxima de Hamilton, pois estavam abraçados quando os encontrei.

— Não estávamos abraçados — Ethan se defendeu da acusação.

Mas era tarde demais, o sorriso cálido ruiu, o rosto que antes fora luz, se recolheu em sombras. A íris avelã, então, se deslocou para Genevieve, que teve certeza de que se a mulher pudesse, condensaria o ar em estacas para cavar-lhe no peito.

— Não estávamos — Genevieve reforçou, porque era a verdade.

— Uma mera questão de semântica — Sarah assinalou. — Além disso, vieram sozinhos e uma dama que preza pela decência jamais se permitiria passar por tal situação.

— William viria conosco, porém acordou indisposto. Como já havíamos planejado o passeio e Srta. Johnson havia se arrumado, não vi motivos para adiar a visita. — Ethan devolveu.

— Meus votos de melhoras à saúde de Carter. — A viúva suspirou, desinteressada. — Srta. Johnson, essa é minha sobrinha, Beatrice Lancaster.

— É um prazer conhecê-la — Genevieve disse, pois os ditames sociais a obrigavam, a verdade era que não estava sendo nenhum prazer aquela visita como um todo.

Beatrice, por outro lado, não se esforçou a retribuir, reservando a Genevieve um curto aceno de cabeça.

— Já que estamos devidamente apresentadas, podemos comer — declarou a viúva.

Ethan puxou a cadeira, para que Genevieve se acomodasse, antes de tomar o próprio assento. Obviamente que o gesto atencioso não escapou a Beatrice.

Logo estavam comendo, exceto Genevieve, que sofria com a inquietação de seu estômago e o mal estar que não a abandonava. Diante dela, na parede, havia outros quadros exibindo a figura de Sr. Withewood, lhe tirando o apetite.

— Por quanto tempo pretende ficar em Liverpool, Srta. Johnson? — Sarah questionou.

— Ainda não sei dizer ao certo.

— Que permaneça por muito tempo — Ethan sorriu.

Sarah e Beatrice arregalaram os olhos, Genevieve teve que se controlar para não fazer uma careta. Permaneceria o tempo que ele determinasse — ironizou na mente.

— Há muitos pontos agradáveis para se visitar aqui e é sempre bom estar junto aos parentes que não costumamos rever com frequência. Suponho que irá aguardar o retorno de seus tios, de Londres, para que possa dividir alguns momentos com eles. — Sarah foi civilizada na resposta, provocando desconfiança em Genevieve.

— Sim, estou ansiosa para reencontrá-los.

— Que infortúnio que tenham viajado justamente com sua chegada, mas por outro lado, Sr. Hamilton a está recepcionando com as melhores gentilezas. Sinta-se agraciada por isso, ele não costuma apresentar modos tão refinados.

— Concordo que poderiam ser melhores — Genevieve se permitiu uma leve provocação direcionada a Ethan, apenas para que vissem que dispunha liberdades para tal.

Ele riu, aceitando a brincadeira.

— Srta. Johnson é espirituosa, lembro-me de algumas missivas que trocamos — Ethan falou. — Aprecio a companhia de damas espirituosas, não é verdade, Sra. Whitewood?

— E como sou grata ao bom Deus por isso, tive dezenas de administradores antes de conhecê-lo.

— Pode ser um indicativo de que deva reavaliar certos comportamentos — sussurrou Ethan.

— Sim, devo ser mais severa com meus empregados. Alguns estão ficando impertinentes.

O administrador riu e sorveu um gole de chá, as conversas e implicações amenizaram a carga lúgubre que impregnava a residência, mas o peso ainda estava lá, se alimentando silenciosamente daqueles que tão alegremente se juntavam em torno da mesa, alheios ao parasita que os espreitava.

— Eu não sabia que gostava de trocar correspondências, Sr. Hamilton — Beatrice retomou.

— Admito não ter apresso, não disponho de muito tempo para elaborar missivas poéticas, entretanto, Srta. Genevieve não se incomodou com minha falta de maestria com as palavras.

— Engana-se, o senhor sabe utilizar as palavras ao seu favor quando lhe convém, não concorda, Srta. Johnson? — Beatrice não escondeu a ira.

— Ele sabe.

De que outro modo Genevieve se veria junto daquelas pessoas, dentro daquela casa, se não fosse a lábia de Ethan?

— Sorte a minha, que o maior trunfo de Hamilton seja com os números — intercedeu Sarah.

—  E minha, pois posso contribuir para Whitewood Grove prosperar.

Sarah alcançou a mão de Ethan, sobre a mesa, e lhe deu um aperto maternal. A fala conseguiu penetrar no coração hostil da viúva.

Não conversaram muito depois disso, concentrando-se na refeição. Logo haviam terminado e dirigiam-se para uma das inúmeras salas. Antes que chegasse ao cômodo escolhido, Sarah puxou Ethan pelo braço, impedindo-o de prosseguir, deixando que Genevieve e Beatrice fossem na frente junto ao mordomo.

— Não sou tola.

— Sem duvidas de que essa uma das coisas que não posso alegar a vosso respeito.

— Sou velha, mas não estou cega. Sei o que está fazendo.

— Do que me acusa agora?

— Devo crer que nossa conversa de dois dias atrás não teve relação com o seu súbito enamoramento pela prima de Carter, foi uma coincidência.

— Já nutria sentimentos por Srta. Johnson há alguns meses, essa visita trará a confirmação de que devo assumir um compromisso. De fato, a conversa que tivemos estimulou-me a pensar em matrimônio.

— Sabe que fiz aquilo para que pedisse a mão de Beatrice.

— Jamais a tive em minhas considerações, sinto muito, gostaria que fosse diferente. Reservo carinho a ela, por ser sua sobrinha, mas não a vejo da maneira que a senhora desejaria.

Ethan não mentiu, queria estar apaixonado por Beatrice, de certa forma, tornaria tudo mais fácil; contudo, sem sentimentos reais sobre a sobrinha de Sarah, ele sabia que seria questão de tempo para tomar atitudes que a magoariam, não seria justo para com nenhum dos dois. Não desejava ter sobre si, expectativas que não conseguiria cumprir.

— Se estiver tentando dar-me voltas, Ethan... — advertiu. — O tenho como o filho que não pude gerar em meu ventre, entretanto não admitirei tamanha mentira.

— E eu a respeito e a estimo tanto quanto o faz por mim. — Foi sincero.
— Hum. — Entortou a boca e bateu o indicador nos lábios finos. — Vamos, temo que Beatrice possa ter cravado as unhas no pescoço pálido de Srta. Johnson.

— Trate-a com mais respeito, Sarah, não admitirei que fique o dia todo criticando sua aparência. — Novamente, a verdade fluiu de Ethan, ele de fato estava irritado com as falas da viúva.

Irritava-se consigo mesmo, inclusive, se não fosse por ele, Genevieve não teria se tornado alvo das frustações de Sarah e sua sobrinha. Decidiu que iria embora logo em seguida, não estava disposto a submeter Genevieve a tamanha tormenta. Ao planejar a visita, não supôs que Beatrice estivesse presente, e ela estar, tornava a permanência deles ali insustentável, pois as duas se uniriam para importunar Genevieve.

— Sra. Whitewood — corrigiu a viúva.
Os olhos severos dela o varreram uma última vez antes de rumarem para a sala.

***

Tic, tac, tic, tac...

Genevieve acompanhava os ponteiros se movendo no relógio, desejando que corressem mais rápido, puxou um pouco a gola do vestido, sufocada.

Tal qual os outros ambientes da casa, a sala também era sobrecarregada de memorias de Sr. Whitewood e por mais que quisesse evitar, seguia perscrutando-os em busca de sinais. Beatrice, que estava acomodada em um estofado diante de Genevieve, seguiu a direção da visão dela e esboçou um fraco sorriso.

— Minha tia parece disputar com Rainha Vitória sobre quem se mantém enlutada por mais tempo. Seu finado esposo era tão amado por ela quanto Príncipe Albert pela rainha, posso confirmar.

— É visível a devoção que dedica a ele — comentou.

— Sim, não são apenas os retratos espalhados. Ela mantém as roupas dele, seus diários e demais pertences pessoais intocados. Além, é claro, de ainda se vestir de preto, após quase quinze anos.

— Compreendo a necessidade que ela tem de sentir-se próxima ao Sr. Whitewood, mesmo após a partida, porém não há como ir contra certos acontecimentos, não há como alterar o curso natural da vida.

As memórias de Genevieve retornaram para seus pais, agonizando de febre, desfalecendo sobre a cama a qual tiveram que queimar posteriormente. Aos doze anos, fora forçada a aceitar a ausência deles e seguir adiante, não conhecia outro meio a não ser prosseguir; temia que se permanecesse muito tempo prateando-os, não permitiria que as suas almas descansassem, mantendo-as presas, condenando-as a vagarem sem rumo, impedidas de alcançarem o paraíso dos bons e justos.

Naquele tempo, ainda não havia sido agraciada com os dons de cura ofertados pela lua, eles vieram somente quando sangrou pela primeira vez. Gostaria de que tivessem surgido antes, pois talvez pudesse salvá-los, assim como tentava salvar a plantação, em honra aos pais, que trabalharam tanto para tornarem-na vigorosa e produtiva.

Vincent não sabia conduzi-la, as maiores preocupações do irmão giravam em torno das noites em clubes de ópio e de apostas, chafurdando em vícios enquanto esvaziava as reservas deixadas pelos pais e afanava parcelas do dote de Genevieve para mantê-los.

— Srta. Johnson, minha tia amou o marido, percebo por sua fala que ainda não sentiu o amor tocá-la, pois toda mulher que ama, faria o mesmo. Eu o faria, se perdesse o homem que possui meu coração  — Beatrice retomou. — Verdadeiros amores excedem o curso natural da vida.

Genevieve soltou uma lufada de ar pelos lábios entreabertos, como se tivesse sido golpeada com um soco no centro peito. A face de Beatrice se alterou, havia malícia, solidez e um tipo de determinação que levava as pessoas a cometerem atos desvairados.

Genevieve sabia sobre amor e sabia o que era perder pessoas que considerava as mais importantes para si. Contudo, não revelaria qualquer informação pessoal a Beatrice, estava claro que ela tentava suscitar ira em Genevieve, pois sentia algo por Ethan, notou assim que a viu sorrir para ele quando chegaram. Mas aquela jamais fora uma situação de disputa, uma vez que Genevieve não estava inclinada a desejar o coração do administrador, se Beatrice não tinha a retribuição do afeto, era por responsabilidade apenas dele.

— Vejo que estão tornando-se amigas — Sarah comentou ao tomar uma poltrona.

— Divergimos em algumas opiniões — Beatrice respondeu.

— Eu imagino que sim. — A viúva mal disfarçou o riso.

— A visita foi agradável, mas temos que retornar — Ethan disse, sem ao menos se sentar.

— Mas já? — Sarah se levantou.

Genevieve também não dissimulou a surpresa, combinaram de permanecerem durante a tarde toda, porém estava aliviada por ele desejar encurtar a estadia.

— Srta. Johnson chegou recentemente de viagem, não quero exauri-la.

— Muito bem, como desejarem. — Sarah aproximou-se de Ethan e estendeu a mão para que ele beijasse. — Mas faço questão de realizar um baile em homenagem a Srta. Johnson, em breve. Já que Hamilton demostra tanto afeto para com a senhorita, devo considerá-la parte da família.

As bochechas de Beatrice tingiram-se de vermelho, sua boca permaneceu aberta, prestes a formularem um protesto, contrariada com as atitudes da tia, mas a dama não disse nada.

— Agradeço a gentileza.

— A manterei atualizada sobre a preparação do evento.

Isso significava que Genevieve teria mais encontros do que gostaria com aquela mulher e não estava nem um pouco feliz com isso, entretanto, não queria pensar sobre tais questões naquele momento, pois estava ansiosa para deixar Withewood Grove.
Teriam tempo para debaterem sobre Sarah longe dali.

Por hoje é isso, espero que estejam gostando.

Nos vemos sexta que vem 🌙

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