A Dama do Luar: Bruxas Vitori...

By BC_Siqueira

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HISTÓRIA COMPLETA NA AMAZON 🌙 Genevieve Johnson guarda um segredo. Escondida sob o véu da noite, protegida p... More

Nota da Autora
🌒 PROMESSA 🌘
🌒 PRÓLOGO 🌘
🌒 CAPÍTULO 1 🌘
🌒 CAPÍTULO 2 🌘
🌒 CAPÍTULO 4 🌘
🌒 CAPÍTULO 5 🌘
🌒 CAPÍTULO 6 🌘
🌒 Nota da Autora 🌘
🌒 Bruxas Vitorianas na Amazon 🌘

🌒 CAPÍTULO 3 🌘

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By BC_Siqueira

Genevieve despertou do que parecia ser um longo e estranho pesadelo, gemeu ao esticar o corpo, inspirando o perfume suave dos lençóis. Suas pálpebras estavam pesadas, recusando a se abrirem, quase levando-a a ceder ao sono outra vez, se não fosse a sede que propagava um deserto em sua boca, ela se recusaria a levantar.

Porém, foi quando finalmente abriu os olhos, que a realidade a atingiu com a força de um tapa no rosto, levando-a até a se esquecer da secura em sua garganta. Não estava em casa, na vasta propriedade de Massachusetts, mas em Liverpool, sob a tutela de um homem que mal conhecia. Desmoronou, afundando no colchão macio, não queria acordar, não queria ter que ser obrigada a enfrentar as divergências que se apresentaram a ela.

Sem bater, uma jovem trajada com vestido marrom e com os cabelos ocultos em uma touca, entrou no quarto. Os braços dela estavam ocupados com uma confusão de tecidos.

— Ah, está acordada! O almoço já foi servido, e o chá também, sinto em dizer. Sr. Carter solicitou que a deixássemos dormir — disse ao depositar sua carga aos pés da cama sem nenhuma cerimônia.

— Sr. Carter? — Esfregou os olhos e suprimiu um bocejo.

— Vosso primo — explicou delicadamente.

— Sim, meu primo — afirmou, sem convicção.

— Ainda deve estar se sentindo muito cansada. — A jovem lhe ofereceu um sorriso compreensivo.

— Temo que jamais possa recuperar-me completamente — sussurrou, mais para si mesma.

— Não diga isso, amanhã já estará renovada, verá. — Balançou a cabeça em afirmativa. — Trouxe alguns vestidos de Srta. Carter, até que encomende novos. Tentamos lavar e consertar o da senhorita, enquanto dormia, mas infelizmente não houve meios de restaurá-lo.

— Está tudo bem.

Genevieve não tinha nenhuma intensão de rever o vestido, ele apenas lhe trazia memórias ruins.

— Deve servir, seus tamanhos são semelhantes. — A jovem pegou um dos modelos que estavam embolados na pilha sobre a cama. — A camisola lhe caiu muito bem, não é?

— Oh, sim. Fazia muito tempo que eu não trajava algo tão confortável.

— Muito bem. — Sorriu. — Deseja escolher alguns destes? Posso trazer outros.

— Não, esses são perfeitos.

Em verdade, as cores alegres não pareciam combinar mais consigo, Genevieve costumava usar tons azuis ou rosados; vestidos leves para o campo, porém algo dentro dela se apagou, de modo que se sentia inclinada a tornar-se mais uma que cederia aos tons sóbrios da moda inglesa; a Srta. Carter certamente era uma exceção por sua predileção vibrante.

Dentre os vestidos ali expostos, Genevieve encontrou um cinza-lilás, talvez utilizado para um meio-luto de Srta. Carter, que considerou mais pertinente ao seu estado de espírito; sem demora, a funcionária passou a ajudá-la a se vestir, amarrando o corset sobre a chemise e passando a crinolina sobre sua cabeça. Em sua antiga vida, não fazia uso de tantas indumentárias, a não ser quando fosse a algum evento social.

Ao voltar seus olhos para baixo, percebeu que as barras arrastavam no chão, e Genevieve já estava acostumada com esse contratempo, pois a maior parte de seus vestidos necessitavam de ajuste. Mas não quis incomodar a jovem serviçal com esse detalhe tão pequeno e que dificilmente seria notado pelos seus acompanhantes do jantar.

Genevieve foi penteada e teve as bochechas levemente beliscadas para lhe proporcionarem algum rubor, que ela duvidava que se estenderia por muito tempo, logo seria acometida por sua habitual palidez.

Olhou a si mesma no espelho e não se reconheceu, estava muito diferente. A roupa de gola alta e repleta de babados, unida aos ossos mais proeminentes das maçãs do rosto — expostos pelo penteado rígido — a tornavam aparentemente mais velha do que os seus vinte e quatro anos.

— Está belíssima. — A jovem elogiou.

— Obrigada. — De repente, franziu as sobrancelhas, incomodada com a falta de atenção que teve com a moça. — Como disse que se chama?

— Perdoe-me, eu não disse, meu nome é Amelie Clark. — Ruborizou.

Genevieve consentiu, com movimentos curtos com a cabeça.

— Bem, estou pronta para descer, Amelie.

***

Ethan tentava, sem sucesso, se distrair com um livro de contabilidade. Seus pensamentos flutuavam e cruzavam os limites das paredes de Violet Valley, adentrando sem convite o andar superior, de encontro com a dama que no espaço existente entre as batidas de um coração, realizou a façanha de fazê-lo estremecer.

Esqueça, Ethan — ordenou a si mesmo, ao seu lado mais razoável.

Preferiu tecer reflexões sobre questões mais práticas, como costumava ser de sua verdadeira natureza, e era recomendável permanecer nesse segmento.

Por enquanto seus trâmites estavam sendo bem sucedidos, e devia gratidão a William por isso, por ele aceitar recepcionar Genevieve, uma vez que Ethan não poderia levá-la ao seu apartamento enquanto não estivessem casados aos olhos de todos. Era grato, principalmente, a Genevieve, que aceitou ajudá-lo sem ao menos conhecê-lo; quando estivesse terminado, asseguraria de que ela fosse devidamente recompensada.

Então, os pensamentos que ele tentou reprimir, escaparam de suas mãos outra vez, filetes teimosos de fumaça fugindo por entre os dedos de ferro que ele tentava segurá-los. Ethan se inquietava, pois não compreendia aquele instinto protetivo que se abateu sobre ele no momento do leilão, tampouco sabia explicar o forte magnetismo que o atraiu para fora do pub, o atraiu para ela, isso sim era loucura. O que Will diria se lhe revelasse tais sandices? Era melhor não comentar nada...

O administrador apertou a mandíbula inconscientemente, não gostava do que não era claro, para ele era primordial que as situações se alinhassem como ocorria na matemática, sem espaços para contradições, respostas dúbias e meios termos. E ele sabia que não conseguiria descansar enquanto não ordenasse essas sensações desconhecidas, enumerando-as e nomeando-as.

Voltou os olhos para o mesmo parágrafo que vinha tentando ler há trinta minutos, bufou, ao dar-se conta de que o entardecer já engolia os últimos resquícios de luminosidade, o fato de ter esquecido seus óculos de leituras se agravava consideravelmente frente a ausência de luz. Certo, era melhor dar como encerrada a sua intenção de ler algo antes do jantar.

Sem demora, uma jovem funcionária entrou na sala, acendendo lamparinas e castiçais, junto com ela, surgiu um segundo ruído de farfalhar de saias e som de mais dois passos contra a madeira, indicando a presença de mais uma dama ali.

— Sr. Hamilton — Genevieve anunciou seu comparecimento.

A voz era suave, mas tão fria. Como ela conseguia produzir tal som conflituoso?

Ethan se levantou prontamente, depositando o livro no móvel que havia ao lado da poltrona. Genevieve estava parada próxima a porta, sua pele estava livre da sujeira, o cavalheiro vasculhou-a discretamente, desejando que o vestido não fosse de modelo tão fechado, impedindo-o de certificar se os hematomas que ele pensou ver espalhados pelos braços desnudos dela não passassem de um truque visual, fruto da sujeira que a cobria. A ideia de que alguém fosse capaz de feri-la, corroía seu juízo.

Cogitou perguntar a ela sobre as marcas, mas não quis pressioná-la a discorrer sobre seu passado, sobre uma vida que a deixou tão vulnerável e abandonada, contudo, não esqueceria o assunto e pretendia retornar a ele quando os dias de convivência houvessem cumprido o dever de criar e desenvolver alguma confiança entre eles.

Foi impossível não perceber o quão belo era seu rosto, mas faria questão de guardar a observação para si mesmo, pois nessa situação, mais do que nunca, deveria se esforçar para manter a sua cabeça no lugar. Elogiar damas sem ter intenção de firmar um compromisso com elas já lhe rendeu dores de cabeça demais. Irônico pensar nisso, pois se comprometeria com Genevieve.

— Srta. Johnson. — Sorriu. — Está se sentindo melhor?

O estômago de Ethan se contraiu, quando sua mente infeliz o lembrou de que em breve a trataria por Sra. Hamilton.

— Sim. — Se esforçou para sorrir de volta, mas este não lhe alcançou os olhos de tempestade, que encontravam-se nublados.

Ethan inspirou profundamente e se aproximou dela, a face de Genevieve instintivamente se contraiu, receosa. Os passos do rapaz estagnaram, não pretendia deixa-la desconfortável. Com a proximidade, percebeu que a estatura dela era ainda mais baixa do que se recordava, o topo da cabeça de Genevieve mal alcançaria seu ombro.

— Creio que eu ainda não tenha lhe agradecido adequadamente pela ajuda que está se dispondo a me ofertar — iniciou ele.

— Não tive muitas opções.

A fala o surpreendeu.

— E eu não tive intenção de fazer com que parecesse que não tinha. Deseja ir embora? — Uniu as sobrancelhas, analisando-a com cuidado. — Saiba que está livre, não a reterei aqui contra sua vontade.

Passeou o olhar por sobre cada sutil detalhe que se desenhava no rosto de Genevieve; por seus lábios fartos e róseos com um talho no meio, franzidos; por suas sobrancelhas negras e espessas; por seu nariz arrebitado e por fim encontraram a íris cinzenta.

Santo Deus, não iria prendê-la se ela quisesse partir.

Era por isso que Genevieve transparecia tanta angústia? E tinha razão ao senti-la se era assim que via Ethan: como aquele que detinha sua liberdade. Às vezes as situações pareciam muito simples para ele, quando não eram para os demais. Para Ethan o trato fora claro e objetivo, mas havia a possibilidade de não ter sido para ela; era um fardo decorrente de se possuir uma mente pragmática.

A conversa que teve mais cedo com Will, quando o amigo questionou seu altruísmo, lhe veio em mente.

— Não costumo retroceder com a minha palavra — revelou Genevieve.

Os seus pulmões esvaziaram, Ethan sequer dissimulou o alívio que o cobriu feito um abençoado manto.

— Muito me alegra que aceite permanecer aqui. Tenha certeza de que está entre amigos. — Quis tranquilizá-la.

Genevieve não o respondeu, preferindo desviar sua visão para qualquer ponto, longe do rosto dele.

A situação era, ao todo, desconfortável, mas compreendia que não deveria estar sendo uma mudança fácil para ela, sobretudo, não deveria estar sendo fácil confiar em alguém, após ter sido deixada por seu marido, a figura que lhe deveria prover segurança.

— Vejam só! — Will exclamou ao entrar. — Faltam-me palavras para expressar como está encantadora essa noite, minha querida prima.

Um sorriso casto aflorou nos lábios da dama, ao mesmo tempo que uma pontada inesperada lançou calafrios na espinha de Ethan. Queria ele ter feito o elogio, mas recordou-se de que prometeu não externalizar a observação sobre a agradável aparência de Srta. Johnson.

— Obrigada.

— Acompanha-me no jantar? — Ofereceu o braço a ela.

Genevieve, delicadamente, declinou a oferta, mas se manteve ao lado de William, enquanto Ethan os acompanhava, alguns passos atrás, com as mãos enfiadas nos bolsos.

Após o curto diálogo que estabeleceram na saleta, ele esperava que certos pontos tivessem sido esclarecidos, e que com isso, Genevieve se sentisse mais confortável, acolhida. Infeliz dele, que não suportava ver aqueles olhos de nuvens turbulentas, carregados de tristeza. Queria proporcionar a ela, o recomeço de uma vida positiva, longe daquela que a deixou repleta de tantos pesares, desamparada sobre um palanque no cais.


***

Algo espesso e amargo cozinhava no âmago de Genevieve, tornando-a pesada. Ethan realmente acreditava que estava lhe dando opções? Ou era ingênuo, ou pouco sensível. Para onde iria, se desejasse partir? Estava longe de todos que conhecia, seus pais estavam mortos, seu irmão a odiava e ela sequer tinha dinheiro para se manter.

Mas não poderia culpá-lo, ele não sabia. Não sabia de nada sobre ela.
Segurou o garfo com mais força do que deveria, estava confusa, se sentia sozinha, insegura sobre suas decisões. Estava no meio de estranhos, que poderiam fazer o que bem entendessem consigo, embora acreditassem que lhe apresentavam alguma “liberdade".

— Amanhã iremos até Withewood Grove, pretendo apresenta-la à Sarah — Ethan declarou.

— Já? — William voltou-se para o amigo.

— É melhor que seja o quanto antes.

— Srta. Johnson necessitaria de alguma instrução prévia.

— Sarah Withewood é minha empregadora. — Ethan se direcionou a Genevieve. — Ela exige que eu me case para que eu possa obter maiores responsabilidades em Whitewood Grove. Durante anos, fui seu administrador, mas agora tenho a possibilidade de ser escolhido como o seu herdeiro.

Bem, a explicação sanava muitas das dúvidas dela.

— Compreendo — comentou, limpando os lábios com um guardanapo.

— Terão que fazê-la crer que estão apaixonados — opinou Carter. — A viúva é ardilosa feito uma serpente.

— Mas estou apaixonado por sua prima, William — Ethan gracejou.

Apaixonada. Genevieve teria que portar-se como uma tola apaixonada, enquanto seu coração estava partido. Sim, conseguiria fazer isso, ao menos se esforçaria para tal.

Assim que percebeu que ela não compartilhava da brincadeira, o sorriso de Ethan esmaeceu.

Genevieve desviou a atenção para o assado, que estava muito bem feito e temperado, aliás. Envolver-se naquele trato, poderia não agradá-la como um todo, mas pelo menos poderia contar com boas refeições para atenuar os dias que se seguiriam.

— Irá conosco para Whitewood amanhã? — Ethan perguntou ao amigo.

— Não haveria riquezas suficientes no mundo capazes de me estimularem a encontrar-me com Sarah Withewood por vontade própria — Voltou-se para Genevieve. — Perdoe-me se a assustei, Srta. Johnson.

— Ele está exagerando, Sarah é fácil de conviver, após que se tenha aprendido a lidar com ela.

— E é por esse motivo que merece herdar Withewood Grove, Hamilton. Os xelins que lhe são pagos não fazem jus a dedicação e paciência que demandam seu cargo.

— Agradeço a consideração — respondeu para Carter, mas suas atenções retornaram para Genevieve. — Apenas mantenha-se calma, Sarah é perspicaz e tem a habilidade de desvendar mentiras.

— Farei o possível para que ela acredite.

— Não formalizaremos nada ainda, amanhã será apenas uma apresentação, não há com o que se preocupar.

As palavras não a confortaram, Genevieve não tinha vontade de conhecer ninguém, muito menos se essa mulher fosse tão desagradável quanto William insinuava. Porém, teria que cumprir a sua parte, para se ver o mais rápido possível livre.

Concentrou-se na comida, saboreando com calma e aproveitando cada mordida.  Evitaria pensar na visita do dia seguinte até que ela acontecesse, enquanto isso, preferia empregar sua atenção nos aspectos positivos de sua nova realidade. Jantaram em um silêncio tranquilo por alguns minutos.

— Srta. Johnson — William chamou e Genevieve olhou para ele. — Sinto muito se mais cedo dei a entender que não queria que se hospedasse em minha casa, pois fico feliz em recebê-la.

Então o que Ethan disse era verdade, a mãe de Carter de fato criou um bom anfitrião. Genevieve teria rido se tivesse intimidade o suficiente com seus acompanhantes para tanto.

— Não tomei a fala como ofensa — respondeu ela.

— Quem bom, espero que as acomodações estejam de seu agrado, ou então é possível que sejam alteradas, se desejar.

Genevieve deixou o talher sobre o prato. As acomodações eram perfeitas, aquela casa era suntuosa e confortável. Violet Valley era cercada por um vasto e belo jardim, dispunha de inúmeras flores que caracterizavam seu nome. E o seu interior era igualmente belo e requintado, seu quarto, inclusive.

— Está perfeito, Sr. Carter. Bem melhor que um porão de navio. — Genevieve ousou fazer um gracejo, mas não conseguiu sorrir, nem eles.

— Bem, o que acham de sobremesa? — William ofereceu, com animação. Uma clara tentativa de diluir a tensão presente.

— Eu aceito. — Ethan apoiou.

Mesmo desejando se refestelar na comida, Genevieve não suportaria permanecer ali, já teve o suficiente de interações por uma noite.

— Prefiro retirar-me, ainda estou muito cansada.

— Claro, fique à vontade. Tenha uma boa noite, Srta. Johnson. — Carter ofereceu-lhe um aceno cordial.

Os dois homens fizeram menção de se levantarem, indícios do cavalheirismo inglês, mas Genevieve os interrompeu com um gesto.

— Não é necessário.

— Então tenha uma boa noite, nos vemos pela manhã — testou Ethan.

— Sim, até amanhã.

Genevieve subiu as escadas, a cada degrau progredido, ela desejava que fosse um pouco mais de determinação adquirida, e quem dera que fosse verdade.

Espero que estejam gostando ✨

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