ALEXITIMIA - Tamaki Amajiki

By ve_libra

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ALEXITIMIA (sf); inabilidade ou dificuldade em verbalizar e expressar sentimentos. . Onde Tamaki descobre a s... More

Um - ALEXITIMIA
Dois - KAIRÓS
Três - KOI NO YOKAN
Quatro - LENITIVO
Cinco - BASOREXIA
Seis - INEFÁVEL
Final - ALEXITIMIA

Sete - JAANEMAN

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By ve_libra

JAANEMAN (exp.);

em urdu\hindi: lit. "minha alma". Expressão utilizada para designar uma pessoa amada, uma pessoa querida.

A carteira à sua frente estava desocupada.

Ele não conseguiu se concentrar um segundo sequer em nenhuma das aulas que tivera pela manhã e quase agradeceu a Deus quando foram comunicados que excepcionalmente naquela tarde as aulas estariam suspensas graças a uma manutenção que precisou ser feita devido as turmas do terceiro ano terem – na falta de uma palavra melhor – extrapolado nos treinamentos.

É lógico que a grande maioria da turma ficou desapontada com aquela notícia, afinal faltavam poucos dias para o festival e todos estavam aproveitando cada segundo para treinar e poderem finalmente mostrar para as agências o seu potencial.

Mas no momento ele não conseguia pensar nisso, afinal, a carteira à sua frente estava desocupada.

Tamaki ainda mantinha fresco em sua memória os acontecimentos da noite de cinema, principalmente o vergonhoso fato de ter desfalecido depois de beijar Lilith.

Pensar nisso fez seu corpo reagir fisiologicamente ao sentimento de vergonha.

Se ela estivesse ali certamente escutaria seu coração acelerar e perguntaria se ele estava passando mal como costumava fazer. Tamaki se esforçou para interromper seus pensamentos, principalmente quando sentiu a garganta fechar. Não queria chorar no meio da aula de inglês.

Por mais que fosse inevitável, ele ainda não estava realmente pronto para dar adeus a ela.

Não que ele tivesse tido a chance, afinal.

Voltando para a fatídica noite do seu desmaio, Tamaki passou cerca de 5 minutos desacordado, tempo mais que o suficiente para o mundo virar de cabeça para baixo.

Tamaki?

Quando acordou Lilith já não estava mais lá e Nejire parecia desolada no canto da sala, coube a Mirio explicar o que havia acontecido.

"- A tutora dela veio buscá-la." – ele havia dito. – "Parece que aconteceu alguma coisa com a família dela e a mãe dela não quis explicar tudo por telefone...".

Aparentemente o incidente com o pai dela havia sido um dos menores problemas, o grande caso mesmo aconteceu quando seu irmão mais velho se descontrolou e acabou matando os responsáveis por hospitalizar o pai. Não havia pegado muito bem para a imagem da família, afinal os bandidos já estavam contidos e a cena que se desdobrou depois foi, no mínimo, perturbadora. De todo modo, tudo estava uma loucura e ela precisava voltar para casa o mais rápido possível.

"Acho que não a veremos mais." – finalizou.

Ele não teve sequer chance de dizer adeus.

Tamaki...

E é claro, não conseguiu por em palavras seus sentimentos por ela.

Doía mais ainda o fato dele ter o pensamento recorrente de que era realmente correspondido. Por mais pessimista que fosse ele não conseguia ver outra razão plausível pela qual ela o beijaria primeiro. Lilith não era o tipo de garota que brincaria com os sentimentos de outras pessoas.

- Tamaki! – ele escutou a voz de Nejire alta demais soar perto de seu ouvido fazendo-o dar um salto na cadeira. – A aula já acabou.

O rapaz levou alguns segundos para administrar a informação, de modo que levou seus olhos para as carteiras desocupadas ao seu redor constatando a informação repassada pela amiga. Tamaki suspirou e pôs-se a arrumar seus pertences.

- Nós vamos almoçar aqui antes de ir para casa. – sua amiga informou. – Talvez depois nós possamos...

- Eu prefiro ir para casa. – cortou-a, mas sem a intenção de soar rude.

Sua amiga não tentou intervir, afinal, depois de tudo Tamaki conseguiu explicar entre soluços, trancos e barrancos tudo o que estava sentindo. Ele não chegou a nomear os seus sentimentos com clareza, mas sua reação a notícia somada a explicação desconexa deixou claro a Nejire como ele se sentia em relação a garota.

E Mirio já sabia.

Em outra situação certamente Mirio e Nejire tentariam insistir de alguma forma, mas eles sabiam que naquele momento Tamaki só precisava de um pouco de espaço para absorver tudo o que havia acontecido. Ele se sentiu grato pela compreensão muda dos amigos, apesar de tudo ele sempre os teria e isso era bom.

- Tudo bem. – ela disse, pondo-se de pé. – Então, vamos?

Mirio também estava na sala, mas mantinha-se em silêncio. Era inédito para o trio, já que os hiatos não existiam devido a faladeira incessante de Nejire e a animação sem igual de Mirio. Aquela situação era estranha e inédita.

Eles se dirigiram para fora da sala e seguiram pelos corredores até o ponto onde os seus caminhos divergiram. Tamaki deixou o prédio da U.A. e seguiu pelo gramado que dava até o portão principal da escola, encarava seus pés enquanto caminhava e sentia o sol aquecer sua pele durante o percurso, isso até ser interrompido bruscamente.

- Meu Deus, desculpe! – uma voz feminina e um pouco ofegante soou pelo ar e Tamaki finalmente percebeu o que havia acontecido.

Uma mulher de cabelos curtos havia trombado com ele, parecia estar com muita pressa e nem se quer parecia se dar conta de que o jaleco estava mal posicionado em seus braços e arrastava um pouco no chão.

- T-tudo bem. D-desculpe, eu e-estava distraído. – pediu sentindo as bochechas queimarem.

Tamaki se curvou brevemente para se desculpar e acabou lendo o nome da provável médica da U.A., ele não sabia que havia novos funcionários na escola. Talvez fosse uma contratação recente.

A mulher não se demorou ali, disse mais alguma coisa que ele não compreendeu e voltou a correr em direção ao prédio, já Tamaki voltou para seu caminho original tentando prestar mais atenção dessa vez.

Isso até seus pés travarem no chão ao recordar do nome gravado no jaleco na mulher que havia trombado. Nanako Saito.

Havia achado familiar, mas não percebeu de primeira que não se tratava de uma funcionária nova da U.A., mas sim da tutora de Lilith, qual a garota geralmente chamava de Nana.

Ele não havia tido coragem de mandar uma mensagem para Lilith, e mesmo se tivesse sabia que as chances de ela responder eram poucas e mesmo se ela pudesse responder Tamaki não queria encher a cabeça da garota que provavelmente já tinha problemas demais.

Mas ele poderia ao menos perguntar a responsável por ela se sabia de algo, ou como ela estava e principalmente se ela já havia embarcado.

Será que era fácil encontrar um voo para Espanha de última hora? Não fazia a mínima ideia, nunca havia feito uma viagem tão longa como aquela na vida.

Ele olhou para o ponto onde havia encontrado a mulher, mas não havia mais ninguém ali. Tamaki ponderou por alguns instantes se seria muita idiotice da parte dele procurar a médica por toda a escola, mas logo percebeu que, se ela estava ali certamente iria tratar de alguma pendência e provavelmente estaria no setor administrativo.

Decidido a abandonar os prós e contras daquela ideia, ele simplesmente deixou que seus pés o levassem na direção da escola novamente. Pensar muito sobre as coisas sempre o fazia ponderar demais e ele não queria perder a oportunidade de ter notícias dela.

Aproveitando a ausência dos alunos e os respectivos representantes de cada turma ele se permitiu correr pelos corredores que o levaria para o setor administrativo da escola, moderando os passos somente quando chegou perto da sala dos professores já que provavelmente poderia haver alguns deles ali, mas assim que achou seguro ele voltou a correr novamente.

Na verdade, ele tentou.

Tamaki ainda olhava para a sala dos professores enquanto voltava a correr e por isso não percebeu que havia mais alguém no corredor.

- Calma aí, garoto! – uma voz feminina o alertou e Tamaki tentou desviar, mas acabou embolando-se nos próprios pés e só não caiu por que foi segurado.

Nunca em toda a sua vida havia trombado com tanta gente em um espaço de tempo tão curto.

- D-desculpe, e-eu, eu... – ele tentou falar sentindo o constrangimento invadir cada célula do seu corpo.

Que merda de ideia havia sido aquela?

- Calminha aí ou seu coração vai acabar explodindo. – a risada dela chamou sua atenção e Tamaki finalmente olhou para a fonte da voz e seu corpo reagiu no mesmo instante, ela o encarou preocupada. – É sério, você tem pressão alta ou algo do tipo?

Seus trajes denunciavam claramente que se tratava de uma heroína, mas foi o rosto dela que lhe chamou atenção. Era como ver Lilith em uma versão mais velha. A mesma pele, a mesma cor de cabelo só que em um corte undercut, e os mesmos olhos.

Não, não os mesmos olhos, mas eram incrivelmente parecidos.

A mulher o encarou em silêncio por alguns segundos antes de um sorriso ladino surgir desenhando seus lábios.

- Você conhece a minha irmãzinha, não é? – ela perguntou dando fim aos questionamentos de Tamaki.

E como se fosse programado a porta que dava acesso a sala da direção foi aberta revelando a figura de estatura baixa a qual Tamaki esperava não encontrar mais pelos corredores.

- Lilith. – deixou seu nome escapar por seus lábios recebendo imediatamente a atenção dela.

Ela carregava uma expressão fechada, parecia irritada e chegava a assustar um pouco, mas sua expressão suavizou quando encontrou Tamaki ali.

- Ela tá muito puta. – a mulher que poderia ser Layla ou Nix murmurou para ele e caminhou em direção à sala da direção ao mesmo tempo em que outra pessoa saia.

O homem trajava um uniforme semelhante ao da mulher e também compartilhava as mesmas características que Lilith - a semelhança chegava a assustar -, entretanto o porte dele lembrava bastante Endevor, só que de um jeito mais bruto, se é que isso era possível.

- Então esse é o seu amigo-não-namorado? – o homem que surgiu depois perguntou diretamente para Lilith, que o encarou com nada menos que ódio em seus olhos.

- Vá à merda Azrael. – a garota cuspiu a resposta com ódio e caminhou na direção de Tamaki pegando sua mão e o puxando para longe.

- Ei, meio-metro, para onde você vai?

Lilith não respondeu, mas se virou e fez um gesto obsceno em sua direção.

Naquele meio tempo o coração de Tamaki havia dando alguns pulos e paradas e seu sangue brincava em seu corpo alternando entre deixá-lo totalmente pálido e corado. A cena que ele havia presenciado ainda fazia pouco sentido em sua cabeça, sentido nenhum na verdade.

Se Lilith precisava voltar, qual seria o motivo de ter dois de seus irmãos ali onde poderia se considerar o outro lado do mundo? E com exceção de Lilith, todos eles pareciam bastante relaxados e até mesmo felizes.

Quando Tamaki finalmente conseguiu voltar a controlar o próprio corpo, ele parou e puxou Lilith para que ela enfim pudesse lhe explicar o que havia acabado de acontecer ao invés de somente o puxá-lo para sabe-se lá onde. Não que não gostasse da ideia, ele a seguiria para qualquer lugar e essa era a mais pura verdade, mas no momento ele só queria entender o que estava acontecendo.

Mas assim que ele encarou o rosto dela sentiu-se acuado, a expressão dela estava fechada denunciando seu péssimo humor naquele instante e isso ativou todas as barreiras que haviam na mente de Tamaki.

- Desculpa, desculpa... – ela murmurou passando as mãos pelo rosto e agitando o cabelo longo e escuro. – Eu nasci em uma família de idiotas, Tamaki.

A voz dela tremeu um pouco e ele deu um passo em sua direção esquecendo completamente o receio anterior. Tamaki levou as duas até os pulsos dela e puxou com delicadeza para que ela soltasse o próprio rosto.

- T-ta tudo b-bem? – perguntou engolindo seco. – Nejire m-me contou o que a-aconteceu.

A fala dele pareceu despertar novamente a irritação dela e Lilith falou algo que ele não compreendeu já que não conhecia o idioma dela, Lilith continuou falando por mais alguns segundos até finalmente perceber que Tamaki a encarava com cara de taxo.

- Desculpa, eu tô estressada. – ela respirou fundo falando agora no mesmo idioma parecendo fazer um enorme esforço para manter a calma. – Era mentira. Não a parte do meu pai, ele está mesmo hospitalizado, mas o resto era mentira.

Tamaki piscou por alguns segundos tentando entender qual o motivo para aquilo.

- Vo-você não v-vai voltar agora? – perguntou. Se fosse mesmo o caso, ela ainda teria cerca de cinco dias ali.

- Não é isso. – disse fazendo Tamaki murchar um pouco. – Eu não vou mais voltar. Minha transferência foi aceita e meus irmãos vieram para cá porque havia um projeto que tramitava há uns dois anos para que a agência da minha família abrisse uma filial aqui. Veio a calhar que os papéis ficaram prontos ao mesmo tempo em que a solicitação de transferência foi aceita. E meu pai teve a brilhante ideia de me dar um susto para depois me contar a notícia. Fiquei sabendo disso há meia hora e sinceramente eu quero muito bater em alguém.

Tamaki ficou em silêncio absorvendo cada palavra.

- V-você vai t-terminar os estudos aqui? – ele perguntou vendo-a assentir.

- Mesmo se eu não fosse aceita aqui eu iria para a Shiketsu. – informou enquanto encarava a parede. – A verdade é que, de todo modo, eu não voltaria para casa quando o intercâmbio acabasse.

Lilith no momento estava dividida entre dois sentimentos: a felicidade por saber que tudo estava bem e que poderia ficar no lugar onde fez amigos e a raiva por saber que havia sido tapeada por meses, mesmo que sua tutora e irmãos soubessem o quanto ela queria ficar e o quão triste estava somente pela ideia de voltar para casa. Eles tinham a péssima mania de fazer coisas daquele tipo, mas ela nunca entendeu a graça e no momento não conseguia se sentir bem como deveria.

- Não ria. – resmungou assim que percebeu que Tamaki mantinha um sorriso contido no rosto.

- Desculpa, eu não consigo. – ele disse, sem gaguejar e isso afastou um pouco a irritação dela.

Tamaki sentia o seu coração leve naquele momento, como nunca antes na vida. Tão leve a ponto de conseguir ignorar a irritação da mais baixa. Ele não havia achado graça alguma com a brincadeira, mas só conseguia pensar que Lilith estaria sentada na carteira a sua frente amanhã, e depois no dia seguinte, e nas semanas depois até o fim do curso de heróis.

Ela abriu a boca para protestar, mas foi interrompida quando sentiu-se envolvida pelos braços dele. Era a primeira vez que Tamaki por iniciativa própria a abraçou, ele apertou o corpo dela ao passo que enterrava o rosto nos fios escuros aspirando o cheiro leve de lavanda que ela emanava.

- Eu não queria ter que me despedir de você. – murmurou com toda a sinceridade que havia em si e sentiu ter o abraço correspondido depois disso. – Mas eu entendo a sua irritação.

Ela deixou o corpo relaxar embalada pela voz de Tamaki enquanto escutava as batidas aceleradas do coração dele recobrarem o ritmo normal. Somente então ela se lembrou do episódio que ocorreu na casa de Mirio, mas preferiu deixar aquilo para outra hora já que não queria correr o risco de vê-lo desmaiar de novo.

De qualquer forma, mesmo que ele não tenha dito, Lilith aprendeu a ler as expressões dele e o corpo de Tamaki era capaz de falar muito mais do que ele imaginava. Então ela sabia que era correspondida e isso era o suficiente.

Então, quando as batidas do coração dele voltaram a acelerar ela esperou que ele falasse novamente.

- Lilith... – ele a chamou, sua voz cortou um pouco denunciando seu nervosismo assim como o tremor em seu corpo. – E-eu, queria f-falar c-com você, mas e-eu não consigo...

Ela se afastou um pouco dele somente para encarar o rosto dele, mas Tamaki desviou o olhar a fim de diminuir a sensação de pânico.

- Eu também gosto de você, Tamaki. – ela disse para a sua surpresa, e enfatizou: – Muito.

Ele levou os olhos até o rosto dela e se deparou com a expressão suave a qual ele estava habituado.

- Você vai desmaiar se eu te beijar de novo? – a pergunta dela fez o sangue no rosto dele desaparecer.

Lilith fez uma careta se recriminando pela pergunta direta feita ao rapaz, ela deveria estar habituada a timidez dele, não queria deixá-lo desconfortável.

- Desculpa.

Ele negou com a cabeça dispensando o pedido de desculpas, ou ao menos foi o que ela pensou.

- Não vou. – informou sentindo o rosto queimar.

Se era pela vergonha ou pela ansiedade pela possibilidade de beijá-la novamente não sabia, mas tinha certeza sobre a sua resposta.

- Que bom. – Lilith disse e logo em seguida depositou um beijo delicado sobre os lábios dele. – Porque, você sabe, eu não vou embora nunca mais.

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