Savoca, Sicília.
Itália.
Michael Jackson P.O.V
Cinco dias depois...
Sinto o calor do sol entrar em contato com a minha pele assim que abro a janela da madeira. Algumas pessoas andam pelas ruas empedradas enquanto carregam algumas cestas. O cheiro das árvores e da maresia acabam dando um perfume único para a ilha.
Cheguei à Sicília durante a madrugada e eu não poderia estar mais encantado com a beleza do lugar. Me afasto da janela e vou até a cama, pegando uma camiseta branca.
Visto a camiseta e me encaro no espelho enquanto prendo meu cabelo em um coque. Coloco meu chapéu, pego meus óculos e saio do quarto, encontrando Jackie parado no corredor me esperando.
— Que demora! — Ele resmunga.
— Estava me arrumando. — Dou de ombros.
— Certo. — Ele franze a sobrancelha me olhando de cima a baixo. — O que nós vamos fazer daqui pra frente?
— Passear pela cidade. — Coloco meus óculos e ele bufa.
A porta do quarto ao lado se abre e Janet sai, usando um vestido florido longo, cabelos soltos e óculos escuros. Ela nos olha sorrindo e leva suas duas mãos até a cintura.
— O que você tá fazendo? — Pergunto segurando uma risada.
— Irei aproveitar as minhas férias. — Ela sorri passando por nós.
— Janet...
Janet para no meio do corredor e vira para nós com um sorriso inocente nos lábios. Ela leva suas mãos até o vestido e o levanta, deixando suas pernas nuas e grossas à mostra. Uma risada escapa dos meus lábios ao ver um coldre com uma pistola agarrado à sua coxa direita.
— Podemos curtir as férias agora ou não? — Ela arqueia sua sobrancelha apontando para o andar de baixo.
Jackie e eu nos entreolhamos rapidamente e logo seguimos Janet pelo corredor até o andar de baixo.
Decidi alugar uma casa pequena e escondida em uma das vilas de Savoca para que eu não corresse o risco de ser encontrado e descoberto pela máfia siciliana. Absolutamente todo o comércio na Sicília pertence à máfia italiana, inclusive o turismo. Caso eu me hospedasse em um hotel, eu teria todos os meus dados expostos à máfia que com certeza arrumaria um jeito de acabar comigo.
— Bom dia, meninos. — Janet diz assim que terminamos de descer as escadas.
A sala principal está uma bagunça. Diversos homens ajeitam e organizam suas armas em cima da mesa enquanto outros leem algo no jornal enquanto fumam seus cigarros.
A sala é pequena, com paredes brancas e descascadas, assim como o sofá de couro velho. As janelas são de madeiras, porém estão fechadas para que ninguém veja o movimento aqui dentro. Há uma pequena porta que dá acesso à cozinha, onde alguns homens tomam o seu café tranquilamente.
— Bom dia, Sra. Jackson. — Um dos homens a encara de cima a baixo.
— Não façam nenhuma besteira e mantenham o tom de voz baixo. — Digo seriamente. — Nada de bagunça.
Caminho até a porta velha de madeira e saio da casa acompanhado de Jackie e Janet. Sinto o vento balançar o meu cabelo e encaro Janet que parece feliz em tomar sol.
Descemos as ruas de pedras tranquilamente escutando o sons do balançar das árvores e dos nossos calçados em contato com as pedras. Janet se aproxima de mim com um sorriso nos lábios e eu suspiro colocando minhas mãos nos bolsos da calça.
— Você não me disse como foram os dias com a Deena... — Ela diz baixinho enquanto observa a paisagem.
— Foram legais. — Dou de ombros e ela ri.
— Só? — Diz em um tom irônico.
— O que você quer saber, Janet? — Pergunto impaciente e um pouco envergonhado.
— Você está ficando envergonhado. — Ela aperta minha bochecha. — Vocês ficaram, não é? E não diga que não pois a sua cara está entregando tudo.
— Sim, Janet. Nós ficamos. — Encaro meus pés e ela ri, jogando sua cabeça para trás.
— Até que demorou, irmãozinho. — Ela sorri me abraçando de lado.
Reviro meus olhos e continuo a descer a rua ao lado dos meus irmãos. Alguns carros passam por nós nos encarando com um olhar desconfiado, algumas mulheres me cumprimentam com um sorriso e alguns homens fazem o mesmo com Janet.
— Para onde nós estamos indo? — Janet bufa ao perguntar.
— Vamos nos encontrar com um velho amigo de Joe. — Ajeito meus óculos escuros.
A caminhada dura um pouco mais de dez minutos e finalmente vejo um bar em um canto mais afastado, com uma vista incrível para os morros sicilianos. O bar é revestido por uma pintura branca já gasta e alguns tijolos. Do lado de fora há algumas mesas de madeira com alguns clientes nos quais estão sendo servidos por uma mulher de aparência simples.
— É aqui? — Jackie pergunta.
— Sim. — Respondo indo até uma das mesas livres.
Nos sentamos na mesa chamando a atenção de algumas pessoas que com certeza notaram que somos turistas. Alguns homens em uma mesa próxima nos encaram fixamente enquanto conversam entre si.
— Buongiorno, come posso aiutare? — Uma mulher vestida com um avental cinza por baixo de um vestido florido se aproxima de nós com um sorriso simpático nos lábios.
— Buongiorno. Vogliamo una limonata. — Sorrio sem mostrar os dentes. (Queremos uma limonada).
A mulher assente e se retira indo até o interior do bar. Janet me encara risonha através de seus óculos escuros antes de balançar a cabeça em negação.
— Nem lembrava que você falava italiano. — Jackie me encara rapidamente.
— Francês também. — Observo minhas mãos me sentindo um pouco tímido.
— E onde encontraremos esse tal amigo de Joe? — Janet pergunta.
— Ele é casado com a mulher que nos atendeu. Seu nome é George, ele fazia parte dos Jacksons e era um grande aliado de Joseph, mas decidiu fugir para a Itália depois daquele dia. — Assisto a mulher vir em nossa direção com as nossas limonadas em uma bandeja.
— Questo è. — Ela sorri colocando nossos copos em cima da mesa. (Aqui está!)
— Dove posso trovare George? — Seguro seu pulso suavemente. (Onde posso encontrar George?)
— Mi scusi, chi è lei esattamente? — Seus olhos verdes me encaram desconfiados. (Desculpe-me, quem é você exatamente?)
— Io sono un vecchio amico. — Solto seus pulsos e levanto meus óculos rapidamente. — Michael Jackson. — Sussurro meu nome para que ninguém ouça.
A mulher parece entender sobre o que estou falando e então balança sua cabeça em concordância antes de voltar para o bar em passos rápidos. Pego meu copo em cima da mesa e bebo minha limonada Suíça sentindo todo o líquido gelado descer pela minha garganta.
Minutos se passam e quem eu mais queria ver aparece. George surge com uma calça preta de suspensório, uma camisa de botões branca e uma boina marrom em sua cabeça. Ele sorri para mim e logo se senta na mesa com um pequeno sorriso no rosto.
— É bom te ver, Michael. — Estende sua mão e eu aceito o cumprimento.
— É bom te ver, George. Espero que se lembre dos meus irmãos Jackie e Janet. — Aponto para os dois ao meu lado.
— Oh, lembro sim. Janet era apenas uma criança quando eu estava nos Estados Unidos. — Ele sorri.
— Obriga por ter deixado meus homens entrarem com armas na ilha. — Bebo meu suco novamente.
— Não precisa agradecer. Mas me conte, o que faz na Sicília?
— Preciso saber quem está por trás dos Cosa Nostra. — Coloco o copo em cima da mesa e encosto minhas costas na cadeira, cruzando meus braços logo em seguidas.
— Entendi... — Ele suspira desviando o olhar por alguns segundos. — O Bellini ...
— O que? — Pergunto incrédulo.
— O Bellini está por trás dos Cosa Nostra. Há boatos que ele assassinou um dos chefes para tomar lugar, o que eu não duvido muito. — Dá de ombros.
— James estava certo... — Desvio meu olhar para o chão.
— James? James Harrington? — Seus olhos se arregalam.
— Sim! James Harrington.
— Michael? Você ainda fala com ele depois de tudo o que ele nos fez? Aquele homem destruiu os Jacksons, assim como ele destrói tudo o que toca. — Diz incrédulo.
— Não é como se nós fôssemos amigos, eu ainda penso em matá-lo, mas não posso fazer isso agora. Mas isso não é importante nesse momento, eu só quero saber sobre os Cosa Nostra e onde eu posso encontrar o Bellini.
— Em Roma. — Diz olhando para os lados. — Mas saiba que ele não está sozinho, ele tem um aliado que ninguém sabe quem é.
— Eu não me importo. — Sorrio fraco. — Estarei indo para Roma amanhã de manhã.
— Você ficou louco? Qual a parte do "ele não está sozinho" você não entendeu? Ninguém sabe quem é esse aliado. Você vai acabar sendo morto se for sozinho. — Resmunga irritado.
— Você quer ir comigo? — Arqueio a sobrancelha.
— Não posso deixar Antonella sozinha, tenho medo que os Cosa Nostra descubram e façam algo enquanto eu estiver fora. — Seus olhos correm até a mulher sorridente conversando com um casal em uma mesa próxima.
— Imaginei. — Dou de ombros enquanto me levanto da mesa. — De qualquer forma estarei indo para Roma amanhã. É uma pena que tenha se aposentado desse mundo, você é um atirador muito bom. Te vejo por aí, George...
Jackie e Janet se levantam e se despedem de George com um sorriso. Os homens na outra mesa me seguem com o olhar e eu os encaro de volta antes de sair dali ao lado dos meus irmãos.
— Mike! — Ouço a voz de George atrás de mim.
Me viro encontrando George vindo até a mim parecendo um pouco desesperado. Levo minhas mãos até meu bolso frontal e respiro fundo.
— Eu vou com vocês para Roma, mas eu preciso de você deixe alguém de olho em Antonella no período em que eu estiver fora. — Respiro fundo concordando.
— Vou deixar alguns homens vigiando a sua esposa, não se preocupe. Partiremos amanhã de manhã. — Digo seriamente antes de me virar e ir embora, deixando George em pé no meio da rua.
. . .
Roma, Itália.
Três dias. Três dias é o tempo que estamos em Roma. Nesses três dias não fizemos nada além de investigar sobre o histórico de crime na cidade e os possíveis lugares no qual Bellini poderia estar enfiado.
— Pensei que os Cosa Nostra não se envolvessem em Roma, achei que eles ficassem apenas nas áreas da Sicília. — Sentado no sofá do apartamento alugado, encaro o jornal em minhas mãos.
— E eles não costumam ficar por aqui. É isso que está me deixando intrigado. — George solta a fumaça de seu charuto. — Tem alguma coisa errada nessa história.
— Quem é o chefe dos Cosa Nostra? — Jogo o jornal ao meu lado e cruzo minhas pernas.
— Eu não sei. Ninguém sabe, é algo extremamente secreto. — George balança a cabeça em negação.
— Pensei... — Bufo passando minhas mãos pelo meu rosto.
— O que?
— Eu acho que os Cosa Nostra não estão envolvidos nisso totalmente. — Encaro os olhos escuros de George.
— O que você tá querendo dizer?
— Pensa comigo: Os Cosa Nostra enviaram um recado siciliano ao James avisando que eles iriam atacar, mas a única coisa que eles fizeram foi tentar atacar a esposa de James. Conhecendo o histórico dos Cosa Nostra, eles não fariam isso... eles fariam muito pior que isso.
— O que você quer dizer com isso, Michael? — George me encara confuso enquanto apaga seu charuto no cinzeiro em suas mãos.
— Isso é apenas uma distração, George! É isso! — Me levanto rapidamente.
— Tem como você explicar de forma mais clara? — Jackie pergunta aparecendo na sala.
— Aquele rato siciliano do Bellini realmente está envolvido com os Cosa Nostra, mas não como parte deles e sim como família aliada. Pelo pouco que eu aprendi sobre os Cosa Nostra com o meu pai, eu tenho certeza que eles não aceitariam uma pessoa tão idiota como Marco Bellini na organização, mas ele é rico e sabe como manipular as pessoas, talvez por isso eles se aliaram. — Digo andando de um lado para o outro. — Aquele recado que James recebeu não foi uma ameaça dos Cosa Nostra e sim de Bellini. Ele planejou isso como uma distração para algo que ele irá fazer.
— Pera aí! — Jackie estica seu dedo indicador. — Então James esteve certo esse tempo todo? Mas eles não discutiram em Nova York? Talvez James já saiba.
— Não! — Balanço minha cabeça em negação. — James desconfia, mas não tem certeza. Ele é impulsivo, não inteligente. — Dou de ombros.
— Mas o Bellini não está sozinho, Mike. — Jackie se senta no sofá ao lado de George.
— Não mesmo! Ele não é inteligente o suficiente para agir sozinho. — inclino minha cabeça para o lado.— É aí que entramos no tópico da distração... Bellini é muito próximo de James, então ele está planejando algo muito sério contra ele.
— Voltei a ficar confuso. — Jackie bufa fazendo George rir.
— É simples: Toda essa distração é porque eles estão agindo exatamente debaixo do nariz de James, por isso eles querem que James pense que Os Cosa Nostra aqui na Itália é a maior ameaça dele, sendo que a maior ameaça dele está ao lado dele e isso me leva a crer que...
— O aliado de Bellini também é próximo de James. — George me interrompe completando o meu raciocínio.
— Você acha que seja o Josh? — Jackie arqueia a sobrancelha.
— Não! Josh é um babaca, mas é leal ao James. — Respiro fundo encarando o chão. — É alguém que seja tão estúpido e invejoso quanto o Bellini.
Continuo encarando o chão até que uma luz se acende na minha mente. Arregalo meus olhos sentindo que absolutamente tudo faz sentido. George e Jackie me encaram aflitos no sofá e eu respiro fundo passando minhas mãos pelo meu rosto nervosamente.
— Como eu não percebi isso antes? Mas era óbvio, porra! — Um sorriso sarcástico nasce nos meus lábios.
— O que, Michael? — George pergunta.
— O aliado de Bellini não é nada mais, nada menos do que o nosso queridíssimo cunhado Jack Gordon. — Balanço minha cabeça sorrindo sem mostrar os dentes.
— Michael Jackson, você é um gênio! — George sorri batendo palmas.
— E o que você pretende fazer, Michael? — Jackie pergunta.
— Eu vou arrancar a cabeça do meu cunhado e darei de presente para a minha querida irmã, mas antes disso vou aproveitar minha estadia na Itália e irei procurar lugares legais para desovar o corpo de Bellini. — Sorrio antes de sair da sala em passos rápidos.