Comodidade

By meizomei

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Ninguém gostaria de ficar preso em um amor unilateral por anos a fio, ainda mais quando se sabe que vocês doi... More

01: A paciência faz o monge, ou nem tanto
02: A pressa é inimiga do cozimento perfeito
03: O seguro morreu de velho mesmo?
05: Um tapa vale mais que mil palavras
06: Santo Luffy, o padroeiro dos pares encalhados
07: Quem cedo aparece, cedo passa raiva

04: Se não tem cão, caça com alto-falante

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By meizomei

Sanji chegou cedo na casa de Zoro para não ter risco de atraso para o compromisso dos dois naquela tarde. Ou pelo menos essa foi a desculpa esfarrapada que Sanji deu ao si mesmo, embora soubesse bem que o verdadeiro motivo era ter o prazer de ajudar Zoro a se vestir. Vasculhou o guarda-roupa dele com familiaridade, enquanto Zoro terminava de se lavar no banheiro integrado ao cômodo. Sanji já tinha feito isso várias vezes antes, pois Zoro tinha um péssimo gosto para roupas. Caso o deixasse por conta própria era possível que Zoro vestisse o famigerado conjunto que usava para ir para qualquer lugar: uma camiseta branca lisa, que dois dos três botões da gola tinham caído, e uma calça preta que desbotou em poucas lavagens. Por algum motivo desconhecido Zoro parecia nutrir uma estranha fixação por essas roupas. Quando as avistou em meio as roupas decentes, Sanji pegou a tal camiseta branca e a tal calça preta e enfiou-as debaixo de umas caixas de sapato que Zoro nunca usava. Para garantir que não seriam encontradas tão cedo, cobriu tudo com um cobertor velho.

Satisfeito, voltou a mexer nas roupas dobradas e nas camisas penduradas em cabides de madeira. Dentre as opções disponíveis, Sanji escolheu uma combinação mais casual para Zoro usar, visto que o evento aconteceria nos fundos da casa da família Portgas. Havia uma piscina lá, mas Zoro pouco se interessava por nadar ou por qualquer diversão que houvesse água envolvida. Ainda assim, Sanji achou melhor perguntar.

"Ei, você vai nad—", seus olhos foram atraídos automaticamente para o ruído da porta sendo aberta, mas só percebeu se tratar da porta do banheiro quando viu um Zoro só de toalha roubar sua atenção. Sanji engoliu em seco, lutando para lembrar o que ia perguntar, mas a pele molhada de Zoro distraia seu raciocínio. Tossiu, obrigando-se a encarar o rosto dele. "Você vai... Uh... Nadar hoje?"

Zoro coçava os olhos, exibindo uma expressão de sono que nem mesmo o banho conseguiu afastar. Seus passos deixavam pegadas de água pelo chão de madeira por não ter se enxugado bem antes de enrolar a toalha no quadril. "Nah. Você vai?"

"Vou", Sanji conseguiu virar o rosto um segundo antes de quase ser flagrado com o olhar faminto sobre os mamilos escuros de Zoro. Pegou uma cueca da gaveta e jogou sobre a roupa que deixou dobrada em cima da cama. "O dia está quente demais para ignorar a piscina. Só você, com seu espírito de gato, faz questão de evitar a água."

Zoro deu um estalo com a língua, mas nem retrucou a brincadeira do outro. Ser chamado de gato não era um xingamento de verdade, então não tinha motivos para se irritar. Sanji, por sua vez, apressou-se para sair do quarto ao ver Zoro puxar a toalha do corpo sem o menor pudor. Se o mero vislumbre de seu peitoral molhado despertou a fome dentro de si, imagine se Sanji visse certas partes sem o devido preparo psicológico.

Porém em sua pressa acabou escorregando em uma das poças de água deixada por Zoro e Sanji sentiu o corpo cair pesadamente para trás. Só não foi ao chão, pois os braços fortes de Zoro o ampararam antes da queda ser concluída.

"Viu? A água pode ser bem perigosa", Zoro caçoou perto de seu ouvido, deixando o outro extremamente consciente da proximidade (e da nudez!) do corpo que o segurava por trás.

Sanji se desvencilhou dos braços dele, demonstrando mais compostura do que realmente sentia. Bufou, girando os olhos. "Você não vai me converter a sua religião anti-água, marimo. Vou esperar na sala enquanto você se arruma", passou pelo umbral da porta sem olhar para trás e sem esperar uma resposta.

Naquela tarde iriam em uma pequena festa para comemorar o resultado da sobrinha de Luffy nas últimas provas (O que na verdade podia ser interpretado como 'Ace queria fazer uma festinha cheia de comida e usou a própria filha como justificativa para não ouvir reclamação do marido'). Como Zoro era amigo de infância de Luffy, era também bastante próximo da família dele pelos anos de convivência. Recebia convites para todo tipo de programação feita por Luffy e seus dois irmãos, mas nem sempre comparecia, até porque nem sempre estava com paciência para aguentar tantas pessoas barulhentas de uma vez só.

Depois que Zoro e Sanji entabularam uma amizade mais profunda, Zoro começou a levá-lo para alguns dos eventos aleatórios de Ace, Sabo e Luffy (também chamados de 'eventos ASL' para facilitar). Não demorou para Sanji ser incluído naturalmente em todos os convites feitos a Zoro, tendo vezes que Sanji comparecia sozinho por Zoro estar viajando com o time de basquete que assessorava. Certa vez os ASL confessaram que preferiam quando Sanji ia junto de Zoro, pois as chances de um Zoro desacompanhado chegar atrasado ou chegar várias horas depois do evento ter acabado eram imensas.

Quando Zoro apareceu na sala, já vestido e com menos cara de sono, Sanji o avaliou dos pés à cabeça e ficou satisfeito com o que viu. Até ele mesmo se surpreendia por conseguir fazer Zoro adquirir um aspecto de homem decente só de escolher a roupa certa.

Conferiu o próprio relógio de pulso antes de buscar o celular dentro da pochete que levava transversalmente sobre o peito.

"Certo, vou chamar o Uber. Onde está o presente?"

Zoro franziu a testa.

"Que presente?"

Sanji o encarou como se Zoro tivesse alguma súbita deformação no rosto. "O presente de Tama, seu imbecil. Não me diga que esqueceu que você prometeu levar o presente dela hoje. Do aniversário que você não compareceu, porque estava viajando..."

O silêncio de Zoro foi resposta o suficiente. Sanji crispou os lábios. "Que merda, Zoro. Luffy me disse que Tama não fala de outra coisa desde ontem."

Zoro coçou o pescoço, parecendo sem jeito. Não era como se ele não se importasse com a menina, mas provavelmente tinha concordado com isso quando estava sonolento e por isso não lembrou.

"Hm, posso dar o dinheiro do presente a ela..."

Sanji sentiu um velho ressentimento cutucar seu peito, mas fingiu não perceber. Zoro não tinha culpa, apenas coincidiu das palavras dele reavivarem certas situações familiares e os ressentimentos que persistiam no fundo de sua mente. Ele já estivera em conjunturas onde esqueciam alguma promessa feita e tentavam recompensá-lo com algo de dinheiro junto a uma tapinha no alto da cabeça. Quando criança, esse tipo de tratamento o magoou muito e não desejava que Tama passasse por algo semelhante. O dinheiro não equivalia ao esforço de escolher um presente pensado em uma pessoa em específico.

"Não, ela ficaria decepcionada", conferiu outra vez o relógio, fazendo alguns cálculos enquanto arrastava Zoro para fora de casa e trancava a porta. "Vamos naquele shopping center que fica no meio do caminho. Compramos um presente e se formos bem rápidos, ainda dá pra chegarmos a tempo."

O carro do Uber já os esperava encostado na calçada em frente à residência de Zoro, então eles entraram sem demora.

*

Aquela seria a oportunidade perfeita para Sanji se enganar por alguns minutos e fingir que estava em um encontro com Zoro, caso não estivessem apressados e o cenário fosse algo mais romântico do que... uma loja de brinquedos. Bom, de todo modo eles teriam algum tempo depois que comprassem o presente e poderiam ir lado a lado em direção a saída, conversando bobagens e trocando sorrisos.

A desilusão, porém, logo se fez presente.

O que Sanji achou que seria uma escolha fácil se provou ser verdadeiramente difícil quando se depararam a infinidade de brinquedos e artigos infantis de uma grande loja no terceiro andar do shopping center. Os dois andaram por alguns corredores da ala para 'meninas', indo das prateleiras de bonecas pequenas até prateleiras de bichos de pelúcia, mas por algum motivo aqueles tipos de brinquedos não pareciam encaixar muito com a figura de Tama. Ela gostava de animais e vivia enchendo os pais de perguntas sobre tudo e todos. A menina era tão curiosa que parecia um Luffy em miniatura.

"Você convive mais com ela do que eu, deveria saber o que Tama prefere" Sanji verificou a tela do celular, dando um suspiro. "Nem Luffy, nem Ace leram minhas mensagens... Então, só me resta você. O que acha que combina mais com ela?"

Zoro olhou para um bicho de pelúcia de uma vaquinha roliça que tinha um sino pendurado no pescoço. Pareceria uma vaca normal se não levasse em consideração a cor azul do pelo e o óculos de aro grosso que aparentemente a tornava uma vaquinha professora. De qualquer modo, apontou para a pelúcia sem titubear. "Aquele."

Sanji ergueu uma sobrancelha. A resposta de Zoro foi estranhamente rápida se comparada com o tempo que passaram circulando naqueles corredores sem conseguir escolher um dos itens.

"Você não sabe do que ela gosta, não é?"

A resposta também veio sem titubeio. "Não."

Sanji estapeou a própria testa. Deveria ter suspeitado que Zoro, desatento do jeito que era, não prestaria atenção ao tipo de brinquedo que a menina carregava. Já estava prestes a escolher um presente ele próprio quando o celular zumbiu em sua mão.

Ela gosta do Igrysauro, foi a resposta de Sabo, o único dos irmãos ASL que retornou suas mensagens de socorro. Sanji piscou. O que danado era um Igrysauro?

"Aparentemente ela gosta de uma boneca chamada Igrysauro e não lembro de ter visto alguma com esse nome por aqui. Talvez seja melhor pedirmos ajuda a algum atendente...", olhou ao redor procurando qualquer pessoa com o uniforme da loja, mas só viu um casal de clientes carregando uma boneca cabeluda do tamanho de uma criança de seis anos. "Argh, por que nunca tem um funcionário perto quando se precisa deles?"

Zoro emitiu um resmungo concordante antes de deixar um bocejo escapar.

Não querendo se demorar mais ali, separaram-se para agilizar a procura pelo atendente que os ajudaria a encontrar a tal boneca. Sanji não se preocupou com a possibilidade de Zoro se perder, pois estavam dentro de uma loja e caso precisasse, Zoro poderia pedir ajuda de alguém lá de dentro. Simples, não? No entanto, Sanji não imaginou que a capacidade do Roronoa se perder era tão alta que, mesmo circulando nos estreitos corredores lotados de brinquedos, não conseguia encontrá-lo.

Antes, pouco depois de seguirem em direções contrárias, Sanji avistou uma funcionária da loja e perguntou sobre a boneca. Para sua surpresa, a boneca estava na ala dos brinquedos para meninos, no espaço reservado para criaturas e monstros. E, bom, não havia outra palavra para definir o Igrysauro do que 'monstro'. O boneco de textura emborrachada era uma mistura estranha de dinossauro, inseto e polvo, tudo em uma tonalidade roxo neon. Ele não sabia bem o que pensar sobre o brinquedo, até pediu para a lojista verificar o nome, mas no fim acabou comprando-o.

Foi só então, com o brinquedo devidamente embrulhado para presente em suas mãos, que Sanji se deparou com o problema de não encontrar Roronoa Zoro em parte alguma. Circulou uma última vez pelas estantes, chamou por ele na porta do banheiro e pediu que a funcionária que o atendeu antes o ajudasse a buscar o homem de cabelos verdes, mas não o encontraram. Não sabia que tipo de bruxaria era aquela, mas Zoro parecia ter evaporado. Teria ele saído da loja, mesmo Sanji tendo dito expressamente para não fazer isso? Se não conhecesse a personalidade dele até suspeitaria que Zoro estivesse fazendo isso de propósito.

Mas, sem tempo a perder, Sanji decidiu que era hora de tomar medidas drásticas.

*

Zoro andava entre araras de roupas, tentando escapar da atendente que insistia que cuecas com desenhos abstratos eram a cara dele, mas nem seu olhar mais severo foi capaz de afugentar a moça. Ela o enchia de elogios e mostrava roupa atrás de roupa por mais que Zoro não tenha pedido pra ver coisa alguma. Aliás, ele nem sabia porque uma loja de brinquedos teria um departamento de roupas adultas e de estampas tão feias, mas quem era ele para opinar sobre lojas, não é? Ele somente entendia de exercício e musculatura, como o bom instrutor físico que era.

Praguejou quando um cabide enganchou na manga de sua camisa e a atendente aproveitou para elogiar a boa escolha dele, imediatamente emendando que a camisa no cabide combinava com os olhos de Zoro. Comentário esse que Zoro preferiu não acreditar, pois não achou que o castanho de seus olhos combinasse com uma camisa repleta de desenhos de narizes aduncos. Quando estava prestes a rejeitar a atenção da atendente de maneira mais incisiva, o zumbido dos alto-falantes, aqueles que só eram usados em situações de emergência e que estavam distribuídos por todo o shopping center, cruzou o ar.

"Atenção, por favor!", a voz ecoou alto em meio aos chiados, atraindo a atenção de diversas pessoas. "Procura-se um homem alto, forte e de cabelo verde. Ele possui expressão assustadora, mas não apresenta perigo real. Atende pelo nome de Roronoa Zoro e se perdeu do seu cuidador, enquanto faziam compras no terceiro andar. Ele tem uma condição rara que... Senhor, tem certeza que isso é uma doença?", a pergunta inesperada deu a entender que o locutor conversava com alguém que o microfone não captava a voz. "Não, é que... Espere, o que está fazendo, senhor? Você não pode usar o microfone, ele não é de acesso publ..." o zumbido característico de microfone batendo em algo doeu no ouvido de Zoro, mas mal teve tempo de registrar isso já que uma nova voz se manifestou pelos alto-falantes e essa era bastante familiar. "Zoro, seu musgo imbecil! Se não aparecer na entrada C do térreo em cinco minutos e se atrever a nos atrasar ainda mais, você vai se arrepender, está ouvindo? Se está perdido, peça a porra da ajuda de alguém!" O som foi interrompido de repente, deixando apenas um sentimento constrangedor e o burburinho das pessoas curiosas para trás.

Zoro estava absolutamente sem palavras. Sanji estava com tanta vontade assim de ir para a comemoração de Ace? E ficou tão irritado com o atraso ao ponto de inventar que Zoro estava perdido? Bom, Zoro não iria julgá-lo por isso. Sanji é quem devia ter se perdido dele e, envergonhado por isso, agiu assim. Zoro deu de ombros, virando-se para sair da loja e ir procurar a tal entrada C. Ele não era muito de ir em shopping centers, então não sabia que havia mais de uma entrada para o lugar, nem que eram nomeadas com letras do alfabeto. Enfim, não deveria ser muito difícil encontrá-la.

"Uh, senhor... Para onde está indo?", a atendente que tentou vender roupas para ele com tanto afinco momentos atrás, agora mordia o lábio e torcia as mãos com ares de indecisão. "Se deseja sair da loja, a entrada fica daquele outro lado. Nessa direção o senhor apenas encontrará as cabines para provar roupas."

Zoro parou de andar e franziu o cenho para a atendente, mas ao observar a direção que ela indicava, percebeu que a mulher falava a verdade. Murmurou um agradecimento antes de ir na direção apontada por ela, tentando não pensar muito sobre seu rosto quente. Que azar se confundir depois de um comunicado daqueles! Agora a atendente pensaria erroneamente que Zoro tinha mesmo alguma condição esquisita que o fazia se perder. Bufou, contrariado. Em geral, Zoro não era uma pessoa que se constrangia com facilidade, mas sentir o olhar de alguns clientes e atendentes daquela loja recair sobre ele com tanta curiosidade era bastante incômodo.

Quando estava prestes a sair da loja, um menino derrubou por acidente um carrinho vermelho de plástico diante dos seus pés. Zoro se abaixou para recolhê-lo e estendeu o brinquedo para a criança que estava nos braços de uma adolescente que tinha, no máximo, 15 anos.

"Irmã, é dele que estão falando!", a criança apontou para o Roronoa, ignorando totalmente o brinquedo estendido. Os olhos brilhavam de animação, enquanto se sacudia para sair dos braços da irmã. "Ei, moço, você precisa de ajuda para chegar na entrada C? Me solta rápido, Hiyori!"

Hiyori, a adolescente de penteado elaborado, não aguentou mais os movimentos do irmão e o soltou no chão com um xingamento que logo tentou disfarçar com uma tosse e um sorriso amistoso.

"Se comporte, Momo! Desculpe o meu irmão, senhor. É que ele está na fase de ser um..."

A fala dela foi cortada pelo menino que agarrou a mão de Zoro e declarou confiante: "Eu te levo até lá! Sou descendente de samurai, sabia? Pode confiar em mim, eu posso te ajudar."

"Momo, você não pode arrastar as pessoas por aí, lembre-se do que a mamãe disse..."

Mas o menino a ignorou e começou a puxar Zoro pelo corredor amplo e bem iluminado do shopping center. "Se pegarmos o elevador, chegaremos lá mais rápido."

Zoro nem conseguiu espaço para dizer alguma coisa, visto que os irmãos continuaram discutindo enquanto o acompanhavam para algum lugar desconhecido. Por sorte, ao chegarem em uma grande porta-dupla automática, ele avistou a cabeleira de Sanji perto do segurança da entrada. Sanji estava de costas e batia o pé com impaciência. As mãos na cintura apenas enfatizavam a irritação de sua linguagem corporal.

Antes de ter chance de chamá-lo, Sanji se virou e os viu se aproximando em um trote animado graças aos passinhos rápidos do menino na dianteira. Os olhos azuis dele intercalaram entre o menino que ainda segurava a mão de Zoro, a adolescente que digitava furiosamente no celular enquanto andava e no próprio Zoro que era arrastado sem resistir. A cena parecia ter sido muito inesperada para Sanji, pois a expressão irritada deu lugar a uma de incredulidade.

Quando chegaram perto o suficiente, o menino parou e olhou sério para Sanji. "É você que é o cuidador dele?"

Sanji piscou surpreso. "Sim...?"

"Você tem que ser mais atento, sabe? Se eu não tivesse aparecido para ajudar, vocês poderiam nunca mais ter se encontrado!"

Zoro também se surpreendeu em ver Sanji ser repreendido por uma criança que mal devia ter mais de 1 metro.

"Ok, já chega, Momo." Hiyori agarrou o braço do irmão e se curvou com o rosto avermelhado. "Desculpem pela grosseria dele, mas fico feliz por termos sido capaz de ajudá-los. Vamos, Momo, papai está nos esperando." ela colocou o menino no colo apesar dos protestos deste e se afastaram com Momo dizendo algo sobre samurais não andarem no colo de outras pessoas.

Sanji e Zoro assistiram eles se distanciarem até que os dois desapareceram de suas vistas.

"De todas as pessoas disponíveis, você pediu a ajuda de uma criança?" Sanji voltou-se com a sobrancelha erguida, parecendo estar se esforçando bastante para segurar a risada.

Zoro deu de ombros. "Na verdade, ele que se ofereceu. Não tive tempo de rejeitar a oferta."

Nesse momento a risada escapou de Sanji e ele gargalhou curvando o corpo para a frente, tentando barrar a maior parte do som colocando a mão sobre a boca. Riu do próprio comunicado que deu mais cedo, riu pelo menino de tom orgulhoso que arrastou Zoro por aí e riu por toda a estranheza da situação. Até mesmo Zoro não conseguiu reprimir um leve curvar em seus lábios ao ver Sanji rir tão abertamente daquela forma.

Porém, logo Sanji tratou de se recuperar, pois ainda tinham uma comemoração para comparecer e já estavam mais do que atrasados.

*

Apesar dos pesares, eles chegaram na casa de Ace com apenas uma hora e meia de atraso. Quem os recebeu foi Luffy, pois Ace cuidava dos espetinhos que assavam na grelha e Marco vigiava as crianças que corriam ao redor da piscina. O restante dos adultos conversava e bebia em pé ou sentados em cadeiras de plástico próximas da grelha, distraídos demais pela música pop que os envolvia para verem a chegada deles.

Portanto, não foi surpresa quando Tama os avistou primeiro, ansiosa do jeito que estava, e correu para abraçar a perna de Zoro.

"Tio Zoro e o namorado dele chegaram!", ela deu um sorriso amplo, enquanto sufocava a circulação sanguínea da perna de Zoro com um abraço de urso — algo que era característico daquela família.

Zoro fez um cafuné no alto da cabeça dela, arrepiando os fios lilases. Por Sanji estar justo ao seu lado, Zoro percebeu rápido a vermelhidão que tomou o rosto do outro. Não era a primeira vez que confundiam o relacionamento deles e particularmente Zoro não se incomodava com esse tipo de coisa — apenas tinha vontade de rir só de imaginar o quão longe estava de ser o tipo ideal de Sanji. Mas supondo que Sanji ficara desconfortável com o erro, corrigiu-a de prontidão. "Somos só amigos, Tama. Apenas isso."

A menina os encarou confusa.

"É. Só amigos" Sanji reiterou com uma expressão estranha (que Zoro não teve tempo de entender), mas logo sorriu e estendeu o presente embalado. "Esse é o presente que Zoro comprou pra você, Tama. Se não gostar, pode chutar as pernas dele. Eu deixo."

Zoro franziu o cenho. Nem ao menos sabia como era a aparência do brinquedo, pois já estava embrulhado quando alcançou Sanji. Então assistiu com certa curiosidade a menina abrir o embrulho cuidadosamente para não rasgar o papel ou estragar a fita que o enlaçava, e viu ela ficar boquiaberta com o brinquedo mutante roxo neon. Zoro também ficou boquiaberto. Era o troço mais feio que via em muito tempo!

Tama abraçou o boneco emborrachado, dando risadinhas de pura alegria. "É o Igrysauro! Você é o melhor, tio Zoro, obrigada!" Em seguida a menina correu em direção aos amigos para mostrar sua mais nova aquisição bizarra.

"Feio demais, não é?" Sanji sorriu, colocando a mão no ombro do outro. "Pelo menos ela gostou."

Zoro assentiu, sorrindo também. Nem por um instante duvidou de Sanji ter feito uma boa escolha na compra do presente, mas o nível de animação de Tama tinha sido surpreendente.

"Por que estão demorando tanto? Vamos comer!" Luffy surgiu de repente entre os dois, agarrando um braço de cada um e os puxando para a mesa onde havia os espetinhos prontos.

Os demais convidados finalmente perceberam a chegada deles, cumprimentando-os com acenos e sorrisos amistosos. Havia vários rostos conhecidos e alguns poucos que Zoro nunca vira antes, mas o único que capturou sua atenção foi um sujeito de longo cabelo loiro e sorriso agressivo. Seu nome era Absalom e tinha se tornado amigo de Luffy em alguma de suas andanças por eventos geeks e derivados.

Zoro não gostava dele. Não que tivesse algo contra as estranhas vestimentas feitas com imitação de pele animal — inclusive, Absalom estava usando um colete com padrões de tigre branco que Nami com certeza teria considerado brega caso estivesse presente na festa. O que Zoro não suportava era o olhar faminto que Absalom dava sempre que avistava Sanji. E o olhar dele estava especialmente faminto hoje. Quando virou para entender o motivo, viu Sanji abaixando a bermuda e puxando a camisa para fora do corpo sem a menor inibição.

De imediato Zoro barrou a visão de Absalom com seu próprio corpo e virou para Sanji com a boca torcida de insatisfação.

"Vai comer sem roupas?", sua voz soou mais incisiva do que deveria.

Sanji estreitou os olhos. "Vou nadar antes de comer", apontou para a sunga extremamente cavada que vestia. Era uma peça de roupa tão pequena que beirava a imoralidade, principalmente com o tanto de pele pálida que estava exposta. Depois puxou um calção de banho de dentro da pochete e vestiu por cima da sunga. "Por que está perguntando? Mudou de ideia e quer nadar comigo, é?"

"Não. Prefiro beber."

"Certo... Então, já que vai ficar aí, guarda um pouco de comida para mim antes que Luffy coma tudo." Os dois olharam para onde estava a grelha e viram Marco reclamando de Ace e Luffy estarem comendo quase tudo sozinhos e tomando ele mesmo a frente no cuidado dos espetos. "Talvez essa vá ser a missão mais difícil de sua vida, mas confio em suas habilidades."

Zoro assentiu, bufando uma risada. Com o tecido extra do calção no corpo de Sanji, Zoro acalmou-se mais. Ainda assim, continuou barrando a visão de Absalom enquanto Sanji se dirigia para a piscina e se juntava a Sabo, Koala e as crianças dentro da água. Somente então Zoro se voltou para os outros e ocupou uma das cadeiras vagas.

"Não precisa me olhar assim, não vou atacar seu namorado", Absalom esticou a mão para pegar um espetinho de carne, mas Luffy foi mais rápido em capturá-lo.

Zoro agarrou uma bebida qualquer que estava disponível por ali e deu longos goles. "Não somos namorados."

Absalom continuou como se não tivesse ouvido ele. "Seria ótimo tê-lo como modelo de fotos para minha próxima coleção de roupas. O tipo de pele dele combinaria muito com o que eu tenho em mente. Mas não nego que aquela bundinha dele é irresistível e parece muito macia."

Zoro apertou os punhos, considerando por meio segundo a possibilidade de socá-lo. Porém, não podia fazer isso sem estragar a festa de Ace e isso provavelmente deixaria Tama triste mais tarde. Somente por esse motivo ele se limitou a fuzilá-lo com o olhar.

"Não se aproxime dele."

Os olhos de Absalom brilharam em malícia. "Achei que ele estivesse solteiro."

Em resposta, Zoro bufou e abriu um largo sorriso sardônico. "Ele é hétero, idiota", disse em um tom confiante.

Estranhamente todos os convidados mais próximos ficaram em silêncio depois de sua fala e o encararam com surpresa. Até mesmo Absalom e Ace que se esgueirava para pegar uma cerveja. Zoro franziu o cenho, perguntando-se mentalmente porque aquela gente toda estava ouvindo sua conversa.

Mas por coincidência, nesse momento Marco anunciou que mais espetinhos estavam prontos e Zoro interrompeu a linha de pensamento para se levantar e ir disputar a posse de espetinhos com a dupla da gula.

Afinal, precisava conseguir algo para Sanji comer e, no processo, provar que possuía sim as tais habilidades que ele mencionou antes.

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