Ardente Perdição - Duologia V...

Da AutoraLua_M

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Uma missão não finalizada. Uma traição dentro de uma salaz paixão. Dois marcos dentro da história de duas bom... Altro

Ardente Perdição
Guia de personagens
Book Trailer
Prólogo
INÍCIO DE POSTAGENS
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
× Recado ×
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV

Capítulo XX

251 20 122
Da AutoraLua_M

▙▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▜

× Pode conter erros.

× Boa leitura.

× Cuidado com o coração, amores 

× 1...

▙▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▜

Ethan Blake

Vermelho.

Precisava ignorar a cólera vermelha que tomava cada parte do meu organismo, chamas corriam por minhas veias, meus olhos estavam atentos e minha mente desejava como elemento primordial o sangue de Roxie Lowell.

Mas precisava de lucidez.

Enlouquecedor.

Quente.

Atroz.

Precisava da razão para sobreviver ao ataque, ara matar as pessoas certas, tomar decisões e manter todos da equipe vivos, não poderia condicionar mais alguém pelos erros de Oliver.

A maioria das salas do primeiro andar estavam ocupadas com pessoas lutando e atirando para se defenderem, outras eram amparadas por seus seguranças e traçavam rotas para fugir do local Não era para menos em um ataque repentino e extremamente agressivo em um evento mundial.

Discretamente passei dentre as pessoas e móveis revirados, assim que alcancei a porta do salão principal me encolhi e espiei para mapear o local. Não havia nenhum sinal de Eleanor ou Leonie, porém Lindsay estava em um confronto corpo a corpo com uma mulher, enquanto o homem que a acompanhava estava perto lutando com duas pessoas que detinham interesse na loira.

Jamais imaginaria que saberia se defender de uma pedra, quem dirá lutar com igualdade contra uma pessoa que deveria ser bem treinada, ao menos para se envolver nessa situação.

Assim que cogitei me mover para alcançá-la, percebi um atirador mirando em sua direção, seria jogada no marco X e então eliminada, seria colocar meu pescoço na guilhotina e deixar que despencasse.

Antes que me movesse, o atirador foi abatido e sua assassina adentrou a sala despreocupadamente, Lowell. Por instantes me perguntei se seria seguro deixar que se aproximasse e Lindsay, poderia se aproveitar para matá-la e limpar as provas, porém Oliver a observava a alguns metros, cercado de seguranças.

A inglesa abateu as três pessoas e arrastou a Sparks e seu acompanhante para Oliver, limpando o caminho sem precisar matar ninguém, não era o momento de sujar as mãos e isso estava estampado em seus olhos atentos a procura de alguém.

Passos.

Saquei minha segunda arma e disparei contra as duas pessoas que cruzaram a porta, aparentemente faziam parte do grupo responsável por aquela bagunça. Girei o corpo na direção da porta ao lado, desarmei a pessoa quebrando seu braço e a atirei contra a parede.

Uma sombra se fez atrás de mim, girei o corpo e apoiei a arma na barriga de meu alvo, contudo não atirei, meu objetivo era deter respostas sobre o ataque, mas acabei por encontrar quem eu desejava realmente matar. Por segundos seu corpo ficou tenso próximo ao meu e sua respiração parou, mas logo relaxou e me fitou.

Meu desejo era atirar várias vezes contra seu corpo, esganá-la ou quebrar seu pescoço, mas parecia muito pouco perto do que seu jogo e manipulação me causou e, com certeza, ainda renderá.

— Não é para mim que você deve apontar a arma no momento.

— Creio que deva sim — asseverei em falsa indecisão. — Parece que você está no meu caminho tanto quanto eles, talvez deseje minha cabeça assim como eles.

— Se quisesse teria o matado antes mesmo que soubesse da minha existência — replicou em baixa prepotência.

Levantei uma das armas e atirei duas vezes contra os homens que se preparavam para atirar nas costas de Roxie, não deixaria que tocassem nela, não por um instinto de proteção, mas por cólera.

Seus olhos castanhos esverdeados me fitaram por longos segundos antes que fizesse uma expressão curiosa em minha direção, mas não se ateve a isso. Em segundos desviou de mim e seguiu rapidamente na direção de uma mulher que mirava em Lauren, atraindo mais atenção do que seria necessário.

Adentrei a sala e entrei em confronto com dois homens que estavam prestes a cercar Lowell, ela poderia ser perfeitamente capaz de lidar com aquela quantidade de pessoas, se não precisasse se preocupar com tiros de outros lugares.

Uma lâmina na garganta e um pescoço quebrado bastaram para limpar a área e poder me juntar a luta da inglesa para que Lauren pudesse seguir para outra sala de preferência viva.

Assim que conseguimos retornamos ao ponto inicial, o corredor que dava acesso a várias salas, inclusive ao salão principal.

— Achei que me queria fora de seu caminho.

— Eu quem matarei você.— garanti. — Me deve respostas antes.

Mais uma vez se moveu antes que calculasse algo, em dois movimentos jogou um homem contra parede e em seguida quebrou seu braço, por fim enfiou uma de suas lâminas em sua barriga.

Não o mataria sem ter respostas antes.

Jogou o cartão de identificação para mim e acenou, ela me cobriria enquanto eu cruzava o brasão com algo no sistema em meu celular. Segundos cruciais e intermináveis até deter todas as informações sobre o homem e o grupo que fazia parte, não era pertencente a uma agência.

Não os conhecia, tão pouco ouvi falar nos últimos meses, ainda que o número de alianças com grupos independentes e a rivalidade tenha crescido e dado visão a eles em nosso mundo.

— Eles querem você — concluiu ao espiar a tela com dificuldade. — Você é como a merda de uma lâmpada para mariposas.

— Vão atacar a equipe diretamente.

— Está com colete? — Indagou dividindo a atenção entre mim e a sala, estava tramando algo. — Ok, preciso de alguns minutos para traçar uma rota e tirá-lo daqui.

— E eles?

— Eles ficam.

— Não — contestei imediatamente. — Não vou deixá-los aqui, podem usá-los.

— Shadow.

— A vida deles é minha responsabilidade, caso não se lembre eu sou o líder deles e não posso deixá-los.

— Mas você vai.

A tensão entre nós dois era estrondosa perto do que acontecia a nossa volta, estávamos ignorando tudo e todos para discutir sobre algo que detinha apenas uma resposta, "não".

Sem esperar respostas saiu e sequer pude acompanhar seus passos para entender o que faria, ao menos estaria livre por algum tempo para pensar claramente sem desejar arrancar sua pele, e poderia ajudar minha equipe que parecia ser um dos alvos preferidos e auxiliava outras pessoas.

James e Hillary estavam atrás de um móvel próximo a parede, pareciam se dividir entre proteção e estudo do local, estavam dando cobertura a uma parte do salão e tentando sobreviver.

Cruzei o cômodo em meio a pessoas lutando, ataques diretos para mim e tiros trocados de vários lados, bastava desviar das pessoas, quebrar uma parte de seu corpo ou arremessar para algum lugar caso chegasse muito próximo. Precisava manter toda a tenção e sentidos em 360º em vários sentidos diferentes, era quase como estar em campo de guerra.

— Qual o motivo dessa carranca exagerada? — Hillary perguntou assim que os alcancei, mas logo deu de ombros. — Melhor deixar para depois.

— Onde está o trio? — James inquiriu em um tom preocupado.

Varri com o olhar o salão, em primeiro momento encontrei Anthony abrindo caminho entre pessoas e tiros para nos alcançar. Ao outro lado do salão, Alexa que ajudava Lauren e Dean a se livrar de ataques e esvaziar um pequeno grupo de jovens desarmados e sem segurança.

Não havia sinal de Isaac, Janne ou Max, sequer algum rastro de Roxie pelo salão, como se tivesse tornado-se apenas poeira e história, o que era um grande problema, um grande problema.

— Onde está Venus, X e Mazen?

— X foi levado com Mazen por Lowell para algum lugar, não conseguimos perguntar ou intervir, a ponte de comunicação foi desligada, sequer sabemos de Venus.

Mais um problema envolvendo Roxie. Era como uma maldita enxaqueca perturbando qualquer resquício de sanidade, manter distância era perigoso demais para quem eu precisava cuidar, mas mantê-la perto era como uma pedra no caminho.

Mais uma vez varri o salão, desta vez levantei o olhar para os outros andares, então encontrei quem mais desejava, Janne, parecia em segurança ao lado de outros três agentes dos Kozlov.

Contudo, a paz se foi assim que Roxie apareceu com dois fuzis naquele andar e seguiu se aproximando do grupo, para minha surpresa apenas trocou palavras olhando em nossa direção e entregou as armas, uma para Janne e outra para um dos agentes.

— Daqui eu assumo, Shadow — Anthony declarou ao adentrar nosso espaço.

— É mais seguro que saia daqui, não imagina a vontade que estou de executar você, já fez o bastante.

— Mas que merda...

A discussão foi encerrada antes mesmo que começasse, desviamos a atenção para as pessoas que se aproximavam para um cerco de um grupo próximo e para quem tentava nos atacar diretamente.

A confusão estava ainda maior.

Equipes atacavam outras apenas por poder ou inimizade, o grupo inicial se aproveitava disso para marcar um território maior e poder focar apenas em nós, e outros tramavam para abrir caminho e nos abater.

— Está preparado? — Lowell questionou repentinamente fazendo todos levarem a atenção em sua direção.

Ninguém a escutou chegar, ou percebeu em meio aos movimentos que captávamos e fazíamos, quase como um gato silencioso que poderia ser notado apenas se quiséssemos, como James.

— Para o quê? — James replicou a fuzilando com o olhar.

— Eu não vou deixá-los, isso tomou uma proporção maior que o ataque de apenas um grupo contra mim, tem outras pessoas e equipes sedentas por poder.

— Por isso mesmo precisamos ir.

— Não é mais você quem dá as ordens — vociferei entredentes. — Não vou deixar que mais alguém fique em suas mãos.

Trocávamos raios pelos olhos, uma discussão silenciosa pela tomada de poder pareceu silenciar tudo e todos. Inicialmente não me parecia uma ideia sã deixar a vida da minha equipe nas mãos de Lowell, nesse exato momento era deixar que ficasse com a faca em meu pescoço.

— Estamos ficando sem tempo e espaço pessoal — Max alertou pelo ponto auricular.

Conexão reestabelecida, decerto era obra de Isaac.

— Shadow, não me importa se você confia ou não em mim, no fim eu estou no controle desse jogo que me custou muito e me recuso a pagar mais. Deixe para me desobedecer em outro momento, porque não vou deixar que sua cabeça fique nas mãos de outra pessoa essa noite.

— Tenho todos em mira, Lowell — Janne relatou, estava em outra parte do terceiro andar com uma mira discreta.

— Consigo tirá-lo daqui sem comprometer sua equipe, mas precisará fazer o que eu indicar e caso algo dê errado, pode me torturar para conseguir respostas e depois me matar.

— Vá com ela. — Hillary interveio. — É a sua cabeça que querem, somos apenas brindes.

— Conseguimos acabar com tudo aqui, afinal você tem o melhor sub-líder que alguém poderia querer.

— Não é hora para pretensão, Ghost.

— Basta chamar atenção. — Kozlov instruiu ao se reaproximar. — E eu cuido deles.

— Então?

Era uma péssima ideia me condicionar à Roxie, dar uma mínima carta de confiança e liberdade, mas era necessário. Daria corda para suas ações até que se enforcasse sozinha, enquanto isso liberava a atenção da situação e traria para mim.

Parecia a única chance de mantê-los vivos.

Acenei para ela concordando.

— O lado de fora foi controlado por seus agentes Lowell, mas não garanto que não haja perseguição. — Carter e Owell deveriam estar controlando o espaço e movimentando a comunicação.

— Venus, abra caminho — Roxie comandou e logo se voltou a mim. — Preciso que você também faça isso, se direcione a porta esquerda e siga pelas salas e corredores até a última porta para o jardim, o encontrarei lá.

Analisei o local e desenhei a trajetória em minha mente, mais uma vez atravessaria uma espécie de campo minado, o único objetivo era chegar vivo ao outro lado e seguir para o lugar marcado.

Ao sinal de Janne adentrei o campo, mais uma vez corria ou me arrastava entre as coisas, tirava pessoas de meu caminho ao arremessá-las ou executá-las, porém o trabalho principal estava na responsabilidade da Gree e o fuzil em suas mãos.

O ponto demarcado era uma parte exilada do jardim, sem sinal de confronto ou de outras pessoas, o que me obrigou a ficar atento, poderia ser uma armadilha ou área de um atirador à distância como Janne.

Os minutos se arrastaram, os únicos sons vinham da casa e algum lugar distante, certamente da entrada ou dos fundos agitados com a invasão e confrontos distribuídos por poder.

O som de pneus contra o chão antecedeu a chegada de uma moto preta, Roxie parou-a em minha frente e desligou as luzes, pareceu certificar algo no local e retornou a atenção a mim.

— Sobe — mandou ao jogar o capacete em minha direção. — Não temos tempo para os seus neurônios queimados cabeça de fogo, preciso que seja ágil e mantenha a mira para nos dar cobertura.

Coloquei o capacete e subi na moto, não tive tempo para achar uma posição confortável para nós dois, ela acelerou sem avisar, apenas assegurei que não cairia e que poderia atirar na maioria das direções possíveis.

Seguíamos pelos jardins abrindo caminho entre pessoas e entrando em becos verdes, decerto estava apenas tomando tempo enquanto outras motos se aproximavam.

— Para onde vamos?

— Primeiro brincaremos um pouco com eles e afastaremos o foco, depois vamos para uma área que não podem nos tocar.

— Achei que essa fosse uma.

— Um grupo independente está atrás de você, não posso limpá-los do mapa agora, mas não entrarão na área de um rival de grande potencial. — Grandes cidades. — Fique atento. Espero que goste de velocidade.

Iríamos cruzar o ponto inicial, um homem armado era a bandeira a qual abati com um tiro dando a largada. Roxie acelerou de uma vez, ao mesmo instante que cruzamos o portão, outras duas motos nos acompanham e três se aproximaram seguindo em velocidade aproximada pelo mesmo caminho, todas idênticas.

Distrações.

Lowell não se importava com curvas, carros repentinos na madrugada ou pessoas, estava determinada a chegar ao "ponto um", onde nos separamos de duas motos, assim que encontramos meus "caçadores". Como previsto, eles também se separaram, alguns nos seguiam, dividiam a atenção para quem deveriam atacar.

— O carro a sua direita — instruiu, no mesmo instante atirei contra um dos pneus. — A moto que está focada no segundo da esquerda.

Mais uma vez.

Outros nos encobriam e nós fazíamos o mesmo, limpávamos e confundíamos a atenção da primeira "remessa" da noite, ainda poderia haver mais, a prova estava no homem que executei, estava abaixado entre carros na rua e sinalizava para outro que tentou adentrar um carro para nos seguir, tarefa falha.

— Se segure, assim que fizer a curva preciso que atire no carro ESTILO e que foque em nossa frente em seguida.

Assim o fiz. A curva brusca e rápida por segundos me fez pensar que iríamos ao chão, contudo não poderia me dar ao luxo de pensar em como Roxie dirigia. Um tiro no capô e outro no pneu.

Com a curva, mais uma vez nos separamos dos outros, agora apenas uma moto de sua equipe estava nos acompanhando, e dois carros esperavam para dar partida contra nós, mas foram parados e seus condutores apagados assim que cruzamos por eles.

— X, primeira ação em dez segundos, segunda em quarenta e cinco segundos.

Não detinha ideia do que estava falando, não houve resposta audível, mas pelos movimentos descoordenados das motos, com certeza envolvia tomar o controle do jogo e deixar que alguns se matem sozinhos.

As luzes das ruas foram apagadas no momento em que iríamos encontrar com outro grupo de carros e motos que desejavam minha cabeça. Apenas éramos iluminados pelos faróis dos automóveis na rua próxima, mas em poucos segundos estes foram desligados.

— Lowell.

— Estou no controle dos carros e comunicadores.

Estávamos em um breu. O capacete era especial, uma combinação de visão noturna, comunicador e localizador. Era capaz de enxergar e atirar nas pessoas certas. Estavam perdidos, apenas os sons de nossos pneus poderiam ser reconhecidos, se guiavam por vozes e pelo tato, como ratos presos em uma brincadeira.

As luzes retornaram a tempo de que cruzássemos a área, apenas duas motos nos cercaram, sabiam quem era o alvo certo, nós. O que obrigou Roxie a retomar seus movimentos descoordenados, entrar em várias ruas e retornar para nosso caminho assim que tivesse controle sobre a situação.

— Atire e pule.

Não contestei, não havia tempo.

Atirei contra as pessoas, as eliminei e os automóveis colidiram contra comércios fechados. Então pulei da moto e segundos depois, a piloto também, pouco antes de deixar que batesse contra um muro e explodir.

— Vamos.

Não sei por quanto tempo corremos, porém nos dirigimos até o porão de um prédio abandonado, era um dos corredores subterrâneos que a ASSA não utilizava mais, contudo dava acesso a muitos lugares, entre eles o objetivo de Roxie.

Um prédio empresarial, não precisou se identificar ou falar algo para que o segurança desligasse as câmeras, tudo foi minimamente planejado, seu rumo era ao elevador.

Por ironia, o único lugar onde pude respirar e racionalizar minimamente, foi no elevador acompanhado de uma irritante melodia que me obrigou a perceber o mundo em minha volta. Estávamos nos direcionando ao último andar, um heliponto.

A adrenalina deixava minhas veias e mente, agora sentia cada músculo rijo em meu corpo, os golpes das lutas corpo a corpo, o impacto contra algo ao pular da moto e uma dor excruciante toda vez que respirava.

Baixei o olhar para o local, uma mancha vermelha tomou um rasgo próximo a barra de minha camisa, logo abaixo do colete. Mais à baixo havia outra abertura em minha calça, assim percebi que era incômodo apoiar em minha perna esquerda.

— Vai ficar ai? — O tom impaciente e ameaçador de Roxie me despertou, chegamos. — Que merda aconteceu?

Uma raridade aconteceu, sua expressão mudou e quase quebrou sua própria regra, se aproximar mesmo que para me ajudar. Antes que tentasse algo, saí da caixa metálica e segui em direção ao helicóptero já preparado.

Por segundos as coisas começaram a girar o chão pareceu sair de meus pés, ignorei e mantive os passos firmes em minha perna direita, a respiração mínima e a mão contra o ferimento que parecia se rasgar a cada movimento.

Deveria ser um maldito corte.

— Shadow.

— Já estive pior. — Dei de ombros. — Vamos, ainda tenho que matar uma pessoa essa noite.

— Não matará ninguém mais essa noite.

— Temos coisas a resolver Roxie, então entre logo nessa merda desse helicóptero e dê as ordens para voarmos, conversaremos durante o trajeto e talvez eu cogite não jogá-la e sim levá-la para tortura lenta.

Seu semblante era irreverente, seus passos fortes na direção do helicóptero próximo a mim. Precisava manter a respiração calma, ignorar a dor e sustentar o olhar na mulher traiçoeira.

— Não, Shadow, não conversaremos.

O provável corte em minha cintura doeu como jamais poderia cogitar, minha perna perdeu a força e logo meus sentidos ficaram completamente confusos ao me aproximar do chão.


(...)


Um corpo nu feminino caminhava lentamente para fora da cama, reconhecia e sentia apreço pela noite regada de bebidas e prazeres de uma das festas cedidas pelo exército, ainda que a confusão me inundasse com a insatisfação de meu subconsciente.

Escuridão.

Rosalie caminhava vagarosamente para um lugar distante, sua imagem era embaçada e confusa, mas reconhecia essa cena. Com dificuldade levantei a cabeça e pude acompanhá-la com os olhos, um suspiro alto e mudança de postura anunciou a despedida e antecedeu um ato incomum de sua parte, olhar para trás.

Uma sensação sufocante abateu meu peito, era como se me afogasse em minhas próprias memórias ao reviver aquela tortura. A última vez que a vi, quando me golpeou pelas costas.

Novamente um breu.

Uma silhueta envolta por um longo tecido branco se moveu como uma mancha lenta, aparentemente tomou o lugar perfeito para me observar. Não poderia dizer quem era, a dor forte em minha cabeça e a visão embaçada me desorientaram.

Em um ímpeto cobri os olhos com as mãos e apertei minha cabeça, parecia a única forma de me trazer à realidade. Limpei os olhos assim que a lâmpada no teto se tornou apenas uma, não estava delirando, mas algo estava muito errado.

Um 'band-aid' cobria uma pequena parte de minha mão, mas não me recordava de nada do tipo.

Forcei meu corpo para virar e finalmente observar onde estava, um quarto desconhecido com a presença de Roxie em uma poltrona, sua atenção estava totalmente em mim, me examinava como um animal.

Meu pescoço ardeu com o movimento para fitá-la, meu corpo demonstrou descontentamento com a posição assim que tomei consciência de seu latejar, minha cabeça pesava toneladas.

Parecia a merda de uma ressaca e para meu azar, não era, a dor em minha cintura me recordou do confronto e dos últimos momentos de lucidez.

— O médico disse que foi um corte certeiro, nos impressionamos que tenha suportado a perda de sangue e que não precisamos levá-lo a algum lugar mais especializado — aclarou com um pingo de sarcasmo.

— Me impressiono que ainda esteja vivo e fora de um coma, apesar de estar em suas mãos podres.

— Água?

— Nada que venha de você me parece seguro.

— Está dormindo e se alimentando bem, Shadow?

— Não é algo que esteja em nossa lista de importância, Lowell.

— Combinar sua péssima rotina com a perda excessiva de sangue foi se colocar em perigo de graça, quase como tentar tirar a própria vida. — desdenhou enfadonha. — Poderia ser pior.

— Nossos problemas não são esses, não dê voltas.

O silêncio nos consumiu, porém não pareceu abatê-la, era como uma forte muralha.

— Anthony me alertou que deseja que eu morra, mais do que eu mesma, graças a língua sem freio de Oliver.

— Presumo que esteja atenta ao que quero saber.

— Tirei todas as armas que poderia usar contra mim, inclusive suas mãos não poderão me esganar ou quebrar meu pescoço, ou acabará com os pontos abertos — declarou com uma venenosa e falsa indiferença, estava se aproveitando da situação. — Mas ao final de nossa conversa, deixarei que faça o que quiser com o poder que lhe darei.

A dúvida que me abateu foi, qual de nós dois sairá vivo daqui? Com ou sem a verdade, seria capaz de tudo para acabar com seu ar presunçoso e indiferente, arrancar a feição crítica e impassível de seu rosto.

Iria do céu ao inferno para descobrir suas fraquezas.

— Você não disse que ela estava em coma, faz parte desse jogo de Oliver.

— Não, Shadow, eu faço parte do meu jogo.

— Tínhamos um acordo de cartas na mesa e você omitiu isso. — Traidores não são bem-vindos, muito menos quando caminham no lugar errado e ela não seria uma excessão por William. — Não é de se duvidar que você tenha dado as ordens para dificultar os movimentos de Rosalie, mas para quê?

— Eu comando esse jogo agora, Shadow, as coisas acontecem porque eu quero — atinou em uma risada baixa. — Tudo o que fiz foi necessário, mas não movi um dedo para deixá-la em coma, não seria inteligente de minha parte acender sua centelha de raiva dessa forma.

— Não tente me persuadir como uma boa moça. — repliquei. — As coisas vão ficar bem claras por agora, ao lado de Oliver ou não, você está em meu caminho por omitir a favor do meu inimigo. — Meu real desejo era terminar essa conversa e arrancar o máximo de sua sanidade como fazia comigo. — Lhe caçarei até no inferno se for preciso, mas obterei respostas e tirarei de meu caminho.

— Não disse sobre o coma, não significa que estou ao lado de Oliver.

— E o que significa? — O silêncio foi acompanhado do desvio de seu olhar claramente irritado. — O que significa Roxie?

Despretensiosamente se apoiou em um móvel e sustentou o olhar vazio em minha direção, como uma cena cotidiana ou um espetáculo entediante, obviamente analisava cada respiração minha e roteirizava suas próximas palavras.

— O que mais você sabe? — Mais uma vez sem resposta. — Onde ela está? — Em um impulso levantei cansado de seu silêncio. — Me pergunto como persuadiu Anthony a entrar em seu plano.

— Eu não contei sobre o coma porque ela não está, Blake.

Suas palavras me pararam no meio do quarto, por segundos senti um alívio em meus ombros, entretanto não durou muito, precisava me manter atento a qualquer movimento ou indício de que seria mais uma das manipulações da inglesa.

Demonstrava estar tão cansada quanto eu, era evidente pela sua postura ao apoiar com um braço na cômoda e virar grandes goles de uma garrafa de vodka pura, sem preocupação com minha liberdade no quarto ou um ataque em suas costas.

Concordei com a cabeça pelo reflexo e segui para a cômoda ao lado da cama, havia remédios, água, meus pertences e um envelope preto, exatamente o que eu precisava. Minha mente pareceu travar por segundos ao pegar aquilo, parecia fácil demais para Lowell.

Levantei o olhar em sua direção, estava ocupada demais dividindo a atenção entre o álcool e algo em seu rosto, poderia perceber nas entrelinhas que seus movimentos eram calculados e transtornados, mas não saberia dizer se por ensaio, por mim ou por si mesma.

Sem cerimônias, enquanto minhas mãos tremiam e meu coração parecia que iria quebrar minhas costelas para sair do peito, abri e peguei o documento que tirou o ar de meus pulmões.

O que era para ser um alívio foi como um tiro no peito, o desespero e a confusão substituíram o anseio em meus músculos, meu chão desapareceu por instantes e minha racionalidade desapareceu por completo, não existia senso de julgamento entre verdadeiro ou falso, entre cólera e terror.

Certidão de óbito.

Rosalie Aubry Sparks.

— É muito pior. — Uma terceira voz adentrou o quarto, era fraca e parecia ainda tomar forma em um tom que arranhava meu cérebro para reconhecer. — Eu matei Rosalie Aubry.

A razão acendeu e apagou em minha mente, a ira me preencheu, o vermelho retornou e nada mais importava além de acabar com aquele jogo e com quem estivesse presente.

Me virei em direção a porta, mas estava fechada, então me voltei para outra direção, a da mulher que eu desejava quebrar o pescoço, contudo o sangue congelou em minhas veias e meu coração pulou uma batida ao presenciar a retirada de algo semelhante a pele na mandíbula dela.

Uma cobra trocando de pele.

— Foi necessário enterrar o passado a sete palmos do chão. — O sotaque francês na voz rouca e baixa era ímpar.

Não era uma terceira pessoa

Havia uma grande quantidade de algo semelhante a pele sobre o móvel e no chão, algodões manchados também atestavam o disfarce quase perfeito, e o hobby que a cobria agora estava no chão, dando visão de parte de sua pele.

Olhos afiados com íris negras únicas.

Seus lábios agora eram cheios e desenhados, pouco manchados pela maquiagem.

Traços únicos do inferno que eu havia memorizado.

Uma onda gravada em seu ombro, um peixe no antebraço e um coração próximo a clavícula, eram as tatuagens visíveis e carregadas das histórias que me contou em uma noite.

Em seu anelar esquerdo a tatuagem pertencente ao anel das NYX.

Eu precisava estar louco.

Sem desviar os olhos frios dos meus, sacou uma arma em uma das gavetas e a descansou próximo a seu tronco, esboçou um sorriso vil e engatilhou a arma em sua direção.

— Acho que deveria dar boas vindas ao diabo, seria mais educado, mon coeur.

Aquilo não poderia estar acontecendo, é apenas um delírio de dor.

▙▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▜

Surpresa?

Mon coeur: Meu coração

Lua Mazzine

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