Já estávamos na última semana de férias, e Narcisa ainda estava programando todos os preparativos para um casamento de emergência, se fosse necessário, mas que ainda assim tivesse tudo o que nós éramos de direito. Então, mesmo que as coisas tivessem voltado ao seu normal, ela deu apenas uma diminuída na velocidade dos preparativos, deixando tudo praticamente encaminhado para quando chegasse o momento.
Já que agora poderíamos fazer tudo com mais tranquilidade, Narcisa fazia questão de que eu já estivesse com pelo menos um vestido de noiva em preparação, um que realmente fosse digno de mim e de um casamento grandioso. Então, aqui estávamos nós, em uma loja, tirando medidas para o meu futuro vestido de casamento. Até mesmo Draco, papai e Lúcio vieram, mas estavam todos na recepção, bebendo whisky de fogo e comendo canapés.
— O que está achando disso tudo, querida? — Narcisa me pergunta depois de tomar um pequeno gole de champanhe.
— Estou nervosa. Do nada, descobrimos um diário que continha a alma do lorde das trevas, e minutos depois ela some novamente... Sinto que não vai demorar muito para Draco e eu estarmos no olho desse furacão de vez — Falo com um suspiro, olhando para os lados e me certificando de que a modista não tinha voltado.
— Vocês dois têm um ao outro, e têm a mim, seu pai, Lúcio e Severus também. Mesmo que ele não demonstre, ele se preocupa com vocês dois — Narcisa fala, segurando minha mão de modo reconfortador. — Vai ficar tudo bem — Finaliza com um sorriso acolhedor.
— Ótimo — Falo, abrindo um sorriso. — Pelo menos não desistimos do vestido de noiva, ele vai ficar lindo — Falo verdadeiramente.
— Você fica linda de qualquer maneira, querida. Não se preocupe com isso — Ela fala, me dando um sorriso enquanto beberica seu champanhe.
Então, a modista voltou trazendo panos e mais panos, e Narcisa escolheu todos eles, só buscando a minha aprovação para garantir que eu estava de acordo com ela, o que era um tanto engraçado, já que ela se sentia em um parque de diversões. A preocupação de fazer um casamento às pressas a deixava muito estressada, descontando sua ira em todos, principalmente em Lúcio, que não tinha outra opção a não ser ouvir calado e fazer tudo o que ela mandasse.
Quando terminamos, já era quase de tarde. Lúcio, papai e Draco estavam todos de cara fechada. Eu não estava muito diferente; apesar de ter me divertido, estava cansada. Narcisa me supera em todos os quesitos de minimalismo e perfeccionismo. Acredito que ela estava descontando toda a frustração de talvez não poder ter uma festa grandiosa nesse vestido.
Quando chegamos à mansão Malfoy, fomos todos direto para nossos quartos tomar um banho e descansar até a hora do jantar. Até mesmo o papai não aguentou e resolveu passar a noite aqui. O quarto dele era ao lado de Lúcio e Narcisa, que ficavam no começo do corredor. O meu e de Draco eram no meio, de frente um para o outro, mas Narcisa já tinha começado o processo de decoração da área leste, onde ficaríamos depois de casados, até ela e Lúcio poderem passar realmente o legado de senhor e senhora Malfoy para Draco e eu, e se mudarem para alguma propriedade da família, da qual Narcisa tinha vontade de morar.
O jantar foi agradável, mesmo que papai e Lúcio falassem de negócios o tempo todo. Isso não impedia que eu, Narcisa e Draco falássemos banalidades, fazendo assim o jantar não ficar com um clima pesado, como foi no início, depois que voltamos de Hogwarts.
— Como é o vestido? — Draco me pergunta no caminho para nossos quartos.
— Você sabe que não posso contar — Falo, revirando os olhos com um sorriso.
— Eu sou o noivo, deveria saber também. Eu fiquei mais de três horas na recepção escutando papai e Bart falarem sobre negócios, e só tinha revista de mulher lá — Disse, com revolta.
— Me desculpe — Falo, rindo. — Mas eu te avisei para levar um livro ou até mesmo aceitar o convite de Blasio para ir jogar quadribol.
— Você sabe que eu fui por você e mamãe, e se eu não fosse, papai ia me matar — Ele disse, com um suspiro.
— Aprendeu algo sobre negócios com eles, então? — Pergunto de modo provocador.
— Engraçadinha... Aprendi sim, até que não é chato. Só não me vejo fazendo isso para sempre — Fala, dando de ombros.
— Você sabe que eu sempre vou estar ao seu lado, né? Não importa o que decida fazer, é a sua vida, e no fim... quem vai ter que viver com essas escolhas é você — Falo, segurando sua mão.
— Não só eu, você também. Quero que você seja feliz, que nós dois sejamos felizes — Ele diz, me olhando nos olhos e passando os dedos nos meus lábios.
Eu podia ver desejo nos seus olhos; sua máscara de indiferença tinha deslizado novamente e mostrado seus verdadeiros sentimentos e até mesmo pensamentos.
O seu toque deixava um rastro de fogo por onde seus dedos frios passavam, fazendo a minha pele se arrepiar, e nossas respirações se intercalando a cada segundo, cada vez mais ofegantes, mais quentes, mais próximas, me faziam tremer em antecipação, até que senti os seus delicados lábios nos meus, suas mãos serpenteando até minha cintura e me puxando delicadamente para mais perto de si, para que não existisse um espaço sequer entre nós dois.
Com um pouco de timidez, também levei minhas mãos à sua nuca, puxando os poucos fios que lá existiam, até que Draco deu uma pequena apertada em minha cintura, me fazendo ofegar, o que ele aproveitou para aprofundar nosso beijo, colocando timidamente sua língua dentro de minha boca e explorando cada canto dela.
Demonstrei total fervor em fazer o mesmo com ele, demonstrando que tudo o que ele pudesse estar sentindo, eu também estava, e logo estávamos em uma batalha fervorosa de língua contra língua, o que estava deixando nós dois ofegantes, já que a falta de ar começava a se fazer presente, mas estava tão bom, tão quente e íntimo a cada segundo, que estava se tornando impossível parar, como se estivéssemos em uma utopia, nos drogando e nos viciando a cada segundo.
Mas o ar se mostrou vitorioso e, com pouca vontade, começamos a nos afastar, puxando pequenas quantidades de ar, para pelo menos continuarmos a dar pequenos selinhos.
Draco e eu nos olhávamos com carinho; eu podia sentir meu rosto completamente vermelho, não sei se era de vergonha ou desejo, só sabia que esse beijo tinha sido intenso, Draco estava intenso, nós dois estávamos mudando, nossos corpos, nossas mentes, talvez nossos sentimentos também.
Eu não sabia como expressar isso tudo, e Draco também não; talvez ainda estivéssemos em negação sobre alguma coisa, algo que nos impedia de dar um passo a mais em nossa relação, talvez fosse o medo, mas eu sabia que não existiria ninguém como Draco Malfoy para mim.
— A cada dia que passa você fica mais linda — Draco diz baixinho, desviando o seu olhar dos meus lábios para os meus olhos.
— E você mais alto — Falo com um pequeno sorriso.
— Faz parte do charme Malfoy — Ele fala com um largo sorriso.
— Feche os olhos, Draco — Peço acariciando sua bochecha.
Então, com um pequeno sorriso nos lábios, ele fecha lentamente os olhos, passando sua mão pelo meu braço até chegar à minha mão em sua bochecha e a segurar firme.
— Está pronta? — Perguntou baixinho.
— Eu sempre estou pronta, Draco querido — Falo baixinho também.
Então ele lentamente vai abrindo seus olhos, que são tão magnéticos que me prendem e me fazem perder o ar.
— Lindo como sempre — Falo com um suspiro.
— Eu ou meus olhos? — Ele pergunta com um sorriso zombeteiro.
— Quem sabe um dia eu não te responda isso — Falo, lhe dando um selinho demorado.
— Boa noite, minha Lynx — Ele fala baixinho, se afastando sem soltar minha mão.
— Boa noite, Draco — Falo, olhando-o nos olhos e soltando lentamente sua mão.
Com um grande sorriso nos lábios, eu entro em meu quarto e me encosto na porta, com as pernas totalmente bambas. Respiro fundo e tento me conter, seguindo direto para o banheiro, onde coloco minha roupa de dormir e creme para o rosto, indo direto para a cama.
O dia amanheceu do jeito que eu gostava: estava chuvoso e com uma pouca neblina, e o som da chuva no parapeito da grande janela era revigorante, me fazendo levantar mais animada ainda, indo direto para o banheiro, tomar um banho quente e me arrumar para o dia.
Coloquei um vestido preto com verde, brincos de esmeraldas e prendi meus cabelos em um coque com trança e alguns poucos fios soltos. Tudo muito simples, mas ainda assim elegante.
— Está radiante essa manhã — Escuto a voz de Draco logo atrás de mim.
— Meu Merlin... Que susto, Draco — Falo, me virando na poltrona para poder olhá-lo.
— Só vim ver se estava pronta para descer para o café da manhã — Ele disse, com um sorriso no rosto.
— Você nunca bate na porta, não é? — Falo, me levantando e tirando as rugas que haviam se formado no meu vestido.
— Não mesmo — Diz, andando na minha frente.
O que me faz revirar os olhos. Draco adquiriu essa mania, e creio que não vá mudar nunca, então procuro não me estressar, já que seria uma batalha perdida mesmo.
Quando chegamos à sala de jantar, o clima estava estranho novamente, o que fez Draco e eu nos olharmos e caminharmos em completo silêncio para nossos lugares.
Narcisa mal tocava em seus ovos com tomate no prato, enquanto papai e Lúcio comiam suas batatas com bacon e cogumelos grelhados com muita tranquilidade, mas permaneciam calados e com feições sérias. Eu dei uma bebericada no meu chá preto com leite, observando atentamente cada pessoa presente na mesa. Assim como Draco, não ousamos iniciar uma conversa, pois já sabíamos muito bem como agir em momentos assim.
Eu comi meu croissant com calma, tentando adivinhar qual era o problema dessa vez. Os jornais de papai e Lúcio não estavam mais na mesa, o que indicava que o problema poderia ser esse. Draco comia seus ovos com bacon, olhando para todos com expressões frias, como se esperasse uma maldição imperdoável ser dita a qualquer momento.
— Voltamos para o almoço, Cissa — Lúcio disse, e assim ele e papai se levantaram ao mesmo tempo.
— Está bem, querido — Narcisa fala com um tom passivo, que não chegava até seus olhos.
— Até mais tarde, papai — Disse Draco, olhando-o.
Lúcio apenas deu um aceno de cabeça para nós dois e foi em direção ao foyer.
— Até, papai — Falei, pegando minha xícara de chá.
— Até mais tarde, Bart — Draco fala, acenando.
— Bom serviço, Bart — Narcisa fala de modo gentil.
— Obrigado, uma ótima manhã para vocês também! — Respondeu Papai, acenando com a cabeça e saindo logo em seguida.
Assim que todos se foram, Narcisa também se levantou da mesa, nos lançando um pequeno sorriso e saindo do cômodo.
Draco e eu apenas demos de ombros e voltamos a comer; se fosse algo importante, eles iriam nos contar.
Estava deitada no meu quarto lendo um livro quando Draco entrou e pulou na cama com um jornal em mãos.
— Achei que não gostasse de ler o Profeta Diário — Falei, sem tirar os olhos do livro.
— Só leio quando tem algo de interessante, e hoje não tinha nenhum jornal à mesa, então com certeza tinha algo de interessante nele — Ele disse, puxando as cobertas para se cobrir também.
— E arrumou esse jornal onde? — Perguntei, finalmente o olhando.
— Pedi para Tinker me arrumar um exemplar — Disse, como se fosse algo óbvio.
— E o que tem de tão interessante aí? — Perguntei, chegando mais perto para olhá-lo também.
— Sirius Black fugiu de Azkaban — Ele disse, me mostrando a foto dele estampada na primeira capa.
— Isso é surpreendente, achei que ninguém conseguia fugir de lá — Falo, pegando o jornal.
— É o que todos achavam, mas se ele consegue, então vários outros também podem — Draco fala, se virando para ficar de frente para mim.
— Black? Ele é parente seu e da sua mãe? — Pergunto, realmente interessada.
— Sim, ele é primo da mamãe e da tia Bella. Se ela pudesse saber que Sirius fugiu de Azkaban e ela não, nossa... Ela mataria a todos; ela realmente abomina ele — Ele diz, me olhando. — Sirius foi para a Grifinória, quebrando totalmente a tradição de ir para a Sonserina. Ele teve o nome queimado da árvore genealógica, igual à tia Andrômeda, só que no caso dela foi pior: ela se casou com um... Nascido trouxa, o que, na família Black, era como, sei lá... se casar com um trouxa completo — Draco fala, me olhando como se buscasse minha aprovação por não ter falado "sangue-ruim". Eu apenas aceno com a cabeça, esperando saber mais. — Mamãe não gosta de falar sobre ele e nem sobre a tia Andrômeda — Finaliza, se levantando e queimando o jornal no ar.
— Ele foi acusado de traição pela morte dos pais do Potter, não foi? — Pergunto, com dúvida, me sentando na cama.
— Eu não entendo essa história também — Draco disse, dando de ombros e voltando a se sentar na cama.
— Tinker, venha aqui — A chamo.
— Sim, Mileide Lynx — Diz, aparecendo no mesmo instante próxima à porta.
— Nos conte o que sabe sobre Sirius Black — Peço a ela.
— Sei que Sirius Black é primo do mestre Draco Malfoy, Mileide — Ela diz, mexendo com as mãos em sinal de nervosismo.
— Sei que você sabe mais coisas, Tinker — Falo, revirando os olhos.
— Não vai te causar problema algum nos contar o que sabe, Tinker. Não vamos contar para ninguém o que você nos disser — Draco fala, interessado também.
— Sirius Black era um fiel partidário do Lorde das Trevas, e quando o garoto Harry Potter o derrotou, Sirius Black ficou maluco... Dizem que até hoje Sirius Black é seu fiel partidário e que ele fugiu de Azkaban para matar o garoto Harry Potter... Terminar o que o Lorde das Trevas começou — Ela disse, andando de um lado para o outro.
— Essa história é muito estranha — Draco fala.
— Sirius Black afirmava não ter nada a ver com a morte da família Potter, mestre Draco, que ele não era um traidor, mas as provas apontavam todas para ele — Tinker disse, nos olhando.
— Está bem, Tinker, pode ir. Não vamos comentar com ninguém o que foi dito aqui — Falo, com um pequeno sorriso.
— Tinker sempre vai ser fiel à Mileide Lynx e ao mestre Draco Malfoy — Ela fala, com um sorriso, e logo some.
— O que acha disso tudo? — Me viro, olhando para Draco.
— Que papai deve estar odiando saber que Sirius fugiu de Azkaban. Quando era pequeno, escutei ele chamar o Sirius de cão sarnento, juntamente com Severus — Ele fala, dando de ombros.
— Cão sarnento? Por quê? — Pergunto, achando graça.
— Sirius é um animago; ele se transforma em um cachorro — Disse, rindo.
— Gostando ou não, ele é da família, não é? — Pergunto, olhando-o com dúvida.
— Eu não tenho nada contra ele, nem o conheço, mas ele deve ser alguém legal, apesar de tudo... Eu acho — Diz, dando de ombros.
— É, realmente ele deve ser legal; afinal, ele fugiu de Azkaban — Falo, rindo.
— Vem, leia para nós dois — Draco fala, rindo, voltando a se deitar ao meu lado.
Então, logo somos chamados para o almoço, fazendo assim esquecermos, por hora, esse assunto. Narcisa parecia estar com o humor bem melhor; papai e Lúcio chegaram na hora exata. Eles pareciam tranquilos, mas sabíamos que era apenas uma máscara. Eles sabiam de algo que ninguém ali mais sabia, e pelo jeito ninguém contaria, não ainda.