RUN 🏁 !¡ BEAUANY

By JENNIE4NY

1.2M 91.7K 391K

Any Gabrielly é a pilota mais famosa no ramo do kart brasileiro. Ao se mudar do Brasil com destino a Los Ange... More

INTRODUÇÃO
ATENÇÃO
00 | PRÓLOGO
01 | O PRIMEIRO DIA
02 | O ESPETÁCULO
BÔNUS | A ÚLTIMA VEZ
03 | ESTRESSE
04 | BEIJOS E ÁLCOOL
BÔNUS | RUÍNAS
05 | FRAQUEZAS
06 | MAIS QUE UM DIÁLOGO
07 | AMEAÇAS
08 | ALGO SOBRE PERDAS E DESEJOS
09 | PEÔNIAS E TÊNIS
10 | ESTACA ZERO
11 | O INÍCIO DO JOGO
12 | O DIABO TEM OLHOS AZUIS
13 | MORANGOS E TENTAÇÕES
14 | BRINCANDO COM FOGO
15 | VERDADE OU DESAFIO
16 | ASSASSINO
17 | SENTENÇA DE MORTE
18 | COLECIONANDO PECADOS
19 | ABSTINÊNCIA
20 | EXPURGAR E PURIFICAR
BÔNUS | SINÔNIMOS DE PROBLEMA
21 | TENTANDO SER HONESTO
22 | LIBERDADE E CERTEZAS
23 | DOR CONSTANTE
23 | DOR CONSTANTE II
24 | PROCESSOS DE CURA
BÔNUS | O AMOR TUDO SUPORTA
25 | LUA NOVA
26 | PROMESSAS ARDENTES I
26 | PROMESSAS ARDENTES II
27 | JOGO DE CARTAS
28 | SEQUÊNCIA DE DESASTRES I
28 | SEQUÊNCIA DE DESASTRES II
CENA ESPECIAL | CHUVA
29 | APEX
CENA ESPECIAL | ANEL
30 | AMOR
31 | PECADO DA LUXÚRIA I
31 | PECADO DA LUXÚRIA II
32 | PESADELO
33 | VILÕES E MOCINHOS
BÔNUS | DUAS OPÇÕES
34 | CAIXA DE PANDORA I
34 | CAIXA DE PANDORA II
35 | HADES
36 | CONVERSAS
37 | O FIM

BÔNUS | AMORES DIFERENTES

17.2K 1.7K 3.9K
By JENNIE4NY

— HEYOON JEONG

Quando eu tinha cinco anos, me lembro de me perguntarem o que eu queria ser. A pequena Heyoon Jeong, incrivelmente empolgada com toda a vida dali em diante, respondeu desejar ser a médica mais talentosa que já pisou na terra e conseguir salvar o maior número de criancinhas possíveis. Hoje, se me direcionassem a mesma pergunta, contaria com todas as letras a minha maior vontade, algo tão efêmero que chegava a ser cômico. O maior desejo da Heyoon Jeong, quase adulta, é ser apenas eu.

A sensação de estar presa a alguém que não é você nos mínimos detalhes é esmagadora e apesar de amar toda a personalidade que construí arduamente, no fundo, ela só é uma máscara escondendo todos os segredos, os quais, luto diariamente para esconder. Poderia listar as coisas que me desagradam, como o cheer e o kart, mas, no topo do ranking sempre estaria pintada a minha imagem.

Eu deveria ser a garota cujo sinônimo é a perfeição. Inteligente, inegavelmente bonita, atleta, talentosa e com um corpo escultural, Heyoon Jeong é a personificação da inveja de muitas garotas em todos os ambientes os quais frequento. Pelo menos, eu sou uma boa mentirosa. Entretanto, se tem uma coisa a qual aprendi é: não dá para enganar a si mesmo. Porque a noite, quando você deita a cabeça no travesseiro, seu cérebro não segue o roteiro da peça teatral que você chama de dia.

É nessas horas que a ruína te consome.

Talvez você não entenda, caso nunca se sentiu perdida. Então, deixa eu te contar como é: nada faz sentido e por mais que tente anular seus erros, tente se reconstruir, uma coisa é certa: não dá para voltar após entrar nesse mundo — o qual é uma merda e ninguém sabe ao certo o que está fazendo. Essa é minha constatação sobre a vida, enquanto estou caindo lentamente em um poço e já prevendo o baque quando atingir o fundo dele, tenho me entregado a escuridão.

Eu não queria mais lutar. Que a ruína me consumisse de uma vez, eu não tinha mais nada para me importar. Exceto pelo loiro o qual eu me encontrava plantada em frente à sua porta. Inspirei profundamente antes de bater contra a madeira clara e o som de passos atrás dela confirmava que Josh ainda estava acordado.

Havia uma estúpida semelhança entre nós e essa era tão desagradável que chegava a ser assustadora, nem Josh e muito menos eu, conhecíamos o faro de uma família feliz ou de um lar afetuoso. Essa deve ser a razão por trás do nosso vínculo tão resistente.

— Aconteceu alguma coisa? — O loiro disse assim que abriu a porta.

Meu primeiro instinto foi dizer "várias", mas o filtro entre o cérebro e a boca cumpriu seu papel, interrompendo tamanha besteira. Embora, quisesse chorar no seu ombro pelo término com Joalin — essa que ele nem sequer sonhava fazer parte da minha vida — Josh Beauchamp precisava mais de mim naquele momento do que eu dele. Eu o conhecia o bastante para reconhecer os detalhes nele que refletiam se ele fizera uma grande merda ou sofrido por uma grande merda.

O maior medo pela minha parte, é que essa confusão esteja sendo causada por Any Gabrielly.

— Vi a brasileira te deixando aqui e vim ver como você está.

Foi um cenário divertido, o qual arrancaria risadas de qualquer um que convivesse com os pilotos. Eu assisti de camarote a garota lhe deixar levemente tonto diante da mesma porta em que estamos. É claro que meu coração de manifestou em aflição no exato segundo onde meus olhos foram bombardeados com a imagem, por isso, tomei a decisão de procurar meu melhor amigo.

— Estou bem, eu acho. — Josh deu de ombros, uma careta ocupou sua expressão atônita. — Entra. — Ele se afastou da entrada.

Detestava ver ele tão desorientado.

Josh Beauchamp é o melhor cara que existe, ele é uma daquelas pessoas que te fazem acreditar que o mundo ainda pode se tornar melhor. Tenho orgulho de ter encontrado nele um parceiro para centenas de coisas, desde uma conversa boba ou uma transa em qualquer lugar escondido. Nem de longe o sexo fazia nossa amizade definhar, apenas a tornava mais íntima.

Nos conhecemos no ensino médio, quando precisei de um garoto para abafar o fato de estar apaixonada pela minha melhor amiga, Joalin Loukamaa. Josh me construiu, me levou ao topo e me fez vista, quando eu era encarada como irrelevante por uma escola inteira. Passei a ter nome e não ser mais só a esquisita de notas boas, usando um óculos redondo e comendo sozinha no almoço. Acredite, isso é de grande valor levando em conta as esferas de poder em uma instituição escolar.

Josh não gosta de falar muito sobre si, a maioria das vezes, está mais preocupado com os outros ao redor, o suficiente para se esquecer. Apesar do dinheiro, da fama e do talento, Josh teve uma vida muito difícil desde o começo. Sempre foi um figurante na própria família.

— Não está. Eu conheço você. — Pontuei.

— Não é importante, Yoon. — O loiro retrucou, jogando-se em cima da cama do quarto.

— Jura? — Arqueei a sobrancelha.

Devia haver algo. Novamente, o nome da brasileira brilhou na minha cabeça.

— Sim, juro. — Josh levantou o mindinho, como se eu pudesse alcançar. — Vem aqui. — Ele pediu em tom diminuído.

Espalmando o edredom, indicou o lugar onde eu deveria me deitar, do seu lado. Contrariando Joshua, coloquei meu corpo em cima do seu, com cada perna de um lado dos seus quadris. Independente do que caralho havia bagunçado sua mente, eu iria me encarregar de trazê-lo de volta.

— Prometeu que não ia mais beber.

Passei o indicador sobre as rosas desenhadas em seu pescoço, notando a ausência do arrepio, o qual eu já tinha me acostumado.

— Eu sei. Vou parar a partir de agora. — Ele garantiu.

As mãos agarraram minha cintura muito firmes.

— Não vai. Eu conheço você. — Repeti, atrelado a um suspiro cansado. Josh desviou o par de olhos azuis dos meus.

Debrucei sobre seu torso, tomando sua atenção para mim outra vez. Então, de um modo veloz colei nossos lábios, levou alguns segundos para o loiro retribuir. O estranhamento que me tomou, se dissipou no segundo seguinte quando o Beauchamp tocou meu corpo de cima abaixo e na sequência se desfez da minha camisola com pressa.

Esse era o nosso melhor jeito de resolver os problemas.

Invertendo nossas posições, ele agora beijava meu pescoço e deixava algumas marcas que poderiam ser visíveis no outro dia. Alcancei o cós da calça de moletom e quando ousei descer a peça, Josh Beauchamp parou de me beijar.

— Heyoon… — Ele fechou os olhos com força, a respiração ofegante ecoava no quarto silencioso. — Que droga, eu não consigo. — O piloto praguejou, desferindo um murro no travesseiro.

A constatação foi dura, tanto quanto a dor de bater o rosto naquele fundo do poço. Agora, mais do que nunca eu sabia que cheguei lá. Josh não era assim. Não há dois meses, antes de nossas carreiras receber a ilustre visita de uma pilota brasileira mundialmente famosa e incorrigivelmente arrogante. Eu aceitava ser trocada por qualquer outra pessoa, menos por alguém tão superior, por que como diabos poderia esnobar a nova ficante de Joshua, se ela não tivesse nenhum defeito?

Se eu era a imagem da inveja para algumas garotas, Any Gabrielly era a minha representação pessoal. 

— Oi? — Instiguei confusa.

— Desculpa, é que… — Ele passou as mãos pelos cachos enquanto falava, muito desnorteado.

Ela não podia surtir tanto efeito nele.

— É a Any, não é? — O nó na garganta impediu que o questionamento soasse firme.

A resposta por parte de Josh foi sair de cima de mim, imerso na própria ponderação. O meu interior gritou em colapso, isso não podia estar acontecendo, não agora quando eu também perdera Joalin. Eu não podia ficar sozinha.

— Porra, Joshua! — Exclamei irritada. — Ela?

— Acha que eu queria?! — Josh correspondeu a entonação. — Meu Deus isso soa até ofensivo, mas, eu não consigo te tocar sem lembrar dela.

Mordi o lábio inferior com tanta força que esse poderia se rasgar com a pressão. Não ofendeu, porém, fez meu coração se espremer em mágoa.

— Ah, por favor, você apaixonado? — Ficando em pé, similarmente a ele, debochei com um sorriso de escárnio ostentado nos lábios. — É só porque ainda não conseguiu levar ela para cama, na hora que o fizer, vai voltar correndo para mim.

Josh cessou o caminhar de um lado para o outro no tapete, parando alguns centímetros próximo a mim, dizendo em seguida:

— Eu rezo para você ter razão.

— Caralho, Joshua, caralho. — Massageei as têmporas querendo lhe bater. —  Olha, foque aqui, hum?

Coloquei minhas mãos em torno de seu pescoço e o beijei mais uma vez, o empurrei, nos levando para o colchão de novo. As unhas roçaram o peitoral definido travando um caminho até a entrada da sua pélvis.

— Heyoon, hoje não dá. — Josh alcançou minha mão e a tirou dali. — Eu queria de verdade sentir alguma coisa que não fosse uma vontade fodida de estar com aquela garota.

O enjoo aumentava a cada frase que escapava de sua boca.

Eu também sentia a mesma coisa e não pela maldita brasileira, muito pelo contrário, daria tudo para estar, nesse exato momento, com Joalin Loukamaa. 

— Josh, você sempre ficou com outras meninas e eu sempre fiquei com outros garotos. Esse sempre foi o combinado. O que diabos aconteceu dessa vez para você ficar assim?

— Eu não faço ideia!

O loiro se manteve irresoluto e eu finalmente aceitei que não teria sexo naquele dia, não importava o quanto tentasse. O desapontamento pareceu ainda maior, pois eu esperava se aproveitar da minha relação com Josh para esquecer Joalin. Como eu conseguiria afastar a finlandesa dos meus pensamentos, se o único com o poder para isso, estava ocupado desejando outra garota? 

— Ah, sério? Que se dane também! Só não diga depois que eu não te avisei.

Estressada saí da cama, pegando um roupão disposto em um aparador me vesti. Estava pronta para ir embora, mas, meu melhor amigo me interrompeu.

— Não fique com raiva de mim. Vamos conversar. — Ele pediu. Podia ver claramente, toda a aura negativa do quarto caindo sobre seus ombros, igualmente a chumbo esmagando os pedaços de Josh.

Eu não seria mais uma em meio a coleção numerosa de pessoas responsáveis por lhe magoar.

— Eu odeio você, seu babaca. — Praguejo, fazendo-o rir.

Deitei sobre seu peito nu e ele iniciou um cafuné nos meus cabelos. Era o seu consolo e particularmente, eu adorava. Ali eu me sentia segura o suficiente para me deixar levar pela ideia de que Josh Beauchamp nunca me deixaria só, mesmo se eu não fosse a sua Heyoon.

A lembrança de Joalin voltou mais intensa, retomando que só ela tinha o poder de mandar e desmandar no meu coração, o qual ainda doía pelo recente ferimento. Eu desejava tanto compartilhar a nossa história com Josh que mal percebi quando as palavras escaparam da minha boca:

— Estou apaixonada. — Murmurei quase inaudível.

— Sério? Quem é o sortudo? — Instigou animado.

Sortuda.

Meus batimentos aceleraram de repente, senti como se estivesse escrito na minha testa "eu gosto de garotas" e tive medo dele me dizer coisas horríveis, foi por esse motivo que menti. O preconceito de Josh, apenas sendo uma imaginação, seria capaz de me machucar mais do que milhares de insultos.

— Um cara do time de futebol. — Enfim respondi.

— Eu conheço? — A sua voz provocou calafrios de temor por todo meu corpo.

Ele devia saber que eu estava mentindo, Josh iria berrar "mentirosa" logo.

— Sim. Mas, eu não vou dizer o nome dele. — Engoli a própria saliva.

O piloto interrompeu o cafuné e eu ergui a cabeça para encontrar seus olhos, essa é a hora que ela iria me dizer que já sabia?

— Eu preciso me certificar se é uma boa pessoa para você! — A frase correu pela minha corrente sanguínea como uma dose potente de tranquilidade. — Ele ao menos é bonito?

Fechei os olhos, afastando toda a paranoia.

— É perfeito, loiro de olhos verdes, não muito alto, mas, continua sendo perfeito. Ele é engraçado e me faz rir o tempo inteiro quando estávamos juntos. — Era impossível conter o sorriso genuíno rasgando minha face de um lado a outro ao falar dela.

— Estávamos? O que houve?

Um gosto amargo invadiu meu paladar.

— Ele disse que me amava e eu tive medo de dizer de volta. — Tropecei nas próprias palavras.

— Por quê? — Incrédulo, Josh arqueou as sobrancelhas. — Seus olhos brilham falando desse cara. Eu não sei muito sobre paixão ou amor, mas acredito que as pessoas fiquem assim.

— Eu tenho medo das pessoas deixarem de gostar de mim se eu começar a namorar ele, que elas não me deem tanta importância se eu deixar de ser a sua garota, tenho medo que meus pais não gostem dessa relação e de Savannah me tirar do cheer. — Confessei, encolhendo o corpo debaixo do seu braço.

— Meu Deus, Yoon! Até parece que tudo isso vai acontecer só por você namorar um cara. Preste atenção, se você gosta dele e ele de você, é o que importa. Qualquer pessoa que deixar de gostar de você por causa dele, é porque não gostava de verdade.

Esse era o problema, não se tratava de um cara.

Imaginem a tragédia completa que iria ser Heyoon Jeong, cantora no coral da igreja, filha única dos pais mais conservadores do mundo, se assumindo bissexual. Não poderia terminar bem, ou eu seria expulsa de casa, ou enviada para um convento de freiras. Ainda assim, Josh Beauchamp tinha um ponto e senti em seu discurso que ele nunca me fitaria com um olhar cheio de preconceito, porque ao contrário de muitas pessoas ele verdadeiramente gostava de mim.

— Eu ainda poderia correr para você todas às vezes que estivesse aflita?

— Claro que sim. Hum, vai depender dos ciúmes dele… — Ele reformulou. — Se esse cara realmente te ama e te faz se sentir tão bem, não deixe isso ir embora por medo.

O Beauchamp do meio tinha a menor experiência do mundo com relações amorosas, todavia, não atrapalhava sua capacidade invejável de dar os melhores conselhos.

— Não vou deixar. — Assegurei. — Me fala sobre a Any.

A ânsia para mudar de assunto se tornou sufocante. Internamente, temia ter lhe dado pistas demais ao ponto dele associar as características a Joalin.

— Ela é incrível, por isso é tão metida. — Josh dá uma risada fraca, os olhos assumem um brilho desconhecido por mim. — Deveriam ser amigas, combinam bastante.

— Você já tá querendo demais, Josh. — Besliquei sua pele.

— Não, Heyoon. Você é bem simpática quando quer e ela também. Só é durona por fora.

A forma como ele fala da garota aquece meu interior, é bom saber que ele encontrou alguém, mesmo ainda não sabendo disso.

— Definitivamente me trocou por ela. — Torci o nariz, cheia de ciúmes.

— Eu amo você, Heyoon. — As palavras causaram um incômodo no meu peito. — Você é uma em meio a quantidade miserável de pessoas que ouviram isso. Eu amo você, porque esteve do meu lado em inúmeros momentos que ninguém nem sequer se importava. Por amar tanto você, sei que você merece alguém que te ame também. Any antecipou essa situação, mas uma hora ou outra iríamos cair na real que nossa conexão é só irmandade. Essa é a palavra, eu te amo como um irmão ama uma irmã.

Relaxei o corpo tensionado, exalando alívio por cada poro. Acho que se ele me amasse de outro modo, eu não conseguiria retribuir.

— Tudo bem, eu também te amo desse jeito.

Ficamos calados, por um tempo suficiente para minha cabeça ser bombardeada por péssimas recordações.

— Josh? — Chamei, quebrando o silêncio entre nós dois. Eles desceram os olhos azuis até encontrar minhas iris castanhas. — Promete que não vai voltar a ser o Josh de um ano atrás, independente do quanto Any te decepcione?

— Não vou, pode ficar tranquila. Não precisa ficar preocupada quanto Any. — Ele garantiu, mas não foi o bastante para as engrenagens na minha cabeça pararem de funcionar desenfreadas. — Agora, vamos dormir. Eu tenho um dia cheio amanhã.

Assenti com a cabeça, descansando sobre seu peito. Dormimos a noite inteira abraçados, como o casal que jamais seríamos.

***

Os gritos ofensivos eram, além de assustadores, capazes de ensurdecer qualquer pessoa. O som de uma tapa quase rompia meus tímpanos por tamanha violência. Minhas mãos tremiam segurando a chave e só consegui respirar quando meus pés tocaram o chão da garagem. Sempre era assim. Desde que eu me lembro, meus pais sempre tinham essas discussões hostis, as quais muitas vezes levavam minha mãe para o hospital. O sentimento de impotência me consumia em todas essas ocasiões, porque o medo sobressaía qualquer ideia de chamar a polícia. Jurei acabar com isso algum dia, mas nunca consegui de fato. Fugir era a melhor opção quando acontecia.

Só existiam duas rotas na minha cabeça: a casa de Noah Urrea onde eu poderia comprar qualquer tipo de droga e esquecer da minha própria vida, ou, a cada de Joalin, onde eu conseguiria o mesmo efeito, mas sem me drogar.

Parei em frente à sua porta, como fiz dezenas de vezes nas últimas semanas, sem nunca ter o destemor necessário para tocar a campainha. Dessa vez eu tive, porém, no segundo em que ela apareceu diante de mim, vestida apenas em um pijama fino, essa coragem foi embora.

— Posso dormir aqui? — Minha boca se curvou para baixo, reprimindo um choro vergonhoso.

Incrédula com a minha verdadeira cara de pau, Joalin sacudiu a cabeça negativamente.

— Esse não é um hotel para você frequentar quando o seu loiro imbecil não te quer. — Grossa, ela respondeu.

— Nós terminamos tudo durante o fim de semana. Eu vim para cá porque o clima tava pesado lá em casa, meus pais brigaram e… — Parei de falar para limpar algumas lágrimas, ela não estava a fim de ouvir minhas lamentações. — Enfim, você está certa, aqui não é um hotel. Só supus que você fosse entender mais que qualquer pessoa.

Recuei um passo, buscando forças para me virar e ir embora, de modo a encontrar uma rua segura para passar o resto da noite no carro.

— Entra.

Joalin se afastou da porta e desapareceu nas escadas. Como uma criança perdida, eu a segui. Sofrendo com seu silêncio impiedoso.

— Você pode dormir na cama comigo, não seria cruel ao ponto de te deixar dormir no tapete, só não encoste em mim durante a noite.

A dureza dela me fez querer desabar em um choro, eu me deitei na beira da cama, completamente encolhida, não reconhecendo ali o palco de tantas noites agradáveis em que passamos juntas. Agora, o quarto era um território estranho, juntamente com a indiferença de Joalin.

— Qual foi a briga da vez? — Ela murmurou cortando o contato visual entre nós duas.

— Eles querem se divorciar, mamãe não aguenta mais as traições de papai. Ele disse que não vai me deixar ficar em Los Angeles e sim me levar para a Coreia. Eu não quero ir embora, Lin. — Inevitavelmente, meus olhos começaram a lacrimejar.

A loira limpou passou os polegares pelas minhas bochechas e levou o edredom macio até a altura do pescoço, cobrindo meu corpo por completo.

— Você não vai. Eles vão se acertar. — Joalin garantiu, beijando minha testa na sequência.

— Eu não tenho tanta certeza.

O cabelo dela estava mais curto e os olhos mais esmaecidos. Embora as grandes mudanças fossem refletidas em Joalin Loukamaa nada sutilmente, as suas sardas ainda resplandeciam por todo o rosto, o corpo ainda era definido e invejável. Ela ainda tinha um pouquinho da minha Joalin.

Mas, não era a mesma. Eu assisti desde a última vez em que ela me expulsou de seu quarto, sair com um número considerável de garotas e me causar um ciúme estarrecedor.

— Você e Sabina estão juntas? — Balbuciei.

— Não. Estamos apenas nos conhecendo.

Foi a deixa para que eu a beijasse com tanta saudade que só paramos quando o fôlego faltou. Me arrependi no momento em que ela me afastou, deitando-se do meu lado sem dirigir nem ao menos um "boa noite". Foram horas chorando baixinho, até pegar no sono e quando na manhã seguinte, acordei com ela sentada em poltrona, com expressão seria, senti medo de ter meu coração partido outra vez.

— Temos que conversar.

— Nãooo. — Protestei como uma criança me escondendo no edredom —Eu odeio conversas de gente grande. Podemos só ficar nesse quarto para sempre?

— Não, não podemos.

— Eu não quero sair, Lin. — Fiz um bico.

Podia notar que Joalin estava se segurando para não render ao riso.

— Não pode se esconder do mundo.

— Mas, eu queria. De verdade. — Suspirei de um modo pesado. — Agora que Josh colocou um ponto final entre nós, vai ser tão difícil não ser descoberta…

Ela deu mais alguns passos em minha direção e segurou meu queixo para falar:

— Ei, esqueça Josh, tudo bem? Ninguém vai desconfiar que você também gosta de garotas só porque não estão mais juntos.

— Vem cá. — Eu puxei seu braço forçando-a se sentar na minha frente.

Não dava para postergar mais o que eu estava prestes a fazer. E, se é necessário um motivo para lutar e seguir um caminho certo, tudo bem porque eu tenho um.

— Eu amo você, Joalin. — Disse cada palavra pausadamente para ficar claro a verdade por trás delas.

Eu amava Joalin e ver seus olhos verdes brilharem no segundo em que escutou minha declaração, fez meu coração tropeçar nas batidas. Nada vai apagar a força do sentimento que ela causa em mim — seja com o calor do seu toque, do seu abraço, do seu beijo, do seu respirar na minha pele. Eu a amava.

— Eu ouvi direito? — Um sorriso doce preencheu seu semblante.

— Sim, ouviu. Agora podemos ficar aqui para sempre? — Insisti.

— Sempre não. Por hoje, sim. — A loira finalmente cedeu e eu depositei um selar em seus lábios, o qual evoluiu para um beijo mais intenso.

Na sequência, Joalin Loukamaa me envolveu em seus braços e eu me deitei sobre seu peito, ficamos ali por horas, apenas envolvidas no calor uma da outra. Ali, rodeada de toda segurança que a minha garota oferecia, eu desejava que o mundo fora daquele quarto fosse menos hostil, só para chamar Joalin de minha namorada e poder torcer em todos os seus jogos, sem medo de perder tudo. Esse é o problema de amar uma garota, sendo uma garota, não dá para não ter medo.

*

Esse capítulo é dedicado a todos os LGBTQI+ que acompanham essas história, que nesse mês do orgulho, vocês possam se orgulhar de ser vocês mesmo! Não tenham pressa para "sair do armário", cada pessoa tem seu tempo e é importante que você use o processo para se descobrir e se amar! Lembrem das palavras do Josh, qualquer pessoa que deixar de gostar de você por conta de quem você ama, apenas não gosta de verdade.

Não esqueçam de votar e comentar! Lá no Twitter tem uma espécie de capítulo extra de Beauany e vocês podem ler clicando no link da bio!

⚠︎ A partir de agora Run contará com partes extras, onde os diálogos são por mensagens, as atualizações vão ocorrer após capítulo bônus e na quarta ou domingo. Eu avisarei os dias antes de postar. Vão lá conferir no Twitter!

— xoxo, ster.

Continue Reading

You'll Also Like

187K 6.3K 119
Uma menina de 17 anos engravida do dono do morro e eles acabaram c apaixonando
154K 7.3K 21
Richard Ríos, astro do futebol do Palmeiras, tem uma noite de paixão com uma mulher misteriosa, sem saber que ela é a nova fisioterapeuta do time. Se...
1M 110K 57
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
1M 60.1K 75
Grego é dono do morro do Vidigal que vê sua vida mudar quando conhece Manuela. Uma única noite faz tudo mudar. ⚠️Todos os créditos pela capa são da t...