𖤍 T a l i s s a 𖤍
Tudo estava estranhamente calmo. Mas nada parecia certo. Eu sei o que senti. Sei todas as dores que devoraram meu corpo em minutos. Sei que meu peito foi rasgado, meu coração cortado. Sei que minha vida havia sido tirada de mim. Levada para muito longe. Havia dado meu último suspiro há pouco tempo. Havia morrido nos braços do único homem que realmente amei.
Mas como eu estava aqui?
Aliás, onde eu estava?
Tudo ao meu redor era preto, envolto por uma nuvem densa e cinzenta. Nenhuma luz irrompia o intenso negrume ao meu redor, exceto por um único ponto ao longe. Mas eu não tinha coragem de levantar, de caminhar até lá. Tinha que fazê-lo, é claro. Não poderia ficar parada ali sem saber o que seria do meu destino.
Levantei, ainda sentindo a exaustão me tomar. Toquei meu peitoral, percebendo que o corte extremo havia sumido. Minhas asas também estavam à mostra, mesmo sem eu tê-las retraído. E estavam inteiras. Meu corpo ainda doía, sim, como se eu estivesse me recuperando lentamente. Então comecei a andar na direção da luz que via. E ao me aproximar, pude ver que era uma mulher.
Era linda, vestia uma toga branca de manga longa que caía até os seus pés, e tinha o cabelo ondulado cinzento caindo em cascata pelos ombros e costas. Ela brilhava, e encarava com um sorriso um precipício à nossa frente. Lá estava o universo. Sim, o universo. Várias galáxias uma próxima da outra, e o brilho intenso que vinha delas e das estrelas dispersas clareava a imensa cratera.
— Olá, Talissa. — Ela disse, com uma voz doce e suave, que adentrou meus ouvidos como uma pura sinfonia, e me olhou. Seus olhos eram completamente negros com pequenas estrelas dentro. Ou o que pareciam ser estrelas. Era como ter o universo dentro de si.
— O-Olá. Quem é você?
— Me chamo Eternidade. Sou uma entidade abstrata. Normalmente existo além da compreensão humana.
— E onde estamos?
— No Espaço Superior. — Explica. — Você está bem?
— Agora estou. Mas... Eu tenho certeza de que estava morrendo há segundos.
— E estava. Mas faz parte do processo.
— Que... Que processo? — Pergunto, sinceramente confusa, e ela sorri. — O que eu estou fazendo aqui?
— Achei que precisava olhar o universo antes de finalizar o processo. Foi daqui que estive observando você por toda a sua vida. Você e outras milhares de pessoas. Mortais, imortais, mestiços... Muitos dos que também dei poderes residem nessas galáxias.
– E você olha por todos?
— Quase todos. Meus filhos também olham alguns.
— Seus filhos?
— É. Os Celestiais, Epifania, Entropia... São muitos. Eu olhava por sua mãe, Atena. Tomava conta dela até ela ser uma mulher feita e poder viver sozinha. Fui cativada pelo relacionamento dela com seu pai, Heimdall. Lhes dei a minha bênção e ela engravidou de você e seu irmão.
— Então... Porque meu irmão morreu?
— Seu irmão traria problemas. Seria percursor da desordem, se uniria à forças malignas e, ao invés de salvar o mundo como você fez, iria ajudar à destruí-lo. Ele mataria muitos, faria muitos sofrer, incluindo sua mãe.
— Como sabe?
— Eu vi. E vi você também. Seu futuro foi pacífico, embora abrigo de algumas adversidades. Mas isso existe na vida de todos. Eu sabia que não seria como ele. Então pedi que Morte o levasse antes mesmo que pudesse se formar completamente, quando você recebeu a força fênix, e acabou recebendo os poderes dele também. Toda essa energia, essa imensa quantidade de poder, acabou bloqueando a aparição dos seus poderes. Eu não podia interferir após seu nascimento, então utilizei um fenômeno astral para liberá-los.
— Então... Você já sabia de tudo o que iria acontecer em minha vida?
— Sim. É o seu destino, e eu não mexi um dedo nisso. As escolhas foram todas suas. Fez o certo, Talissa. Sempre. — Eternidade diz, mexendo os dedos, fazendo estrelas e planetas aparecerem entre eles, como se fossem pequenos hologramas. — Eu controlo e controlei muitas coisas, mas nunca suas escolhas. Seu livre arbítrio continua intacto.
— Sabe me dizer quem é responsável pela força Fênix que reside em mim?
— Você. Você foi merecedora. Quando eu permiti que se tornasse uma fênix, eu já sabia tudo o que iria fazer.
— Entendi.
Ela ficou quieta. E eu fiz o mesmo. Voltei a observar o universo à nossa frente. Buracos negros sugando matéria, supernovas, nascimentos de estrelas e planetas. Era tudo tão lindo. Era bom de observar. A vida acontecendo, mesmo que de muito, muito longe. Cada galáxia vivendo à sua forma, sem sequer imaginar que existiam tantas outras vidas, tão perto e tão longe de si.
— Sabe... As pessoas pedem tanto ao universo. Pedem poder, pedem dinheiro, pedem uma boa vida... Entropia os instrui muito bem. Não damos nada, apenas abrimos portas para as suas conquistas. Cabe à você e a sua força de vontade de atravessar a porta ou não. Mas... Eu ouvi seus pedidos, Talissa. Os que fazia para as estrelas, eu ouvi todos eles.
— Eu... Não sei se devo agradecer.
— Deve, apenas à si mesma. Passou pelas portas abertas. Conquistou o que pediu. — Ela diz, com um sorriso terno. — Posso dizer, como uma pessoa que rogou por você por toda a sua vida, que estou orgulhosa de onde chegou, de tudo o que fez e da pessoa que se tornou. Conseguiu mudar muita gente, Talissa, inclusive a si mesma. Uniu irmãos, uniu pais e filhos. Isso é tão puro, e altruísta.
— Eu... Fiz o que me pareceu certo. Fico feliz que não errei nisso. — Sou sincera, cruzando as mãos por trás do corpo. — Ahm... Eu...
— Não se acanhe. Pode perguntar.
— Você chegou à ver como seria a vida do filho que perdi?
— Não, porque ele não deveria nascer. Sua perda não foi intervenção minha. Estava premeditado no seu destino, infelizmente.
— Oh... Entendi.
Ficamos em silêncio mais uma vez. Eternidade parecia muito tranquila com minha companhia, e eu com a dela. Estar aqui me fazia bem, me passava um estranho conforto que eu só senti em outros dois lugares.
E isso me fez pensar em Loki. Em como eu gostaria que ele visse tudo isso. Observava cada canto do lugar com detalhes, pensando que, se eu voltasse à vida, o faria ler minha mente e ter a chance de ver tudo também. Ele ama o cosmos, estrelas e tudo o que envolve universo.
Mas, eu iria voltar à vida?
Será que eu poderia perguntá-la sobre isso?
Eu vou, e seja o que Zeus quiser.
— Senhora Eternidade, eu-
— Perdão por interromper, mas me chame apenas de Eternidade. Não gosto de toda essa seriedade, embora respeite e entenda o seu respeito.
— Certo, certo. Eu só queria saber se, sendo fênix, eu irei renascer?
— Sim. Irá. Há muita gente que precisa de você lá. E você ainda tem toda uma vida para viver. Muitos, muitos anos. — Ela diz, e eu assinto.
— Tudo bem...
— Só... Queria ter esse momento com você, Talissa. Sinto que precisava disso, mas no momento certo. Poder lhe explicar pequenas coisas que você ainda não sabia, sanar dúvidas. Mostrar o multiverso à qual você pertence, pois sei o quanto gosta disso.
— Gosto. Muito. Fiquei completamente fascinada por isso quando despertei meus poderes. A lua, a troca de energia cósmica... Aliás, isso é um poder meu ou habilidade?
— Um pouco dos dois, eu diria. Ser fênix tem dessas. Poderes e mais poderes que você vai descobrindo quanto mais tempo vive. Mas os conhecimentos de Ártemis e as habilidades que aprendeu e melhorou, lhe fizeram usar desse poder com destreza. E sabedoria. — Ela diz, sorrindo de lado, me fazendo lembrar de Mani. — Vi que conseguiu usar do seu poder de cura na batalha.
— Sim. Eu não sabia que podia, apenas senti que deveria fazer, e fiz. Eu senti como se ouvisse uma voz, me explicava exatamente o que eu deveria fazer.
— Entropia. Você fez bem.
Eu estava muito mais orgulhosa de mim mesma, de tudo o que vivi e já fiz. Sempre havia uma dúvida implantada no meu coração, sobre estar fazendo o certo ou abusando da minha própria sorte, mas agora estava feliz. E claro, continuaria com essa dúvida, pois sabia que era ela que me fazia pensar bem, raciocinar e escolher a melhor opção para sair de qualquer situação. Era a dúvida que me fazia pensar. Que me fazia viver mais.
— Acho que já está na hora de ir, Talissa. A Terra precisa de você. E ainda há muito para Entropia lhe instruir.
— Tudo bem. Obrigada pela oportunidade.
— Não há de quê, menina. Foi essencial para nós duas. Sei disso. — Ela diz, unindo as mãos e sorrindo gentil. Era tão calma. — Preciso que se concentre agora. Relaxe sua mente para poder reconectar sua alma ao seu corpo, sim?!
— Claro.
Acompanhei sua respiração, tomando sua calma, e fechei os olhos. Minha visualização era uma sala grande, tudo em branco ao meu redor. À minha frente havia algo similar a um espelho. Do lado em que eu estava, meu corpo. As asas expostas e meu traje de batalha. Do outro lado, minha alma. Brilhava forte em uma tonalidade perolada, e repetia meus movimentos.
Toquei o vidro do espelho, e senti o toque na minha própria mão. Em segundos depois, minha alma se juntou ao meu corpo. Raios passeavam por meus braços e meus olhos brilhavam outra vez. Eu estava viva.
⎊ N a r r a d o r a ⎊
Em Midgard...
Loki havia acabado de dizer seu último adeus à Talissa. Havia deixado seu corpo de lado, e permanecia sentado no gramado. A roupa coberta de sangue, e a feição perdida. Já não sabia mais o que ainda estava fazendo ali, mas não tinha ideia alguma do que iria fazer agora. Não conseguia pensar. Sua mente estava paralisada.
Thor estava assim. Queria consolar o irmão mas não tinha forças. Não sabia o que dizer. Estava tão perdido quanto os outros. Atena estava em prantos, abraçada com Ártemis, que não conseguia olhar o corpo da sobrinha. Até mesmo Hades havia se comovido e permanecido em silêncio, velando a tristeza dos outros ao seu redor. E Heimdall, em Asgard, continuava absorto em pensamentos, e tentava desesperadamente se conectar com sua filha, numa última esperança de ainda tê-la viva.
Loki encarou o céu, pedindo mentalmente por forças para seguir. Seus olhos já estavam vermelhos e ardidos pelas lágrimas. Sua garganta já doía de gritar, mas nada era suficiente para fazer passar aquele sentimento de insuficiência dentro de si. Ele não havia conseguido defendê-la, salvá-la. Havia se contido, para não se esforçar demais, e havia falhado. De que adiantava ser digno se ela havia sofrido e morrido em seus braços?
Para Atena, ainda era mais dolorido. Ela havia perdido sua filha mais nova sem poder dizer adeus, ou pedir desculpas por todos os seus pequenos erros. Sabia tudo o que havia feito que incomodou Talissa, e nunca teve coragem para admitir. Não na hora certa.
E agora era pior, afinal ela havia ficado seis meses longe de Talissa, sem poder vê-la ou ouvi-la. Em mundos distintos, correndo perigos diferentes. Ela queria ouvir todas as histórias da filha, sobre tudo. Inclusive sobre o amor que sentia pelo deus sentado ali perto. Mas agora era tarde demais.
Mas, pouco à pouco, a situação foi tomando outro rumo. Do luto para o medo. O chão ficou trêmulo, como se grandes passos fossem dados na sua direção. O céu ficou turbulento e escuro, e após muitas feições curiosas direcionadas uma para a outra, obtiveram sua resposta.
Cronos pousou no imenso gramado em frente à acrópole. No meio de todos os corpos das batalhas recentes, de frente para os filhos, netos, bisnetos e os dois seres de outro mundo que ele não conhecia e nem fazia questão de conhecer. Tudo o que seus olhos enxergaram era a vingança sobre seus três filhos, que o encaravam ali.
Os outros deuses tinham medo, afinal era um titã. Aquele que deu origem à tantos deuses, e que os devorou sem piedade ou misericórdia, temendo uma derrota como aconteceu com seu próprio pai. Dessa vez não sabiam se a trindade olimpiana conseguiria vencer, afinal a titanomaquia levou dez anos para celebrar uma Vitória concreta dos deuses sobre os titãs. O que aconteceria dessa vez?
— É bom vê-los outra vez. Vivos, unidos... Não sei se esperava uma desordem maior aqui, ou uma organização grandiosa. — Disse, com a voz estridente, girando a foice em mãos, fazendo ventos fortes soprarem para diversos lados.
— Só você despertou? — Hades questionou. Estava mais preocupado com Perséfone do que com os outros deuses ali.
— É. Infelizmente só eu. A concentração de magia dessa convergência não foi grande o suficiente, por isso não ressurgi com meus poderes também. Mas isso será consertado assim que eu matar todos vocês.
— Continua com a mesma audácia e arrogância de milênios atrás. Acha mesmo que consegue? Partimos você em pedaços há muito tempo, quando você tinha toda a sua glória, tropas e poderes. E fomos apenas nós três. O que acha que vai acontecer agora que está sozinho e fraco?
— Não estou fraco, meu filho. Seu erro, Zeus, é me subestimar demais, sempre!
Cronos ergueu a enorme foice e atacou na direção do deus, que conseguiu desviar rapidamente. A arma fincou na grama, e causou um imenso tremor, fazendo cair algumas partes do teto e das pilastras da acrópole, mas logo foi puxada de volta pelo titã.
— Está mais astuto. Aprendeu mesmo a lutar... É o orgulho do papai.
— Vá para o raio que o parta! E que de preferência seja o meu!
O raio mestre brilhou em um azul forte, e o raio clamado por Zeus atravessou o corpo de Cronos, dando um imenso choque no titã. Era verdade então. Ele não havia ressurgido com os seus poderes. Talvez não tivesse nenhum deles. Zeus sorriu ao vê-lo de joelhos no campo, machucado e sentindo dor.
— Vamos acabar logo com isso, é o que ela previu! — Poseidon diz, de pé ao lado direito do irmão, chamando por uma forte tempestade acima de si.
— É o que ela queria! — Hades diz, juntando-se aos dois.
Aquele era, possivelmente, o maior dos pesadelos de Cronos. Seus três filhos mais poderosos, a razão de sua derrota no passado. Estavam ali, prontos para lutar com toda a sua força. Prontos para defender seu lar, seu mundo. Prontos para honrar o plano, ideia e profecia de Talissa.
Zeus e Poseidon combinaram seus ataques, energizado à água e usando correntes elétricas para intensificar o choque, causando maior dano. Hades atacou depois, fervilhando o corpo do titã, lhe causando um extremo choque térmico que fez sua pele secar e uma dor aguda se instalar por todo o seu corpo.
Cronos não conseguiu revidar e mais uma vez havia caído, agora em um joelho só, apoiando o corpo na sua foice. Mas seus olhos miraram o corpo de Talissa metros à frente. O brilho das chamas espontâneas que fizeram o corpo da deusa queimar em combustão natural chamou a atenção de todos ali.
— O que é isso? O que está acontecendo com ela? — Atena questionou, em pleno desespero.
— Eu não sei. — Loki a respondeu, se afastando do corpo da deusa, que queimava forte.
Cada parte do seu corpo estava, lentamente, virando pó. Incluindo a pequena pena presa ao colar de Loki. Ninguém sabia o que pensar. Ninguém sabia como reagir. O silêncio total predominava no campo. Até que as cinzas subiram para o céu, formando uma espiral enevoada. O corpo de Talissa foi lentamente remoldado, parte por parte, mudando apenas a roupa que ela usava. Estava agora com um traje de batalha lindo, em metal branco e ouro puro.
As asas brilhavam em um laranja forte, que contrastava com o brilho do sol. Seus cabelos atingiram o comprimento exato de antes. Seus braços, pernas e torso logo foram totalmente completos, e Lis ardeu em chamas. A explosão no seu corpo fez as faíscas e chamas parecerem um enorme par de asas, ainda maiores que as suas.
Era o momento, estava finalmente acontecendo.
— O renascimento da fênix!
𖤍
O que você está disposto a perder?
Você cobre suas feridas, mas debaixo delas
Há um milhão de vozes na sua cabeça que sussurram: Pare agora
Mais uma torção da faca, um giro dos parafusos
Está tudo em sua mente e está lutando contra você
Arme-se, uma tempestade está chegando
Bem, garota, o que você vai fazer agora?
É o seu reflexo te olhando de volta para te derrubar
Então, você vai morrer hoje ou sair vivo?
Você tem que conquistar o monstro na sua cabeça e então você vai voar
É hora de um novo império
Vá, enterre seus demônios e derrube o teto
Fênix, voe!
— Phoenix;
LOL, Cailin Russo e Chrissy Costanza
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
OIE!
Meu Deus eu tava me coçando pra postar esse capítulo!
Foi um dos melhores que já escrevi, sem mas. 2700 palavras, e ainda deixei algumas coisas de fora.
O que acharam? TALISSA IS BACK, BITCHES!
Eu me empolgo demais, desculpa.
Espero que tenham gostado. O próximo vem com mais ação, e um pouco mais de luta. Quem sabe não é hora de ver a Lis com todos os seus dons e poderes? É protagonista overpower que vocês querem? Pq eu amo um fan service xD
Nos vemos logo mais! Se minha ansiedade não me deixar, talvez até um pouco mais cedo!
Se cuidemm!
Beijos 💚💚