Over The Dusk

By control5h

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Décadas. Maldições. Linhagens. Amores proibidos. Luxúria. O ano inicial para elas foi 1986. Camila Cabello e... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22

Capítulo 7

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By control5h

Olá, pessoal! Cá estamos nós com mais um capítulo neste famigerado domingo!

[Vamps] Gente, no capítulo passado vocês me mataram de rir nos comentários! kkkkkkk Socorro, fiquei até com cólica de tanto que dei risada. Muito obrigada por isso! Anyway, eu falei que ia tentar ser mais boazinha nos próximos capítulos e aqui está! Até agora foi o meu cap favorito, ele tá muito gostosinho e cheirosinho, perfeito pra ler... Óbvio que também não pude deixar de ser bad bitch, não custa nada colocar um pouquinho de maldade na história :)

[Wolf] Sim... eu achei uma dupla perfeita, não é mesmo?! Avisando que ela está sendo irônica, okay?! Porque estou passando para anunciar que agora sim o dedo no ** e gritaria vai começar! Apertem os cintos, porque aqui vamos nós! Prestem a atenção nos detalhes, pois não escrevemos capítulos grandes a toa! Não se esqueçam de comentar e votar!

Músicas do capítulo se encontram já na playlist "Over The Dusk Oficial" no Spotify. O sinal de (2x) significa para a música se reproduzida duas vezes!

Peguem um bom fone, uma comidinha, façam um Pai Nosso (brincadeira... ou não) e boa leitura!

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Texas (1986) – Sábado, 30 de Agosto

* Music On * – (The Killing Moon – Echo & The Bunnymen)

Naquele ensolarado sábado, os raios solares castigavam a relva e faziam qualquer brisa parecer um secador de cabelo gigante sobre o estado – quente até mesmo para o sul do Texas. Já passava das duas horas da tarde e os sete amigos se encontravam mais do que ansiosos para chegarem logo ao destino e, enfim, sair da minivan escaldante. Estar ali no interior do veículo vermelho transmitia uma sensação térmica maior que a dita pela jornalista texana, a qual apresentou a previsão do tempo no jornal matutino local enquanto tomavam café em um posto de gasolina.

– Aargh! Quanto tempo falta para chegarmos? – Lauren perguntou, se abanando com um panfleto que pegou em uma lojinha de conveniência no último posto que pararam. – Está muito quente!

– É! Por favor, dona motorista, me diga que já chegamos. – Vero choramingou, debruçada na janela aberta, com os cabelos sacudindo violentamente pela força do vento. – Eu estou derretendo aqui atrás, acho até que me bronzeei. Minha maldita vagina está suando!

– Falta pouco... – Normani respondeu, encarando os olhos castanhos da jovem de sidecut e o rosto vermelho da mulher de íris verdes no espelho retrovisor.

– Pouco quanto? – Veronica perguntou, ofegando alto enquanto afrouxava o cinto de segurança. A mulher se sentia agoniada, com dor na bunda e com as pernas formigando, resultado do tempo em que ficou sentada na mesma posição.

– Alguns quilômetros. – desta vez, Dinah respondeu, esticando o enorme mapa rodoviário no colo. O papel com os nomes dos estados era tão grande que cobria parcialmente o seu lado do painel, o câmbio de marcha e a janela. – Diria que uns 20 minutos...

– Caramba... – Allyson arfou, baixinho.

– Aff! – a jovem de sidecut e a de íris verdes resmungaram juntas, desgostosas. Veronica escondeu o rosto no braço, batucando no batente da janela com a ponta dos dedos, e Lauren se remexeu inquieta no banco, abanando-se mais rápido.

O grupo de amigos havia viajado por mais de 22 horas, passando por grandes rodovias o dia inteiro, parando apenas para comer, ir ao banheiro, comprar alguns lanches e abastecer o carro, e às vezes, tirar fotos em alguns pontos turísticos que encontravam pelo caminho usando a câmera que Allyson ganhou de uma madrinha em seu último aniversário. Durante todo o trajeto, Troy e Normani se revezavam na direção quando o outro sentia sono.

Camila se encontrava em silêncio observando as árvores passarem zunindo, enquanto escutava Troy, atrás de si, cantarolando em harmonia com o som do rádio, balançando levemente os joelhos dobrados e encostados ao banco da frente. Ally estava ao seu lado, lendo uma revista que comprou na lojinha do posto junto com uma lata de Coca-Cola e uma caixinha de chicletes sabor blueberry.

Sua cabeça às vezes era um labirinto perigoso, devido às horas de silêncio que tiveram durante a viagem. Sentia uma mistura de orgulho, alívio e uma pitada de medo pelas decisões que tomou e a vida que deixara para trás. Ponderava se seu pai sequer notaria que fora embora, se Rosa tentaria mudar a cabeça de Sinuhe e se, esta, se arrependeria das coisas horríveis que dissera e fizera. Pensava em como faria para estudar se seu pai realmente cortasse sua conta bancária, em como conseguiria dinheiro rápido o suficiente para já pagar a mensalidade seguinte... ou até em como teria comida para sobrevivência, se não tivesse um teto para ficar. A sensação de liberdade era incrível, mas a de abandono sussurrava em seu ouvido como um demônio faminto.

Eu estou orgulhosa de você. – o tom de voz que mais amava no mundo surgiu à sua orelha esquerda.

Camila girou o rosto e avistou Lauren a encarando, com um sorrisinho de lado e as íris verdes lotadas de amor e admiração. O coração da latina sacolejou assim que sentiu o braço da namorada passar por seus ombros e a puxar para mais perto, a fim de espantar quaisquer pensamentos ruins.

– Vai ficar tudo bem, Camz. – a maior continuou a dizer, apoiando o queixo no alto da cabeça da latina que agora tinha o rosto apoiado em seu ombro esquerdo. – Não se preocupe com uma casa, faculdade ou qualquer outra coisa que envolva dinheiro. Eu tenho minhas economias, eu tenho acesso às contas do meu pai. Eu vou cuidar de você!

– Não quero que você se sinta obrigada a isso, Lauren. – Camila se distanciou o suficiente para encarar a namorada. – Não quero que se envolva em problemas por minha causa!

Lauren não conseguia desmanchar o sorriso no canto dos lábios.

– Você lutou contra sua mãe por mim! – ela disse, com um suspiro alegre. – Quero dizer... obviamente que fez por você e quem é... mas também foi por mim! Foi por nós! Eu nunca te obriguei a nada, porque não é meu dever! Eu te esperaria quantos anos fossem necessários, independentemente! Uma hora, um dia, uma semana com você... não importa a quantidade, mas sim a companhia! Eu sei que quero você para sempre! Então me deixe cuidar de você agora!

O peito de Camila se encheu de amor e euforia tão rápido que apenas conseguiu expressar a montanha-russa de sentimentos por meio de um largo sorriso e lágrimas no canto dos olhos. Sempre foi isso que desejou para si: um amor tão compreensivo e companheiro que estaria ao seu lado na luta contra demônios internos.

A latina afagou o rosto da mulher a sua frente e se inclinou o suficiente para unir os lábios em um breve selinho, mas significativo.

Mais alguns minutos se passaram na estrada deserta, cujo único som vinha do rádio porque todos estavam cansados demais para sequer conversar. Um caminhão de fazendeiro passou roncando por eles em sentido contrário, cuspindo uma nuvem de fumaça pelo cano de escapamento e recebendo xingos do grupo após um pouco entrar pelas janelas abertas do carro. Poucas casas eram vistas na paisagem, pois estavam sempre muito distantes umas das outras devido aos generosos hectares de terra que as separavam. Raramente se via os moradores, e quando sim, estes caminhavam pelos terrenos ou estavam sentados em suas cadeiras de balanço nas varandas.

– Chegamos! – Normani anunciou, respirando fundo, sentindo o cheiro fresco das árvores.

Girando com maestria o volante, a negra fez uma curva final e lá estava a casa: uma grande propriedade branca de madeira com dois andares e um galpão comprido, cercado pelo opulento gramado, exuberantemente verde. Atrás havia um grande terreno para área de lazer e um bosque imenso, que se perdia de vista no horizonte, cuja trilha de pouco mais de um metro de largura fora aberta. Um traçado suave corria pelo mato, serpenteava subindo a colina e fazia uma curva através de uma moita de arbustos e um arvoredo de bétulas. Na outra extremidade da propriedade se encontrava um grande lago onde dois pássaros pequenos e pretos planavam baixo sobre a água cintilante. Perto da borda, uma árvore com uma corda e, há alguns metros, estava um píer com um pequeno barco ancorado.

IARRU! – os cinco passageiros gritaram, quase arrebentando os tímpanos da motorista e da namorada no banco do passageiro, que até mesmo amassou as bordas do mapa por conta da dor aguda que sentiu.

– Uau, Normani! – Troy exclamou se endireitando no assento para inspecionar a casa, o gramado, o lago afastado e o grande terreno que se prolongava até o bosque. – Que lugar incrível!

– Espere até ver lá dentro. – Dinah disse, enquanto Normani tomava a estradinha asfaltada e fazia a curva para o galpão nos fundos.

– Ver lá dentro? Que ver lá dentro o que... Eu quero mesmo é mergulhar naquele lago! Tá calor pra caralho e a água deve estar geladinha. Não aguento mais um minuto aqui dentro dessa sauna! – Veronica disse, já tirando o cinto.

– Eu concordo com você! – Lauren exclamou, fazendo o mesmo.

– Vamos deixar as malas nos quartos primeiro. – Normani instruiu. – Depois que nos vestirmos, vamos ao lago.

– Meu Deus, tem um balanço de pneu! – Ally falou eufórica, apontando para um pneu preso por uma longa corda no tronco de uma enorme árvore que havia no terreno.

– Ei, acho que vi um Tatu! – Troy disse, dando risada do pequeno animal que andava de forma engraçada.

– Acabei de me lembrar que o Texas possui centenas de tipos de cobras diferentes, com quatro delas sendo venenosas! – Camila relatou, preocupada.

– Você não consegue relaxar nem durante uma viagem, não é, quatro olhos bunduda? – Dinah perguntou, virando-se para trás para olhar a jovem latina.

Todos falavam e riam ao mesmo tempo enquanto a motorista estacionava diante do galpão, desligando o motor do carro. Os pistões pararam. O silêncio da natureza ao redor pareceu muito grande em comparação ao barulho de Miami, à multidão da Av. Lincoln Road e da Rua Ocean Drive.

Logo os sete amigos desceram do carro, soltando suspiros de alívio depois de horas sentados, e foram até o porta-malas pegar suas próprias bagagens.

– Amor, você consegue pegar as chaves que estão no meu bolso? – Normani perguntou, inclinando o quadril em direção a loira alta ao mesmo tempo em que tentava equilibrar as malas pesadas nos braços.

– Claro, meu bombonzinho. – com a ponta do indicador, Dinah puxou pelo gancho o molho de chaves no bolso de trás do short jeans da namorada.

– Pronto! Pegamos tudo. – Troy anunciou, fechando o porta-malas com a mão livre.

O grupo atravessou o quintal da frente e subiram os pequenos degraus da varanda, que era comprida e larga, mobiliada com uma cadeira de balanço em um lado e cadeiras de palhinha no outro. Com um pouco de dificuldade, por conta da bagagem e das sacolas, Dinah abriu a porta de madeira da entrada e empurrou, dando passagem aos demais. Um a um, eles entraram na sala ampla e bem-iluminada. As tábuas do piso rangeram ao atravessaram a sala de visitas, limpa, com móveis de madeira carvalho e escada acarpetada que ia até os quartos.

Ao sair da soleira, Dinah depositou suas malas em um canto perto da parede, antes de entrar na cozinha segurando algumas sacolas de plástico na mão livre. Os outros seis a imitaram e também colocaram as malas pesadas no chão na sala, antes de reparar melhor no ambiente ao redor. Eram três cômodos grandes no andar de baixo, mais quatro em cima. Na sala haviam dois sofás, uma poltrona, racks e estantes com alguns vasos decorativos e um telefone de gancho, uma lareira a gás com lenhas empilhadas, uma mesinha de centro, quadros com pintura à óleo, e por fim, um lustre baixo pendurado no teto.

A casa cheirava a lavanda e óleo de peroba.

– Meus pais mandaram limpar antes da nossa chegada. – Normani explicou, fechando a porta atrás de si. – Só falta reabastecer a despensa com comida.

Que por sinal, já estou fazendo isso! – Dinah gritou da cozinha, com sua voz ecoando junto ao barulho de suas mãos estendidas para abrir os armários altos acima do balcão.

Allyson imediatamente foi ajudar a amiga, sendo prestativa. Ainda na sala, os outros se entreolhavam.

– Podemos ir logo no lago?! – Veronica perguntou, impaciente.

– Vou mostrar os quartos! – Normani disse, revirando os olhos.

A negra pegou as malas antes de subir os degraus da grande escadaria, com o grupo logo atrás, seguindo-a com suas próprias bagagens. Ao topo, ela os conduziu até o corredor à direita, onde haviam várias portas.

– Podem escolher qualquer um, menos aquele. – apontou para o último cômodo. – É onde Dinah e eu dormimos.

Em meio a risadinhas e provocações, cada um escolheu seus quartos: Lauren e Camila iriam compartilhar um com uma cama king size enquanto Troy dividiria outro parecido com Allyson. Veronica seria a única com um apenas para si. Todos eram decorados com paredes brancas e rosas-claro, cômodas largas de madeira, prateleiras para guardar objetos pessoais e um espelho pendurado na parede. Alguns dos quartos possuíam beliches, e outros, como o de Troy e Allyson, uma penteadeira adicional.

Não demorou muito até que Ally e Dinah também subissem, encontrando seus respectivos companheiros desfazendo as malas.

Veronica, Lauren, Camila, Troy e Ally praticamente deixaram as roupas das bagagens de lado, e vestiram seus trajes de banho às pressas para irem logo ao lago.

* Music On * (Dancing With Myself - Billy Idol)

Queriam aproveitar cada hora, cada momento de paz de suas juventudes conturbadas.

Com as vestimentas adequadas, eles saíram de seus quartos e correram para o andar de baixo, espremendo-se para atravessar a única porta. Percorreram a grama gritando e desceram para o píer, empurrando os ombros uns dos outros. O riso de Troy era de longe o mais alto na medida em que tirava a camiseta e a bermuda à beira do píer.

O homem moderadamente musculoso sorriu maliciosamente ao ver que Allyson o observava se despir com uma sobrancelha erguida, tão tentada quanto. Ele lançou uma piscadela para ela ao se aproximar da borda apenas com uma sunga amarela e flexionou os joelhos, impulsionando o corpo para trás em um mortal que terminou na água.

– Você é terrível. – a baixinha disse quando Troy voltou à superfície.

O loiro estendeu os braços, esperando que a namorada parada na borda pulasse. De biquíni rosa, ela hesitou por um momento antes de ser surpreendentemente empurrada, aos berros, na água por uma Veronica. A de sidecut, com biquíni cinza, gargalhou maldosamente antes dela mesma mergulhar também.

Camila vinha logo atrás, aos tropeços, enquanto retirava as peças de roupa. Atrapalhada com a gola da blusa presa no pescoço, não percebeu até que fosse tarde demais quando uma Lauren sorridente se aproximou por trás.

Não! Não! Não!

Ignorando os pedidos já risonhos da namorada, a maior abraçou a cintura da latina e a empurrou até perto da borda já próxima, puxando-a junto consigo para a água, mal dando tempo para a latina terminar de retirar a blusa.

Os cinco logo começaram a jogar água uns nos outros em uma pequena guerra generalizada onde era difícil saber quem estava jogando água em quem, ou muito menos de onde vinha.

Caminhando tranquilamente com Normani ao lado, Dinah carregava uma caixa térmica azul com as bebidas na mão direita, e na esquerda uma torta envolvida em um plástico, além do saco com vários pães dentro, pendurado no mindinho. A jovem negra trazia consigo outros ingredientes para os lanches enquanto carregava debaixo do braço uma cadeira retrátil de praia e uma bandeja com tampa, cheia de carnes.

Ambas olharam para os amigos com sorrisos nos rostos, apreciando a alegria infantil dos cinco que gargalhavam e se xingavam ao mesmo tempo, em demonstrações genuínas de carinho.

***

O resto do período da tarde havia sido regado de gritaria e risadas histéricas, acompanhado de músicas altas vindo de um rádio que captava uma estação local.

Dentro do lago, Allyson se encontrava sentada nos ombros de Troy e empurrava Camila, que estava sobre os ombros de Lauren, ambas em uma briga de galo que havia se iniciado há poucos minutos. Veronica se balançava na corda presa na árvore até tomar impulso o suficiente para retirar o pé do nó e se jogar ao ar, dando cambalhotas habilidosas antes de cair outra vez na água, espirrando gotículas para todos os lados.

Normani se encontrava deitada na cadeira de praia, de óculos de sol, vestindo um biquíni amarelo com detalhes azuis, verdes e roxos, e a trança nagô coberta por um chapéu bege enfeitado com um laço rosa. Ela segurava um tanning reflector, se bronzeando na beira do píer. Enquanto isso, Dinah, a alguns metros de distância no gramado, usando shorts e a parte de cima do biquíni preto, assava os hambúrgueres na churrasqueira que já ficava de prontidão ali, aproveitando o tempo das carnes esquentando no fogo para preparar outros petiscos.

Com um forte empurrão, gritos e puxadas de braço, Camila conseguiu milagrosamente derrubar Ally na água.

AEEEE!! – gritou junto com Lauren, que se balançava em comemoração, com cuidado para não derrubar a latina.

– Suas cretinas. – Troy brigou, com cara feia fingida, puxando a namorada de volta para a superfície.

– TRAPAÇA! – Allyson acusou atordoada, com os cabelos molhados tampando o rosto. Ela tossiu, quase afogando. – Isso foi marmelada!

Camila, risonha e extremamente leve depois de tanto tempo triste, levou as mãos até as bochechas da namorada abaixo de si e as apertou ao mesmo tempo em que mordia a língua em meio a um sorriso sapeca.

– Ora, Brooke, não foi não. Você quem não sabe perder! – Lauren zombou meio atrapalhada pelos lábios estarem sendo pressionados pelas mãos nas maçãs do rosto. – Respeita o casal aqui!

Ela e sua latina acima bateram um high five, em comemoração.

O casal de loiros resmungaram ainda mais ao ver que Veronica ria dos dois, de longe. Allyson, decidida a honrar o seu namoro com Troy, o puxou outra vez e retornou aos seus ombros para novamente iniciar outra guerra de água contra o casal de duas mulheres já prontas para a batalha.

Os gritos, puxões e incentivos de Veronica pela violência aquática recomeçaram, fazendo Normani estremecer quando alguns pingos da água gelada respingaram nela, que estava com a pele quente pelo sol.

Ei! Cuidado aí! – alertou, erguendo os óculos de sol para lançar um soslaio para os amigos.

Os quatro trocaram sorrisos maliciosos antes de todos se voltarem para a mulher negra, que os estudava com uma sobrancelha erguida, desconfiada.

– Nem pensem nisso! – Normani apontou respectivamente para Allyson e Camila, nos ombros dos cônjuges, já enchendo as mãos côncavas com águas. – Não!

As duas mulheres, aliadas agora com Lauren e Troy, começaram a bater as mãos no líquido frio que percorria o curso do lago, gerando respingos para todos os lados. Normani apenas soube se encolher e começar a berrar com as mãos balançando histericamente, mesmo que, ao final, estivesse mais rindo do que reclamando.

Parem de encher a minha namorada! A COMIDA TÁ NA MESA! – Dinah vociferou da área do churrasco, levantando uma bandeja cheia de hambúrgueres empilhados. – Venham, antes que eu coma tudo sozinha!

Dando urros de comemoração, os cinco jovens nadaram até o píer, ao mesmo tempo em que uma Normani toda encharcada levantava-se da cadeira, torcendo biquíni molhado em meio aos xingamentos. Lauren, Camila, Ally, Troy e Vero chegaram ao solo, cambaleando para não se sujarem com a terra na medida em que corriam até onde havia uma "mesa" feita com um pedaço do tronco de uma árvore gigante, colocada sobre duas pedras, com mais outras rochas para assento. Estava forrada com um pano vermelho e branco quadriculado, lotada de comidas e bebidas, e uma torta caseira que Troy havia comprado junto a Ally em uma padaria no caminho. E por fim, um vaso fino com três margaridas para enfeitar.

Aos esbarrões propositais e cutucões implicantes, todos se assentaram afobados, enchendo seus respectivos pratos com um pouco de cada coisa.

A brisa batia contra os corpos molhados, o cheiro da natureza era um calmante natural em meio ao som baixo do rádio próximo. Os corações se encontravam aprazíveis, felizes por estarem juntos ali.

– Olha, Jane... – Vero começou, falando de boca cheia. – Vou lhe dizer, isto aqui está uma delícia! – elogiou, enquanto mastigava. – Se parte dessa comida não fosse industrializada e a carne processada, eu te parabenizaria pelo talento culinário... mas nós sabemos que os créditos vão para os bilionários donos dos setores alimentícios.

Dinah revirou os olhos e todos na mesa caíram na gargalhada.

– Idiota. – a loira alta resmungou. – Já pensou em levar essas piadinhas para o circo, Iglesias? Teria futuro trabalhando lá.

– Mas é óbvio que sim! Você já viu as trapezistas?! Puta merda, imagina o estrago que aquelas mulheres fariam em mim com aquelas pernas malhadas... – a de sidecut respondeu, com a boca na garrafa de refrigerante, balançando as sobrancelhas sugestivamente.

– Sério?! Bem na frente da minha salada?! – Allyson soltou os talheres em brincadeira, para analisar uma Veronica mostrando a língua.

– Toma jeito nessa vida, mulher. – Lauren repreendeu, mergulhando uma batata frita em uma poça de ketchup antes de enfiá-la na boca. – Arrume logo alguém fixo e sossega esse facho! Vai ser boêmia assim até quando?!

– Deixa de ser invejosa, Jauregui. Queria você estar no meu lugar! Se bem que... – tomou outro gole do refrigerante, lançando olhares maliciosos na direção da jovem de óculos sentada ao lado de Lauren. – Se eu tivesse uma latina dessas na minha vida... não iria querer mais nada!

Camila paralisou o garfo cheio de comida que ia em direção de sua boca, ficando extremamente vermelha pela timidez. Ela deu uma risadinha em meio às gargalhadas dos demais, sem saber se a de sidecut estava brincando ou falando sério.

– Contra fatos não há argumentos, mas faça-me o favor: tire o olho da minha namorada ou enfio essa batata frita na sua bunda! – Lauren ladeou o rosto com um sorriso meio ameaçador, apontando a batata como se fosse uma espada para a amiga.

– Que isso, gente! – Troy arfou de forma exagerada, colocando a mão no peito nu. – Pensei que as gays fossem mais elegantes. Cruzes!

– Bem... – Normani começou, se inclinando sobre a mesa, com o garfo preso entre os dedos. – Eu sou muito elegante! Não tome essas duas criaturas vulgares como exemplos, meu caro Troy. Essa ralé é apenas a parte obscura da comunidade, ignore-as e se concentre na parte boa. – a negra desdenhou com uma voz aveludada, como se fosse uma madame, e apontou para si mesma.

A mesa explodiu em outra onda de gargalhadas, com Vero e Lauren soltando um coro de vaias "Booo! Uuu!" e jogando pequenas migalhas de comida na anfitriã. Normani nem dava-se o trabalho de desviar e Dinah ria com a cabeça encostada em seu ombro, soltando elogios orgulhosos e dando-lhe beijinho nos lábios.

Quando finalmente terminaram de comer e se encontravam saciados, os amigos permaneceram à mesa conversando. Allyson tinha o namorado fazendo um carinho em sua cabeça enquanto o mesmo conversava com Veronica sobre algo relacionado ao Johnny's. Dinah e Normani tagarelavam entre si, parecendo nunca ter falta de assuntos. Camila e Lauren estavam abraçadas, com a latina apoiando a cabeça no ombro da maior durante a troca de palavras em baixo tom, e os dedos firmemente entrelaçados um no outro.

A loira mais baixa sorriu. Falava por si, mas também imaginava que todos ali se encontravam orgulhosos pela coragem que Camila teve no dia anterior. Não era nada fácil romper as barreiras do medo e da zona de conforto, muito menos lançar-se ao mundo sem mais a ajuda financeira dos pais. Não tocariam no assunto até que a mulher estivesse pronta, porém isso não os fazia menos prestativos. Se precisasse de uma casa para ficar, ela teria pelo menos seis para escolher. Se precisasse de um emprego, Troy e Veronica arrumariam no Johnny's de qualquer forma. Se precisasse de dinheiro nos primeiros meses, eles economizariam e até venderiam seus mais amados discos.

Porque eles eram assim: ajudando uns aos outros até no impossível.

– Pessoal... – Allyson chamou, segurando uma garrafa de refrigerante na mão. – Eu gostaria de propor um brinde a esta viagem incrível e a liberdade da nossa querida Camila. Salud!

Os outros seis sorriram e concordaram com as cabeças, agarrando seus copos e garrafas e os erguendo à frente.

Salud! – todos falaram juntos, contentes.

***

O final da tarde já dava seus primeiros indícios, por mais que a temperatura permanecesse agradável e o calor possibilitasse que todos continuassem com suas peças de roupas curtas. No horizonte da grande propriedade, os tons de roxo e laranja bailavam no céu juntos aos últimos raios do sol.

Allyson não sabia ao certo onde se encontravam as outras mulheres tagarelas e, na verdade, não queria saber. Só desejava continuar a usufruir daqueles minutos com o seu namorado, ambos deitados de lado, em frente ao outro, na ponta do píer, sussurrando enquanto trocavam selinhos e risadinhas.

A loira baixinha acariciou a bochecha de Troy, apreciando sua beleza e sentindo-se uma das mulheres mais sortudas do mundo por ter um companheiro tão incrível. O sentimento, no entanto, era mútuo. O bartender não podia estar mais apaixonado, com suas íris azuis demonstrando todo o amor e admiração que sentia pela namorada. Mesmo nos três anos de relacionamento, nada entre eles ficava chato ou cansativo, o amor nunca diminuía, só se acoplava ao desejo de querer o bem, de querer cuidar.

Eu amo você. – ele sussurrou baixinho, para que apenas Ally ouvisse. – Não sei se já disse isso hoje, mas eu te amo muito, com todo meu coração. Estar aqui com você, neste lugar, está sendo o melhor dia da minha vida... Muito obrigado por me proporcionar um dia tão foda.

Dando um sorriso de orelha a orelha, a estudante de Biblioteconomia se inclinou para mais perto do namorado, abaixando ainda mais o tom de voz, como se estivesse lhe contando um segredo. Ela encostou suas testas e as pontas dos narizes.

Eu também te amo muito... mais do que possa imaginar.

Ambos se inclinaram o suficiente para unirem os lábios em um beijo significativo, que transmitia tudo aquilo que não era vocalizado. Eles permaneceram ali por mais alguns minutos, aconchegados nos braços um do outro, até que o loiro levou a boca à testa de Allyson em um beijo de cuidado e carinho.

Companhia chegava. Ele havia notado que as amigas de sua namorada estavam se aproximando e sempre fora muito respeitoso ao laço forte que as cinco compartilhavam. Elas nunca o expulsaram das conversas, mas o homem sabia que não precisava estar perto da namorada 24 horas por dia para provar que a amava. Allyson possuía outros laços com outras pessoas e ele não era possessivo. As deixariam aproveitar o momento em paz também.

– Vou arrumar nossas coisas no quarto. Não demore, quero tomar banho com você! – Troy ergueu as sobrancelhas sugestivamente na medida em que ficava de pé no píer.

Dinah, que já andava pela madeira que estalava, fez um sinal de enfiando um dedo na boca em sinal de nojo.

Que horror! Héteros! – exclamou.

Lauren, Camila e Normani deram uma risadinha e cumprimentaram Troy enquanto o mesmo passava por elas em direção da casa onde Veronica provavelmente se encontrava.

– Tentem não afogar minha namorada, okay?! – ele pediu, olhando intencionalmente para as armas de brinquedo na mão das mulheres.

– Daremos o nosso melhor. – Lauren zombou.

O comentário do homem fez o sorriso brincalhão de Allyson diminuir e seus olhos, agora arregalados, encarassem os utensílios de plástico na mão das amigas, com seus reservatórios cheios de água. As quatro seguravam as armas como exterminadores, com a travessura expressa nos rostos prontos para o combate.

O quinteto amava pregar peças umas nas outras e isso nunca mudaria, mesmo já adultas. As melhores brincadeiras, e às vezes mais cruéis, sempre vinham nos momentos em que a vítima menos esperava. E essa era a graça.

– Opa... O que é isso?! – a loira imediatamente colocou-se de pé no píer, vendo-se encurralada entre a borda e as amigas em sua direção. Ela olhou por cima dos ombros delas, mas Troy já estava bem longe. – Meninas?!

– Nós estávamos pensando... – Dinah, obviamente a líder do complô, começou a explicação na medida em que se aproximava. – Todas nós já fomos vítimas hoje! Camila foi jogada na água! Normani foi molhada! Lauren... é motivo de bullying todos os dias pelo albinismo...

A de íris verdes parou de sorrir e apenas encarou as costas da loira alta à sua frente, assassinando-a com o olhar semicerrado.

– E eu sou a mais gostosa e magnífica de todas, logo, não possuo defeitos! – Dinah continuou a argumentação, dando de ombros. – Mas aí... percebemos que você não foi zoada hoje ainda! Então não há alvo melhor!

– Não... não... – Allyson ergueu as mãos em sinal de súplica para que as outras se mantivessem longe. Ela choramingou, tentando amolecer os corações. – Eu já estou seca, meninas! Por favor! Já vou entrar na casa para tomar um banho! Já está escurecendo!

Sabia que era inútil pedir por misericórdia, porque suas grandes amigas geralmente não tinham. Brincadeiras eram brincadeiras e quanto mais corresse, pior ficariam.

– Tks tks tks... – Normani balançou a cabeça em negação. – Essa década está sendo marcada por manifestações a favor de direitos iguais!

– Então não podemos deixar de igualá-la a nós! – Camila sorriu sapeca.

– A Veronica já me empurrou no lago hoje! Estou quite! – a loira menor tentou se esquivar mais uma vez.

– Mas não foi a gente... – Lauren concluiu.

As quatro amigas sorridentes deram então de ombros, sincronizadas, e ergueram as arminhas de água à altura dos olhos, mirando exatamente no rosto da pobre Allyson que fazia uma careta de desgosto. A loira fechou os olhos com força e esticou as mãos para frente, tentando inutilmente se defender de algo que era indefensável, visto que não era possível evitar se molhar.

Era uma brincadeira normal que já acontecera diversas vezes. A menor as xingaria após ficar ensopada e tomaria um banho quente, praguejando e prometendo vingança.

Mas algo inédito ocorreu naquele momento.

Na medida em os gatilhos eram apertados repetidamente e a água era impulsionada para fora das armas de plástico... o conjunto de olhos fechados, mãos abertas e a vontade gigantesca de impedir aquilo de acontecer fez com que uma energia mística percorresse os braços de Allyson e extravasasse invisivelmente pelas pontas de seus dedos, de maneira descontrolada. Quase igual um arrepio nutrido pela presença da natureza próxima, semelhante a um choque vindo das raízes de sua alma.

O silêncio se fez presente enquanto a loira mantinha-se de órbitas cerradas, na expectativa das gotículas de água entrarem em contato com o seu corpo.

– Allyson?! Como você fez isso?!

No entanto, o que de fato existia eram quatro mulheres estagnadas e boquiabertas, com as armas tremendo. E a voz assustada de Dinah possibilitou que Allyson abrisse os olhos e finalmente se deparasse com o que ocorria ao seu redor.

Uma espécie de escudo invisível a circulava, impedindo que fosse atingida pelo líquido cristalino que literalmente levitava no ar.

Ele levitava no ar contradizendo as leis da física: paralizado pela anulação das forças hidrostáticas e cinemáticas por... uma força anormal que vinha... exclusivamente de Allyson. Ondas transversais saíam sobrenaturalmente de sua pele e se mostravam superiores em essência às quaisquer partículas por perto, bloqueando e a protegendo de tudo.

E no exato instante em que Allyson compreendeu o que estava fazendo, ela rapidamente fechou as palmas das mãos e cortou a conexão matriz com o ecossistema. A água, sem mais forças exercendo sobre si, apenas despencou à favor da gravidade e caiu na terra fofa entre as mulheres.

A loira, totalmente seca e intocada, ergueu o seu olhar aterrorizado e encarou Dinah, Normani, Lauren e Camila que se encontravam igualmente imóveis e atônitas, com as armas ainda nas mãos.

– Você parou a água... – Normani gaguejou. – Você...

– A água bateu contra algo e... e... pairou no ar. – Lauren piscava lentamente, sem acreditar.

– Como você fez isso?! – Camila repetiu a pergunta de Dinah, embasbacada. – Foi você?! Você fez isso?!

Allyson escondeu as mãos atrás do corpo em um ato de desespero. Sua bochecha corava e as entranhas apertavam semelhante a uma criança quando tinha seu pior segredo desmascarado. Ela engoliu seco, tentando pensar racionalmente enquanto a mente em pânico gritava 300 coisas diferentes: ela não era uma criança e agora havia quebrado uma das maiores promessas que fizera à sua mãe. Não sabia exatamente como fez aquilo ou como perdera o controle assim... pois, nunca mostrara a alguém fora dos limites de seu quarto.

– Foi o vento. – tentou, pigarreando.

– O caralho que foi o vento! – Dinah arfou, quase maravilhada. – Você parou a água! Ela parou ao redor de você!

Allyson respirava errado, com as lágrimas querendo vir à tona. O medo da rejeição era grande demais.

– Você... você realmente é... – Camila, a menos estarrecida entre todas, colocou uma mão na frente da boca ao chegar à óbvia conclusão. – Você estava falando a verdade?!

– Qual verdade?! – Lauren virou-se momentaneamente para a namorada e depois voltou a encarar a amiga.

– Que ela é... uma... bruxa. – Normani completou, captando o raciocínio.

– Bruxa?! – Dinah balançou a cabeça em negação. Sua mente humana e mundana estava dando nós pela incredulidade por coisas que só existiam em livros e filmes de terror. – O quê?! Eu acho que todas nós tivemos um delírio coletivo! Ou alguma comida estava estragada e alucinações indicam nossos últimos segundos de vida!

Vocês vão me deixar falar ou não?!

A voz fraca de Allyson fez com que o argumento de Lauren morresse no interior de sua boca, impedindo que as quatro amigas iniciassem uma discussão frívola causada pelo desespero de suas cabeças nubladas. A loira menor encontrava-se agora cabisbaixa e encarava a terra abaixo dos pés das amigas, procurando coragem em suas vísceras para explicar o que estava acontecendo. Esperava nunca ter de prestar-se àquilo... mas agora era inevitável.

Decidiu que a honestidade seria a melhor opção e que daria um voto de confiança. As cinco prometeram nunca mentir umas para as outras.

Porém, a grande questão era que existia um mundo além daquele. Um mundo em que regras humanas eram desimportantes.

– Eu sou uma bruxa. – Allyson sussurrou ao erguer o rosto, encontrando as amigas no mesmo estado catatônico. – Eu não menti, não omiti, vocês apenas não acreditaram quando falei! E eu deixei assim!

Dinah teve o queixo caído, Lauren franziu o cenho confusa, Camila colocou novamente a mão na frente da boca e Normani piscou lentamente.

– Troy não sabe, nem Veronica. Eu acho que eles também levaram na brincadeira, igual vocês. – a loira continuou, engolindo o bolo de medo presente na garganta. – E se querem entender essa minha verdade... eu preciso que prometam nunca contar isso a alguém! É um segredo de vida ou morte! As coisas vão mudar para sempre daqui para frente!

Para os humanos existe essa ridícula percepção de que o mundo apenas existe para agradá-los, que trata-se da única realidade... que não existe algo mais forte e poderoso que o mundano. E esse choque do rompimento de dogmas apenas permitiram que as quatro mulheres balançassem as cabeças positivamente, abaladas. As armas de água encontravam-se dependuradas em suas mãos caídas ao lado dos corpos.

Aquela era Allyson, a bondosa do grupo, a amável e compreensiva. Não deveriam temê-la.

Era pra ser uma simples viagem e agora... o quê?!

– Nós prometemos. – Lauren sussurrou em nome de todas, tentando lançar, mesmo estando atordoada, um sorriso acolhedor à amiga visivelmente insegura com a exposição.

Allyson inspirou uma boa quantidade de ar fresco para dentro dos pulmões e olhou por cima dos ombros das amigas, apenas para checar se Troy e Veronica estavam no interior da casa. Mantendo-se tranquila, pelo menos externamente, ela deu alguns passos para o lado e se assentou no píer exatamente onde estava minutos atrás, cruzando as pernas em posição de índio. Olhou para as outras mulheres ainda paradas e apontou, com uma mão, para o espaço na madeira do píer à frente de si, indicando que, se teriam aquela conversa, seria sentadas, com calma e todo o tempo todo mundo.

Dinah hesitou, estudando a situação, mas logo seguiu as outras que se assentaram. Elas colocaram as armas de lado, completamente esquecidas, pertencentes agora a uma distante realidade.

– Desde quando você sabe disso?! – Normani foi a primeira a questionar, após um silêncio constrangedor. – Você tem poderes?!

– Para sua primeira pergunta... descobri quando completei 21, há dois anos atrás. – Allyson respondeu, brincando com a ponta dos dedos em sinal de nervosismo. – E para a segunda... não, quer dizer... sim, eu tenho poderes, mas eu ainda não sei controlá-los completamente! Eles são ligados à natureza e não deveria mostrá-los a ninguém! É um segredo da minha linhagem! Eu... eu sou descendente de Druidas!

As quatro estavam tentando, de verdade. Os cérebros confusos buscavam racionalidade e sentido nas frases que saíam da boca de Allyson, mas elas não conseguiam. Se aquilo existia de verdade então... todo o místico acoplado também existia. Deus? Inferno? Diabo?

– Linhagem?! – Camila arfou. – Druidas?! Da mitologia?!

– Isso é uma piada, não é?! – Dinah semicerrou os olhos. – Você está pregando uma peça na gente!

– Dinah... pare! - Lauren a reprimiu, séria. – Olhe para a Ally! – disse, referindo-se a expressão angustiada da loira. – Ela não está brincando!

– Queria eu estar brincando com isso! – Allyson deu uma risada tão triste que estremeceu seu coração. – Eu sou descendente de Druidas! De verdade!

– Eles não eram pessoas encarregadas das tarefas... de aconselhamento e ensino? – Normani passou a mão pelos rostos, lembrando-se das coisas que estudou em sua faculdade. – Eles não davam orientações jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta?

– Durante a história da humanidade nós recebemos vários nomes... mas Druidas é o mais conhecido. Foram povos de origem indo-europeia que habitavam extensas áreas da Europa Pré-romana. A natureza e as questões sobre respeito à vida acima de qualquer coisa é o ideal da população, que era dotada de... poderes e influências na natureza ao redor. Eu apenas consigo ter influência sobre os quatro elementos: água, fogo, ar e terra.

– Apenas?! – Camila ergueu as sobrancelhas. – Você acha pouco?!

– Não é isso... é que... – Allyson coçou o alto da cabeça, arrependendo-se por revelar tudo aquilo. – Existem outras forças além das... boas. Forças além das naturais! Forças... Impuras! É uma história longa e...

– E você vai nos contar! – Dinah franziu o cenho. – Allyson, me desculpe se estou sendo indelicada, mas... você sabe o que isso significa pra gente?! Como você mesmo disse... o mundo não é mais o mesmo! Nós merecemos toda a verdade!

– Ou sequer dormiremos à noite! – Normani completou a namorada.

– Eu tenho que concordar com elas. – Lauren suspirou, pesarosa.

A estudante de Biblioteconomia apenas sorriu de lado, pegando uma boa respiração antes da fala. Seria mais fácil para elas guardarem o segredo se compreendessem tudo, uma vez que as pessoas temem aquilo que não conhecem.

– Minha mãe nunca me contou tudo. Ela vem, durante esses dois anos, me preparando aos poucos e me ensinando pequenos feitiços, coisas bem simples. Ela também é uma descendente, porque os poderes são passados hereditariamente entre as mulheres da linhagem. Nem todas apresentam os dons e não se sabe o porquê disso. Eles apenas aparecem... do nada... em qualquer idade!

– Sua mãe?! – Lauren arfou, surpresa. – A mulher que praticamente me criou? Patricia?! A governanta da minha casa é uma bruxa?!

– Okay... da forma que você fala parece algo perigoso... – Allyson torceu os lábios. – E nós não somos! Não podemos fazer nada fora dos parâmetros naturais! Somos seres ligados à natureza e ela possui limites! E como a magia tem uma relação intrínseca com os sentimentos e características mais proeminentes, como o amor e a sensualidade, para toda Druida, o amor é uma arma ou, pelo menos, a dissimulação dele é. Para algumas, é a única verdade que elas buscam desde os primórdios de sua existência.

– Do que você está falando? Eu achei que as bruxas eram mulheres que faziam pactos com o demônio... Sempre ouvi que elas usavam de sua influência para seduzir os homens. – Camila indagava, assim como pensava alto com os olhos castanhos fixos na loira mais baixa.

– Isso são crenças de cristãos dúbios que demonizam mulheres poderosas... De homens que são incapazes de descrever figuras femininas fortes sem reduzi-las ao que elas provocam neles. – proferiu com um semblante calmo, apesar do tom impaciente em sua voz ser perceptível. – Bruxas preservam muito da sua cultura ancestral, elas vivem sob suas regras e ensinamentos. A sedução é apenas a parte que elas permitem que o mundo veja... A realidade, Camila, é que elas são mulheres guerreiras que lutam constantemente pela liberdade feminina.

Cada informação que era jogada no ar entrava diretamente em confronto com as crenças das outras quatros mulheres, que foram moldadas e ensinadas por um sistema machista e opressor, que criara, por séculos, determinados modelos de visões e crenças a respeito de tudo aquilo que fugia da "norma" imposta por ele.

– Druidas são originárias de Renah, a filha mais velha de Adão e Eva, que questionava as preferências de Adão pelos filhos homens enquanto rejeitava as mulheres da família. Exausta com a diferença de tratamento e exploração feminina, ela liderou uma rebelião e abandonou sua família, levando junto consigo as irmãs mais novas. – Ally continuou a explicação. – As irmãs construíram um acampamento onde Renah era a líder. A principal regra do grupo era não depender de homens ou serem submissas a eles. Ali, quem mandava eram as mulheres, que deveriam trabalhar em todas as funções, além de possuírem tempo para descansar e brincar, como os irmãos faziam. Obviamente isso não foi bem visto por seu pai e seus irmãos, que fortaleceram ainda mais o discurso de que as mulheres não eram confiáveis e que deveriam sempre serem submissas. Antes do desentendimento com as filhas, Adão já havia perdido a confiança em mulheres por Eva ter errado primeiro no Jardim do Éden ao pecar. Consequentemente, para ele, nenhuma pessoa do sexo oposto era mais confiável. Então, assim como ele errou com Eva, também errou com suas filhas. Logo, se o pai era tão rigoroso, sem as filhas terem culpa de nada, é claro que o mais provável foi que elas se revoltassem e optassem por ficarem longe dele. Como podem ver, Renah era uma mulher de espírito livre com uma forte ligação com a natureza. Ela nunca quis ser superior a um homem ou se tornar um, ela apenas queria igualdade e liberdade... tanto que todas as irmãs tinham o direito de ir e vir. Com o passar do tempo e a formação de pequenas civilizações, a fama dela então se espalhou por terra e mar, e mulheres, de toda parte, vieram procurá-la em busca de companhia, compreensão e proteção. Todas elas eram acolhidas e recebidas de bom grado, não importava sua história ou sua origem. Os anos iam e vinham, enquanto Renah estava cada vez mais se sentindo mais conectada à Natureza e se afastando cada vez mais do cristianismo imposto por sua família. Com isso, ela acabou descobrindo uma magia inimaginável... A lenda diz que uma voz soou além das chamas. Não se tem uma explicação lógica para o que aconteceu, apenas se sabe que algo surgiu do fogo e se conectou a Renah, dando-lhe o Dom da Magia. Tornando-a a primeira Druida, Mãe de toda crença e detentora de todo o poder no mais puro sentido da palavra. A magia era muito crua naquela época, de forma que não se sabe o que Renah pretendia fazer com ela.

– Então, os poderes que as bruxas têm... Toda uma comunidade foi amaldiçoada por causa de um ato? – Dinah questionou. – Ela passou essa maldição adiante?!

– Não, Dinah. Por favor, não existe o preto e o branco quando se trata do sobrenatural... Não foi Renah quem amaldiçoou o que chamamos hoje de Druidas. – a loira mais baixa a interrompeu de imediato, o tom ligeiramente mais agressivo do que os anteriores. Dinah se calou, com uma expressão fechada e pensativa. – A única certeza é que não era justo que apenas ela possuísse aqueles dons enquanto as suas companheiras ainda amargavam nas traições sofridas antes daquele refúgio. Assim, ela firmou um pacto com todas elas e, oficialmente, as Druidas passaram a existir. Além da influência sobre os quatro elementos, ela também cedeu toda a capacidade curativa ao seu povo... que, mais tarde, seria transferido às suas descendentes. Com o passar dos séculos, várias aldeias Druidas foram espalhadas pela Europa, composta agora também por homens que seguiam suas crenças mesmo sem os poderes místicos. Como os maiores sábios e seres dotados de dons especiais, os Druidas eram conselheiros de reis e sacerdotes das tribos... A avó da minha bisavó serviu a uma Rainha! Era conselheira e guia espiritual, foi graças a ela que o reino teve paz e prosperidade por tantos anos em meio a tanta fome, doença e morte.

– Como os costumes foram passados adiante?! – Normani perguntou, genuinamente interessada e mais tranquila.

– Todo o material que possuímos a respeito foi registrado por historiadores gregos e romanos, porque os Druidas não usavam a escrita para transmitir sua sabedoria, praticando a tradição oral como meio de preservação de seu conhecimento. Vivemos em cooperação e escondemos nossas histórias dentro de nós para que nada possa ser destruído por puro preconceito. – a voz de Allyson tornou-se melancólica. – Mas com a perseguição incessante da Santa Inquisição, que dizimou milhares de Druidas, muito do verdadeiro Druidismo foi se perdendo com passar dos séculos... Poucos foram os que se salvaram e atualmente os Druidas vivem secretamente entre nós. Mas com a quantidade significativa de perdas, grande parte da magia foi diluída, mas continua sendo perigosamente poderosa.

As quatro mulheres permaneceram quietas quando o silêncio perdurou por alguns segundos, processando internamente aquela onda de dados quase inacreditáveis. O medo, grande parte dele, havia passado, mas a confusão, a surpresa, e principalmente a curiosidade, geravam um murmurinho dentro de Dinah, Normani, Camila e Lauren.

– Então vocês são todas... boas?! – Lauren perguntou em diligência. – Quer dizer... poderosas, mas boas?!

Allyson hesitou, alternando o olhar atento entre as amigas. Muita informação poderia ser arriscada até.

– Os Druidas são... divididos em dois povos. – a loira inspirou fundo. – Eu não sei muito, porque minha mãe mencionou isso apenas recentemente, mas... há bruxas Puras e Impuras. As Puras são aquelas que utilizam exclusivamente das forças da natureza para seus feitiços e isso os limita totalmente, porque estão regrados ao bom. Mas... as Impuras... elas não vivem em conjunto, elas são solitárias e vão além das regras, utilizando de forças sobrenaturais.

– Forças sobrenaturais?! – Dinah franziu o cenho. – Tipo o quê?!

– Morte... Espíritos ruins...

– Espíritos?! – Camila grunhiu, medrosa.

– Nós, as Bruxas Puras, temos conexões com espíritos considerados bons... que são nada mais que as almas das nossas antecessoras que morreram. Quando uma bruxa morre... o seu poder, a sua presença... não vai realmente embora. – Allyson explicou. – Então nós conseguimos conversar com nossas antecessoras em busca de sabedoria e de conselhos! Mas... as Bruxas Impuras tem contato com espíritos ruins, ou seja, almas condenadas que ainda vagam na Terra em seu próprio purgatório antes de irem para o Inferno.

Lauren, Camila, Dinah e Normani, naquele momento, tinham as expressões congeladas em assombro, com as bocas entreabertas e olhos arregalados.

– Okay, já chega! Não quero saber mais! – Camila balançou a cabeça negativamente e, quase como um filhote indefeso, se arrastou até estar nos braços de uma Lauren que agora a abraçava para tentar conter o seu visível pavor. – Muita informação de uma vez só!

– Espera... você consegue contatar os mortos?! – Dinah, honestamente, agora estava mais maravilhada com aquilo do que com medo.

– Tipo... conversar mesmo?! Com suas ancestrais boas?! – Normani, com o mesmo semblante de curiosidade, também perguntou.

Allyson ergueu uma sobrancelha, meio desconfiada da curiosidade repentina das amigas.

– Minha mãe me ensinou como fazer, mas nunca fiz sozinha. Só com ela. E... foi uma experiência inicialmente assustadora, mas que depois foi... libertadora. Pude conversar com o espírito da avó da minha bisavó, a que serviu a Rainha. Nós conversamos sobre como as nuances dos poderes mudaram ao longo dos anos.

Lauren e Camila continuaram quietas, abraçadas, escutando tudo, enquanto uma Dinah e uma Normani se entreolharam em uma comunicação não verbal. Já tentaram jogar aquele jogo antes, ali, na propriedade dos pais da negra, mas nunca tiveram sucesso e... agora... eles tinham alguém para protegê-la e quem sabe fazer dar certo.

– Nós devíamos tentar! – Dinah deu a ideia, com um sorriso largo. – Eu sei... eu sei.... eu estava me cagando de medo quando você contou que era uma bruxa, mas você mesmo disse que são bruxas antecessoras boas! Certo?!

– O quê?! Não! Quero dizer... sim, as bruxas são boas, mas isso é errado, DJ! Eu sequer deveria estar contando isso para vocês, muito menos fazendo uma roda de invocação com um tabuleiro Ouija! – Allyson balançou a cabeça, negativamente. – Aliás... minha mãe me mataria!

– Oh, qual é?! – Normani apoiou a ideia louca, porque estava agora morrendo de curiosidade. – Você disse que foi uma experiência libertadora! E nós somos suas amigas! Queremos conhecer esse seu lado também! Sei que vai nos proteger! Queremos conhecer sua... tatatatataravó.

– Não sei se eu deveria... – Allyson passou a mão pelos cabelos loiros, agoniada. – É seguro, mas...

– O Troy e a Veronica também podem estar juntos! Pode ser uma forma de você talvez contar ao seu namorado! Não acho justo que você guarde isso dele! – a negra incitou.

– Eu não quero envolvê-lo nesse mundo! – a loira rapidamente argumentou, com seu tom de voz mudando para um extremamente sério. – Eu o amo e eu não quero que se machuque!

– Então use a brincadeira para ver como ele vai reagir! Provavelmente nem vai dar certo, de qualquer forma! – Dinah argumentou e encarou Lauren e Camila, em busca de apoio, mas o casal apenas permaneceu observando tudo caladas. – Aff... nem deve funcionar! Qual é?! Vamos só tentar! Se qualquer coisa se mover no tabuleiro, a gente para!

– Definitivamente iremos parar, porque já terei me borrado de medo! – Normani deu uma risadinha meio nervosa.

Allyson soltou um suspiro audível de seus lábios, se arrependendo de ter mencionado tudo aquilo. Ela buscou a opinião de Lauren e Camila e as três se entreolharam por alguns segundos, apenas para darem de ombros quase que simultaneamente.

Poderiam apenas tentar... e, mesmo se algo desse certo, seria apenas o contato com um espírito bom. Certo?!

***

Horas depois – Após o jantar

* Music On * (We're Not Programs, GERTY, We're People - Clint Mansell)

Lauren, Camila, Vero, Normani, Allyson e Troy estavam sentados em círculo em volta da mesinha da sala enquanto Dinah colocava sobre a mesa um pedaço de madeira retangular, que antes carregava debaixo do braço. Eles ainda se encontravam reunidos na cozinha, minutos antes, jantando, quando a ideia da brincadeira surgiu. Troy imediatamente concordou, pensando que não se passava de uma zombaria que via em filmes de terror, como no Exorcista de 1973.

Mas, Veronica... ela ficou incomodada de fato e tentou persuadir contra várias vezes... apenas para perder contra os argumentos irrefutáveis de um casal.

Eu ainda não sei se isso é uma boa ideia... – a loira menor tentou contrapor a ideia. Quando ela e Patricia fizeram a invocação, foram com artefatos próprios de Druidas, que eram responsáveis por controlar a energia do local.

– Não seja medrosa! É tudo mentira! – Normani falou em descaso, dando de ombros, na medida em que a namorada arrumava o tabuleiro Ouija em cima da mesa de centro. – Eu e a Dinah já jogamos isso com nossos familiares nas outras vezes que viemos para cá. Sempre tem algum engraçadinho que estraga tudo!

Vendo a amiga hesitar, Camila torceu os lábios e abraçou os joelhos contra o corpo, em uma tentativa inconsciente de se proteger. Lauren, ao seu lado, percebeu as ações e protetoramente passou um braço por seus ombros, trazendo-a contra si e acariciando seus tríceps. Também não se sentia confortável com aquela brincadeira boba — ainda mais com assuntos tão sérios agora —, mas os seus amigos se encontravam animados com aquilo.

Troy... Dinah... Normani... mas não Veronica.

A mulher de sidecut tinha o cenho franzido, certamente arrependida por ter aceito tal ideia idiota.

– As regras são bem simples; duas ou três pessoas colocam seus dedos nesse indicador... – Dinah explicou para os amigos, apontando para o pequeno objeto em formato triangular com um furo no meio. – ... e faz as perguntas que quiser. Uma pessoa precisa mediar o jogo, oferecendo sua energia. Se algum espírito estiver aqui... irá responder movendo o ponteiro para determinadas letras ou números.

Sendo analisada pelo grupo, o tabuleiro Ouija continha em formas garrafais pretas um "SIM" e um "NÃO" cravados na madeira, além de letras que iam de A à Z e números de 0 a 10.

A contragosto, após receber olhares indicativos de uma Dinah ansiosa pelo início da brincadeira, Allyson tomou partido após um longo suspiro. Ela se esticou até algumas velas presentes em uma cômoda próxima e riscou o isqueiro oferecido por Lauren, passando a chama para o pavio. Colocou cada um dos quatro objetos fontes de luz em cada ponta do tabuleiro, pedindo silenciosamente para que Veronica se levantasse e apagasse as lâmpadas do cômodo.

A sala logo foi envolvida pelas penumbras causadas pelas chamas advindas das velas acesas, iluminando os rostos amendrontados e o tabuleiro de madeira carvalho.

Allyson fechou os olhos e se concentrou, deixando que as batidas de seu coração diminuíssem e que pequenas vibrações dominassem invisivelmente membro por membro de seu corpo. A energia causava quase cócegas e era imperceptível em sua passagem do corpo orgânico para o mundo externo a ela.

Todos coloquem os dedos no ponteiro. – ela instruiu e, quase ao mesmo tempo, os sete colocaram os dedos no triângulo.

O silêncio perdurou por mais alguns segundos, enquanto todos observavam a loirinha concentrada. Troy e Veronica estranharam, franzindo o cenho, a maneira como as outras encaravam a estudante de Biblioteconomia.

Decidindo ser a primeira, Dinah respirou fundo.

Tem alguém aí? – a loira alta perguntou com uma voz monótona.

Allyson engoliu seco e abriu os olhos, para procurar junto aos amigos por alguma manifestação de resposta. Sentia a energia vibrar no interior do seu corpo, quase como um chamado, semelhante a um canal de comunicação que fora aberto. Os dedos permaneceram sobre o artefato enquanto os curiosos analisavam a sala escura ao redor, que manteve-se exatamente a mesma pelo longo um minuto que a quietude durou.

Se algum espírito estiver nesse recinto... peço que se manifeste! – Allyson instruiu alto, com a voz levemente trêmula.

Os sete jovens outra vez ficaram parados, tendo apenas o tremor das chamas das velas batendo contra seus rostos nas penumbras. A sala, a casa e a propriedade se encontravam em um silêncio tão perturbador que era possível escutar os ruídos baixos das respirações de cada um ali, bem como os sons horripilantes de alguns animais no bosque ao fundo. A brisa entrava por uma janela entreaberta, mas não era responsável pelo arrepio generalizado que fazia os pelos nos braços arrepiarem.

Era a expectativa.

– Eu ordeno! Se algum espírito estiver aqui, se manifeste! – novamente foi pedido.

E nenhuma resposta. O canal de comunicação permanecia mudo.

Todos tinham os olhos atentos à sala quieta, ao tabuleiro em cima da mesa, ao tic toc incessante do relógio de parede em cima da lareira de estilo antigo.

Tic toc.

Tic toc.

Tic toc.

Allyson já abria a boca para encerrar o agouro quando um vulto, causado pelo movimento do triângulo, fez todos engolirem os gritos quando a ponta da madeira que segurava todos os dedos deslizou pelo tabuleiro e parou em cima da palavra "SIM".

SIM!

A janela, que antes estava apenas entreaberta, repentinamente se abriu por completo quando uma lufada de ar gélido desconhecido preencheu a casa e o estrondo da madeira batendo bruscamente revigorou pelo cômodo.

*PAH*

– AAAAAH! – Normani choramingou, apavorada.

– Puta merda, puta merda, puta merda! – Lauren e Camila grunhiram o mesmo xingamento, retirando os dedos do objeto quase como se tivessem recebido um choque.

– Não, já chega! Não quero mais! – Troy balançava a cabeça, com os olhos arregalados.

– Gente... isso não tem graça. – Veronica engolia seco, receosa. – Alguém mexeu essa porcaria, não foi?! Alguém mexeu!

Camila e Lauren balançavam a cabeça negativamente enquanto Troy e Normani permaneciam em choque, assustados demais. Allyson tinha os olhos arregalados e também procurava uma culpada, recusando a acreditar que era verdade. E sua intuição, bem como a de Veronica, apitaram para Dinah, que mordia os lábios para conter uma risada presa na garganta.

Que logo não suportou e gargalhou, ao ver as caretas dos amigos.

– Dinah, sua babaca! – Veronica ralhou, soltando um suspiro de alívio.

– ISSO NÃO TEVE GRAÇA! – Camila deu um murro no ombro da melhor amiga.

– Ouch! – Dinah franziu o cenho, passando a mão no tríceps dolorido.

– Dá vontade de te esfolar, eu quase infartei! – Normani continha a mão no peito.

– Eu vi que não ia dar certo, gente! Por isso decidi brincar! Nossa.. se acalmem! Obviamente que esse tabuleiro é uma bobagem! – a loira alta se defendeu, erguendo as mãos em rendição. – Me desculpem, mas eu não podia perder a oportunidade!

Um silêncio caiu sobre a sala, os sete se encaravam, esperando que alguém fizesse algo.

– Bem, isso foi um tanto decepcionante. – Veronica disse, sendo a primeira a se pronunciar. – Ei, que tal assistirmos algum filme? Ainda está cedo.

A de sidecut se levantou sem esperar alguma resposta e foi diretamente até o interruptor do cômodo, o acendendo. Todos grunhiram pela claridade na retina, mas ela mal se importou, caminhando até a TV e procurando pelo controle perdido por entre as brechas do sofá grande de pano.

– Que pena, pensei que daria certo. Temos uma bruxa aqui, as chances seriam quase em 100% de sucesso. – Troy brincou, cutucando de leve as costelas de Allyson. – Pelo visto, sua mãe contou apenas uma história de ninar mesmo! – o loiro inocente disse, se referindo ao dia em que a namorada comentara na boate.

A mais baixa, no entanto, não esboçou qualquer reação. Seu olhar opaco se concentrava na placa de madeira sobre a mesinha, sentia algo, uma sensação que não sabia ao certo identificar.

– Ally? – Camila chamou, sendo uma das primeiras a notar o comportamento estranho da amiga. – O que foi? Está se sentindo bem?

– Sim...

– Caralho, está passando "Poltergeist - O Fenômeno"! – Vero anunciou empolgada, apontando para a tela. – Venham aqui, gente, vamos assistir. Esqueçam essa bobeira e apreciem esta obra de arte!

Os cinco amigos se levantaram e caminharam até perto da pequena televisão, cada um se acomodando no sofá. Com exceção de Ally, que continuou sentada, encarando o tabuleiro.

– Acho... eu acho que vou dormir, pessoal. – a loira mais baixa falou, repentinamente. – Me sinto bem cansada...

– Está tudo bem, amor? – Troy se inclinou no sofá e perguntou com preocupação.

– Sim, é só sono mesmo. – garantiu com um sorriso fraco, levantando-se e indo até a escadaria. – Preciso apenas dormir...

– Me desculpe! Espero que não tenha ficado magoada! – Dinah arfou, agora se sentindo extremamente culpada.

Não queria ter irritado a amiga ou ter desmerecido o grande segredo que contara naquele dia.

– É tudo invenção! Fantasmas não existem! É coisa de filme. – Veronica disse, dando uma risadinha nervosa. – Nós sabemos melhor do que ninguém o que gente desocupada faz pra matar o tempo e isso foi criado por uma delas!

– Ei! Eu não sou desocupado! – Troy se defendeu, esticando as pernas no acolchoado.

Os colegas de trabalho começaram a discutir e gerando risadas agora mais tranquilas de Lauren, Camila e Normani. Eles se imergiram na pequena discussão e possibilitaram que uma loira baixa desse passos em outra direção, se distanciando.

– Boa noite a todos. – Ally falou em tom ameno. – Tentem não se matar.

– Boa noite, meu anjinho, durma bem. Assim que o filme acabar, eu já subo. – Troy disse com um sorriso gentil e carinhoso.

– Boa noite. – as meninas responderam.

Dando um sorriso para as amigas e mandando um beijinho para o loiro, a baixinha subiu as escadas com pressa e foi direto para o quarto. Na medida em que pisava nos degraus, fez uma nota mental de ligar para sua mãe no dia seguinte e contar tudo.

Patricia saberia como ajudá-la com aquelas sensações ruins que atormentavam seu peito.

***

Passando uma escova nas madeixas loiras, Allyson, com um semblante pensativo, se encontrava diante do espelho da penteadeira perto da cama de seu quarto. Apesar da brincadeira do tabuleiro Ouija ter dado errado, a sensação de desconforto ainda permanecera: uma parte de si queria se mostrar poderosa às amigas, mas outra agradecia aos céus por ter sido um fracasso.

Já ouvira diversas histórias de pessoas sendo assombradas por espíritos obsessores raivosos, sendo posteriormente possuídas e tendo os corpos e mentes degradados aos poucos até definharem por completo. As imagens eram horríveis, Patricia havia lhe mostrado quando contou sobre bruxas e suas relações com possessões demoníacas.

* Music On * (Prophecy Theme - TOTO) (2x)

Enquanto vestia a camisola e ia para o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes, a loira choramingava por saber que demoraria a dormir naquela noite devido aos pensamentos incessantes. Não devia ter concordado com aquela brincadeira, não quando ela era agora um para-raio místico verdadeiro.

Buscando se livrar de tais fantasias, Allyson pegou a toalha e se inclinou para a pia a fim de pegar um pouco de água. Com a mão prestes a girar o registro, ela só implorava por ir dormir e esquecer tudo aquilo.

Mas, então... ela finalmente sentiu.

A presença. A estadia. O sopro funesto de algo a observando.

Suas mãos agarraram o granito da pia tão fortemente que as articulações ficaram brancas na medida que, lentamente, o calafrio e o arrepio rasgavam sua pele... eriçando os pelos de seus braços. Seu corpo travou, os músculos não se moviam, e seus instintos místicos começaram a gritar que algo estava extremamente errado.

Seus olhos, arregalados, desceram para a cuba côncava onde o ralo preto estava.

– Brooke...

Ao ouvir a voz metálica, Allyson imediatamente recuou tão assustada que deixou a toalha seca cair no chão. Seu coração batia acelerado dentro do peito, o pulmão ardia pela ansiedade ácida, a paralisia de alguma atitude. Balançou um pouco a cabeça, para pensar melhor e ponderar se não era tudo imaginação. O banheiro ficava no final do corredor, de quatro cômodos, e conseguia ouvir bem baixinho o filme sendo reprisado na TV da sala.

Reunindo coragem, voltou a se inclinar na direção da pia para olhar o ralo.

O papel de parede do cômodo continha estampas azul marinho e flores brancas; as bordas internas do box, a torneira e o suporte para sabonete dourados; os azulejos da banheira, o vidro fumê e o toilet acinzentados. As penumbras regiam o local, causadas por uma lâmpada de 40 watts no bocal de porcelana acima da pia, fazendo o chão coberto de linóleo preto e branco parecer fantasmagórico.

– Brooke...

A voz metálica ressurgiu mais próxima, mais presente, mais intensa ao ponto de gerar um arrepio na coluna vertebral de Allyson.

A mulher mais baixa sufocou um grito, colocando a mão à frente da boca. Não era o tremor dos canos ou apenas sua imaginação.

Algo estava ali. Algo respondia ao tabuleiro Ouija.

– Brooke...

Ondas alternadas de frio e calor percorreram seu corpo e os espasmos a comiam viva. Sem o elástico do cabelo, conseguia sentir as raízes do couro cabeludo tentando enrijecer na medida em que as madeixas loiras caíam sobre seus ombros em uma cascata brilhante.

Sem saber se tratava-se de um espírito antecessor ou não, Allyson se inclinou sobre a pia outra vez e sussurrou baixinho:

Oi? Quem está aí?!

O timbre da voz era rouco, gasto, como se viesse de uma velha exausta e fumante. E apesar do arrepio nos braços e dos seus instintos místicos gritarem para sair dali, a mente de Allyson procurou por uma explicação racional: Dinah e Normani poderiam estar tentando pregar uma peça a fim de assustá-la, pois havia outro banheiro no térreo e o encanamento os interligava.

Inocentemente, Allyson se inclinou para mais perto do ralo da pia, ficando a dois palmos de distância. Foi quando, pela primeira vez, ela reparou que uma carniça desagradável de carne podre saía do interior do buraco sujo, algo fétido em decomposição impregnado há muito tempo no metal.

– Não devia ter feito isso...

Allyson levou a mão à boca outra vez e seus olhos quase pularam das órbitas porque jurava, plenamente, em ter visto alguma coisa se movendo lá dentro quando a voz ecoou mais uma vez. Um verme? Um vulto? Um olho? Ela percebeu, de repente, que seu cabelo estava agora caído por cima do ombro em duas grandes mechas, penduradas bem perto, muito perto do ralo, e instintivamente afastou as madeixas dali.

– Quem é você?! Eu ordeno que me fale seu nome! – perguntou trêmula para a pia.

Não houve resposta vocal, mas ela veio por meio da intensificação da carniça pútrida. Allyson chegou a ter uma ânsia de vômito na medida em que olhava ao redor, no cômodo escuro. A porta do banheiro se encontrava fechada e, ao fundo, conseguia ouvir os sons da TV, onde Carol Anne Freeling gritava ao ser puxada para dentro do armário pelo Poltergeist.

Estava sozinha. Exceto, é claro, por aquela voz.

– Não brinque mais com essas forças... porque elas são bem mais poderosas do que você imagina.

Seu corpo, então, enrijeceu como se algo tivesse a envolvido em um abraço apertado, um abraço que ficava cada vez mais forte e a impedia de gritar ou fugir. Seus olhos arregalaram, completamente estática. Tentou desesperadamente se mover, tentou mexer os braços e as pernas, mas estava petrificada. Sua pele, em consequência, começou a ficar cada vez mais gelada e perdendo calor para o ambiente.

Não era uma brincadeira das meninas.

A temperatura do ambiente começou a cair lentamente, como um sopro glacial que ardia pouco a pouco em cada centímetro da sua pele. O banheiro logo estava quase a congelando, com uma temperatura tão baixa que fazia o vapor da água que saía da boca de Allyson se condensar e formar partículas maiores que constituíam a fumaça que bailava por seus lábios trêmulos. Ela queria correr, mas não conseguia. Estava paralisada como uma pedra.

De repente, um líquido escuro e pegajoso pingou sobre a pia. Confusa, a baixinha mexeu apenas os olhos, à procura da origem da goteira e seu rosto ficou ainda mais pálido, com o grito preso na garganta.

Ali, dentro do espelho, encarando-a com terríveis órbitas cinzas, estava o reflexo de uma senhora vestida por um longo manto, velho, furado e negro. Parada, como um animal que analisa sua presa, a figura esquelética continha o corpo atrofiado, murcho e retorcido. Os ombros formavam uma corcunda e as mãos magras possuíam unhas afiadas. A pele em um tom cinza esverdeado, salpicada com pontos marrons de putrefação da carne morta gangrenada, purulenta. Faltava-lhe metade dos cabelos, que estavam brancos e quebradiços, cobrindo parcialmente o rosto enrugado e manchado de sangue seco. Marcas profundas nas bochechas rasgadas indicavam arranhões de grandes garras e um corte, não cicatrizado, no pescoço possibilitava a visão ampla da traquéia exposta e podre.

Mas os olhos demoníacos eram aquilo que tinha de mais terrível. Os olhos viam-na, e a odiavam.

Ainda sem conseguir se mexer, Allyson permaneceu ali, cara a cara com a silhueta macabra da bruxa, sentindo a hipotermia a abraçando.

Não faça mais isso se não quer ter respostas. – a figura da velha sibilou, em um tom ofídio e um soprano acima por causa das cordas vocais dilaceradas. – Se você tem medo.... não nos invoque novamente! A única coisa que posso te dizer é que o seu destino é muito conturbado, mas advém de suas escolhas! O futuro da humanidade depende de você.

Subitamente, como se o abraço invisível houvesse se desmanchado, Allyson finalmente conseguiu mexer os braços em desespero e deu passos para trás, instintiva, na medida em que encarava apavorada o que acontecia no espelho a sua frente.

Uma mão esquelética e podre saía literalmente do reflexo, transpassando o limite entre os dois mundos, com um tom cinzento de aparência leprosa.

Antes que a mais baixa pudesse assimilar qualquer informação, a bruxa soltou um berro e atravessou boa parte do corpo, pulando para frente e conseguindo agarrar seu pulso. A boca parecia o inferno, a garganta profunda e fétida. O toque gelado em sua pele queimou e Allyson grunhiu alto em dor, sentindo a respiração entalar no peito, congelada pela energia que subia seus membros e cortava seus corpo.

– A sua sina será sofrimento porque sempre coloca outras pessoas acima de você!

Um choque fez com que os olhos da loira girassem nas órbitas, tornando-se cinzas. Não enxergava mais nada. A escuridão a envolvia. Cega. Sentia-se imergida em um líquido, seus pulmões se afogando. Ouvia um farfalhar nos ouvidos que lembravam os sons de água correndo na medida em que era puxada para o fundo de um lago umbroso, destinada a um afogamento impiedoso pela mão invisível que machucava seu pulso. Então, vindos de muito longe, ouviu gritos, terríveis, apavorados, suplicantes, dolorosos de uma pessoa com muita dor. Uma névoa anestesiante rodopiava enchendo o cérebro de Allyson. Em meio ao líquido ao redor de si, em meio às súplicas da vítima desconhecida, cenas de guerras começaram a se materializar, diluídas. Homens e mulheres brigavam entre si, matando-se, dilacerando-se. A mais baixa foi caindo, caindo sem parar pela névoa gelada. Estava ali, deitada no fundo do lago, com um nevoeiro claro e denso rodopiando à sua volta, dentro dela. De repente, sua mente foi inundada com flashes de morte, sangue, barulhos estrondosos de tiros e mais gritos. A destruição passava diante de si, pessoas que amava morriam por pecados antigos, a humanidade dava seus últimos suspiros de vida. Sentiu as lágrimas descendo por seus olhos, em um choro mudo, sufocante e agoniado, com um bolo sufocante preso em sua gargalhada. Queria gritar, queria parar tudo aquilo, apagar aquelas imagens, mas não podia. Seu corpo não correspondia, algemado com ferros nos pulsos e tornozelos, uma corrente pesada envolta do pescoço. Estava completamente indefesa, à mercê da dor e do sofrimento.

E tão repentinamente quanto surgiu, em um piscar de olhos humano, a bruxa soltou o pulso de Allyson e desapareceu em questão de milésimos de segundo.

O espelho, agora livre de sua imagem, se encontrava normal... como se nada tivesse estado lá.

Ainda com as órbitas cinzas, a realidade tranquila chocou-se contra Allyson, atingindo-a com um soco. Seus músculos perderam as energias, o esqueleto desestabilizou e, sem forças pelos espasmos que consumiam o seu corpo, a mulher caiu já completamente desmaiada no chão do banheiro.

Sozinha.

############

[Wolf] E aí?! Deu medo?! Gostaram?! Sejam sinceros! Foi a primeira vez que escrevemos algo do tipo e estávamos meio inseguras...

Deixem seus comentários, ideias e teorias! Além de claro, uns mimos para as autoras famintas.

Até a próxima atualização, Duskers.

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