Aquele vazio era devastador. Não havia nada.
Simplesmente e o mais puro nada.
Talvez a única sensação reconhecida era a extrema dor.
A dor de não sentir.
A dor de não escutar nenhum pensamento.
Feyre fechou as mãos em punho, afundando a unha na carne da palma.
Ela se inclinou para frente e para trás, não sabendo como reagir.
"Por favor..."
Ela sussurrou, não sabia com quem estava falando.
Faltava ar nos pulmões, faltava ele.
E ele era o único oxigênio que a Grã-Senhora precisava.
Fey tentou respirar e gritou, esperniando quando tentaram a puxar de cima de Rhysand.
Ela rosnou e grunhiu como uma besta, logo se lançando de volta para ele e segurando o corpo agora frio.
Respire o ar de novo
É um lindo dia
Eu gostaria que esse momento pudesse ficar
Com a terra
"Vamos...vamos..."
Se agarrou ainda mais ao parceiro. A visão estava embaçada com tantas lágrimas e a mente tão confusa.
Então... Ela começou a gritar.
Feyre exigiu.
Feyre mandou que ele voltasse.
Feyre o arrastou até o Caldeirão e implorou.
Não havia mais ninguém naquele momento, além dela buscando ele de volta.
Ela se agarrou a cada parte de Rhysand. Cada fragmento daquele laço agora desfeito.
Ergueu o olhar e invadiu a mente de cada Grão-Senhor ali.
"Tentem de novo..."
Os olhos estavam mais negros, não havia aquelas estrelas porque Rhys as levou consigo.
"Feyre..."
Mor chamou mas a amiga não deu atenção
"Feyre."
Insistiu e obteve pelo menos um olhar dessa vez.
"Ele se foi.."
O rosto de Morrigan era triste.
Mas ela não sentia o que Feyre sentia.
E aquelas palavras destruíram totalmente e completamente a mulher.
Algum paraíso primitivo
Mas lá vai você de novo
Dizendo que tudo termina
Dizendo que você não pode depender de nada
Ou de ninguém
Os dentes de Fey batiam e ela tremia.
Ainda negava com a cabeça.
"Não não não não não"
Começou a balbuciar, voltando a cobrir o corpo de Rhys com o próprio.
Não.
Não poderia ser verdade.
Ela viu.
Viu o menino.
O Entalhador mostrou a ela. Mostrou o filho que teriam.
Ela viu os olhos violetas. O cabelo negro. A aparência tão igual a dele.
E Suriel.
Suriel disse para continuar com Rhysand.
Ele havia falado que tudo ficaria bem.
"Porque..."
Ela beijou os lábios dele diversas vezes, tentando de alguma forma usar os poderes de cura para o trazer de volta.
Começou a se engasgar no próprio choro.
As memórias da mulher viajaram por cada momento que passaram juntos.
Ela lembrou daquela tão magnífica noite em que viveu novamente.
Só por causa dele.
Rhysand a trouxe de volta a vida.
Ele a fez viver.
Porque ela não poderia fazer o mesmo?
Porque não conseguia fazer o mesmo?
Se o fim do mundo estivesse próximo
Onde você escolheria ficar?
Se houvesse mais cinco minutos de ar
Você entraria em pânico e se esconderia?
Ou correria por sua vida?
Ou ficaria aqui e os gastaria comigo?
Se tivéssemos mais cinco minutos
Eu iria
Eu poderia
Fazer você feliz?
A voz de Feyre se acabou quando Cassian e Azriel a puxaram de cima de Rhysand.
Os sete sifões brilharam, a força dela era imensa, apenas para que não saísse de perto do parceiro.
Gritava desesperadamente não.
Os urros animalescos deixavam qualquer um arrepiado.
O poder da Grã-Senhora foi liberado.
A pele dela queimou por inteiro.
Assim como o gelo implodindo dela.
Os ventos se agitaram e a água dos rios manchadas com sangue hybernianos viraram lobos que uivaram junto do grito dela.
Você é uma loba e não pode ser enjaulada.
Essa foi uma das coisas que escutou dele.
Você é minha salvação, Feyre.
E quem a salvaria agora?
Ela estava sozinha.
Estava perdida.
Estava vazia.
De certa forma, estava morta.
E a única coisa que conseguia fazer era gritar.
Implorar para a deixarem ficar com ele.
Cassian não se aguentava mais no momento. Ele via o irmão sendo levado. E via a mulher que mais admirava no mundo se destruindo por isso.
"Por favor. Por favor."
Feyre implorou mais uma vez, lançando a cabeça para trás e olhando para a Cassian.
"ME DEIXE IR COM ELE. POR FAVOR. POR FAVOR."
A pele quente sumiu e no lugar um gelo cortante brotou.
E nós viveríamos novamente
Da maneira mais simples
Vivendo dia após dia
Como alguns animais primitivos
Nós amaríamos novamente
Sob Sóis gloriosos
Com a liberdade que vem
Com a verdade
"Ele mentiu pra mim..."
Falou para Az. Lançando o corpo para frente e fazendo força quando viu uma fogueira ser iniciada e o corpo do parceiro tão perto dela estava.
Ela gritou novamente.
Rasgando os céus com um berro tão dolorido.
"Não o tirem de mim"
Nestha apareceu a frente da irmã, segurando o rosto dela. Tentando tirar o olhar de Feyre do corpo sendo jogado as chamas.
O peito da mulher estava aberto, para que qualquer um tomasse o coração dela e a matasse.
Tudo isso por ele.
Feyre queria se juntar a ele.
Deveria se juntar a ele.
Ainda mais quando viu o vermelho engolir o rosto que tanto amava.
O corpo dela estremeceu quando começou a vomitar.
O desespero era grande.
Ela havia perdido... Ela havia o perdido.
Perdido o mundo dela.
Feyre havia se perdido.
Então finalmente aconteceu
Eu vi o fim do mundo
Eu vi a loucura se desdobrar
Como alguma barreira primitiva
E eu me lembro do
Armagedom
E do momento de verdade
Entre você e eu
Tudo doía tanto.
E doeu ainda mais quando a própria mente ficou em silêncio.
Quando o próprio corpo caiu. E nem ouviu mais nada, além dos próprios gritos.
A Queda das Estrelas...
A primeira noite que foram até a Corte dos Pesadelos.
A noite na pequena cama.
Os abraços.
Os beijos.
Os cheiros.
O amor que faziam.
Tudo isso ficaria para trás.
Ela nunca poderia nem mesmo sentir o aroma cítrico que Rhys exalava.
Feyre não sentiria mais os toques dele.
Se deitaria em uma cama vazia.
Não ouviria mais a gargalhada.
Ela havia perdido o amor verdadeiro, o amor épico, o marido, o Grão-Senhor, o melhor amigo, o salvador, havia perdido a vida com ele.
E ela só gostaria de cinco minutos.
Cinco minutos antes de começarem a refazer o Caldeirão.
Cinco minutos para decidir que seria melhor o mundo ser destruído do que perder ele.
Cinco minutos para o abraçar e beijar.
Para tomar Rhys nos braços e ir para o Além com ele.
Para não ter que aguentar ficar sem o olhar felino ou o sorriso sarcástico.
Qualquer opção que levasse os dois ou deixasse os dois era melhor do que aquilo.
Do que não o sentir e o ver queimar.
Se tivéssemos mais cinco minutos
De ar para respirar
E nós choramos por tudo isso
Mas você os passou comigo
Nos últimos poucos puxadas
De ar
Nós concordamos
Eu fui
Você foi
Feliz