Os Padrinhos

By OliviaUviplais

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Amy St. Clair e Harry Ryder não se suportam desde a primeira vez que se viram. Eles eram o velho clichê: Amy... More

Prólogo
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5

Capítulo 1

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By OliviaUviplais


— Hum... Harry... Harry... — A voz do outro lado da porta gemia com uma voz deleitada. Eu senti vontade de arrancar todos os cabelos da minha cabeça. Eu definitivamente ia matar Jules por me fazer passar por aquilo. — Ah... Harry...

Bati outra vez meu punho contra a porta e os gemidos pararam. Arrumei minha postura, enchi meus pulmões tentando superar o rubor das minhas bochechas.

A movimentação no quarto aconteceu por alguns segundos e então a porta se abriu. Cindy Tredici, a prima super bonita da minha melhor amiga, saiu ajeitando o seu vestido rosa apertado passando o polegar contra o canto da boca limpando o batom borrado.

— Ryder é um sobrenome escocês? — Ela massageou a garganta e me deu um sorriso doce.

— Não faço ideia — Balbuciei e ela franziu o cenho pensativa. Não queria pensar no que Cindy tinha feito para Harry, para ele retribuir o favor com tanto empenho que eu podia ouvir os gemidos da prima da minha melhor amiga desde o corredor. E que tipo de pergunta era aquela? Cindy podia fazer uma árvore genealógica pelo tamanho do pau?

— Deve ser escocês. — Ela sorriu me olhando com uma expressão de "dãh, bobinha" saindo e jogando seu cabelo loiro meio despenteado pelo ombro, desfilando pelo corredor da mansão de seus pais fazendo os Alexander McQueen baterem seus saltos pelo piso de granito.

— Você não tem mais o que fazer? — A voz de Harry me fez desviar do desfile da loira. Ele apareceu ajeitando o zíper de sua calça preta. Cristo. — Eu estava ocupado... A não ser que... — seu rosto se transformou para sacana quando começou a dizer, encostando-se no batente da porta com uma postura relaxada.

Dei um passo para trás com uma cara cuidadosamente enojada. Harry era um perfeito cafajeste e talvez fosse biologicamente impossível para ele não ser. Os olhos azuis e o cabelo escuro o transformavam num deus grego de olhares sacanas. Devia haver algum tipo de contrato implícito, alguém que era tão bonito seria fisiologicamente incapaz de ser um bom partido. Mesmo na camisa preta simples e com os cabelos levemente bagunçados, ele parecia um modelo. Mas eu nunca, nem em um milhão de anos, nem se ele fosse o último homem do planeta, eu cairia em sua lábia.

— A Jules está te chamando, ela quer fazer um brinde e insistiu que você estivesse lá. — Cruzei meus braços. Claro que eu tinha levado dois pelo preço de um. Quem poderia imaginar que eu também encontraria a furtiva Cindy Tredici, que ninguém tinha notado o desaparecimento? Todo azar do mundo era pouco para mim.

— Vai ser muito estranho eu aparecer lá com uma ereção, Amy... — Ele quase cantarolou risonho e eu gemi me afastando. — Volte aqui, é brincadeira!

Harry Ryder era o melhor amigo de David que era a alma gêmea de Jules. Uma conta que certamente não deveria me envolver, mas lá estava eu. O melhor amigo do namorado da minha melhor amiga. Meu maior pesadelo.

Harry era insuportável. Não do tipo fora da lei, mas do tipo piadinhas sexuais e comentários irônicos. Mas ainda assim um martírio pelo qual eu tinha que passar pelo menos uma vez por mês quando Jules decidia algum tipo de noite de pizzas ou David ficava obcecado por um lançamento no cinema que requeria todos os amigos juntos.

Mas aquela seria a última vez que eu veria Harry por muito tempo, eu tinha fé.

David e Jules estavam prestes a viajar por seis meses em um passeio pelo mundo. Eles tinham juntado suas economias, Jules tinha saído de sua vaga de jornalista de esportes no jornal que trabalhávamos, o Nova Iorque MetroNews, e David abandonado o seu cargo de contador numa empresa de tecnologia. Apaixonados demais para poderem ficar em sua rotina, meus melhores amigos estavam prestes a viver o maior sonho de suas vidas.

Isso significava que qualquer contato por obrigação com Harry Ryder acabava em poucas semanas.

— Ainda é estranho saber que a Jules é sobrinha desses figurões. — Ele cochichou atrás de mim e eu fingi não o escutar, mas me encolhi para a verdade de suas palavras. Tudo ali parecia um episódio de The Real Housewives

Estávamos no almoço de aniversário de Jules, todos usavam vestidos caros e até chapéus. Seus tios, Raymond e Donna Tredici, que haviam criado minha melhor amiga na falta de seus pais, eram os donos de uma rede de hotéis de luxo por toda a costa do país e tinham gentilmente cedido sua mansão para o almoço familiar de aniversário.

Por mais que eu não fosse dizer em voz alta, eu tinha que concordar com o idiota. Era estranho pensar que Jules tinha nascido em um lugar como aquele. Jul se encaixava ali fisicamente, seu vestido esmeralda a deixava elegante como qualquer uma das ricaças e o cabelo loiro solto em ondas lhe conferia status de princesa.

Mesmo assim, mesmo que pudesse deixar uma modelo da Victoria's Secrets no chinelo, ela era humilde e simpática. David também se encaixava bem, os óculos de grau classudo, a pele negra retinta, o terno claro e a nítida habilidade de saber calcular um imposto de renda. Juntos eles eram um par dos sonhos.

Tínhamos quase uma década de convivência. Eu conhecia Jules desde a faculdade, e até seu pedido de demissão, trabalhávamos no mesmo andar no MetroNews 1 desde a época do estágio, onde ela como a brilhante correspondente dos esportes e eu na editoria de Ciência e Tecnologia. David era também uma presença constante, meu melhor amigo desde que tinha aparecido na vida de Jul. O casal era o mais próximo que eu tinha de uma família de verdade. Era difícil pensar que não estariam por perto por um período longo de tempo.

Do outro lado do jardim enfeitado, minha melhor amiga assistiu Harry e eu entrarmos e nos deu um sorriso confiante antes de David abraçar sua cintura e eles trocarem um sorriso cúmplice.

— Atenção... — Jules chamou e todas as senhorinhas ricas olharam sorridentes para a sobrinha. — David e eu temos um... anúncio. — Meu cenho se franziu. O que estava acontecendo ali?

— Vinte dólares que ela está grávida. — Harry sussurrou em meu ouvido e eu estremeci. Por que ele tinha que estar tão perto? Sua voz rouca causou um arrepio indesejado em minha coluna. Como era possível que uma palavra inocente como grávida soasse... daquele jeito?

— Cala a boca, Harry. — Eu praticamente rosnei enfiando meu cotovelo em suas costelas e ele deu uma risadinha.

— Como vocês sabem David e eu estamos prestes a fazer a viagem das nossas vidas pelo continente africano. — Eles trocaram um olhar apaixonado e um suspiro doce e coletivo tomou o jardim ensolarado. — É um grande passo e queremos fazer isso... da maneira certa. — Ela se encolheu e meus olhos se arregalaram.

— O que Jules quer dizer é que...

— Vamos nos casar! — Jules irrompeu em um sorriso amoroso apoiando a mão esquerda no peito de David onde, mesmo do outro lado do jardim, vimos o diamante reluzir.

O jardim foi tomado por aplausos e felicitações. Eu acompanhei tudo empolgada demais para aplaudir de uma maneira educada, eu quase dava pulinhos. Mal podia acreditar que meus melhores amigos estavam prestes a se casar. Senti lágrimas aparecerem em meus olhos.

Me lembrei emocionada da primeira vez que ficamos nós duas acordadas durante a madrugada para que ela me contasse sobre o quão apaixonada estava. Desde a primeira vez que se viram Jules sabia que David era o certo e o homem a venerava. Era lindo de se admirar.

— Queremos fazer isso antes da viagem, então vai ser uma cerimônia pequena, só a família e os amigos mais próximos. Linda e Michael, os pais de David e Kevin, o irmão mais velho, já sabem, e agora vocês. — Assisti todas as tias ricaças da família praticamente murcharem para as palavras "só a família e os amigos mais próximos". — Vai ser algo simples só para oficializar.

— É muito importante para nós estarmos juntos nesse momento. — David sorriu e então olhou para nós. — E para isso queremos convidar nossos melhores amigos para serem nossos padrinhos. — David deu um sorriso caloroso. — Amy, Harry, vocês aceitam?

Eu congelei. Toda a terceira idade se virou em nossa direção, senti minhas bochechas esquentarem. Um misto de felicidade e vergonha me encheu.

Um braço forte pousou no meu ombro e eu olhei para cima. O rosto risonho de Harry olhava para mim, emoção também brilhava seus olhos. Ele podia ser um cafajeste, mas a felicidade pelos amigos irradiava dele.

— Claro que aceitamos. — Sorriu e levantou o copo de uísque, que Deus sabe onde ele tinha arranjado, e convocou um brinde, as taças de mimosas se levantaram para saudá-los.

— Não poderia ficar mais feliz com essa notícia. — O tio de Jules se levantou, o terno caríssimo parecendo brilhar mais do que o diamante da sobrinha. — Donna e eu podemos ceder o nosso hotel nos Hamptons para a cerimônia, vai ser um prazer. — Ele ergueu a sua própria taça com o champanhe.

Jules e David trocaram um olhar surpreso.

— Tio Raymond, eu não sei como... — Jules começou a dizer.

— É um sonho se realizando ver nossa sobrinha se casando e nossa filha como madrinha também. — Donna se levantou com aquilo que devia ser um sorriso, eu não podia identificar no meio do seu botox, mas se meus ouvidos estavam apurados, ninguém tinha mencionado Cindy como madrinha.

Assisti à expressão de Jules cair e a minha própria despencou. Ela e a prima mantinham um relacionamento amigável, tinham sido criadas juntas, mas definitivamente não tinham muito em comum.

Cindy levantou-se com um sorriso doce e a mão no peito inflado, parecendo emocionada com o convite que nem tinha sido feito pelos noivos. Me lembrei de seus gemidos anasalados e me encolhi saindo do abraço de Harry.

— Claro! — David irrompeu ganhando um olhar chocado de Jules que ela disfarçou com um sorriso desesperado em minha direção.

— Viva os noivos! — Raymond sorriu e mais aplausos.

— Ela vai surtar. — Harry cochichou ao meu lado bebendo o resto de seu uísque.

Jules agarrou a mão de David e caminhou em nossa direção sorrindo para suas tias e parando para receber rapidamente os abraços.

— Eu estou surtando! — Jules confirmou a previsão de Harry quando parou à nossa frente. — Eu juro, era para ser somente vocês dois e uma coisa pequena e agora temos... Hamptons!

— Me perdoe, anjinho, eu pensei que seria... — David começou a se desculpar.

Eu o conhecia, sabia que ele queria o melhor para Jules e quando viu a oportunidade de um casamento de princesa, como ela merecia, não pode evitar. Dei-lhe um sorriso consolador.

— Eu sei, docinho. — Jules reconheceu acariciando sua mão. — E eu te amo ainda mais por isso, mas é... Hamptons e nós queríamos uma coisa pequena.

— Qual é, Tredici, vai ser divertido. Só nós quatro, preparando um casamento, a sua prima peituda aparecendo de vez em quando... — Harry brincou e ela revirou os olhos enquanto David conteve um sorriso. — É o lugar que vocês merecem, o resto se ajeita. — Ofereceu conforto em uma voz suave e eu quase não o reconheci.

— Jules, vai dar tudo certo, você acaba de ganhar um casamento em Hamptons. Vamos organizar tudo em tempo recorde e você vai ter a cerimônia dos sonhos. — Eu garanti. — Estou tão orgulhosa de vocês. — Confessei emocionada e ela avançou em minha direção me dando um abraço cúmplice.

— Força tarefa do casamento! — Uma voz doce demais chamou e eu suspirei me separando da minha melhor amiga, mas pude jurar que ela estremeceu para o chamado da prima.

— Cindy! — Devia ser um cumprimento de Jules, mas soou como um velório.

— Nem acredito que vou ser madrinha. — A prima apareceu, se materializando ao lado de Harry. — Vamos precisar usar uma cor que realce você, Amália. Ou você precisa de um bronzeado. — Ela disse meditativa e eu me encolhi. Nem todos nós, meros mortais sem pais milionários e uma rotina de socialite, tínhamos tempo para pegar uma cor dourada como ela.

— Força tarefa do casamento. — Harry repetiu e se afastou de mim para abraçar os ombros da loira siliconada. — Eu, você e a Amália. — Ele cantarolou.

Você sabe que meu nome é Amy. — Eu respondi quando a loira praticamente agarrou-se ao dorso de Harry.

— Eu também sei, mas você devia usar Amália. É como a Kimberly Kardashian que usa Kim. É numerologia. — Aconselhou.

— Exatamente, Carol. — Harry me deu um sorriso brilhante e eu pude perceber que ele não estava errando o nome da prima de propósito, ele não sabia o nome dela.

— É Cindy, gatinho. — Ela corrigiu. Jules me lançou um olhar desesperado. — Ou a numerologia de Carol é melhor? — Arregalou os olhos e Harry a olhou incrédulo.

Seria um mês agitado. 

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