Lei da natureza: As pessoas vêem ao redor, não o que está ao seu lado a menos que cheire a podre.
Entrar na sala de aula parecia a tarefa mais simples do universo para qualquer aluno do ensino médio que já deve ter noção de como as coisas funcionam no colégio, até porque anos frequentando o purgatório deveriam lhes ensinar o básico: horários. E isso nunca fora um problema para Sunoo, pois o garoto sempre cumpriu com suas responsabilidades na medida do possível, visando não ter que ser dedurado por mal comportamento por sua irmã mais velha Minjeong, entretanto nem sempre ele conseguia manter a pose de santo que ele e seus irmãos carregaram em seus lindos rostos angelicais. E se algo dava errado incrivelmente sempre ── ou boa parte das vezes ── estaria relacionado a Shim Jake, porque o garoto conseguia ser um pé no saco em matéria de pedir ajuda ao mais novo para fazer coisas simples, como por exemplo naquele caso: limpar a roupa.
Por outro lado o mais velho tinha seus argumentos e o principal sempre seria de que ele somente queria um minutinhos a mais com o Kim, mesmo não dizendo declaramente, e talvez fosse por isso que Jungwon sempre se dava ao trabalho de responder a chamada pelo melhor amigo, pois ele sabia que o mais velho estava ajudando o bobo apaixonado de um australiano atrapalhado pra muito burro. Enquanto o universo fez do coreano um ser divino abençoado com o dom de ajudar seus amigos com questões amorosas, ele também fez o mestiço sem nenhum tipo de calçado antiaderente toda vez que batia os olhos castanhos no garoto de cabelo vermelho, sério, parecia que seu equilíbrio ia para o brejo e tudo que ele não conseguia fazer beijando o Kim ele compensava beijando o chão lustroso.
Quando o mais novo se desvencilhou daquele afazer que já estava quase virando rotina, correu prontamente para a sala e pasmem: incrivelmente sem cair uma única vez. Tentou entrar pela porta de trás da sala, já que havia duas, uma em cada ponta do ambiente, porém ao que abriu a porta o professor de óculos escorrega por um nariz maior que o do Pinóquio, o encarou firme com uma linda feição de: Falta! O Kim até pensou em protestar, mas aquele homem parecia ter chupado sete limões azedos naquela manhã e vindo nesse pique dar aula de matemática, quem suportaria entrar em um debate com ele? Melhor se contentar com aquela falta em seu boletim no final do trimestre.
Olhou para o lado assim que sentou em seu lugar, Jungwon fazia uma feição de completa reprovação ao professor passando no quadro as questões entregues na última aula para dever de casa, as mãos do mais novo rodopiavam o chaveiro peludinho inteiramente rosa em busca de algum tipo de calmante. Atrás de si estava ninguém menos, ninguém mais que a dupla dinâmica Nikita, Takini ou seja lá qual era o nome do couple aquele debate já havia sido feito e no fim nunca se chegava a um X exato da questão, porque ambos os japoneses nunca queriam ficar depois do nome um do outro então ninguém os estipulava uma nomeclatura definitiva. Niki como sempre estava usando a tática mais velha da história dos estudantes: fone por dentro da manda do moletom. Enquanto isto, atrás do Kim a personificação do Kadu Maverick por algum motivo desconhecido tentava estalar o maxilar, isto é até tomar um tapão do namorado.
Quase, por um fio bem curto que não se iniciou uma terceira guerra mundial entre os dois mas com toda certeza existente nas células coreanas dos dois mais velhos, aqueles olhares trocados eram um legítimo: Em casa a gente conversa. O Kim por fim decidiu virar novamente para frente, não queria ser chamado pelo professor para responder alguma questão, na verdade adotou a tática do "cabeça baixada" que no geral quase sempre funcionava, não estava fugindo da responsabilidade de responder por não ter feito o dever, é que primeiramente estava incompleto e segundo que ele odiava ter que ir para a frente do quarto, simplesmente lhe incomodava muito ser o centro das atenções sozinho, era tudo mais fácil quando passar vergonha vinha com um aviso bem grande de que estaria incluso seus melhores amigos, nesses casos todo mico valeria a pena e eles pagariam sem arrependimentos.
Quando as aulas finalizaram foi como se as comportas do inferno tivessem sido abertas, sim, acredite se quiser, nem a caixa de Pandora liberou tanta coisa como aqueles estudantes cansados, com o limite estourando após chatas aulas onde se estudava sobre eucariontes. Eles saiam daquelas salas com tantos sentimentos ruins que somente o almoço poderia salvar as pobres almas penadas, e o estômago dos garotos já roncava ── mesmo após quatro potes de cereais com iogurte no recreio. O quarteto esperava na saída, por algum motivo a turma do terceiro ano era sempre a última a sair talvez porque os professores queriam que seu último ano fosse degustado com lentidão e uma pitada de pimenta, o prato perfeito para fazer qualquer um chegar perto do que chamam de surtar. Heeseung vinha de mãos dadas com Jongseong, seu sorriso era radiante mostrando 147 dentes que todos os amigos juravam de pé junto existir ali, porque era muitos ossos que ali eram exibidos.
── Eu vou te dar cinco segundos pra você largar essa porcaria ou vou esfolar sua cara. ── Foi o que o Lee disse quando viu nas mãos do japonês sem sobrenome a lata de energético.
── Tenta a sorte coroa. ── Zombou, mas foi só terminar a frase para o maior correr atrás de si e lhe dar uma perfeita rasteira o deixando estirado no chão. ── Desgraçado...
── O que disse? ── Pegou a latinha do outro, jogando sem dó alguma no lixo fazendo o menor querer chorar desesperado.
── Taca mãe pra ver se quica! ── E como sempre correu para trás do namorado, choramingando que seu dinheiro havia ido para o lixo. ── Esse fiscal do cão.
── Esse energético deve estar afetando seus neurônios, você sabe que ele joga fora se ver, idiota! ── Jungwon acertou um tapa na cabeça do outro, sabendo que este não revidaria porque abraçando o corpo do Yang estava Sunghoon.
── Falando em idiota... Onde está o Jake? ── Sunoo lembrou da existência do tataravô das piadas do grupo, produtor de um humor deverás questionável.
── Serve aquele lá por enquanto? ── Jay questionou apontando com a cabeça para a porta de entrada do colégio, onde o rapaz saía sorridente, isto é... Até aquele momento.
O australiano estava tão animado para descer aqueles três degraus e se encontrar com os amigos que não viu o carrinho da limpeza, acabando por trombar com este e afundar parcialmente a cabeça no balde de água suja do banheiro, a mulher que empurrava parou, estática com o garoto que caiu sentado no chão com água podre escorrendo pelo pescoço enquanto tentava assimilar o que havia acontecido consigo naquelas três frações de segundos azarentos, os alunos que passavam por perto observavam a cena toda com feições de nojo, fechando o nariz com uma das mãos enquanto se afastavam rapidamente dali, e até mesmo a faxineira bateu em retirada deixando para trás um garoto com feições decepcionadas, se levantando do chão e sacudindo a cabeça como sua cachorrinha Layla faria se estivesse molhada como ele estava.
Sunoo observava de longe, suspirando logo coçando a nuca e certificando os amigos de que poderiam ir na frente, ele ficaria para trás e acompanharia o garoto para casa já que moravam lado a lado. Os outros amavam Jake, mas definitivamente somente Sunoo para aturar o amigo independente do que quer que acontecesse com ele, seja em questão de aparecia como a vez que estava fantasiado de palhaço quase pior que o It devido a maquiagem derretendo ao calor de 37° graus, ou também em questões de cheiro como naquele dia. O Kim esperou o outro que passou reto por si, indo embora sozinho.
── Jaeyun... Não pense em me deixar pra trás. ── Correu até o lado do amigo, abanando o ar discretamente e notando a expressão desconsolada do outro. ── Yah! Não foi tão mal assim.
── Não, eu só caí dentro de uma lata de lixo e logo depois dentro de um balde de água suja, não tem como piorar né? ── Resmungou, não aguentando o próprio cheiro e pensando no que faria para lavar a jaqueta do pai.
── Você poderia tropeçar e cair em cima de fezes, mas esse não é o caso o caso é que eu estou aqui. ── Bateu no peito orgulhoso de si mesmo, como se fosse um prêmio o ter ali, e para o Shim de fato era.
── Eu sei... Só você para andar do lado de alguém que fede igual um defunto em decomposição. ── Sorriu novamente, o que deixou o Kim de coração aquecido por ver o outro voltando a sua forma original. ── Por isso eu te amo.
Uma confissão jogada ao ar, e Sunoo não pegou.
── Bobo, também te amo seu hétero falsificado. ── Não era o que o mais velho queria ouvir, mas era melhor do que o silêncio.
Pararam na frente da casa do Kim, eram momentos estranhos porque ficavam segundos longos demais se encarando sem falar nada, como se faltasse algo naquela despedida, mas Sunoo não via e Jake não o beijaria sem saber que este queria e muito menos fedendo como estava, por isso um aceno foi dado e passos bem lentos os separam, mas antes o australiano se permitiu falar alto o suficiente para o outro ouvir, antes de entrar e ir ao banho sonhar acordado com o mais novo:
── Sunoo! ── Gritou, tendo a atenção do outro e sorriu. ── Come umas formigas pra ver se você enxerga o que tem do seu lado.
O coreano não entedia aquelas maluquices do mais velho, mas não poderia viver sem elas pois eram estas que o faziam ser quem era.