O castelo entra e saí de foco.
Nem percebi que havia dormido, minha pele arde de frio e meu corpo parece estar sob um choque térmico horrível. Eu admirei o castelo, é lindo e grande. Vejo os portões sendo abertos, os cavalos entrando, vejo o Jardim, o arbusto de rosas, árvores, caminhos de grama verdinha.
É um bom lugar para se morrer, acho que é esse meu destino.
Não consigo olhar muito, não consigo respirar direito pois só entra mais frio, minhas mãos tremem, meus pés tremem, meus labios tremem e o frio só aumenta.
Sinto um peso no meu corpo todo e sou inclinada para o lado, eu caí do cavalo, caí sobre a neve e tudo ficou escuro.
— Por que não colocaram um casaco nela?! Não vê como está frio? — escuto uma voz.
— Perdão Alteza, sentimos muito, não pensamos nisso — Um guarda diz
— Levem-na para meu escritório.
— Sim senhor, Vossa Alteza.
Sinto mãos me levantando e me segurando, eu abro devagar os olhos, observo o caminho até as portas duplas do castelo... e quando o guarda entra comigo... é quentinho, é lindo. Eu me permito abrir mais os olhos e engulo seco. As paredes são tão belas... os quadros, os tapetes. As escadas...
— A senhorita tem que segurar isso — Uma moça apareceu, ela é bem mais velha que eu. E com um sorriso amigável me entrega um saco com gelo, segura minha mão e leva até ali para que eu mesma segure
— O que aconteceu? — pergunto tentando entender a dor imensa na cabeça. O guarda entrou em uma sala, uma de milhões de portas daquele corredor, entrou ali e me pôs sobre uma poltrona que parecia descer quando sentei.
A moça anda até mim e o guarda saí.
— A senhorita caiu do cavalo, machucou a cabeça, como se sente?— pergunta ela sorrindo fraco
— Confusa — digo a ela. A moça sorri fraco mesmo assim. Parece seguir ordens e se retirar da sala.
Estou sozinha aqui agora.
Estou em um... escritório, tem estantes de livros, uma mesa grande, uma janela com as cortinas fechadas, e o que ilumina o local é uma lareira acesa e o lustre. É lindo, e eu levanto da poltrona, me aproximo dos livros
Eu toco os livros, nunca tive muita oportunidade de ler tantos... na aldeia tinha uma moça que nos dava aulas de leitura. Mas nunca tivemos condições para estar comprando livros... eu li dois em toda minha vida, Jaden leu comigo.
— Ora Ora — eu pulo de susto e me afasto da estante, derrubei livro que eu segurava no chão — Quer dizer que além de machucar 2 dos meus homens, você está mexendo nas minhas coisas — é um garoto, o príncipe. Seus cabelos são loiros, ele é alto e veste roupas ridículas da realeza.
Eu fico parada e calada.
Ele se aproxima, pega o livro caído no chão e se levanta, me encara e ergue para que eu pegue.
Não pego.
Ele dá de ombros.
— Sinto muito que os guardas não tenham colocado um casaco na senhorita... sua cabeça ainda dói? — ele pergunta simples, faz a volta da mesa e senta na cadeira ali, junta papéis e me olha.
Respiro fundo e encaro a mesa bagunçada.
— Não importa, só peço que minha morte seja a mais rápida possível —peço não fazendo contato visual com ele.
Ele franziu o cenho.
— Morte? Por que eu a mataria? Você sabia do trato? — pergunta
— Sim, sabia. — respondo
— E ainda sim quebrou? Mesmo sabendo o risco? — ele pergunta
— Eu não sabia o risco — confesso
— Por que machucou eles?
— Por que NÃO, machucar eles? — digo alto o " não "
— Creio que a senhorita deva me contar para que eu não precise a manter aqui... — sussurra ele. Parece brincar comigo, parece se divertir com algo...
— Não devo satisfação a ninguém da sua família ou a você — respondo envergonhada pelo seu olhar brincalhão.
Quem ele pensa que é?
— Ah... entendi, então fez isso por que não gosta da realeza? — fiquei calada — Que tal me dizer seu nome? Hum?
— Isso não é da sua conta. — respondo
— Ok Nixie. — ele sorri de lado
Babaca...
— Como você... — franzi o cenho
— Isso não é da sua conta — ele me interrompe.
Fico com raiva imediatamente.
— Me diga logo suas intenções querendo machucar eles, ou irei pessoalmente perguntar a sua alde-
— Ok! eu conto — digo interrompendo o mesmo — Eu conto tudo que quiser, mas deixem eles em paz, por favor...
— É um bom trato.
— Trato?
— Sim um trato, você aqui e eles lá.
— E por que me quer aqui?!
— Acho que diversão — ele sorri
— Fique longe de mim. — Repreendo
— Como é? — pergunta confuso
— Se encostar um dedo em mim se considere um homem sem suas partes baixas — digo tentando ao máximo não gritar
— Isso foi uma ameaça? — ele pergunta
Tento me manter calma por ter ameaçado um membro da família real, não que eu me importe, mas... isso pode trazer mais problemas
— Eu gostei de você senhorita Nissi —ele errou meu nome de propósito, seu sorriso idiota diz isso
— É Nixie. — digo simples, ainda segurando o gelo em minha cabeça
— Ok, Nixie — diz sorrindo enquanto meche nos dedos
— O que quer comigo?! — pergunto logo
— Quero você aqui. — ele diz
— Você é algum tipo de psicopata ou algo assim? — fico confusa
— Preciso de você aqui. Preciso... que saiba que muitos mentem para você. Ficará aqui comigo, no castelo. Sobre meus cuidados e sobre a vigia de meus guardas — diz ele simples
— Como é? Você é louco, só pode. Desde quando se importa com plebeus? Nem me conhece
Ele brinca com os dedos nos papéis e me olha.
— Conheço você melhor do que imagina Senhorita Sanchez —diz o príncipe.
Porque ficam errando meu sobrenome?
Não tenho tempo de corrigi-lo
— E de novo, antes que me xingue mais uma vez, me conte o por que atirou a flecha na perna do meu guarda! — pergunta firme
— Justiça
— Justiça? — ele ri
— Seus dois guardas mataram minha mãe — digo firme.
Ele pisca e engole seco
— Desculpe... eles fizeram o que? —
Ele faz uma cara de surpresa que logo se transforma em decepção
— Por que está surpreso? Seu pai manda matar todos que contrariam ele! — repreendo
— Meu pai faz o que é necessário.
— Necessário? Está me dizendo que eles mataram minha mãe por que foi necessário? — quero gritar de ódio
— Não sabia que eles que haviam matado Cadence... mas... ela era alguém complicada — diz ele firme
Complicada?
— Conheceu a minha mãe? — pergunto confusa — Como sabe que estamos falando da mesma pessoa?
— Apenas sei. — ele diz me olhando, vendo minha cara de garota perdida.
Suspirou e se aproximou de mim
— Sua mãe trabalhou aqui no castelo. Era uma empregada, ela era bem confiável. Mas meu pai descobriu os roubos, vasos, tortas... lembro bem disso.
Ele está mentindo, minha mãe não era assim, ela nunca roubaria.
— Isso é mentira. — digo
Quero chorar pela possibilidade...
Ele se aproxima mais.
— Porque acha que ela sempre voltava com aquelas tortas? — ele pergunta.
Ela voltava com tortas da cidade.
— Em ? — ele se aproxima mais
Sinto meu coração se apertar.
— Roubar o rei não é muito inteligente, sempre vi ela saindo do castelo com uma sacola ou algo assim, mas nunca me importei — ele fala mais baixo agora — Meu pai descobriu, mandou caçarem ela pela traição, não sabia sobre a morte dela... sinto muito.
Não faz sentido.
Ela morreu por roubar?
E os garotos?
Eles eram jovens...
Porque aquele parecia ter tanto ódio?
Meus olhos já não estavam totalmente secos. Estavam cheios de água, meu coração se apertou de dor. Ela era boa... meu pai é bom, todos na minha aldeia são bons. Será que ele sabia? Meu pai sabia disso? Ela trabalhou... aqui?
— Senhorita? Você está bem? — ele pergunta baixinho
— Isso é realmente verdade? — pergunto, minha voz está trêmula
— Eu nunca minto. — o garoto disse olhando nos meus olhos.
Encaro o mesmo também. Odeio chorar na frente dele mas não consigo segurar....
— Sinto muito que tenha descoberto isso assim. Vou mandar alguém levá-la para um quarto. Tente... descansar. — ele diz
Nego com a cabeça
— Não quero receber nada se vocês. — digo limpando a lágrima que insistia em cair
— Presumo que tenha que ficar aqui, lembra do trato? Você o descumpriu. — lembra ele firme
Me seguro para não me jogar na frente dele e não acertá-lo com um murro, isso só me traria mais problemas
— Por que não me mata logo? Parecem gostar de fazer isso...
Ele respira fundo
— Por que não sou assim. Não vou mata-la, vou descobrir o que fazer com você, mas antes, vá descansar.
Ouço a porta abrir.
Quem entra é a moça que me entregou o saco de gelo.
Eu a encaro, ela ergue a mão e eu seguro. Por algum motivo confio nela.
A mesma sorri fraco, me puxa para mais longe dele, para sairmos do escritório... e antes de sair pela porta eu me viro e encaro o príncipe.
Ele ainda me olha.
Estou morrendo de fome, lembrei que não comi nada na aldeia e estou sem comer já faz mais de 10 horas.
Mas estou assustada demais para pedir algo.
Nós andamos pelos corredores, são lindos, e virando a direita ela para.
Observo a porta escura com alguns detalhes dourados e encaro a moça.
— Esse vai ser o quarto da senhorita por um tempo — ela informa e finalmente abre.
Eu observo o quarto de boca aberta.
É... lindo, grande, organizado e maior que minha casa inteira na aldeia...
— Esse é o corredor do andar dois, a família real fica no andar 3, creio que você não possa ir para lá sem o consentimento do príncipe... — diz a mulher do gelo — Meu nome é Maggie, vou ajudar você com tudo que precisar, a se vestir, horários...
Franzi o cenho
— Ajudar a me vestir? Por que? não preciso de ajuda para me vestir — eu aviso a ela, confusa com isso. E imediatamente fixo meu olhar nas duas criadas parada ali dentro. Tento ignorar isso, encaro em seguida a janela enorme.
Consigo ver Cortona inteira daqui...
— Bom, os vestidos são delicados... e não são simples de se colocar. Você vai precisar de ajuda — diz ela abrindo um guarda roupa.
Eu a observei.
Pegou um vestido branco lindo, ele é longo, suas alças são finas e... ela também pegou aquelas luvas que vão do braço até o pulso, e os sapatos... são fofos
— Vestido... — sussurro
— Sim um vestido senhorita — ela sorri fraco — Não seria bom que vissem alguém de uma aldeia considerada inimiga aqui, você tem que se vestir como uma visita da família real— diz ela carismática, me guia até uma porta do quarto, e lá observo nada mais nada menos que um banheiro.
Ok, agora são duas da minha casa em um só cômodo. Aqui é enorme, a banheira, a bancada enorme, as fragrâncias em cima, as toalhas colocadas nas prateleiras na parede.
ATÉ A BACIA É LINDA.
— Tire suas roupas e coloque-as na bancada. — pede ela
Eu a encaro assustada
— Oh... ok — obedeço, tiro meu vestido e minhas roupas íntimas.
Coloco na bancada.
E é esquisito. Mas ela não fica me olhando, está preparando a banheira enquanto eu me enrolo em uma toalha, totalmente despida.
Ela me chama, e observo a água que pelo vapor parece estar quentinha.
Tiro minha toalha e coloco um pé, depois o outro, não sei o que sentir estando sob os privilégios da família real, mas eu estou morrendo de frio, essa água é... Perfeita
É relaxante, calmo, totalmente tranquilizante. Eu me sento ali, totalmente confortável.