Não Muito Princesa

بواسطة raquel_costa_

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A vida de Tina (Valentina Cortês) não é como a das jovens da sua idade, porque ela é uma princesa, mais espec... المزيد

Apresentação dos personagens
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Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capitulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10

Capítulo 7

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بواسطة raquel_costa_

Era estranho namorar em público. Quer dizer, Daniel não disse a palavra "namoro", e eu não ousei mencioná-la. Acho que a nossa separação prematura estava implícita em cada momento nosso. Mas, ainda assim, era estranho. Não que os nosso amigos não dessem a maior força. Até mesmo o Juan. Se fosse em Âmbar, sendo conhecedora da personalidade dos habitantes daquele reino, eu diria que Daniel e ele seriam arqui-inimigos à essa altura. O comportamento deles só confirmou a minha teoria de que esse tipo de rivalidade, por causa de uma terceira pessoa, perfeitamente capaz de fazer as próprias escolhas, era uma tremenda e insana besteira.

Nós íamos todos juntos à praia todos os dias, e ficávamos do nascer do sol até o poente. Mas a minha parte favorita era vê-lo devorar o meu livro favorito, ali mesmo, numa cadeira de plástico — e ele o fez em menos de dois dias. — E chorou. Ele chorou lendo uma das melhores histórias da minha vida! Eu nunca quis tanto emoldurar um momento e guardá-lo para sempre.

Não que eu não amasse os meus pais. Muito pelo contrário, apesar de ter uma forma de enxergar a vida totalmente diferente do rei e da rainha de Âmbar, eles tinham todo o meu coração, e o meu respeito e o meu desejo de um dia ser tão inteligente e forte como eram ao gerir todo um reino. Como seria quando aquela responsabilidade recaísse sobre os meus ombros? Não podia imaginar tamanho desastre! Se eu não sabia lidar com um simples impasse na minha vida, quem dirá diante de conflitos descomunais, como os que eles venciam tão perfeitamente!

Apesar de que, o impasse de ter me apaixonado por Daniel Fernandez não era a total definição de "simples". Pensando bem, contrariar o rei, a rainha, um príncipe prometido em casamento e toda uma tradição familiar era algo bem desafiador. Já podia imaginar as expressões de decepção e afronta dos meus pais. E, depois, mandariam prender Daniel, que até então, não fazia a menor ideia de que se aproximar de uma garota poderia ser uma afronta, pelo fato de não ter nascido em um berço real.

Eu estava corroendo por dentro por não poder lhe contar a verdade, enquanto ele abria cada vez mais seu coração e sua vida para mim. Se aquilo não pusesse a sua vida em risco, ou mudasse a sua percepção sobre mim, uma simples menina normal, eu diria toda a verdade, palavra por palavra. Mas, como tudo em minha vida, não era tão simples assim.

Eu só queria saber que impasses levaram Louise a ser separada de seu amado. Em parte por curiosidade, mas sobretudo, para ver se achava em sua história alguma esperança para me apegar. Ou, nem que seja, em sua desventura, consolo para a minha.

— O que tanto a Lady Livros pensa? — Meus pensamentos agitados foram interrompidos pela voz do principal personagem deles.

— Em livros — Brinquei. — Em como esse céu está lindo. — E estava mesmo. Um pôr-do-sol vermelho-alaranjado de tirar o fôlego tocando a água do mar, cristalina. O som das ondas quebrando acalentavam meu coração inconformado.

— E em como o seu... o seu... namorado está mais lindo ainda. — Ele disse. Ele falou "namorado"! Hesitou, mas falou!

— Você disse... — Não consegui desconversar dessa vez.

— Eu disse. — Falou e depois olhou para os próprios pés descalços na areia. Ele e os amigos tinham me levado ao Balneario Punta Salinas, uma praia de tirar o fôlego com suas águas calmas e a paisagem verdejante. Por sorte, não haviam muitos turistas, então, pudemos caminhar tranquilamente, sentindo a areia em nossos pés. As garças voando à nossa volta e a cor tão vívida do sol poente tocando o mar me fizeram quase acreditar que aquilo era um sonho.

— Dan, eu... eu quero. De verdade, eu quero. Quero tanto que dói. — Respirei fundo para tentar afastar justamente a dor. Mergulhei meus dedos na areia onde nos sentamos. — Chega a me assustar o quanto estamos interligados, quando tínhamos tudo para nos detestarmos. Mas... é que... — Como explicar sem revelar nada?!

— Você mora longe. Eu sei. Eu me mudo. — Olhou-me com firmeza e convicção.

— Eu não duvido que você faria isso. E, meu Deus, como eu queria! — Meu coração parecia estar se afundando até meu estômago. — Mas... não é tão simples. — Não consegui encará-lo.

— Você... você pode me dizer o motivo? — Segurou a minha mão com delicadeza.

— Se eu te disser, vai ser pior... — Tentei parecer convincente para ele não me fazer mais perguntas, mas minha voz vacilou, ficando chorosa.

— Eu... não compreendo. Você... não me diga que... você está muito doente? Está... morren...

Não! Dan, não — interrompi. — Não é isso. — Balancei a cabeça. Ele, obviamente, ainda estava com a mente mergulhada no livro que eu lhe emprestei. Não o julgo, é uma história muito difícil de superar, ele iria ficar pensando nela por dias e nunca a esqueceria por completo. — Eu estou perfeitamente saudável.

— Graças a Deus. — Respirou genuinamente aliviado. — Mas então... o que... o que nos impede de... você... tem um outro...

— Não tenho um outro namorado. — "Só um cara que acha que vai se casar comigo", lembrei-me com desgosto. — Daniel, eu realmente não posso revelar nada. Se pudesse, confia em mim, eu o faria. É o que eu mais queria.

— Está bem. — Engoliu em seco e forçou um sorriso. — Tudo bem. — Encarou o céu que tomava, lentamente, o tom azul escuro, e os primeiros pontinhos de luz surgiam naquela imensidão. Desejei que, como era infinito o universo estrelado, assim fossem os meus dias ao lado dele.

— Me desculpa. — Enxuguei meus olhos com meu antebraço, pois meus dedos eram pura areia.

— Não precisa... não tem que pedir desculpas — sua voz em tom triste saiu quase inaudível. Ainda bem que o nosso grupo de amigos já tinha ido embora a cerca de uma hora, assim, tínhamos privacidade.

— Tenho que me desculpar sim. Eu sempre soube que era impossível, mas... deixei isso acontecer. — Funguei.

"Isso"?! É dessa maneira que você enxerga o que a gente viveu?! "Isso"?! — Fitou meus olhos com mágoa.

— Você está me julgando mal... eu não quis... eu sei o quanto a gente representa para mim, e você também sabe. Não é porque eu não posso ficar com você que o que eu sinto não é verdadeiro! — Meu coração doía, doía muito. E eu nunca tinha experimentado algo tão angustiante.

— Verdadeiro, mas não o suficiente para confiar em mim. — Sorriu com amargura.

— Eu confio em você! — Exaltei-me. — Eu confiei meus sentimentos a você! Droga! Eu confio! — Respirei fundo, sentindo lágrimas aparecerem em meus olhos, fazendo-os arder. — Eu só não quero que te machuquem!  — Minha voz saiu tremulando. — Porque, se alguma coisa horrível te acontecer, por minha causa, eu não... eu nunca vou me perdoar.

— Tina... eu... estou ficando assustado. O que... o que de tão ruim você tem medo?! Do que você quer me proteger? — Tocou de leve em meu rosto.

— Eu não sou essa pessoa maravilhosa que você pensa. — Enterrei meu rosto em seu ombro.

— Você é mais do que imagina. E eu não consigo imaginar um motivo para te enxergar diferente de linda. E inteligente. E doce. E sincera. E um monte de outras coisas que eu queria conhecer. — Seus olhos eram pura melancolia.

— Mas olha como eu te deixei. Triste. — Senti meus ombros tremerei quando eu comecei a soluçar.

Daniel confortou-me em seu peito envolvendo meus ombros com seus braços.

— Você não me deixou triste. Perder você me deixa triste. — Enterrou o rosto em meus cabelos e inspirou. — Mas você... fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem... tão vivo... sem precisar estar solto, com uma mochila nas costas. Você fixa meus pés no chão, mas faz minha mente flutuar, que nem um garoto sonhador... que ainda não viu a maldade do mundo... — Estreitou um pouco mais os braços ao redor de mim. Sob o tecido fino de sua camiseta, eu pude ouvir seu coração agitado, e, em toda a minha vida, eu nunca me senti tão necessária à vida de alguém.

— Eu não queria alimentar o seu ego, menino metido, mas você nunca vai me perder. Nós sempre vamos nos pertencer, de algum jeito. — Lembrei-me de Louise me dizendo que, de todas as coisas que nos podem tirar, o amor não é uma delas. O amor permanece.

O ombro da minha babá foi a minha companhia para chorar, quando Daniel e eu nos despedimos na porta da minha hospedagem.

— Ele disse "eu te amo". Ele enxugou meus olhos e sussurrou em meu ouvido. — Olhei para Louise sentindo uma mistura de dor e alegria.

— Ele me parrrece um bom rrrapaz. Sinto muito mesmo. — Suspirou.

— Pode dizer: "eu te avisei" — Sussurrei para ela, entre soluços.

— Eu nunca dirrria isso, minha querrrida. Eu sou a prrrincipal apoiadorrra dos sentimentos verrrdadeirrros. Eu rrrealmente sinto muito — falou com ternura.

— Eu só queria ser uma pessoa normal e viver a minha vida em paz! Não é justo! Não quero me casar com droga de príncipe nenhum! Não quero essa vida ridícula! — Usei o que havia me restado de força para esbravejar.

— Eu comprrrendo. Mas, ouça, você não pode escolherrr as suas origens, mas pode escolherrr como fazerrr valerrr a pena o dia do seu nascimento.

E foi assim que eu peguei no sono, com Louise afagando os meus cabelos enquanto eu soluçava sem esperanças.

Em menos de um mês, Daniel havia despertado em mim o que eu jamais senti em toda a minha, não muito longa, vida. Ele me mostrava que o melhor em mim era ser exatamente eu mesma. Ele não via a princesa afortunada, nem a garota com trajes refinados e etiqueta impecável. Até mesmo nos meus momentos de maior rudeza e raiva, ele viu em mim o que nem eu mesma havia reparado. Daniel viu em mim alguém, alguém a quem amar. E eu sentia o mesmo por ele.

Só que, agora, eu o estava perdendo. Perdendo-o para a minha sorte. Perdendo-o para a realidade.

— Oi! — Julia me deu um abraço apertado, quando cheguei à sua porta. Ela e sua mãe tinham me convidado para o almoço de domingo. Daniel tinha reforçado o convite por mensagem de texto. Ele tinha me pedido o meu número para não perdemos totalmente o contato, quando eu fosse embora. Eu só não podia dizer por quanto tempo conseguira manter esse segredo fora do alcance dos meus pais.

Disseram que eu levasse comigo a minha avó. Foi um pouco constrangedor explicar para Louise a mentira que precisei inventar para justificar sua presença em minha viagem, sendo que não quis revelar as minhas origens. A francesa me olhou supresa, como se uma simples mentirinha fosse a coisa mais grave do mundo, mas depois ela meio que entendeu o meu lado. Que eu só queria, uma vez na vida, ser uma pessoa normal.

— O Dani precisou ir ver um espaço que está prestes a comprar, mas ele deve chegar em breve — Julia explicou sorrindo, enquanto cumprimentava a minha suposta avó com um abraço — Acho que, finalmente, ele vai abrir a agência de viagens.

Por um instante, senti uma pontada de decepção por ele não ter me contado sobre esse passo, rumo ao seu sonho. Mas me ocorreu que eu não era a pessoa mais qualificada a exigir satisfações sobre a vida pessoal de Daniel, sendo que estava escondendo dele nada mais do que toda a minha verdadeira vida. A versão que eu odiava.

— Poxa... — Engoli em seco. — Que massa! Eu estou muito orgulhosa dele. — E estava mesmo, ao mesmo tempo que me sentia egoísta por estar ressentida de não ter descoberto aquilo diretamente dele, de não ter visto aqueles olhos brilhando ao revelar a novidade para mim, em primeira mão. Eu queria ter sido exclusiva, mas sabia que não merecia.

— Era o maior sonho do Dani e do Carlos. — Dona Dulce disse, e de repente, o seu olhar me pareceu triste, e então, comecei a compreender.

Carlos?! — Sorri confusa e olhei para a Louise, que deu de ombros sem jeito.

— O meu irmão mais velho — Julia completou. — Fazem quatro anos que ele se foi.

Mas era óbvio! Estava na minha cara o tempo todo! Se Daniel era o irmão do meio, tinha que ter outra pessoa!

— Poxa, eu sinto muito mesmo. — Louise e eu dissemos quase em sincronia.

— Tudo bem. Ele era um bom menino. Está num lugar melhor agora. — Dulce sorriu complacente. — Dani foi quem mais sofreu, afinal, eles eram muito apegados. Onde quer que Carlos estivesse, podíamos ter certeza que o mais novo também estava. Eram unha e carne. Estavam guardando dinheiro, porque cismaram que iriam viajar mundo afora. Mas não chegaram a realizar esse sonho... juntos.

— Eu pensei que... achei que... — Julia parecia constrangida. — Pensei que ele tinha te contado. Acho que ainda é um assunto delicado. Desculpa. — Cerrou os dentes.

— Tudo bem. Eu compreendo. E sinto muito. Daniel é uma pessoa muito forte, e eu o admiro por isso. — Forcei um sorriso para disfarçar minha afetação. A vida de Daniel também possuía detalhes sobre os quais eu não tinha conhecimento, e era... estranho. Eu me sentia excluída por ele não ter me contado, e uma baita egoísta por querer dele o que nem eu mesma podia oferecer: a verdade.

Porém, a maior parte de mim ficou entristecida, não por um capricho meu, mas por não ter tido a oportunidade de abraçá-lo e lhe dizer que sinto muito. Não que fizesse alguma diferença, mas é que eu não podia imaginá-lo sofrendo sem sentir o impulso de querer cuidá-lo. E era a primeira vez que eu me via enxergando além dos infortúnios da minha própria vida.

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