EXPERIENCE | jikook

By taejinsucks

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Park Jimin apenas não imaginava que o belo violinista à direita, acompanhado por seu talento apaixonante e vi... More

véu de acordes abruptos.

cordas entrelaçadas.

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By taejinsucks

Recomendação principal de música: 'Experience' ㅡ Ludovico Einaudi, Daniel Hope, I Virtuosi Italiani.

A playlist completa da fanfic estará na minha bio. Boa leitura.

As luzes alaranjadas do lustre refletem nos pratos de porcelana polida. Os talheres ressoam pelo vasto ambiente, enquanto o falatório é quase ensurdecedor nas diversas bocas ocupadas por bebidas caras e comidas distintas.

Sentado na cadeira de maneira desconfortável, Jimin ajusta sua gravata com as mãos, encarando o prato com olhos indecifráveis. A perna não para quieta por nem um momento.

ㅡ Onde se conheceram?

O questionamento vindo do homem, já em sua meia idade e acompanhado por cabelos brancos, causa no Park um temor. Ele não sabe o que responder. Assim como não tem a mínima ideia de como fazer isso, também não tem a mínima vontade de se dispor ao papel ridículo que está sendo obrigado a passar.

A voz suave do rapaz ruivo vacila:

ㅡ Bem, Sr. Kim, na verdade nós nem...

ㅡ Na porta de casa ㅡ a sorridente senhora Park logo interrompe, nervosa, arrancando de todos da mesa uma gargalhada. ㅡ Não riam, não foi uma piada! No dia em que vi pela janela nosso Jimin conversando com a bela Chae-young, tive certeza de que haviam sido feitos um para o outro.

O restaurante está mais barulhento do que nunca, mas a mesa da família Park e Kim continua num silencioso clima tenso. Não apenas Jimin, mas também seus pais, parecem sentir uma gota de suor escorrer pelas têmporas.

ㅡ Devo supor, então, que já se encontraram muitas vezes mais após isso, certo? ㅡ o Sr. Kim dá continuidade à conversa que, apenas neste momento, torna-se meramente agitada, dando uma garfada em sua carne mal passada.

Os olhos cansados de Jimin passeiam pelo prato que está disposto ao seu lado, sendo preenchido pelas diversas cores atrativas da refeição um tanto quanto cara. Não que ele e sua família sejam capazes de pagar por isso, afinal, em tal momento de suas vidas, não tem dinheiro nem mesmo para uma simples volta no busão da cidade.

Sua atenção, então, paira sobre o colar de ouro brilhante que pende no pescoço da senhora Kim e os euros aparentes que ela faz questão de mostrar sempre que tem a oportunidade.

Esse é o motivo pelo qual está ali, sendo torturado.

Ele suspira, aflito. Não é um homem de negócios. Odeia esquemas que propaguem o dinheiro acima de tudo e odeia ainda mais ser a peça principal deste jogo manipulável, em busca de um tostão no bolso e reputação desejável.

ㅡ Ah, com certeza, Sr. Kim! Às vezes, eu deixava o Jimin sair de noite, e então ele sumia, adoidado com sua bicicleta, e voltava sorridente, horas depois... ㅡ as rugas de um genuíno sorriso de felicidade brotam no rosto do senhor Park. ㅡ Posso lhe garantir que viviam noites de paixão.

Um aperto no peito do rapaz ruivo quase lhe arranca um revirar de olhos. Pousa sua atenção na moça tímida e sorridente que senta ao seu lado na mesa, tão quieta quanto ele. Ao ouvir tais palavras do Sr. Park, Chae-young sente as bochechas queimarem e seu sorriso se alarga, jogando seus fios negros para trás da orelha ocupada por brincos de pérola.

Jimin não pode negar: ela é linda. Talvez, seja capaz de arriscar, que ela é a mulher mais linda que já havia visto em toda sua mísera vida de vinte e dois anos. Os lábios rosados podem ser extremamente convidativos e sua personalidade pode ser apaixonante. Ele tem total certeza disso.

ㅡ Espero que ainda não tenham feito nada demais, hein, rapazinho ㅡ o pai de Chae-young lança uma piscadela brincalhona.

Mas também tem total certeza de que não passa de uma possibilidade. Ela poderia lhe atrair, mas apenas caso realmente gostasse de mulheres.

A moça sorri envergonhada, em concordância com as falas de seu pai. Jimin não entende toda essa cena.

Ela sabe, tanto quanto ele, que tudo que estão falando jamais havia acontecido.

ㅡ Eles não fizeram nada... ㅡ a mãe de Chae-young cala-se séria, antes de gargalhar. ㅡ Eu acho!

O ruivo é alguém de personalidade curiosa. Ama manter sua aparência silenciosa e reservada, dentre sorrisos ilusórios e pensamentos abafados pelo senso comum, afinal, é isso que lhe faz ainda ter um teto sobre sua cabeça e uma família para chamar de sua. Entretanto, neste momento sua consciência está se esgotando.

Ter que acobertar mentiras sobre sua própria vida lhe revira o estômago.

ㅡ Fique tranquila, Sra. Kim, posso garantir a você que nada aconteceu ㅡ pela segunda vez no jantar tortuoso, Jimin eleva a voz, mas desta vez, diferente da última, sua postura encontra-se mais firme. Ele respira fundo, tomando coragem. ㅡ E quando digo nada, quero dizer que, realmente, nada nunca aconteceu.

Cala-se cínico, após despejar tais frases no ar, cutucando a carne do prato com a ponta do garfo reluzente. Segura a língua para não deixar escapar mais nenhuma bobagem que coloque a perder tudo que havia sido obrigado a construir até este momento. As expressões confusas nos rostos alheios lhe perfuram.

ㅡ Está querendo dizer no sentido... sentido...

Sua mãe engole a seco. Recusa-se a proferir tal palavra. Sua face medrosa e nervosa com a situação, quase arranca de Jimin uma risada. Está farto desse show.

ㅡ Sentido sexual? ㅡ Chae-young intervém, tímida, sentindo os olhares de repúdio a fuzilarem. A garota de fios pretos cora com os julgamentos, logo juntando-se a todos da mesa e ficando quieta também.

O clima indesejável paira novamente, os diferenciando das mesas alheias, onde Jimin imagina que, com certeza, as pessoas que as ocupam possam estar curtindo um momento legal em família. Ele as inveja intensamente.

A mãe de sua futura noiva rompe o silêncio com um gole suculento do vinho tinto, que dança em sua enorme taça de vidro.

ㅡ O quarto de hotel que alugamos para vocês é de arrancar suspiros ㅡ Jimin quase engasga-se com seu vinho. ㅡ Esperamos que aproveitem bem.

ㅡ Quarto de hotel? ㅡ Chae-young indaga tão nervosa quanto o Park, sorrindo amarelo. ㅡ E-Eu pensei que...

ㅡ Iremos deixá-los lá, antes de passarmos na nova adega de vinhos que abriu recentemente ㅡ Park Yuna levanta-se com um sorriso desconcertante, e todos fazem o mesmo. ㅡ Vamos?

Menos Jimin.

ㅡ Vocês... ㅡ ele pigarreia, ainda paralisado sobre o banco. ㅡ Vocês realmente veem necessidade? Eu e ela podemos apenas...

Sua mãe rapidamente lhe ataca com um olhar furioso. Impotente, recorda-se daquilo que a ruiva mais velha havia sussurrado momentos antes de entrarem no restaurante: "Não nos envergonhe".

Jimin poderia, sem quaisquer dificuldades, surtar ali mesmo. Poderia subir na mesa, virar a taça de vinho na cabeça de seus pais, quebrá-la no joelho e gritar em plenos pulmões que quer ser livre. Ele já é adulto, já tem o próprio emprego, e também, já é dono de suas próprias decisões.

Entretanto, isso apenas seria possível caso seus pais não existissem. Eles são as dificuldades de Jimin.

Relutante, ele engole suas reclamações, deixando também o restaurante e vagando junto dos outros pelas ruas iluminadas e movimentadas da pequena cidade na Bélgica. O inverno está próximo, e ele constata isso quando a brisa gélida do vento invade o sobretudo que veste sobre seu paletó velho.

Chae-young anda desnorteada. Com o olhar vago e amedrontado, caso não fosse alertada, haveria sido atropelada e arrastada para longe junto do carro que zarpou ao seu lado, tamanha era sua alienação. E por ela, tudo bem. Desde que não seja obrigada a trancar-se em um quarto com um homem praticamente desconhecido, estará tudo dentro do controle.

Mas, pesarosa, ela suspira. Não tem qualquer poder de escolha, a não ser obedecer seus pais, caso não queira ser xingada e rejeitada por todo o bairro.

Jimin para desanimado sobre o chão reluzente do hotel cinco estrelas, minutos depois. Sequer tem cabeça para vislumbrar as altas paredes de mármore brilhante, o lustre explodindo em um dourado ofuscante ou o enorme tapete que facilmente era mais caro que sua roupa. Tenta a todo custo atrapalhar a estadia, apertando diversas vezes os botões do elevador, na esperança de o quebrar e ser quase impossível subir até o quarto, até mesmo inventando que "o jantar não havia lhe caído bem".

ㅡ Mas você nem tocou na comida, impossível ter lhe feito algum mal ㅡ Yuna o dá uma cotovelada, notando a falha tentativa de escapatória do filho. ㅡ Ah, o elevador chegou ㅡ sorri doce, entregando a ele a chave do quarto.

ㅡ Aproveitem bem, mas com moderação.

Eles adentram o cubículo metálico, silenciosos, vendo pela fresta da porta que se fecha logo em seguida, ambas as famílias se despedirem animadas.

O ódio corrói seu peito.

Chae-young arrasta-se para o canto do elevador, tão calada quanto Jimin, com o olhar baixo e trêmulo. Abraça o próprio corpo com os braços ocupados por pulseiras de ouro, torcendo para que isso acabe de uma vez.

Pensamentos caóticos puxam Jimin para dentro de um mar de medo, totalmente submerso nas sensações agonizantes da incerteza. A tela eletrônica anuncia que chegaram ao sexto andar. O ruivo caminha esquisito pelos corredores, procurando qual é o quarto certo, de acordo com a comanda que recebeu junto da chave, e logo encontra a porta enumerada como 54. Seus dedos trêmulos encaixam a chave na maçaneta, destrancando a porta.

Reluta um pouco para finalmente adentrar o cômodo claro e chique, mas teria que fazer aquilo uma hora ou outra. A Kim o segue, totalmente acanhada, fechando a porta atrás de si.

Seus olhos amedrontados fitam Jimin do outro lado do cômodo. Quando o rapaz começa a tirar o sobretudo, ela treme.

ㅡ E-Eu...

Não consegue proferir nada.

ㅡ Ei, por favor, tenta se acalmar ㅡ de olhos vagos e uma tristeza pesarosa nublando seu rosto, Park finalmente consegue falar algo além de nutrir pensamentos assustados em sua mente anárquica. ㅡ Eu também não quero.

A mulher de vestido fica surpresa.

ㅡ Não quer? ㅡ Jimin nega novamente, com os olhos esbugalhados de desespero. ㅡ Então por que está tirando a roupa?

ㅡ Não sei como, mas caiu molho no meu sobretudo, tenho que limpar antes que manche! ㅡ ele esfrega o tecido afoito, antes de ter certeza de que conseguiu se livrar da sujeira e vesti-lo novamente.

ㅡ Oh...

O alívio presente na voz da Kim arranca de Jimin uma compaixão de doer. Ele nunca quis passar aquela sensação à alguém, muito menos à uma mulher. Entretanto, em hipótese alguma, poderia culpá-la por carregar em sua bagagem vitalícia aquele sentimento terrível. Ela não tem qualquer culpa por temer sua própria vida e liberdade.

ㅡ Eu juro, não quero. Não quero nada, nadinha mesmo! ㅡ ele rebate, totalmente aliviado por notar que o peso nas costas de Chae-young é arrancado. ㅡ E-Eu... ㅡ respira fundo, torcendo para que ela não conte isso a mais ninguém. ㅡ Eu sou gay. Não me atraio por mulheres, independente do sexo, ou sei lá, mas o problema não está em você... Bem, nem em mim... Na verdade não tem problema nenhum, e-eu só...

Seus lábios afoitos despejam as palavras de modo anárquico e nervoso, tagarelando, como sempre, ao se sentir pressionado. Ele imagina que ela grite ou saia correndo do quarto, baseando-se no quanto sabe sobre revelações inesperadas em momentos inoportunos.

Já está se preparando para ter que lidar com sua exposição nada agradável aos seus pais e conhecidos. Por míseros segundos, inicia o planejamento de sua vida a partir deste momento, entretanto, sem a presença de seus progenitores ou qualquer resquício de amor e afeto vindo deles. Um ardor surge por trás de seus olhos. Talvez essa tenha sido a decisão errada.

Mas para sua surpresa, Chae-young sorri.

ㅡ Sério? ㅡ ela gargalha cada vez mais aliviada, aos poucos, deixando sua vergonha e medo de lado. ㅡ Eu sou bissexual!

Jimin sente que pode explodir de alegria ali mesmo. Seus semblantes automaticamente tornam-se sorridentes.

ㅡ É a primeira vez que conheço alguém como eu! ㅡ Jimin expressa com o peito quente, totalmente acalentado pela paz. ㅡ Digo... É a segunda.

ㅡ Quem é a primeira?

Jimin parece viajar um pouco em suas memórias com a pergunta da garota, que vai ao banheiro se trocar.

ㅡ Ninguém importante.

ㅡ Isso não me pareceu muito convincente ㅡ grita do cômodo ao lado, voltando alguns minutos depois com o pijama enorme que o hotel disponibiliza.

Ela franze o cenho ao ver Park ajeitando o cabelo e conferindo sua carteira. Seus dedos tateiam o paletó, retirando qualquer resquício da inexistente sujeira que ele prefere evitar.

ㅡ Pensei que fosse ficar aqui sem fazer nada até amanhã para enganar nossos pais.

ㅡ Tenho que passar em um lugar antes...

Ele joga a chave do quarto nas mãos da garota deitada na cama, pronta para dormir sem preocupações.

ㅡ Vai encontrar aquela primeira pessoa?

Jimin quase gargalha.

ㅡ Nem se me pagassem um milhão de euros.

Ele despede-se rapidamente e corre quarto afora. Habilidoso, passa pela recepção sem ser notado, ágil feito um gato. A última coisa que quer é ser descoberto.

Com os pulmões repletos por ar gélido e os pés caminhando apressados sobre o asfalto, permite que um sorriso genuíno de prazer escape por seus lábios avermelhados. Pela primeira vez em anos, está em paz. Está livre, sem qualquer algema ou gaiola; mesmo que isso só dure, no máximo, por algumas horas.

E ele fará questão de aproveitar cada segundo.

Seu caminho vai tomando forma nas ruas de tijolos vibrantes da noite, iluminado também pela luz do luar acima de sua cabeça ruiva. Ele já conhece tal rumo. Conhece cada lojinha rústica nas esquinas, assim como cada morador que o cumprimenta, surpreso, por sua aparição repentina, após semanas sumido por aqueles cantos da cidade.

Quando seus ouvidos aguçados são capazes de, forma longínqua, ouvirem o soar das pessoas, ele tem certeza de que fugir do hotel e arriscar sua liberdade para sempre foi a melhor decisão tomada em sua vida.

Adentra as ruas tortuosas, descendo por becos vazios, em busca daquilo que lhe faz viver. Qualquer um que o veja ali, correndo afoito entre paredes de tijolos velhos e pouco alinhados, pensará que está perdido, vagando no nada, sem rumo e compaixão ao próprio tempo. Entretanto, ele sabe muito bem onde está se metendo, quando seus olhos, brilhantes de êxtase, avistam a luz do luar iluminando as ruínas do local onde guarda parte de si.

Sua respiração está falha. Um sorriso de felicidade nasce de forma genuína em sua boca, fazendo com que as pupilas escuras acompanhem seus passos, tornando-se apenas dois risquinhos cintilantes de prazer. Os pés ágeis derrapam no chão, quando o beco escuro dá passagem a um vasto campo, ocupado por carros estacionados às beiras e diversas pessoas que balançam seus rostos para lá e para cá.

Este é o motivo pelo qual "ele sumia, adoidado com sua bicicleta, e voltava sorridente, horas depois".

As ruínas de pedra de um antigo teatro tomam grande parte do ambiente. Formam, com seus blocos meramente destruídos, um local mágico. Um cético do amor o verá com os olhos do julgamento. Fará questão de manter-se longe dos destroços deste lugar que, um dia, foi o lar de diversos artistas. Mas Jimin o enxerga com o coração.

Após tanto tempo da destruição do teatro principal da cidade, ele foi abandonado. Os artistas perderam seus palcos e suas paixões. O bairro tornou-se novamente um local mórbido e sem qualquer resquício de esperança na felicidade genuína. Como loucos foram tratados aqueles que, de uma forma ou outra, ainda conseguiam crer nos estilhaços de fé que restaram após tanta guerra.

Entretanto, reergueu-se aos poucos. E desta forma, com muita persistência daqueles míseros loucos que ainda acreditavam na cura da arte, os moradores puderam voltar a florescer, naquele mesmo campo onde, um dia, tiveram suas vidas destroçadas em pedaços.

Jimin faria de tudo para levar alguém especial a tal lugar de tamanha importância. Gostaria de ver a reação de seu amante, quando fosse convidado e esperasse um belo e elegante teatro de paredes de mármore e bancos estofados, mas, no lugar, se deparasse com as mais lindas ruínas da arte.

Gostaria de ver alguém com o mesmo brilho no olhar que ele consome.

No interior circular das enormes colunas maciças e abaixo de um belo portal de pedras, encontram-se, de pé sobre o devastado chão sujo, os músicos. Cada um acompanhado por seu amado instrumento, formando uma enorme orquestra sinfônica. Seus rostos iluminam-se ao ver a vibração dos muitos espectadores que os envolvem com palmas.

Jimin adentra o meio da multidão, com o peito aquecido, cumprimentando os que conhece.

ㅡ Park, quanto tempo! ㅡ seu velho amigo que ali conheceu, Min Yoongi, o abraça com força. ㅡ Por que sumiu daqui? Os meninos sentiram tanto sua falta na plateia, e...

O ruivo ri com a animação do Min.

ㅡ Ocupado com os arranjos do noivado.

Yoongi se engasga.

ㅡ Noivado? ㅡ suas pupilas dilatam de espanto. ㅡ QUE NOIVADO?

ㅡ Shhh, fala baixo! ㅡ Park dá um peteleco no rapaz de fios negros. ㅡ E-Eu... Meus pais me obrigaram a me casar com uma mulher... Por dinheiro.

Yoongi sequer consegue soltar uma palavra. Seu semblante triste já diz o suficiente. Ele sente muito pelo amigo. O envolve em um abraço apertado e repleto de companheirismo, contando a ele, não por meio de palavras, que estaria ali para o ajudar a enfrentar tudo e todos, quando necessário.

Uma lágrima rola pelo rosto de Jimin, mas assim que a música começa a soar, ele faz questão de enxugá-la. Aquele não é um lugar para lamúrias. É seu jardim pessoal de renascimento.

O piano, envolto de violinistas apaixonados e ocupado por um pianista tão apaixonado quanto, começa a ser teclado. Seu som não é tão alto, devido ao número de pessoas que soltam cochichos, animadas; mas quando o burburinho vai sendo suprido pela música, o ambiente fica totalmente inerte.

Jimin acompanha, com os olhos brilhantes, os longos dedos de um de seus amigos, Kim Taehyung, deslizarem devagar pelas teclas brancas e pretas. Cada nota lenta é um passo à sua perdição. O som vai se intensificando lentamente, conforme o ritmo toma um rumo minimamente animado.

Experience...

O sussurro surpreso escapa pelos lábios gelados de Jimin, liberando uma pequena bolha de ar quente no vento. Ele conhece a música como a palma de sua mão. O coração do rapaz ruivo começa a bater com mais força.

O corpo do pianista balançando para os lados, mergulhado na melodia, logo é acompanhado pelos primeiros acordes dos violinos. De olhos fechados e ouvidos aguçados, Jimin se permite rir de felicidade, sentindo seus poros arrepiarem-se com cada vibração sonora que invade o local quieto e permanece da forma mais acolhedora possível.

Sua alma baila no peito, mergulhada num ritmo apaixonante. Isso é selvagem. Selvagem até demais para seu fraco coração, que bombeia o sangue com mais afinco quando o refrão começa a se aproximar de seus ouvidos. Ele prende a respiração. Seus dedos começam a balançar na minutagem exata das notas doces. Os pés sob os sapatos batem no chão, tentando liberar a descarga de êxtase.

Com os lábios rosados entreabertos, ele arrepia-se por completo quando os violinos se juntam num só ato. Entretanto, quando apenas um deles se sobressai entre as notas tão ferozes quanto doces e ecoa pelo campo de pedras, estremecendo tudo e todos, seus olhos se abrem instantaneamente.

As pupilas dilatadas vão, aos poucos, tendo seus brilhos substituídos. Eles tornam-se desacreditados. O genuíno sorriso de mostrar os dentes vai se apagando aos poucos, ao contrário da nota que é emitida, cada vez mais intensa.

O peito de Jimin se aquece, mas isso lhe faz paralisar na mesma hora.

Iluminado pela luz prateada do luar atrás de si, o rapaz alto e esbelto, trajado com uma calça jeans amarrotada, blusa preta e grande sobretudo do mesmo tom, surge ao olhar do Park.

Jungkook? ㅡ expressa num susssurro, sem mais qualquer reação, a não ser xingar mentalmente o maldito arrepio que nasce em seu estômago.

Os fios negros do Jeon voam com a leve brisa gélida, com o queixo apoiado sobre a queixeira de seu violino e dedos ágeis escorregando com maestria pelas cordas sobre o espelho preto do instrumento. As vibrações musicais que deixam seu violino através do grande arco de madeira, dançando com afinco sobre as cordas, viajam nos ouvidos do Park.

Jimin constata que ele continua queimando na paixão ardente da música, da mesma forma que o encontrou um ano antes.

ㅡ Ah, ele. Você se lembra dele? ㅡ Yoongi questiona confuso ao seu lado, o corpo bailando no ritmo de Experience. ㅡ Já o vi aqui diversas vezes com você, mas então ele desapareceu, e você nunca mais tocou em seu nome...

Jimin sente as pernas bambearem.

ㅡ Ele... Ele apareceu nos dias em que estive ausente?

ㅡ Sim, e aparentemente estava procurando por alguém. Tentamos ajudá-lo, mas ele disse que teria de fazer aquilo sozinho. Procurou feito um louco, em cada pessoa da plateia que nos assistia, não encontrou e, pelo visto, acabou desistindo.

As palavras que deixam a boca avermelhada do Min escorregam pelos ouvidos de Jimin como um anestésico. Seus olhos escuros não conseguem mais desprender o foco do homem que, naquele mesmo local, há um ano, fez florescer em seu peito algo que seria considerado um erro.

E o ruivo odeia ainda mais as benditas borboletas que surgem subitamente no pé de sua barriga, acompanhadas por uma descarga elétrica de adrenalina, pois da mesma forma que Jungkook plantou, ele colheu e descartou.

ㅡ Eu não acredito.

Yoongi escuta o sussurro de êxtase do amigo, encarando-o com a cabeça tombada ao lado.

As notas arrebatadoras que deixam o violino amadeirado de Jeon englobam o campo por completo. Seu corpo esbelto remexe de forma indomável, para lá e para cá, junto dos fios rebeldes na cabeça inquieta e acompanhando a música ardente que seus dedos soltam com tanto prazer. Está mergulhado de cabeça e âmago naquele mar de amor. O peito, aquecido por cada cifra decorada nas gavetas empoeiradas da mente, salta com afinco.

Aos ouvidos de Jungkook, cada nota é mais um passo cometido no árduo caminho à sua loucura. É assim que ele se intitula. Um louco pela arte.

ㅡ Notamos que ele tem colocado a frustração da ausência daquele alguém, nas últimas apresentações que fizemos. Já é a quarta vez que ele pede para tocarmos essa mesma música... ㅡ Yoongi solta um muxoxo, curioso. O ruivo continua cada vez mais distante. ㅡ Acho que aquela pessoa era muito importante para ele.

As pernas paralisadas de Jimin continuam fincadas sobre a grama escura.

Um pensamento desesperado e nunca mais visto em sua mente faz seu coração saltar em surpresa. De olhos assustados, ele nega veementemente. Não quer passar por isso de novo. Não permitiria que aquela primeira pessoa lhe causasse mais dores de cabeça. E para si, o sabor mais amargo daquela memória é saber que não apenas sua cabeça doeu.

Seu coração sofreu um impacto ainda mais avassalador.

ㅡ Eu acho que... ㅡ ele suspira, dando pequenos passos para trás. ㅡ Acho que vou embora.

Min Yoongi entra em seu caminho.

ㅡ O que aconteceu? Olha, se o Jungkook tiver te feito algo, eu bato um papo bem sério com ele, expulso ele daqui com um pé na bunda e...

Jimin não consegue prestar atenção no rapaz baixinho, mas ainda de seu tamanho, que fala aflito perante si, segurando seus ombros. Os olhos de Jeon, que abrem de forma inesperada através das lentes do par de óculos redondos, focam nos seus, em meio a multidão.

As faíscas brilhantes das pupilas negras e circulares, do rapaz de fios rebeldes, arrancam todo o ar dos pulmões de Jimin. Apesar de compartilhar concentração com o violino que ainda é tocado sobre seus braços, Jungkook sequer consegue tirar sua atenção do rapaz ruivo e de olhos marejados que o encara de volta, há alguns metros de distância.

Seus dedos ágeis não perdem uma nota sequer. Entretanto, seu coração cambaleia feito um embriagado. E com o peito queimando, Jungkook tem certeza de que está fora de si. A paixão por um ruivo o embriaga por completo.

As últimas notas são tocadas com maestria. Ofegante e trêmulo, Jungkook suspira aliviado, com um pequeno sorriso nos lábios. Os outros músicos juntam-se perante a plateia, inerte em palmas e gritos entusiasmados, e reverenciam, de mãos entrelaçadas, aqueles que lhes fazem persuadir na alimentação à vida.

Mas num salto de adrenalina, os pés de Jeon apenas correm de forma afoita na direção daquele rapaz que o encara, paralisado. O vento frio bate contra seu sorriso largo e seus olhos quase fechados, por um prazer imensurável e que lhe corrói o coração, gota por gota, neste anestésico que o desconecta de qualquer preocupação.

ㅡ JIMIN! ㅡ o grito animado rasga a garganta do Jeon.

Os pés derrapam imediatamente perante o homem ruivo que, por pouco, não solta um sorriso melancólico, ainda parado na grama. Seus lábios não soltam qualquer palavra. As pupilas desacreditadas ainda estão muito ocupadas, doando todas as suas atenções ao rapaz alto, de roupas escuras e violino nas mãos, que o assiste ofegante, como uma criança descobrindo o mundo pela primeira vez, num sorriso desestabilizador.

ㅡ Jimin... ㅡ Jungkook sussurra com voz embargada, sentindo os olhos queimarem numa gota d'água que escorre por sua bochecha rosada.

ㅡ Ei, não fale com ele ㅡ Yoongi intervém, colocando-se na frente do Park.

O semblante alegre de Jeon se desmancha.

ㅡ Yoongi, e-eu preciso muito falar com ele... É-É muito importante! Por favor, me deixe...

O Min nega, cínico.

ㅡ Yoongi ㅡ o sussurro finalmente deixa a garganta de Jimin. Ele empurra levemente o amigo para o lado. ㅡ Está tudo bem, pode deixar comigo.

Uma explosão causa um estrago no peito de Jungkook. Aquela voz.

Yoongi concorda e se retira rapidamente. Jimin sabe o que está fazendo. O corpo do violinista voa ao encontro do Park, afoito.

ㅡ Jimin, eu estive te procurando durante o ano inteiro, e... Puxa vida, eu sinto que irei explodir ㅡ Jungkook vomita palavras, gesticulando com as mãos de modo nervoso e ajeitando seus óculos incontáveis vezes. ㅡ E-Eu preciso muito me desculpar com você... Pindarolas, eu vou morrer do coração. Olha, nós podemos...

ㅡ Estou surpreso que tenha melhorado tanto desde a primeira vez que te ouvi tocar naquele trem.

A boca de Jimin se curva num genuíno sorriso. Jungkook sente flechadas no peito.

ㅡ Você não tem ideia do quanto eu senti a sua falta...

ㅡ Mas acho que o nosso primeiro encontro, naquele mesmo trem, deveria ter sido o primeiro e último.

A fala que escapa pela garganta de Jimin nocauteia Jeon. Seus joelhos fraquejam de modo dolorido. As palavras parecem fugir de sua língua.

ㅡ Me desculpa.

Jimin quase gargalha.

ㅡ Desculpa? ㅡ questiona, sentindo uma lágrima descer quente por sua bochecha. ㅡ Você literalmente desapareceu ㅡ aponta o dedo no peito do rapaz, enraivecido, e então, ao seu próprio. ㅡ Você fez algo nascer aqui, Jeon. Algo que eu tinha medo de deixar nascer novamente.

Os olhos de Jungkook tornam-se espelhos d'água.

ㅡ E você sabia que eu tinha medo, mas mesmo assim, deixou nascer ㅡ a voz do Park falha. ㅡ E ainda está aqui, Jungkook. Está do mesmo jeito que você deixou, antes de sumir por um ano. Mas eu não quero que cresça mais, e sinto raiva por ter alimentado isso com o resto de esperança que eu tinha em nós.

Cada sílaba proferida deixa o de fios escuros ainda mais tonto. Ele não consegue falar nada, além de soluçar.

ㅡ Então, agora, eu preciso deixar morrer.

Com as pernas frágeis e voz embargada, Jimin dá as costas ao rapaz que mira o nada, sem chão. O coração do ruivo palpita de modo torturante. As suas palavras, jogadas ao ar, não são falsas. Os sentimentos expostos, naquela complexa situação de vulnerabilidade, não são falsos.

Mas uma mentira acabou por escapar. Ele sabe que é impossível arrancar a vida de algo imortal.

ㅡ E-Eu...

Seus poros se arrepiam novamente com a voz mansa e acolhedora de Jungkook, que soa atrás de si. Jimin nunca poderia negar. Jamais conseguiria evitar aquilo que ainda o deixa sonhador como um garoto.

ㅡ Eu vim me desculpar e... Bem, agora, me despedir ㅡ Jungkook, esmagando o violino sob seus dedos nervosos, profere, abalado.

ㅡ Se despedir? ㅡ o Park cessa seus passos. ㅡ Pelo menos, dessa vez, vai ter uma despedida. Adeus, Jeon.

O instrumento, nas mãos do homem trêmulo, é ainda mais apertado entre os dedos com pontas brancas por esforço. Ele tenta suprir sua vontade de explodir, ali mesmo, em lágrimas tortuosas e vergonhosas. Engole a seco.

ㅡ N-Na verdade, eu tinha vindo me desculpar e... ㅡ ele retira uma pequena fita cassete do bolso do longo casaco negro, envergonhado, aos gaguejos. ㅡ Te entregar isso. Sei que Experience é a sua música favorita, então pedi um gravador emprestado a um amigo e recordei ela aqui, com os acordes do meu violino.

Jimin vira-se novamente, quando Jeon deixa em suas pequenas mãos, o aparelho gélido e amarelo.

ㅡ Se você quer que nunca mais nos falemos, irei respeitar isso, mas... Por favor, leve isso com você.

O ruivo engole seus pensamentos. Enxuga os olhos avermelhados, fungando com o nariz no mesmo tom. O violinista à sua frente tenta inutilmente encontrar as palavras.

ㅡ Eu tenho que ir.

Desnorteado, Jimin vê Jeon deixar o local em passos perdidos. O tronco do moreno chacoalha de forma longínqua, enquanto um dos braços esconde a face avermelhada. Suas lágrimas tortuosas lavam o sobretudo negro.

Os olhos atentos de Yoongi caem sobre Jimin. Ele corre em sua direção, mas quando nota, o ruivo já perambula sozinho para fora do teatro, esquivando-se entre as mesmas paredes terrosas que amargamente o levaram àquele reencontro abrupto.

Ele quer falar. Precisa expressar com palavras tudo que está minando em seu peito. Sente a necessidade de contar ao mais novo sobre as estrelas que ainda brilham em seu céu escuro, ocupando o lado esquerdo de seu peito.

Mas igualmente como as estrelas que piscam e o iluminam, o orgulho lhe toma o coração. Corrói seus pensamentos, absortos num mar de melancolia, e o Park permite isso. Permite que o sentimento lhe deixe tão embriagado quanto Jeon é diante sua paixão que, agora, finda de modo inesperado.

Os pés do ruivo começam a correr pelas ruas gélidas, escorregando poucas vezes sobre o sereno que cai e banha o asfalto, numa falha tentativa de limpar o coração quebrado do rapaz. A fita cassete amarela, esmagada por suas mãos trêmulas, quase é arremessada contra a parede, quando num grito doloroso, Jimin cai de joelhos perante uma velha loja de penhores. De cabeça baixa e peito afogado por lágrimas, ele permite que elas caiam sobre o chão de tijolos.

Levanta-se aos arrastos, de olhos vagos e dormentes, mudando o rumo do hotel à sua casa. Que se danem seus pais. Que se dane o dinheiro. Que se dane sua futura noiva, e a ilusória e próspera vida de mentiras que lhe aguarda como a morte aguarda seus filhos, velhos de alma, à espreita, num olhar escondido sob a sombra.

Quando nota, o ruivo joga-se contra a porta de entrada da sua pequena casa, batendo-a atrás de si e tropeçando sobre as escadas velhas da sala. Mais um grito inesperado rasga sua garganta ao invadir o quarto minimalista e avistar, sobre sua estante abaixo da janela, o único origami, verde como Jade, que sobrou após uma despedida abrupta quanto às suas lembranças relacionadas a Jungkook.

As mãos trêmulas jogam a fita na cama. O aparelho se parte ao meio. Seu olhar úmido que ocupa os lumes avermelhados divide espaço com a curiosidade.

Ele se aproxima, tateando a cor amarelada e selvagem com os dedos gelados. Sentado de forma desleixada sobre a cama, respira fundo, deslizando as falanges no pequeno pedaço de papel que só agora nota existir, em um dos lados da fita. A caligrafia de tons escuros e letra delicada, que Jimin tão bem conhece, intitula o novo dono do aparelho.

"Para Park Jimin, não apenas o dono desta fita, mas também de meu coração."

Ele retira a pequena fita preta de dentro da capa plastificada do aparelho. Analisa ela com cuidado, antes de retirar a folha dobrada de modo caprichoso e igualmente calculado. Sabe que Jeon sempre fora bom em dobraduras de papel.

O ruivo abre a folha, doando atenção às diversas linhas ocupadas por palavras, deixadas pelo violinista, em rabiscos enobrecedores. Jimin se engasga.

"Olá Jimin,

Você não tem ideia de quantas vezes eu planejei isso. Essa mesma frase, simples e boba, dita diversas e incontáveis vezes, em diversos e incontáveis papéis amassados. Por favor, não me pergunte o motivo de tanto espetáculo... Eu não sei se seria possível explicá-lo de modo simples, sem o sufocar com minhas juras de amor que agora, provavelmente, deixam-no farto.

Sendo sincero, eu não planejava o enviar isto e compartilhar com você este meu momento vergonhoso ao invés de simplesmente guardá-lo comigo, como sempre fiz desde que sumi de sua vida. Mas eu o devo desculpas. Lhe devo desculpas por ter sido um tolo com você. Não houve um dia sequer que eu não fosse dormir, implorando às estrelas para que me permitissem o dizer isso pessoalmente, cara a cara, como éramos antes de tudo. Acredite, eram longas conversas com os astros. Mas, por favor, também acredite que nada disso, apesar de imperdoável, tenha sido algo de minha escolha.

Eu jamais escolheria ficar longe daquele que, pela primeira vez em toda minha mísera vida, deu-me a possibilidade de nascer verdadeiramente, transbordando aquilo que bem me ensinou. Nunca imaginei que poderia aprender a amar, e muito menos que após tanto tempo, continuaria transbordando, afogando-me nas lembranças que seu coração deixou marcadas em meu peito.

Eu gostaria de ser capaz de abrir as feridas que ainda pulsam, ardentes em minha mente, e o contar sem qualquer pudor sobre tudo aquilo que nos arrastou até aqui, mas infelizmente, a cicatriz ainda não foi completamente fechada. Aparentemente, o exército o dispensa ao notar que há algo errado com sua saúde.

Talvez nossos olhos nunca mais se encontrem após esta carta. Caso seja de sua decisão permitir que isso ocorra, irei compreendê-lo, e que assim seja.
Apenas quero que saiba, Jimin, que do fundo do meu coração, lhe desejo os maiores bens da vida. Torço todos os dias para que a felicidade o atinja, uma hora ou outra, assim como você me atingiu, em meio aos meus acordes de violino naquele trem, assim como nos outros diversos encontros no teatro. Obrigado por ter sido a razão de minha euforia incessantemente infinita.

Nossos origamis ainda estarão colorindo meu coração, como coloriram as tardes cinzentas, nas quais você pincelou com seus pedaços de vida. Espero que algum dia, eu seja capaz de enviar-lhe as infinitas cartas que o aguardaram ansiosamente em minhas gavetas, durante 365 noites estreladas.

Com embeiçamento,
Jeon."

Um aperto sufoca o peito de Jimin. Estático e sentindo a gota d'água molhar sua bochecha, ele perde a fala. Todas as suas sílabas são engolidas, abandonadas sob a língua que implora para despejar as palavras tão ardentes que guarda há um ano.

Seus olhos mórbidos caem sobre o pequeno relógio de bolso, jogado sobre sua estante. As lágrimas voltam a rolar. Jimin se abaixa perante sua cama, com os dedos afoitos arranhando o piso de madeira. Com afinco, ele retira uma tábua do chão, revelando o esconderijo onde guardou parte de si, tanto quanto guarda sua alma nas ruínas do teatro.

Diversas folhas são reveladas, abandonadas entre a poeira do chão amadeirado. Ele as retira do escuro, expondo novamente todas as suas tentativas não correspondidas à luz do luar que invade a janela. Todas as cartas que inutilmente enviou à Jeon, tendo como resposta, o vazio das palavras. Elas sempre voltavam para si, como um doloroso imã sob sua pele.

Engasgando-se no mar de lágrimas, ele carrega as cartas com os braços perante o peito, jogando-as sobre a cama. Bilhetes preocupados. Conversas banais jogadas fora, que apenas os dois seriam capazes de compreender sem um mínimo esforço. Notícias boas que sentiu-se na obrigação de compartilhar com seu amante, assim como as más. Todos os papéis amassados e coloridos por selos tomando sua visão turva.

Jimin sente os lábios de Jeon tocarem seu pescoço, como tanto gostava de fazer. As mãos habilidosas adentram seu cabelo, acariciando-o de forma acolhedora. O ruivo deita-se entre as diversas cartas, abraçando a mensagem deixada para si, por Jungkook, no papel amarelado.

A amargura do venenoso arrependimento, mesclado de forma pecaminosa junto do orgulho, corrói a garganta do Park, escorrendo de forma densa e sufocante. As lembranças fazem-o sentir o corpo quente do violinista sobre si, enquanto sua voz vívida lhe dá um motivo pelo qual se vale viver, entre os sussurros com hálito de cereja e beijos pelo peito.

Enrolado pelo véu da saudade, entre as palavras que o rodeiam sobre o tecido fino da cama, ele vê o ponteiro do relógio marcar mais um minuto. Este, que gasta afundando em sua própria armadilha.

Submerso sob um mar de incerteza e lágrimas que, agora, purificam seu âmago, Jimin chega à conclusão de que são duas cordas tão opostas quanto Mi e Sol, entrelaçadas de modo caótico e ainda distante sobre o espelho negro do violino que movimenta suas vidas.

Ele aperta a carta de Jungkook contra o peito, desejando que, de uma vez por todas, os astros também atendam ao seu pedido feito todos os dias, durante 365 noites estreladas. Talvez fosse possível que suas duas cordas, presas uma à outra, os levassem a incertos passos, no caminho à uma desconhecida melodia.

E num suspiro tão embargado quanto o nó em sua garganta, ele sente-se derrotado.

ㅡ Cordas entrelaçadas não emitem melodia alguma.

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