Não sei que horas peguei no sono, mas com certeza estou me sentindo ótima, a não ser por esse ventinho quente que sinto no meu rosto, o que é totalmente fora do normal. Então, vou abrindo os meus olhos lentamente, tentando me acostumar com a claridade que está entrando pelas janelas, que dão para o fundo do lago negro.
Quando finalmente abri meus olhos, consegui ver Draco. Estávamos deitados de frente um para o outro, e ele segurava minha mão firmemente, de modo que eu quase não a sentia mais, de tão forte que ele a segurava.
— Draco — Falo de forma baixa.
— Hum — Resmungou de modo sonolento.
— Já amanheceu — Falei, olhando seu rosto.
Então, ele lentamente vai abrindo os seus olhos, olhos esses que me fazem perder o fôlego, como uma manhã de Natal.
— Bom dia — Ele fala, me olhando nos olhos.
— Bom dia — Respondo baixinho.
— O que foi? — Pergunta, analisando todo o meu rosto.
— Seus olhos... Eles são lindos — Falo num surto de sinceridade.
— Eu prefiro os seus, me lembram o oceano — Diz, ficando vermelho.
— Os meus são comuns... Já os seus não, eles escondem muitas coisas, me intrigam como uma nevasca — Falo, olhando-o fixamente.
— Você consegue enxergar — Diz baixinho.
— Você pode enganar com as palavras, Draco — Falei, tocando levemente seus lábios frios. — Mas não pode mentir com o seu olhar... Não pode mentir para mim — Falo, voltando a olhá-lo nos olhos.
— Não pense que não sei quando está escondendo algo de mim também, Lynx — Disse, me olhando de forma profunda. — Eu nunca vou te abandonar e vou sempre te proteger — Diz baixinho.
— Eu confio minha vida a você, Draco, nunca pense que eu te deixaria por qualquer motivo que fosse — Falo com um pequeno sorriso.
— Hum... Ontem, Flint me avisou que hoje seria meu primeiro treino como apanhador — Diz, nervoso.
— Então, o que estamos fazendo aqui ainda? Anda... Você precisa ir para o seu dormitório sem que ninguém te veja ainda — Falo, me levantando e colocando meu robe.
— Eu tinha me esquecido completamente — Fala, se levantando com um salto e indo calçar seus sapatos. — Te espero no salão comunal, Lynx... E bom dia novamente — Diz, já na porta, com um pequeno sorriso.
— Bom dia, Draco — Respondo com um sorriso.
Eu me vesti com extrema animação, minha testa não tinha mais uma abertura igual à de ontem, e se não fosse a vermelhidão por causa da pele nova que tinha se formado, ninguém diria que tinha acontecido algo.
Então, depois de colocar meu uniforme da Sonserina, me sentei na penteadeira para passar um pouco de pó no rosto, assim escondendo a vermelhidão da ferida cicatrizada. Passei também um pouco de blush para realçar as minhas bochechas e um gloss rosinha.
Logo, passei para o meu cabelo, fazendo um coque com alguns fios soltos e colocando uma presilha com formato de dragão e um coração de rubi. Ele estava se destacando bastante nos meus cabelos loiros quase platinados e também combinava com a minha aliança, juntamente com os meus brincos de dragões com olhos de esmeralda e uma pedra enorme de rubi; o que me fez pensar que hoje era o dia do dragão, literalmente.
Também fiz uma magia muito simples de pintar as unhas. Essa magia tinha sido Tinker a me ensinar; eu só tinha que me concentrar nelas e na cor que eu queria que elas ficassem. Então, um preto fosco surgiu, colorindo as minhas unhas.
Draco e os garotos já me esperavam no salão comunal para irmos tomar café da manhã. Ele estava escondendo muito bem seu nervosismo, mas não podia esconder nada de mim; eu já o conhecia muito bem para ser enganada.
— Então, e a história das vassouras novas? — Perguntei, tentando quebrar um pouco do nervosismo de Draco com algo que ele gostava.
— Papai comprou uma Nimbus 2001 para mim e, como uma amostra de seu orgulho, comprou para o time inteiro também — Disse com um sorriso sincero. — Elas ainda nem chegaram às lojas Lynx — Falou, tomando um gole do seu suco.
— Isso é incrível, Draco! Vai usar o uniforme hoje? — Perguntei, também animada.
— Com certeza! Quero estar no meu melhor para o meu primeiro treino como um jogador oficial da Sonserina. Severus até deu permissão para podermos treinar mais tempo hoje.
— Eu e os garotos vamos te ver treinar, não é mesmo, Crabbe e Goyle? — Afirmo, olhando séria para eles, que não paravam de enfiar comida na boca.
— Sim, sim — Disseram juntos, com as bocas cheias e acenando com as cabeças.
— Papai disse que vai vir no meu primeiro jogo. Mamãe não vai poder vir, nem seu pai, mas no próximo eles disseram que iam vir — Fala com extremo orgulho.
— Isso vai ser incrível! Agora coma a sua maçã, já está quase na hora de você ir, e eu e os meninos vamos te encontrar no pátio — Disse, fazendo os meninos se levantarem.
Então, Draco seguiu para um lado e os meninos e eu para o outro, assim esperando Draco e o time.
— Estão demorando, não acham? — Perguntei a Crabbe e a Goyle.
— Devem estar tirando fotos. Flint gosta de se mostrar para os outros — Goyle responde.
— Sim, ainda mais que o pai de Draco deu vassouras novinhas para eles — Crabbe completa.
— Esse é o último ano de Flint, não é mesmo? — Pergunto curiosa.
— É sim... Você está com um brilho estranho nos olhos — Goyle fala.
— Não precisam se preocupar, só acho que se Flint sair, Draco tem grandes chances de se tornar o capitão do time — Falo com um pequeno sorriso.
— Isso seria incrível! Seríamos ainda mais populares — Crabbe fala animado.
— Já somos superiores, Crabbe — Goyle diz, dando um tapa nele.
— Por que vocês não entram para o time? Assim poderiam ficar perto de Draco — Falo, olhando para eles.
— Não sei não, Draco não ia gostar de te deixar sozinha — Crabbe fala, cético.
— Eu sei me cuidar sozinha — Falo, revirando os olhos.
— Eu não vou discutir com Draco, ele é seu marido — Crabbe fala essa parte em voz baixa.
— Somos noivos, não marido e mulher — Falo, revirando os olhos.
— Draco disse a mesma coisa hoje — Goyle fala, rindo, o que fez Crabbe rir também.
— Como assim? — Pergunto, não entendendo nada.
— Ele não voltou para o dormitório ontem e chegou bem cedo hoje. Sorte dele que Zabini estava dormindo feito pedra — Crabbe fala. — Mas já estávamos acordados quando ele apareceu no quarto.
— Vocês realmente amam ele, não é mesmo? Até acordaram cedo para saber onde ele estava — Disse, sarcástica.
— Sabíamos onde ele estava, só não sabíamos se ele demoraria — Goyle responde.
— De qualquer modo, acobertem seu melhor amigo — Falo, olhando para eles.
— O segredo de vocês não será descoberto por nossa causa — Crabbe diz com convicção.
Eu apenas concordo com a cabeça, já que esses dois poderiam ser mais leais que cães de guarda treinados.
— Desde que hora aqueles dois estão ali? — Pergunto depois de um tempo.
— Acho que desde que chegamos aqui — Goyle fala.
— Olhem o time da Grifinória — Crabbe aponta.
— E o da Sonserina — Fala Goyle, apontando para o outro lado do corredor.
— Onde pensa que vai, Flint? — Wood, o capitão do time da Grifinória, se pronuncia, aumentando a velocidade para poder ficar frente a frente com Flint.
— Treino de quadribol — Flint responde com um sorriso sarcástico.
— Eu reservei o campo hoje para o time de quadribol da Grifinória — Wood fala sério.
— Calma... Eu tenho permissão — Flint responde, entregando-lhe um pedaço de pergaminho.
Então eu escuto o Weasley falando algo e se levantando juntamente com a Granger para ir em direção aos meninos.
— Os cabeças ocas estão indo salvar o dia — Goyle fala.
— Então nós vamos lá tornar tudo mais difícil — Falo, me levantando e indo pelo mesmo caminho, com Crabbe e Goyle ao meu lado.
Chegamos a tempo de escutar a leitura do pergaminho que Wood segurava.
— "Eu, professor Severus Snape, dou a minha autorização para o time de quadribol da Sonserina treinar hoje, diante da necessidade de instruir o novo apanhador do time"... Novo apanhador? Quem é? — Wood pergunta, com confusão estampada no rosto.
Então, os garotos da Sonserina abrem espaço para Draco ir até à frente, já que o mesmo estava escondido no meio deles.
— Malfoy — Potter diz, surpreso, se aproximando mais de Draco.
— Isso mesmo, e não é a única novidade deste ano — Draco diz, com seu típico ar de superioridade, mostrando sua nova vassoura, assim como o time inteiro.
— São Nimbus 2001... Como conseguiram? — O Weasley pergunta, se aproximando, claramente chocado.
— Presente do pai do Draco — Flint responde, orgulhoso.
— Sabe, Weasley... Ao contrário de alguns, o meu pai pode comprar o melhor — Draco fala, sarcástico.
— Pelo menos ninguém da Grifinória pagou para entrar no time; só entrou quem tem talento — A Granger se intromete, respondendo de modo petulante.
— Draco não pagou para entrar, ao contrário de outros que entraram por pura fama — Falo, me aproximando deles.
— Harry não entrou por fama — Granger retruca, se aproximando de mim.
— Então me responda: como alguém que nem sabia o que era quadribol antes conseguiu entrar para o time em um piscar de olhos? — Falo, olhando-a de cima à baixo.
— E como esse oxigenado conseguiu entrar sem pagar? — Fala, me olhando brava.
— Como ousa, sua...
Sou cortada por Draco, que coloca sua mão no meu ombro e toma a minha frente, encarando profundamente a Granger.
— Ninguém pediu a sua opinião... Sujeitinha de sangue ruim — Draco fala, me tirando de perto dela.
— Você vai pagar por isso, Malfoy — O Weasley diz, apontando a varinha para Draco.
— Nem pense, Weasley — Falo, apontando minha varinha para ele também.
— CARA DE LESMA — ele grita.
Eu tinha entrado na frente de Draco, que apenas conseguiu soltar um longo suspiro de susto, mas, felizmente, nada tinha nos atingido, já que a varinha do Weasley estava quebrada e o feitiço ricocheteou no mesmo, lançando-o alguns metros para trás.
Ele ficou sem entender nada do que tinha acontecido, até começar a ter ânsia de vômito e cuspir lesmas enormes por todo o gramado.
Então, todos correram até ele para ajudá-lo, e o garoto estranho que ficava tirando fotos imediatamente bateu uma, o que me fez rir ainda mais.
— Eu pago cem galeões por essa foto, garoto — Falei de modo zombeteiro, atraindo um olhar mortal da Granger.
Então, o Potter saiu arrastando o Weasley para longe de lá, e o time inteiro da Grifinória foi embora junto, mas não antes de nos lançarem olhares de ódio, como se nos importássemos com isso.
— Agora que o show acabou, vamos treinar — Flint diz, logo saindo andando na frente.
— Lynx, nunca mais entre na minha frente; aquele feitiço podia ter atingido você — Draco diz, me puxando para debaixo de uma árvore.
— Eu sabia que o feitiço dele não ia funcionar. Por Merlin, a varinha dele está remendada com fita... E eu sempre vou te proteger, Draco — Falo, olhando-o de maneira séria.
— Não vai não, ainda mais se me proteger for custar sua integridade física... Eu agradeço por sua preocupação, mas eu não ia saber lidar com a possibilidade de ter você machucada novamente por minha causa — Fala, coçando os olhos e me olhando de modo sério também.
— Nós dois fizemos um juramento de proteger um ao outro, Draco, e chega dessa discussão. Você precisa ir treinar — Falo, me afastando dele. — Vá, eu e os garotos vamos estar na arquibancada te assistindo — Sentencio com um pequeno sorriso.
— Está bem, está bem — Draco diz com um suspiro, não muito contente com o fim abrupto da nossa discussão, mas ainda assim me lançando um pequeno sorriso de volta.
Nós quatro fomos até o campo, e de lá Draco foi direto para o treinamento dele, ao qual se saiu muito bem, por sinal. Ele estava animado e conseguiu pegar o pomo de ouro várias vezes em um ótimo tempo. Mas o que realmente me preocupava era a rivalidade que Draco poderia estar criando dentro de si contra o Potter, e, conhecendo-o da maneira que eu conhecia, isso poderia atrapalhá-lo, e muito, por sinal.
No final do dia, fomos todos para nossos devidos dormitórios. Draco estava exausto e nem quis jantar, o que causou uma revolta por parte de Crabbe e Goyle. Então, eu lhes disse para trazerem duas tortinhas e uma maçã verde para ele e deixarem em sua mesinha de cabeceira, o que eles prometeram fazer.
Antes de dormir, enviei uma carta para meu pai dizendo que estava tudo bem, que Draco tinha sido fantástico no seu primeiro dia de treino, mas que estava meio preocupada com a rivalidade que estávamos criando com o Potter e seus amigos, e que estava com saudades dele, e que queria muito que ele estivesse aqui no dia da partida de quadribol de Draco, mas que entendia o motivo dele não poder vir.
Também mandei uma carta para Narcisa contando sobre Draco e de como vinha me sentindo com toda essa proximidade, e também minhas preocupações, e que esperava que tudo ficasse bem, e que era uma pena ela não poder vir ao jogo, e que também estava com saudades dela e das tortinhas de cereja, é claro.
Depois disso, eu fui dormir, já que tinha sido um dia muito turbulento, mas que havia valido a pena. E eu só esperava que nada de ruim acontecesse, já que sentia algo ruim pairando no ar.