Efeito Pigmaleão

By zarthas

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Observando da janela, Jeongguk desenvolve um certo fascínio por seu vizinho artista. Disposto a tê-lo em mãos... More

Capítulo Único

Extra: Detalhes do Amor

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By zarthas


Oi, gente! Então, me apegando tanto aos personagens dessa fanfic, resolvi fazer esse extra para matar a saudades. Bem, ele saiu um pouquinho do controle e ficou enorme e extremamente boiola, sério, tem ALTAS doses de>

humor, vergonha alheia, um draminha clichê, e uma dose gigantesca de muito amor. Pode haver um leve gatilho sobre inseguranças, mas é isso, o resto é só doçura. Espero que gostem e se divirtam, essa fanfic foi criada com esse intuito: diversão. Afinal, rir é resistência. E foi maravilhoso escrevê-la. E foi muito bom no capítulo passado ler vocês rindo, de verdade, é a maior satisfação <3 

Enfim, é só isso. Obrigada por todo carinho que ela recebeu. Boa leitura e aproveitem sem moderação. Betado pela vminsure, jaizinha muito obrigada <3


— Não é daddy kink, é uma piada interna, Seokjin. — Jeongguk explicou ao telefone enquanto adicionava mais farinha na massa do bolo de morango que preparava.

Ele e Taehyung estavam comemorando três meses de namoro naquele dia e como não sabia o que fazer, decidiu ser prático e afetivo. E nada melhor que um presente feito com as suas próprias mãos mágicas e abençoadas (Taehyung que disse uma vez).

Mesmo assim, é estranho, eu ouvi você chamar seu namorado de papaizinho. — A voz de Seokjin soou enojada no alto-falante do celular.

— Deixa de ser chato. Pronto, adicionei a farinha e agora é só colocar no forno — disse orgulhoso, terminando de colocar a massa na forma. — Espero que ele goste.

— Claro que vai gostar, eu que te ensinei a fazer.

— Estou nervoso com o presente que ele vai me dar — confessou, fechando o forno e sorrindo satisfeito com o trabalho duro.

Piroca?

Arregalou os olhos quando o amigo disse, engasgando em uma risada. O mais irônico nisso tudo era que ele e Taehyung não tinham chegado aos finalmente por alguns motivos que nem mesmo ele sabia dizer. Mas isso não significava que não poderia usufruir do que Seokjin sugeriu.

— Pelo amor de Deus, que conversa é essa? —‌ A mãe de Jeongguk perguntou, surgindo na cozinha. —‌ Olá, Seokjin —‌ gritou para o telefone.

Boa noite, Jô, estava comentando que seu filho ainda não experimentou o melhor da vida.

—‌ Ah, sim, concordo, e com um namorado daqueles é até impossível de acreditar que você se levante dele —‌ disse ela, revirando os olhos. —‌ Se fosse na minha época... Não concorda, Jin?

— Mãe!

Não curto muito a terceira idade, Jô, mas concordo!

— Vai se foder, ele tem só vinte e sete!

Ela sorriu, mandando um beijinho no ar.

— Puta que pariu, filhote, que bagunça você aprontou, vai limpar tudinho.

Jeongguk suspirou, assentindo com um biquinho.

—‌‌ Amigo, vou ter que terminar de hidratar o cabelo. Te vejo no seu jantar de namoro. Tchau, Jo! —‌‌‌ Seokjin disse antes de desligar.

—‌‌‌ Limpa! —‌‌‌ A mãe de Jeongguk disse séria, apontando para toda a bagunça antes de sair da cozinha.

Jeongguk olhou ao redor e sentiu vontade de chorar pela preguiça que o dominou; a cozinha tinha virado um verdadeiro campo de guerra, com farinha de trigo e ovos até no teto. Poderia muito bem ter comprado um bolo na confeitaria a duas quadras dali, mas não teria a mesma sensação de dever cumprido, de algo feito com todo seu carinho para o seu ursinho favorito.

Sorriu, imaginando que Taehyung adoraria seu bolo. Ele mesmo tinha escolhido os melhores morangos do supermercado e comprou muitos porque eram os favoritos dele.

Namorar Taehyung era muito melhor do que imaginava que seria. Era como viver uma fanfic, aquelas que ele lia no Wattpad que, depois de algum draminha, o casal finalmente viveria feliz para sempre. Taehyung era atencioso e, apesar da clara diferença de gostos, acabavam encontrando coisas em comum no meio disso tudo. Ele sempre ouvia Jeongguk, dava os melhores conselhos, ensinava e aprendia nesse relacionamento, e, às vezes, o coração chegava a doer de tanto amor que sentia por ele.

Com toda certeza era amor. Dos grandões. Daquele que faz as pernas tremerem, as mãos gelarem e apenas pensar no bem estar da pessoa, ainda sentir que poderia fazer qualquer coisa para ver o outro feliz. Qualquer coisa mesmo. Jeongguk até começou a ouvir Ed Sheeran por conta disso, ele tinha um repertório bastante meloso e clichê, que calhava muito bem com a sua real situação. Até seus sábados consistiam em programas caseiros; passavam a tarde tomando limonada na varanda, ouvindo as músicas favoritas de Taehyung e, para equilibrar tudo, fofocando. Taehyung adorava fofocar, e Jeongguk não era diferente. E descobriram que nada mais une um casal que uma boa fofoca.

No final, apenas soltavam "Mas quem somos nós pra julgar, né, amor?"

A parte não muito boa era que eles não tinham tanto tempo durante a semana. Taehyung consolidava sua carreira como pintor e Jeongguk tinha que terminar de se formar. Claro que ficava feliz em ver seu amorzinho ganhando cada vez mais reconhecimento pelo extraordinário talento que ele possuía nas mãos (e que mãos). Só que Jeongguk sentia tantas saudades que quase sempre descia pela janela no meio da madrugada, ia até a casa de Taehyung só para vê-lo um pouquinho e roubar um beijo.

Não era o suficiente, mas ajudava.

Quarenta minutos depois, a cozinha estava quase limpa, o bolo, assado, ou bem perto disso. Não havia crescido tanto como Seokjin descreveu pela ligação, mas tudo bem, pelo menos deveria estar gostoso. Ainda quente, passou a cobertura de buttercream e encheu de morangos em cima para tentar ajudar na decoração. Tinha certeza de que o namorado amaria e Jeongguk teria mais pontos com ele, resultando em mais amor e uma recompensa de uma boa gozada.

Mas, ao ver a cobertura rosa derreter e o bolo praticamente desmoronar, começou a entrar em pânico.

—‌‌‌ Não, não, não, não. Seokjin, seu desgraçado! —‌‌‌ gritou, desesperado, tentando ao máximo consertar os pedaços que caíam e a cobertura derretendo como se fosse sorvete no calor. —‌‌‌ Que meleca!

Cada vez que tentava ajeitar um lado, o outro piorava. No fim, seu bolo se parecia com um pedaço de pedra com cobertura cor de rosa sem forma alguma. Só um monte de massa doce disforme e melequenta. Começou a chorar vendo que o único presente que tinha planejado para o namorado não tinha dado certo.

—‌‌‌‌ Minha vida? —‌‌‌‌ A voz de Taehyung surgiu na cozinha. Ele se aproximou e tocou com cuidado o queixo de Jeongguk para ver melhor o rostinho choroso. —‌‌‌‌ O que aconteceu, amor?

Jeongguk limpou as bochechas com as mãos, as sujando de cobertura, completamente frustrado e cheio de vergonha.

—‌‌‌‌ Deu tudo errado, amor. —‌‌‌‌ Apontou para o seu desastre culinário, chorando mais um pouquinho ao ver o rosto de Taehyung expressar dúvida. —‌‌‌‌ 'Tá horrível, eu sei. Me desculpa, amor, eu tentei, mas deu tudo errado.

—‌‌‌‌ Você que fez? —‌‌‌‌ Ele perguntou.

—‌‌‌‌ Tentei, né? Mas acho que errei em alguma coisa. Ou o Jin hyung está me boicotando. Era o seu presente de aniversário de namoro —‌‌‌‌ confessou com biquinho decepcionado. Taehyung assentiu, abraçando-o por trás, o queixo sobre o ombro.

—‌‌‌‌ Meu deus, você é tão fofo. Aposto que está uma delicia, minha vida. —‌‌‌‌ Ele deu um beijinho no pescoço alvo, bem na pintinha, a parte mais sensível do corpo de Jeongguk, um simples toque que fazia seu corpinho inteiro arrepiar. —‌‌‌‌ E ainda posso comer os morangos, meus favoritos. É o melhor presente do mundo.

—‌‌‌‌ Aí, como você é mentiroso —‌‌‌‌ disse, se empertigando todo em um sorrisinho sapeca, fungando um pouquinho, mas menos tristes que antes. Taehyung sabia mesmo como aumentar sua autoestima.

—‌‌‌‌ Vou comer um pedacinho.

Jeongguk assentiu, colocando um pedaço do bolo — se é que poderia chamar aquilo de bolo — em um prato. Entregou para o namorado e esperou ansioso pelo resultado, seus olhos brilhando de expectativa, porque se agarrava naquele ditado de que a aparência era o de menos, o importante era o sabor. Com um sorriso de orelha a orelha, Taehyung levou o garfo até a boca, mastigando calmamente como se estivesse disposto a avaliar todas as nuances de sabores.

—‌‌‌‌‌ Hmmm, delícia —‌‌‌‌‌ disse ele ao que engolia, dando um sorrisinho quase convincente de que era verdade, sobrancelhas levemente vincadas. —‌‌‌‌‌ Muito bom. O melhor bolo do mundo. Hmmm.

Desconfiado, Jeongguk pegou um pedaço e mastigou. Foi como ser atingido por uma bomba de sabores ruins. Delicia porra nenhuma. Tinha gosto de ovo e açúcar.

—‌‌‌‌‌ Ah, pelo amor de Deus, é a pior coisa que eu já comi. Que nojo! —‌‌‌‌‌ Cuspiu no prato, limpando a língua com o pano o avental. —‌‌‌‌ Todos os homens mentem mesmo. Que inferno!

Taehyung encolheu o ombro com uma risadinha culpada e o puxou pela cintura, selando os lábios dele com carinho.

—‌‌‌‌‌ Já é o melhor bolo só por você ter feito, meu amor. —‌‌‌‌‌ Deu outro beijo. —‌‌‌‌‌ Mesmo tendo esse gosto... indescritível e único, nada é ruim vindo de você. E você está uma gracinha todo cheio de farinha e cobertura, e com esse chapéu de chefe.

—‌‌‌‌‌ Como você é brega, hyung, eu quase te matei. —‌‌‌‌‌ Revirou os olhos, mas ainda sorrindo pelo esforço do namorado em não desprezar seu bolo, por mais horrível que estivesse. —‌‌‌‌‌‌ Mas feliz aniversário, ursinho.

Esfregou os narizes, sorrindo bobo porque, embora tivesse dado tudo errado, ainda assim, no fim, Taehyung ainda o amava.

—‌‌‌‌‌‌ Amor.

—‌‌‌‌‌‌ Hm?

—‌‌‌‌‌‌ Preciso de água ou vou vomitar —‌‌‌‌‌‌‌ disse, tossindo, com uma careta de quem realmente precisava tirar o gosto de morte da boca. Jeongguk o amava demais.

Naquela tarde, resolveram comprar um bolo colorido na confeitaria do bairro. Cheio de morangos e com verdadeiro sabor de bolo. Preparam o jantar em família, e esperaram até que Seokjin chegasse para se juntar à mesa.

—‌‌‌‌‌‌‌ Nem acredito que já fazem três meses que estão namorando. —‌‌‌‌‌‌‌‌ A mãe de Jeongguk disse, orgulhosa. Desde que eles assumiram o relacionamento, ela não media elogios ao genro, contando para todas as amigas que seu filho tinha arrumado um partidão. O melhor da cidade.

—‌‌‌‌‌‌‌‌ É, três meses aguentando o Jeongguk não deve ser fácil. Taehyung deve ser um santo. Quantos likes esse príncipe merece? —‌‌‌‌‌‌‌‌ Seokjin disse, fingindo uma comoção cheia de deboche.

—‌‌‌‌‌‌‌‌ A inveja porque está encalhado há meses. —‌‌‌‌‌‌‌‌ Jeongguk devolveu no mesmo tom.

—‌‌‌‌‌‌‌‌ Cobra.

Jeongguk imitou um som de chocalho de cobra com a língua entre os dentes SSSS e limpou o cantinho da boca.

—‌‌‌‌‌‌‌‌ Certo, certo, estou muito orgulhoso que Jeongguk pelo menos está namorando um homem sério. —‌‌‌‌‌‌‌‌ Dessa vez o pai dele disse, levantando a taça na direção de Taehyung para propor um brinde.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌ É uma honra namorar seu filho, senhor Jeon. Eu nunca me senti tão apaixonado e feliz ao lado de alguém. Ele me completa e me ensina todos os dias a ser uma pessoa melhor, minha vida com ele se tornou o mais belo quadro colorido que, a cada dia, ele preenche com novas cores e me renova. —‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Brindou, olhando na direção de Jeongguk, dando uma piscadinha. —‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Eu amo fazer parte dessa família.

— TEM GENTE QUE É SOLTEIRA NESSA MESA! — Seokjin gritou, virando a taça de vinho de uma vez e Jeongguk limpou os olhos marejados, dando uma risadinha.

O jantar seguiu cheio de assuntos aleatórios, Taehyung e o pai de Jeongguk realmente se davam bem. A mãe era completamente apaixonada e orgulhosa pelo genro, e Jeongguk tinha quase certeza que se ela fosse solteira...

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Papai, me passa o sal. —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Jeongguk pediu distraidamente. Para o seu desespero, seu pai e Taehyung estenderam a mão na direção do saleiro ao mesmo tempo. E o clima na mesa afundou em um silêncio escandalizado, ninguém nem mesmo se moveu.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Meu Deus... —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Seokjin sussurrou horrorizado, embora estivesse mordendo o lábio para conter o sorriso. Seu pai e seu namorado ainda mantinham as mãos estendidas, perdidos enquanto se encaravam, sem saber o que fazer. As bochechas de Taehyung estavam vermelhas de vergonha. — Fins dos tempos, bem que o povo da igreja fala.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Vocês também brincam disso? —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Foi a mãe que quebrou o gelo.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ MEU DEUS! —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Jeongguk gritou, tapando os ouvidos e gritando LALALALA para não ouvir nem mais uma palavra, tamanho horror.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Arrasou, Jo. —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Seokjin ergueu a taça para brindar com ela. Jeongguk tentava, a todo custo, se livrar das imagens que invadiam sua mente, seus pais em situações que ele tinha arrepios por toda espinha só de imaginar.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Acho que vou precisar de muita terapia depois de hoje —‌‌‌‌‌‌‌‌ murmurou, emburrado. —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Me passa logo essa droga de sal. E tô falando com você, Taehyung.

[...]

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Ainda não transaram? Que enrolação, tão esperando o casamento? —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ disse Seokjin. Estavam fazendo as unhas e Jeongguk tirava o excesso de esmalte do dedão do pé, enquanto Seokjin assoprava a mão para secar.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Um relacionamento não se resume só a sexo, se você quer saber. —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Jeongguk se defendeu, rosqueando a tampinha do esmalte e com um sorriso satisfeito com o resultado das unhas bem feitas.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Não vem com esse papo, Jeongguk. Já fizeram todo tipo de coisa, você só não liberou ainda porque está com medo.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Não estou com medo! Estou inseguro, ele é todo experiente, sabe me tocar e me faz gozar em minutos!

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Menos detalhes!

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Continuando, eu só tenho medo de ele se frustrar comigo. —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Jeongguk fez um biquinho, pensando sobre o assunto.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Do jeito que aquele homem é apaixonado por você, nem se fosse a pessoa mais frígida do mundo. Você viu aquele discurso que ele fez pra você, pensei que ele te pediria em casamento.

Jeongguk concordou, corando. Taehyung era mesmo muito apaixonado.

—‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ Sei lá, amigo, ele também está trabalhando muito, achei que no dia do nosso aniversário finalmente chegaríamos lá, mas ele precisou ir embora cedo. Fiquei aliviado e decepcionado do mesmo jeito —‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌ confessou. — Às vezes acho que ele que está enrolando. Já chegamos bem perto, mas talvez ele ache que eu não estou pronto.

— E você quer?

— Óbvio.

— Deveria insinuar isso, então, igual quando contou que era virgem e cantou a música da Madonna.

[...]

Era sábado e estavam voltando do cinema quando Jeongguk quase morreu do coração.

Taehyung tinha pedido sanduíches pelo drive thru do Burger King e estavam estacionados em uma rua não muito longe de casa, fofocando dentro do carro. O telefone de Taehyung tocou. Era a mãe dele.

— Sim, mãe. Acho que sim — Ele respondeu aleatoriamente, com os dedos batucando no câmbio do carro. Jeongguk deu uma mordida no sanduíche, desinteressado na conversa. — Eu estou aqui com meu amigo.

O sanduíche desceu em seco e uma pálpebra tremeu. Seu coração acelerou.

Amigo? Nah, deveria ter entendido tudo errado.

— É, depois eu vou te visitar e te apresento meu amigo.

Ok. Amigo? Jeongguk se virou para o namorado explodindo de raiva nas veias, o meliante estava distraidamente olhando para o volante, como se estivesse tudo uma maravilha. Porra nenhuma!

— Uhum, eu sei. Eu e meu amigo vamos pra casa agora. Depois eu te ligo, mãe. Até.

Ele desligou o telefone e bebeu um gole de coca. Descarado.

— Eu sou seu amigo?

— Hm? — Taehyung piscou os olhos inocentemente, e Jeongguk apertou o sanduíche nas mãos a ponto de amassá-lo.

— Você disse para sua mãe... me chamou de amigo. É isso?

— Hã?

— Vai bancar o sonso agora, Taehyung!?

— Não estou entendendo.

— Amigo o caralho. Você faz o que faz comigo com seus amigos?

— Amor...

— Amor o caralho. Sério, você está comigo e acha que somos amigos? Você me pediu em namoro e pediu permissão pro meu pai pra gente namorar! — Jeongguk gritou, histérico. Sentia vontade de chorar, mas Seokjin sempre disse que chorar na frente de homem era a segunda melhor humilhação na vida de um gay. A primeira ele não explicou muito bem.

— Amor, é brincadeira! — Taehyung gargalhou e Jeongguk fez uma careta. — É um negócio que eu vi na internet, um monte de casais fazendo esse tipo de coisa. Não achei que você fosse cair. Eu nem estava falando com a minha mãe. É claro que somos namorados, você é a coisinha mais preciosa da minha vida, meu namorado.

Jeongguk sentiu alívio imediato, mas um soluço escapou da sua garganta e um choro assustado que chegou um pouco atrasado, saiu dos seus olhos.

— Oh, amor, me desculpe. — Taehyung o puxou para um abraço e beijou seu cabelo. — Não sabia que ficaria assim.

— Seu idiota. Eu poderia ter tido um problema sério, sei lá, um ataque do coração. — Jeongguk murmurou, escondendo o pescoço no colo de Taehyung.

— Desculpa, meu bebezinho. Vou te comprar um sorvete, ok? — Jeongguk assentiu.

— Mas não faz de novo, pode fazer mal ao bebê!

Taehyung franziu a testa, confuso.

— Que bebê?

— Eu!

[...]

Na sexta-feira, Taehyung e Jeongguk estavam deitados na cama, assistindo uma maratona de Brooklyn 99. Adorava dormir na casa do namorado e aproveitar o máximo que podia ao lado dele, era como um viciado, e só de pensar em ficar longe suas mãos tremiam.

Deitado sobre o peito de Taehyung, Jeongguk o encarou enquanto ele estava focado na televisão, ele usava óculos de grau e o cabelinho preto caía na testa em cachos macios e bagunçados, a pele sedosa como veludo, deliciosamente quente porque ele tinha acabado de sair do banho. Ele era lindo, mas nesses momentos Jeongguk custava a acreditar que alguém realmente tinha aquela aparência.

Taehyung o olhou e instantaneamente sorriu daquele jeito quadradinho que deixava as bochechas apertarem os olhinhos, formando dois risquinhos, fazendo o interior de Jeongguk inchar e se transformar em puro amor. Nunca se imaginou nesse tipo de relacionamento; meloso, cheio de dengo e carinho. Tinha certeza que estava a um passo de fazer perfil de casal nas redes sociais e chamar Taehyung de momolado com voz de bebê. Se tornar o que mais criticou a vida inteira.

—‌ O que foi? —‌ perguntou ele, deslizando a mão pela lombar de Jeongguk até chegar na nádega coberta pelo short molinho.

—‌ Quero fazer sexo.

Taehyung engasgou uma risada.

—‌ Que direto. Por que isso do nada, amor?

—‌ Acho que chegou a hora, hyung. Tenho tanta vontade — mordeu os lábios, subindo uma mão pelo cabelo de Taehyung. — Espera aí!

Com uma ideia repentina em mente, Jeongguk foi até a televisão e conectou com o celular, colocando uma playlist de músicas.

—‌ O que você tá fazendo, amor? —‌ Taehyung perguntou desconfiado, se sentando melhor na cama e ajeitando os óculos de grau.

Jeongguk vestia um pijaminha de cetim azul, o short curto deixava as pernas grossas à mostra e ele desabotoou um botão da camisa o suficiente para expor parte do abdômen que gastava horas na academia para possuí-lo. Deu uma ajeitadinha no cabelo com os dedos e deu play na música, sorrisinho arteiro nos lábios, aquele que fazia quando iria aprontar.

—‌ You might think I'm crazy; The way I've been cravin'/ Você pode pensar que eu sou louca, com a maneira que eu tenho desejado isso. —‌ Cantou sensualmente, ao que balançava os quadris, descendo as mãos pelo corpo e torcendo para que sua carinha de sedução estivesse funcionando. —‌ If I put it quite plainly; Just give me them babies/Se eu disse abertamente, apenas me dê bebês. —‌ Esfregou a mão pela barriga e fez um biquinho, rindo da própria encenação, e então se jogou no colchão em volta do namorado, beijando por todo o rosto.

Taehyung também riu, e o clima que esperava se tornou em risadas e os dois na cama trocando cosquinhas. Em um movimento inesperado, Taehyung o segurou pelas coxas e o colocou sobre o colo dele, apertando a região farta entre as mãos grandes.

—‌ Te amo. —‌ Ele disse de repente, subindo as mãos pelas coxas, e parou só quando chegou na cintura, por dentro do pijama.

—‌ Então vamos transar. —‌ Jeongguk deu pulinhos, animado conforme a música. —‌ Can you stay up all night? Fuck me 'till the daylight / Você pode ficar acordado a noite toda? Me fodendo até o dia amanhecer

O namorado lambeu os lábios e subiu as mãos mais um pouco até chegar nos mamilos sensíveis de Jeongguk, causando um arrepio gostoso por toda sua pele.

—‌ Thirty-four, thirty-five/ Trinta quatro, trinta cinco. —‌ Jeongguk cantarolou com a Ariana, segurando os ombros de Taehyung e iniciando um beijo no maxilar até a boca.

—‌ Hm? —‌ Taehyung ofegou quando Jeongguk balançou os quadris, friccionando aquela região.

—‌ Significa que quero fazer 69 com você.

Taehyung riu.

—‌ Exatas não é muito a minha praia, amor.

—‌ Você dificulta tanto as coisas, senhor. Acaba com o clima todinho. —‌ Jeongguk disse dando mordidinhas no lóbulo da orelha dele, descendo a língua pela pele amorenada até deixar um chupão ali. —‌ Hyung...

Foram interrompidos quando um som alto da campainha soou pela casa.

—‌ Amor, a pizza...

—‌ Não tô com fome. —‌ Jeongguk murmurou, dando início a uma sequência de beijos. Taehyung o segurou pela cintura firmemente, o afastando, com aquela cara de quem odiava desobediência.

—‌ Vai pegar a pizza e aí podemos conversar sobre isso.

—‌ Hyung —‌ resmungou com um biquinho.

—‌ Amor.

Jeongguk revirou os olhos e se levantou, seu corpo quente e excitado protestou pela falta de contato. Taehyung odiava quando desobedecia por pura birra e capricho, não que fosse punido ou algo assim, mas Jeongguk simplesmente não conseguia não obedecer ao namorado em determinadas situações. Por isso mesmo, ajeitando seu pijaminha e calçando as pantufas amarelas, foi atender a porta.

Depois de pegar a pizza, foi até a cozinha procurar por guardanapos e encher dois copos com Coca-Cola e, enquanto fazia, cantarolando Switchin' the positions for you, pensando em Taehyung, o telefone da sala tocou. Mas não conseguiu atender a tempo e então uma voz soou na secretária eletrônica.

—‌ Ei, cara, é o Choi. Saudades de você. —‌ Jeongguk pensou em atender porque sabia que esse era um dos amigos artistas de Taehyung. —‌ Ainda está brincando de namorar?

Com isso, ele fez uma careta. Brincando de namorar?

—‌ Qual é, Taehyung, estamos com saudades e você agora só liga para o seu namoradinho, que parece mais que você pegou para criar. —‌ Jeongguk estalou a língua no céu da boca, ofendido, uma sensação estranha no fundo do estômago. —‌ Hoje mesmo estávamos falando como ele não tem nada a ver com você. Enfim, quando se cansar dele, é só ligar e marcamos de fazer coisas de gente adulta.

Ele desligou e Jeongguk encarou os dois copos com coca e os dois pedaços de pizza de brócolis e palmito (porque o namorado só comia pizza vegana quando estava com ele) com uma sensação amarga na boca e uma vontade de chorar, aquelas palavras ecoando na sua cabeça. Amava Taehyung, amava muito e estava feliz no seu relacionamento, e seu coração apertou com a possibilidade de ele não sentir o mesmo.

Taehyung nunca demonstrou que as coisas que faziam o incomodavam. Pelo contrário, seu namorado sempre esteve disposto a participar de todas as suas ideias, mesmo quando envolviam pintar as unhas ou maratonar os filmes da Marvel vestidos com kigurumi de unicórnios. Eles até foram ao supermercado vestidos assim. Taehyung também para assistir todos os filmes de heróis na pré-estreia como presente.

Por esse motivo, não tinha que se preocupar. Então pegou as pizzas e o refrigerante e voltou para o quarto. O namorado lia alguma coisa no celular, de óculos de grau e o cabelo macio caindo na testa, ele parecia um ursinho confortável e quente. Puta que pariu, Jeongguk o amava tanto que sentiu uma pontada forte no coração.

—‌ Oi, meu amorzinho —‌ disse ele quando viu Jeongguk, deixando o celular de lado na cabeceira e sorrindo como se ele fosse a coisa mais preciosa do mundo. Jeongguk sorriu de volta e colocou tudo na cama.

—‌ Oi, ursinho. Quer assistir alguma coisa que você gosta? —‌ Jeongguk perguntou, dando uma mordida na pizza, seu estômago agora pesado e ansioso.

—‌ Mas estamos vendo Brooklyn 99, vamos terminar. —‌ Ele respondeu, fazendo o mesmo e puxando Jeongguk para ficar no meio das pernas dele, aconchegados.

—‌ Mas podemos ver o que você gosta, amor. Eu não me importo.

—‌ Eu gosto de BB99.

—‌ Tem certeza? —‌ perguntou, erguendo a cabeça para encará-lo nos olhos. Ele estava sorrindo, as bochechas cheias de comida e os lábios em um biquinho.

—‌ Sim.

Estava tudo bem. Não tinha porque ser inseguro com isso. Taehyung o amava. Passaram a tarde assistindo a série, enchendo as barrigas com pizza e refrigerante, e Jeongguk ainda ganhou uma massagem e dormiu como um anjo servindo de conchinha menor, todo agarradinho ao homem que amava.

Sem paranoias.

[...]

—‌ Você acha que o Taehyung vai terminar comigo? —‌ Jeongguk perguntou a Seokjin quando estavam conversando pelo telefone.

—‌ Que paranóia é essa? —‌ Seokjin quis saber.

—‌ Não sei, não quero que ele termine comigo. Quero me casar com ele e viver o resto da vida ao lado dele. Seokjin hyung, meu coração tá doendo. —‌ Jeongguk sentiu vontade de chorar, mas se conteve, apertando um travesseiro que tinha o cheirinho de Taehyung.

—‌ Do que você tá falando? Taehyung é louco por você.

—‌ É?

—‌ Claro que é. Por que acha que não?

—‌ Ouvi um amigo dele dizer que sou apenas o namoradinho que ele pegou pra criar. —‌ Jeongguk confessou, roendo o esmalte da unha.

Seokjin respirou fundo do outro lado.

—‌ Quem é esse cachorro? Só eu faço isso com você.

Jeongguk deu um sorrisinho e se deitou na cama, o celular apertado contra a orelha.

—‌ Aí, hyung, não importa muito. Só fiquei pensando se é isso que pode acontecer, ele perceber que não temos nada em comum. A diferença de idade... Ai, meu Deus! —‌ Voltou a se sentar quando a ideia pulsou na sua cabeça. —‌ Será que é por isso que não transamos ainda? E ele está tão distante ultimamente, quer dizer, não distante, mas tão ocupado com o trabalho. Não sei!

—‌ Para com isso, Jeongguk! Ele te ama, se não fizeram ainda esse não deve ser o motivo. Não fique pensando nisso, amigo, não deixe uma panaca colocar minhocas na sua cabeça. Seu daddy te ama.

—‌ Ele ama, né?

—‌ Até demais.

Jeongguk suspirou um pouco mais aliviado e se despediu de Seokjin. Era sempre um alívio conversar com o melhor amigo, ele sempre ajudava Jeongguk a não pensar demais.

[Lindão awn own❤❤]

Jeongguk.

—‌ Aí, meu Deus! Ele vai terminar comigo.

Com os dedos trêmulos e gelados, Jeongguk digitou.

[Jeongguk]

Jeongguk? Cadê o Amor? kkk amor?

Aconteceu alguma coisa?

[Lindão awn own❤❤]

Não aconteceu nada, mas a gente precisa conversar, amor.

Desculpa, é um assunto importante.

Pode vir aqui em casa?

Jeongguk sentiu as pernas ficarem moles e o estômago embrulhar. Taehyung iria terminar o relacionamento. Era isso. Sem muita vontade e com o coração na garganta, foi até a casa do — ainda — namorado, ensaiando o maior discurso do mundo para argumentar o porquê que não deveriam terminar.

—‌ Oi, amor. —‌ Ele disse quando Jeongguk se sentou no sofá, apertando as mãos em puro nervosismo.

—‌ Você 'tá sério, ursinho. É alguma coisa ruim? —‌ Jeongguk disse, sua voz saiu um pouco trêmula, ainda mais porque haviam duas xícaras com chá de camomila na mesinha de centro. Taehyung provavelmente tinha previsto sua devastação e o chá era para acalmá-lo. Que tragédia.

—‌ Não é ruim, amor. —‌ Taehyung se sentou ao seu lado, segurando suas mãos, abriu um sorrisinho e suspirou fundo. —‌ Eu fui aceito em um programa de arte. Em um dos melhores museus do mundo.

—‌ Aí, meu Deus, isso é ótimo, meu amor. —‌ Jeongguk o abraçou forte, seu coração menos pesado na garganta, apesar de sentir que não era só isso que ele tinha para dizer. Ficava verdadeiramente feliz pelas realizações do namorado. Taehyung feliz, era Jeongguk feliz.

—‌ Em Paris.

Com isso, Jeongguk se afastou, o sorriso morrendo aos pouquinhos.

—‌ Ah, Paris? Quer dizer, isso continua sendo ótimo! Paris... É.. —‌ engoliu em seco. —‌ Um ótimo lugar para os artistas. E você é um artista. Amor, tô muito feliz por você. De verdade.

—‌ É...

—‌ Por favor não termina comigo! —‌ Jeongguk se desesperou, interrompendo-o segurando forte as mãos de Taehyung contra seu peito como se ele pudesse escapar a qualquer momento. —‌ Por favor, a gente pode dar um jeito, relacionamento a distância, eu faço qualquer coisa. Te envio nudes todos os dias.

Taehyung fez uma careta confusa.

—‌ Não vou terminar com você, amor. Por que está pensando isso?

Jeongguk limpou uma lágrima da bochecha e engoliu o nó apertado na garganta.

—‌ Não sei, mas talvez você não goste da ideia de um relacionamento a distância...

—‌ Mas, amor, é só por doze semanas. Vou expor minha arte no museu e depois volto pra casa. —‌ Taehyung explicou, acariciando os dedinhos de Jeongguk entrelaçados aos seus.

—‌ Então não vai terminar comigo?

—‌ Claro que não, Jeonggukie, eu nunca faria algo assim. Não consigo viver sem você e só estava pensando que não aguentaria ficar tanto tempo longe. E que talvez você, fosse, não sei, querer dá um tempo. Estava nervoso por isso, eu sei que nós estamos namorando sério, mas eu não vou te culpar se quiser, sabe...

—‌ Nem ouse terminar essa frase, senhor Kim! Eu te amo.

Com aquela notícia, Jeongguk sentiu como se tivesse tirado um peso gigante das costas. Ele sorriu largo e se jogou em cima do namorado, montando-o nas coxas.

—‌ Meu namorado talentoso. —‌ Selou os lábios dele, seu sorriso rasgando as bochechas. —‌ Você merece uma recompensa por isso.

Taehyung ondulou as sobrancelhas e abriu um sorrisinho malicioso. Não fizeram naquela noite, mas comemoraram enchendo as barrigas de doces e cerveja, terminando os dois deitadinhos na cama, Taehyung dessa vez sendo a conchinha menor porque ele estava excessivamente carente e precisava de carinho.

[...]

Já fazia três dias que o namorado tinha chegado em Paris e Jeongguk sentia como se pudesse morrer de saudades. Se falavam todos os dias, apesar da confusão de fuso horário. Mas não era igual. Não tinha saúde para ficar longe dele.

—‌ Oi, amor —‌ disse quando Taehyung apareceu na tela de chamada. Ele estava bonito, os cabelos molhados como se tivesse acabado de sair do banho, óculos de grau e um sorrisinho cheio de afeto.

—‌ Que saudades de você, meu bebê —‌ ele disse. Jeongguk notou que ele estava cansado, olhinhos pesados e sonolentos. Era um pouquinho egoísta por querer falar com ele apenas por cinco minutos.

—‌ Eu também. Hoje o dia foi particularmente chato, não consegui me concentrar nas aulas.

—‌ Também fiquei pensando em você. Nicole até disse que eu estava no mundo da lua. —‌ Taehyung deu uma risadinha, mas Jeongguk sentiu algo estranho e pegajoso apertar seu estômago.

—‌ Nicole está aí?

—‌ Ah, sim, ela está me ajudando a organizar a exposição. —‌ Taehyung explicou. —‌ Acabei de voltar do museu com ela.

—‌ Entendi, que bom, hyung. —‌ Deu um sorrisinho forçado. —‌ Eu espero que esteja se divertindo aí.

—‌ Não é bem diversão. Tenho tanto trabalho, mal consigo aproveitar as coisas. —‌ Fez um biquinho. —‌ Queria que estivesse aqui.

—‌ Eu também.

Jeongguk se sentiu estranho depois daquela informação. Não que não confiasse em Taehyung, confiava, e muito! Mas a cabeça de Jeongguk sempre dava um jeito de inflar suas inseguranças, trazer paranoias nada saudáveis e que o deixava inquieto, por mais que tentasse não pensar tanto.

Nicole era bonita. Muito bonita. Tinha a idade de Taehyung e possuíam quase tudo em comum. Gostavam das mesmas coisas, era uma mulher cheia de confiança e eles às vezes passavam horas no telefone conversando em francês sobre arte. Jeongguk nunca se importou com isso, ela era uma boa amiga e Taehyung nunca sequer deu motivos para criar nenhuma desconfiança. Mas depois que ouviu aquela ligação, alguma coisa mudou.

As semanas foram passando, Taehyung estava cada vez mais ocupado e com pouco tempo para conversas. Demorava para responder as mensagens e chegava tão cansado que não tinham mais as conversas por chamada de vídeo todos os dias. Apesar da saudade de doer o coração, Jeongguk não se importava com isso, porque aquilo significava o sucesso e a felicidade de Taehyung. Então ele também se sentia feliz. Também tinha o fato de que tinha que se dedicar às suas últimas provas do colégio. E isso estava incomodando Jeongguk, ele não tinha mais tempo para fazer as coisas que gostava; ir à academia, fazer caminhadas e, consequentemente, seu corpo estava mudando.

Estava deitado no quarto escuro, terminando de devorar uma barra de chocolate, quando sentiu um aperto no peito de saudades e resolveu ligar, nem que fosse apenas para ouvir a voz do namorado dizendo um oi e desligar.

Pegou o celular, cobriu a cabeça com o edredom e iniciou a chamada. Sentia o coração bater rápido, havia dois dias que não se falavam além de uma mensagem dele dizendo que estava tão cansado que não conseguiu responder. Duas chamadas depois e ele finalmente atendeu.

—‌ Salut. —‌ Não era ele. Era Nicole. Jeongguk franziu o cenho e se encolheu no colchão, o chocolate ficando mais amargo do que realmente era.

—‌ Oi, cadê o Tae? —‌ A voz de Jeongguk saiu um pouco trêmula e baixinha, meio receosa.

—‌ Ele está ocupado, querrido. Acabou de terrrminar uma reunião imporrrtante de cinco horrras. E ele acabou esquecendo o celular aqui no escritório.

—‌ Aaah, tudo bem. Diz pra ele que eu liguei. —‌ Jeongguk engoliu o nó na garganta.

—‌ Digo sim. Bye bye.

Quando o telefone ficou mudo, sentiu como se uma bola de boliche estivesse caindo no seu estômago. Queria ser menos inseguro, queria se sentir suficiente para acreditar que o amor de Taehyung por ele suportaria qualquer distância e afastamento. Mas sempre chegava à conclusão de que o namorado poderia encontrar alguém melhor em qualquer lugar. Alguém que levasse as coisas mais a sério, alguém que sabe apreciar arte como ele faz, que goste das mesmas coisas.

Para se torturar um pouco mais, Jeongguk foi até o Instagram de Nicole e pegou mais uma barra para aliviar aquela ansiedade monstruosa. Sabia que não era o certo, mas quando se deu conta rolava o feed da mulher procurando alguma coisa. E se sentiu culpado e estranho. A última foto era ela e Taehyung em algum museu, ele fazendo um joinha para um quadro que Jeongguk reconheceu ser do pintor favorito dele, Van Gogh.

Jeongguk continuou olhando as fotos, admirado em como ela era bonita, cheia de curvas, olhos cinzentos, cabelos loiros, pele de porcelana. Bloqueou o celular e se encolheu em posição fetal até se formar uma bolinha, sua mente traiçoeira ali, deixando claro de que ela seria o par ideal de Taehyung.

Relacionamentos são complicados. Quando começou a namorar, tudo parecia tão fácil e leve, nunca brigavam, apesar das diferenças que tinham, era uma química boa, nada que fizesse questionar se aquele homem era realmente alguém que queria passar o resto da sua vida. Só que Jeongguk, apesar de parecer confiante na maioria das vezes, tinha um bichinho da insegurança que algumas vezes ousava reaparecer depois de muito tempo e o consumia dolorosamente todos os dias.

Quando criança, era um garotinho tímido, sem muitos amigos e sempre tinha problemas para se relacionar com outras pessoas. Sua mãe, vendo as dificuldades do filho e o problema de interação social e baixa autoestima, resolveu colocá-lo na terapia.

Depois de um tempo, na sua adolescência, um pouquinho mais seguro, conheceu Seokjin. O melhor amigo que tinha autoestima para dar e vender. Que nunca deixou Jeongguk se sentir menos que maravilhoso depois que viraram amigos.

Se sentia culpado por às vezes ainda se sentir assim. Tinha amigos bons, um namorado perfeito, sua mãe havia gasto dinheiro com terapeutas.

Jeongguk assustou-se quando a porta do seu quarto foi aberta de uma vez.

—‌ Levanta daí! —‌ Seokjin disse, acendendo a luz. Jeongguk crispou os olhos com a luminosidade invadindo o ambiente e o cegando.

—‌ Jin hyung...

—‌ Não, Jeongguk, eu sei que você o ama e está com saudades, mas não vou deixar você bancar a Bella de Crepúsculo e ficar melancólico olhando pra janela. Ele volta daqui uns dias. —‌ Seokjin puxou os edredons de uma vez. —‌ Você tomou banho?

—‌ Claro que sim!

—‌ Ótimo. Agora se vai arrumar, nós vamos sair.

—‌ Mas...

—‌ Sem mas! Te espero lá na sala, e acho bom você vir ou vou te arrastar, e você sabe que eu faço isso.

Ele bateu a porta e Jeongguk respirou fundo, se levantando. Pegou um moletom preto, grande o suficiente para esconder seu corpo e passou os dedos pelos fios escuros desgrenhados, embora não tivesse vontade alguma de sair, não poderia ficar dentro do quarto se lamentando de saudades até Taehyung voltar.

—‌ Aonde vamos? —‌ perguntou quando fechou a porta do carro de Seokjin.

—‌ Tomar sorvete. —‌ Ele disse, dando partida. —‌ Você tá péssimo.

—‌ Ah, obrigado, era isso mesmo que eu queria ouvir —‌ resmungou.

—‌ Eu não digo de aparência, seu tontão, mas você está com um semblante horrível. —‌ Seokjin suspirou, ligando o som. Mas quando Lover, da Taylor Swift, começou a tocar e Jeongguk fez cara de choro, ele trocou de faixa. You Need to Calm Down era melhor nessas ocasiões. —‌ Ele vai voltar, amigo. Eu sei que você está com saudades, mas não deixe isso te fazer tão mal assim.

Jeongguk só assentiu, apoiando o queixo na mão enquanto observava a janela e ouvia Taylor Swift cantar sobre militância. Seokjin tinha razão, mas não era tão simples, a mente de Jeongguk não funcionava só com força de vontade, era meio injusto querer que ele não pensasse em todas aquelas coisas ruins quando era só... involuntário.

Quando chegaram à sorveteria, Jeongguk se sentiu ainda pior.

—‌ Eu vou querer uma água.

—‌ Hã? Por quê? Você sempre gostou de misturar todos os sorvetes e todos os sabores de coberturas, faz uma gororoba horrível. Como assim só quer água?

Jeongguk de ombros.

—‌ Estou de dieta.

—‌ Desde quando?

—‌ Eu engordei uns seis quilos nos últimos dias, estou enorme! —‌ Jeongguk disse, quase gritando, era a primeira vez que falava disso com alguém.

—‌ E daí? Para com isso, Jeongguk. —‌ Seokjin o abraçou de lado, dando um beijo no seu cabelo. —‌ Você é lindo.

A atendente balançou a cabeça, concordando.

—‌ Seu amigo tem razão —‌ disse ela.

Jeongguk não se sentiu melhor, mas deu um sorrisinho agradecido.

—‌ Me dá uma casquinha de baunilha, então, por favor.

Ela assentiu, terminando de anotar os pedidos.

—‌ Como está se sentindo? —‌ Seokjin perguntou quando se sentaram nas mesinhas que ficavam do lado de fora da sorveteira. Estava um dia bonito, céu azul salpicado de nuvens branquinhas, mas Jeongguk não se sentia bem.

—‌ Cansado, com saudades do meu namorado, meio triste e inseguro. —‌ Resolveu ser sincero, olhando para o sorvete de baunilha derretendo na casquinha de waffer.

—‌ Amigo, ele só está ocupado em outro país, não quer dizer que vai ficar lá pra sempre. Aposto que ele está sentindo o mesmo que você.

—‌ Será? Lá ele tem a Nicole, tá sempre com ele...

—‌ Ah, não, não começa a pensar nisso. Você sabe que eles são amigos, Taehyung nunca faria nada para te magoar, ele sabe que eu acabo com a raça dele. Deixei isso bem claro quando conversamos. —‌ Isso fez Jeongguk soltar uma risadinha. Era verdade. Quando começaram a namorar, Seokjin chamou Taehyung para uma conversa e deixou umas regras bem claras, uma delas é que o perseguirá até o inferno caso machucasse Jeongguk.

—‌ Eu sei, eu confio tanto nele. Mas a minha mente sempre me lembra que ele pode achar alguém... sei lá, melhor do que eu?

—‌ Que isso, Jeongguk? Que baixa autoestima é essa? —‌ Seokjin curvou as sobrancelhas, indignado. Jeongguk deu de ombros. —‌ Você é o cara mais interessante que eu conheço, Taehyung tem sorte de namorar alguém como você. E olha, você é tão lindo que tenho vontade de lamber seu rostinho todinho. Sério, depois de mim, é o homem mais bonito do mundo.

Jeongguk revirou os olhos e sorriu.

—‌ Acho que não estou em bons dias, só isso. Acontece, às vezes. E a saudade do meu namorado, aquela ligação daquele amigo dele, tudo me deixou assim...

Foi interrompido com uma notificação no celular.

[Meu amor❤❤]

Oi, meu docinho. Sinto tantas saudades que meu coração dói.

Nicole me disse que você ligou, desculpa não atender. Amanhã eu prometo que te ligo, okay?

Je t'aime plus qu'hier mais moins que demain. 💜 💜💜 💜😍

Jeongguk fez um beicinho, seu queixo tremeu e então ele começou a chorar.

—‌ Juju? —‌ Seokjin se sentou ao seu lado, abraçando-o. —‌ Aconteceu alguma coisa?

—‌ Não. —‌ Fez um biquinho, sua voz embargada. —‌ Só amo muito meu namorado. É saudades.

—‌ Eu posso ser sincero com você, amigo? —‌ Seokjin perguntou cautelosamente. Jeongguk só assentiu, a cabeça descansando no ombro do melhor amigo. —‌ Eu sei que você o ama, ele é o amor da sua vida, e está tudo bem, todo mundo quer achar o seu. Mas eu acho que você não pode criar tanta dependência de alguém. Amar é muito bom, amar de forma saudável é melhor ainda, 'tá tudo bem sentir saudades, 'tá tudo bem chorar porque sente falta, mas não 'tá tudo bem quando prejudica seu emocional assim. Não estou dizendo que você está dependente dele, mas pode ficar, entende? Não quero que isso aconteça com você. Quero que você se ame em primeiro lugar, acima de qualquer coisa e tenha confiança o suficiente para acreditar que aquele homem nunca te trocaria por nada e nem ninguém, porque você é maravilhoso.

Jeongguk se afastou um pouco, limpando as lágrimas com a manga do moletom.

—‌ E o que eu faço? —‌ perguntou, sua voz fraquinha. Seokjin tinha razão.

—‌ Bom, o primeiro passo é conversar com a sua terapeuta sobre isso, que todas as suas inseguranças de criança estão de novo te fazendo mal. E depois conversar com seu namorado sobre isso, quer dizer, falar sobre o que te deixa inseguro no relacionamento. Por exemplo, a incompatibilidade de gostos de vocês, que eu sei que você se sente culpado por não ser igual a ele. E eu já te disse que isso não tem nada a ver, as pessoas têm diferenças, não é porque vocês namoram que seus gostos precisam ser similares. E, bom, você sabe que o Namjoon fala sobre amor próprio, não é?

Jeongguk assentiu com um biquinho.

—‌ Certo, eu acho que preciso mesmo disso. Tenho terapia na sexta. Queria tanto abraçar meu ursinho, mas ainda falta tanto tempo, Seokjin, mais três semanas.

—‌ Bom... —‌ Seokjin deu um sorrisinho malicioso, como se estivesse aprontando algo. —‌ Eu não te chamei apenas para tomar sorvete.

—‌ Não?

—‌ Arrume suas coisas, querido, estamos indo à Paris daqui uma semana e meia!

Jeongguk ficou sério, esperando o momento que Seokjin revelaria que era uma piada. Por que, que amigo te leva para viajar assim... do nada?

—‌ 'Tá bom, como você é engraçado. Não é legal brincar com essas coisas.

—‌ Você sabe que se a gente namorasse eu poderia muito bem ser o seu sugar daddy. Não foi nenhum sacrifício conseguir as passagens para você ver a exposição do seu namorado.

—‌ 'Tá brincando, né?

—‌ Claro que não, Jeongguk. Que saco. —‌ Ele tirou o celular do bolso e mostrou o comprovante das passagens compradas.

—‌ Ah, meu Deus. Ah, meu Deus. Puta que pariu, hyung! —‌ Jeongguk arregalou os olhos. —‌ É sério?

—‌ Sim, agora diz que sou o melhor amigo do mundo e que ninguém está acima de mim. —‌ Ele disse, e Jeongguk o abraçou tão forte que sentiu as costelas dele estalarem. —‌ 'Tá me esmagando!

—‌ Eu te amo, você é o melhor amigo do mundo e ninguém acima de você. —‌ Jeongguk fungou, chorando mais um pouquinho, não esperava mesmo que pudesse surpreender Taehyung.

—‌ Você tá chorando?

—‌ 'Desculpa, estou excessivamente sensível. —‌ Fez um biquinho. —‌ Me paga outro sorvete?

Apontou para sua casquinha intocada e derretida em cima da mesa.

—‌ O lance de ser seu sugar daddy era brincadeira, ouviu? Não aproveite da minha boa vontade.

—‌ Por favoooor.

—‌ Só uma bola.

Jeongguk assentiu, animado. No fim, acabou pegando uma bola de cada sorvete, e encheu de todas as caldas, granulados e chocolate. As coisas estavam começando a melhorar.

[...]

A sessão de terapia foi um alívio. Conversar com sua terapeuta ajudava a tirar aquela sensação pesada de dentro do peito e recolocar os pensamentos no lugar. Ele expôs como se sentia em relação ao seu namoro com Taehyung, sua baixa autoestima por conta do ganho de peso e que não tinha mais o mesmo corpo que Taehyung tanto amava.

[Meu amor ❤❤]

Acabei de chegar de mais uma reunião

Estou morrendo de saudades de você. Aqui no hotel tem os melhores travesseiros do mundo e nenhum é tão bom quanto você. Te amo.

[Jeongguk]

:( como você é lindo.

saudades de você, amor

[Meu amor ❤❤]

Quero ver seu rostinho. Me manda uma foto, vai?

[Jeongguk]

Ahkkk eu tô todo desarrumado

bem feio mesmo

[Meu amor ❤❤]

??? Isso é impossível

Você é lindo, a criatura mais bela já criada. Seus pais são meus artistas favoritos, criaram você com tanta excelência. Meu amor <3

Mas se não se sentir confortável em mandar a foto, tudo bem, não precisa, viu?

Tenho várias no meu celular e fico revendo seu rostinho quando a saudade aperta. Ou seja, quase sempre.

[Jeongguk]

Eu te amo tanto, pelo amor de Deus.

quase te enviei uma nude agora, sério, taehyung, porra, te amo mt

[Meu amor ❤❤]

Eita rs

Não precisa mandar

Só se quiser rsrsrs Mas seu rostinho é o que importa pra mim <3

[Jeongguk]

acho que combino mais com o cabelo preto, então...

[Meu amor ❤❤]

JFFJS[]D~[S]~'A

Ai, desculpa, amor! Meu celular caiu na minha cara

Você é tão lindo, estou tendo crise de fofura.

Literalmente precisei abafar um grito no travesseiro de tanto amor

Saudades :(

Jeongguk deu uma risadinha, seu coração quentinho e uma certeza de que aquele homem era mesmo o amor da sua vida.

[...]

Mesmo que quisesse falar, Seokjin não deixou Jeongguk contar para o namorado que estavam indo à Paris. Seria uma surpresa, mas Jeongguk não estava tão confiante com isso. E se Taehyung não gostasse tanto da surpresa? De alguma forma, ele se sentia nervoso.

—‌ Não acredito que estamos em Paris. —‌ Jeongguk disse, maravilhado dentro do táxi, enquanto observava as ruas arquitetônicas da cidade Luz, que era a cara de Taehyung.

—‌ Nem eu! Aqui é tão lindo. —‌ Seokjin tirava mais uma foto, com uma daquelas câmeras de turistas penduradas no pescoço.

—‌ 'Tô muito ansioso. Não sei se ele vai gostar...

—‌ Aposto que ele vai chorar quando te ver. —‌ Jin disse, tirando mais uma foto. —‌ Eu comprei os ingressos da exposição. Parece que é algo muito grande.

—‌ Ele é o maior do mundo, Seokjin hyung.

O museu era enorme. Muito maior que o da Coreia, a arquitetura era igual a dos filmes, saída diretamente de uma história francesa de época. Enchia os olhos com as estruturas gigantescas, a arte estampada em cada parede. E na porta, cravado em uma plaquinha de bronze, o nome do seu namorado escrito. Jeongguk sentiu uma onda de orgulho e amor tão forte do peito que seus olhos marejaram, seu peito quente e ansioso ao mesmo tempo. Sabia que era egoísmo querer que Taehyung o desse atenção em um dia como esse, mas só de vê-lo e apreciar as artes que seus dedos produziram, era quase o suficiente para matar a saudade sufocante.

—‌ Caralho, ele é realmente talentoso. Aposto que quando ele morrer essas obras vão valer milhões! —‌ Seokjin disse, tirando foto de um quadro que estava exposto. Jeongguk deu uma risadinha, pois tinha visto Taehyung pintar aquele enquanto os dois ouviam o novo álbum de Namjoon e conversavam sobre aleatoriedades. Reconhecia a maioria das obras ali expostas, algumas esculturas, também sabia a história e os sentimentos de cada uma delas, porque fez questão de ouvir atentamente o namorado falar sobre cada detalhe e pincelada. E vendo o quão grande tudo havia se tornado, Jeongguk só conseguia sentir orgulho.

Andaram mais um pouco, até que Jeongguk sentiu seu coração parar e bater muito rápido ao mesmo tempo dentro do peito. Queria correr até ele, encher de beijos e dizer que o amava. Mas sorriu e apertou a mão de Seokjin.

Taehyung estava lindo, muito mais bonito do que qualquer pessoa tinha o direito de ser e era o amor da vida de Jeongguk. Vestia um sobretudo preto, e óculos de grau, seu cabelo penteado em um topete elegante. Ele estava sério enquanto conversava com um homem, até que seus olhos se encontraram quando ele virou a cabeça em outra direção. A princípio, ele pareceu confuso, olhando para os lados, perdido, depois franziu a testa e apertou as pálpebras, como se quisesse enxergar melhor. E então, um sorriso grande se abriu nos lábios dele, surpreso e feliz nas mesmas proporções.

Jeongguk acenou, dando de ombros como se aquela situação fosse perfeitamente normal. E, diferente daquele dia, Taehyung disse alguma coisa ao homem e veio na sua direção, correndo.

Ele não disse nada, só enlaçou Jeongguk com os braços em um abraço apertado.

—‌ Que saudades, que saudades —‌ ele sussurrou, intensificando o abraço, para então distribuir beijinhos pelas bochechas de Jeongguk, e finalizar com um selinho. —‌ O que você está fazendo aqui? Ah, meu Deus, será que estou alucinado de ficar tantas horas sem dormir?

Jeongguk notou os olhos dele marejados e Seokjin murmurou um ''eu avisei".

—‌ Não, amor, sou eu mesmo. Em carne e osso. Muita carne.

—‌ É ele mesmo! —‌ Seokjin disse, acenando atrás deles. —‌ E eu, né. De nada.

—‌ Ah, foi o Jin hyung que teve a ideia de virmos. —‌ Jeongguk confessou, suas bochechas corando. —‌ Você se importa, Tae?

—‌ O quê? —‌ Taehyung piscou confuso, limpando os olhos cheios de água. —‌ Claro que não. Eu só... Não te convidei antes porque pensei que não gostasse tanto assim de museus, você me disse aquele dia...

—‌ Mas eu gosto das suas obras e das suas exposições! —‌ Jeongguk disse, abraçando o namorado novamente. —‌ Gosto muito.

—‌ Então que bom que você veio, amor. —‌ Seokjin pigarreou. —‌ E obrigado, Seokjin. Jeongguk tem o melhor amigo do mundo.

—‌ Aí, para. —‌ Seokjin cobriu o rosto com as mãos, envergonhado. —‌ Mas é verdade.

—‌ Eu não quero tomar seu tempo, amor. Nem te atrapalhar. —‌ Jeongguk disse, se afastando.

—‌ Jeongguk... —‌ Taehyung acariciou as bochechas de Jeongguk, um polegar esfregando a região com delicadeza. —‌ Não tem ideia da falta que senti sua. Quase voltei antes do tempo.

—‌ Que bom que não voltou, odiaria te fazer perder a coisa mais importante da sua vida. —‌ Jeongguk disse, apreciando o carinho.

—‌ Você é a coisa mais importante da minha vida, Jeongguk.

—‌ AH, MEU DEUS, EU SOU SOLTEIRO! —‌ Seokjin gritou.

—‌ Eu te amo. —‌ Jeongguk beijou os lábios de Taehyung, sem se importar se tinha mais alguém olhando.

—‌ Eu te amo muito mais.

—‌ Taehyung! Chérri. —‌ Nicole gritou animada, surgindo ao lado de Taehyung. —‌ Oh, seu amorrzinho veio!

Ela sorriu e puxou Jeongguk para cumprimentá-lo, deixando três beijinhos de cada lado da bochecha e fazendo o mesmo com Seokjin.

—‌ Ele não parrava de falarr sobrre você, querrido! —‌ Ela disse, ajeitando a boina preta nos fios loiros.

—‌ Oi, Nicole. Espero que só coisas boas. —‌ Jeongguk coçou a nuca, envergonhado e com um sentimento estranho no peito. Aquela mulher nunca tinha feito nada contra ele, mas era o motivo de alguma insegurança ainda existir dentro do seu peito.

—‌ Isso com cerrrteza. Nunca vi um homem tão apaixonado.

—‌ Ele sabe disso, não tem ninguém mais apaixonado no mundo do que eu por ele —‌ Taehyung sorriu, segurando a cintura de Jeongguk em um abraço, e depositou um beijinho na ponta do seu nariz. Mesmo que fosse um contato corriqueiro, algo dentro de Jeongguk se incomodou porque, agora, aquela região não era tão definida quanto antes, havia gordurinhas indesejadas ali. Pelo menos Taehyung não disse nada...

—‌ Estamos sobrando, querrida —‌ Foi Seokjin quem disse, revirando os olhos. Nicole assentiu, concordando.

—‌ Oui, mas prreciso de Taehyung, estamos negociando uma obra ainda.

—‌ Eu já disse que aquelas não estão à venda, Ni. Não adianta. —‌ Apesar do tom sério, Taehyung soou gentil com a mulher.

—‌ Mas, Taetae, o dinheiro que estão oferecendo por elas... Tanto dinheirrro...

—‌ Não me importa, Ni. Não posso e não quero vendê-las. As outras não me importo, mas essas são apenas para exposição. —‌ Ele disse, firme. Nicole assentiu, finalmente concordando.

—‌ Tudo bem, cherri. Vou avisá-los.

Quando ela saiu, Jeongguk disse:

—‌ Que quadros não estão à venda?

—‌ Bem... —‌ Taehyung coçou a nuca, envergonhado, bochechas corando, o que era bem raro de acontecer.

Antes de responder, um homem apareceu, dizendo que precisava que Taehyung recebesse alguns críticos de arte importantes.

—‌ Eu já volto. Mas você pode me esperar no café, lá tem doces maravilhosos. —‌ Ele deixou um beijo nos lábios de Jeongguk antes de sair.

—‌ Ele 'tá estranho. —‌ Jeongguk comentou para Seokjin.

—‌ Será que é alguém pelado nessa obra? —‌ Seokjin sugeriu, tirando mais fotos. Continuaram a andar, até avistarem Nicole novamente. Ela conversava com dois homens em frente a dois quadros, eles tinham expressões zangadas e saíram bem decepcionados depois que ela disse algo.

—‌ Acho que são aqueles ali. —‌ Jeongguk se aproximou. Olhando de início, eram dois quadros, posicionados um em cima do outro de forma estratégica. À primeira vista, eram pinceladas confusas, até que aos poucos seus olhos se acostumaram. O primeiro era claramente dois olhos redondos e escuros, pintados de uma maneira que pareciam que dentro havia pequenas estrelas delicadas, salpicadas pelas íris escuras. O outro quadro definitivamente era uma boca, pequena, vermelha e delicada, em formato de coração, uma pintinha sutil logo embaixo do lábio inferior.

—‌ Oh. —‌ Jeongguk piscou os olhos. E então leu o nome da obra. Détails d'amour.

—‌ Lindos, não é? —‌ Nicole comentou ao seu lado, também admirando. —‌ Aqueles dois carras, estavam dispostos a pagar muito dinheirro por eles, falaram que tinha muito sentimento ali. Mas Taehyung não aceitou nenhuma oferta, ele explicou no começo que se tratava de uma obra pessoal, de como ele via o amor nos detalhes. — Ela fez uma pausa e deu dois tapinhas no ombro de Jeongguk, sorrindo gentil. — Bom, eu tenho que irrr, a exposição está um sucesso e eu preciso cuidar de algumas coisinhas ainda. Adeus, Cherri.

Jeongguk não sabia o que responder. Seu coração batia tão rápido que ele quase não conseguia mais ouvi-la. Aquele pintado ali era ele. Seus detalhes. Seus olhos e sua boca. Pintados pelos dedos talentosos de Taehyung.

—‌ E você ainda duvida que esse homem não queira passar o resto da sua vida ao seu lado, Jeongguk? —‌ Seokjin perguntou, assustadoramente sério. —‌ Caralho, 'tô até com vontade de chorar.

E Jeongguk já estava chorando, lágrimas deslizando por sua bochecha, seu coração transbordando de amor e paixão. Eram sentimentos muito bons de sentir, como se todo o amor por Taehyung tivesse dobrado de tamanho e derramasse por seu coração.

—‌ Eu— —‌ Não conseguiu falar, limpando os olhos. —‌ Não mereço alguém como ele.

—‌ Epa, epa, claro que merece! —‌ Seokjin o agarrou pelos ombros. —‌ Esse homem não merece nada além de você.

Jeongguk deu uma risadinha, fungando conforme mais lágrimas escorriam dos seus olhos.

—‌ Eu o amo tanto. Nunca imaginei que meu tesão por ele se transformaria em tanto amor. —‌ Brincou.

—‌ Nem eu, você só queria receber uma mamada e 'tá aí, quase se casando.

—‌ Estou com saudades dele.

—‌ Ah, pelo amor de Deus. —‌ Seokjin revirou os olhos. —‌ Vamos beber um café.

[...]

Quando chegou no hotel (o mesmo em que Taehyung estava hospedado) Jeongguk não conseguia parar de pensar nos quadros. Depois que Taehyung saiu, infelizmente não tiveram como se encontrar outra vez, era muita gente e as pessoas estavam tão interessadas no artista Coreano talentoso da vez, que Jeongguk não se sentiu nem um pouco mal por não vê-lo de novo. Estava feliz.

—‌ Acho que você deveria ir no quarto dele. —‌ Seokjin disse, abrindo o frigobar e tirando de lá uma latinha de refrigerante.

—‌ Não sei... Eu não estou tão bonito, você sabe que... Acho que é melhor esperar e...

—‌ Para com isso! —‌ Revirou os olhos. —‌ Não significa nada você ir lá, sabe o quanto ele te respeita e, se você não quiser nem beijá-lo, ele não vai se importar.

—‌ Tudo bem. Vou tomar um banho primeiro.

Jeongguk se arrumou, passou perfume, queria ir bem vestido, mas achou melhor colocar roupas confortáveis. Peças de moletom cinza e chinelos. Quando chegou na porta do quarto, respirou fundo e deu batidinhas, seu estômago pulando de ansiedade.

Taehyung abriu a porta. Ele vestia uma camiseta branca da Celine, a favorita dele, óculos de grau e bermuda. Tinha os cabelos úmidos como se estivesse acabado de sair do banho e sua pele tinha um aspecto rosado e quente. Um sorriso iluminou o rosto dele assim que colocou os olhos em Jeongguk.

—‌ Ei, amor.

—‌ Oi, Tae.

—‌ Achei que não viria, benzinho. —‌ Ele fez beicinho, puxando Jeongguk para um abraço, depositando um beijinho na pintinha sensível do seu pescoço. E, o guiando quarto adentro, beijou-o nos lábios. Jeongguk praticamente derreteu sobre aqueles lábios, sentindo o gosto do namorado depois de tanto tempo.

—‌ Hmmm, Tae... —‌ Jeongguk se afastou, dando um sorrisinho sem jeito ao depositar um selinho final. Taehyung sorriu afetuosamente, seu olhar cheio de entendimento. Era incrível como ele conseguia ler qualquer sinal de incerteza nos gestos de Jeongguk.

—‌ Pedi comida pra gente. Sua comida favorita, e a gente pode assistir Netflix até dormir.

Jeongguk assentiu, se jogando na cama macia.

—‌ Senti tanta saudades suas. Sério, amor, muita, muita. —‌ Jeongguk disse, abraçando o namorado quando ele se deitou, enchendo o rosto dele de beijos e o apertando nos braços como se ele fosse fugir a qualquer momento.

—‌ Não mais do que eu. Me sentia mal por não conseguir falar com você, mas tinha tanta coisa pra fazer e eu chegava tão cansado. Me desculpe. —‌ Taehyung disse, esfregando uma mão pela sua coxa.

—‌ Não precisa pedir desculpas. —‌ Jeongguk sorriu. —‌ Estou feliz pela sua exposição e por finalmente matar a saudade.

—‌ Você 'tá diferente. —‌ O coração de Jeongguk saltou uma batida de ansiedade. Ele se afastou, envergonhado.

—‌ Eu sei... Não tive tanto tempo para malhar e acabei engordando. —‌ Jeongguk se encolheu, o moletom cinza praticamente o engolindo, braços sobre o corpo. —‌ Minhas bochechas estão enormes.

—‌ Hm? —‌ Taehyung fez uma careta, confuso. —‌ Não é isso, eu ia dizer que você está mais bonito e seus olhos, eles me parecem ainda mais... não sei, eles brilham de uma maneira muito expressiva. Só achei que estivesse... diferente.

—‌ Ah...Você não notou que eu... Hm, engordei? — perguntou sem jeito.

Taehyung deu de ombros.

—‌ Não me importo com isso, amor. Não reparo nessas coisas.

—‌ Mas...Você me esculpiu e disse que meu corpo era perfeito, não é mais como na sua escultura.

Taehyung parou por um momento, soltou um riso frouxo e encarou Jeongguk nos olhos.

—‌ Você não entende, não é?

—‌ O-o quê? —‌ Jeongguk engoliu em seco.

—‌ Amo você, Jeongguk. Claro que amo seu corpo; amo cada parte dele, e fico abismado em como ele é bonito, mas se eu pudesse separar as coisas que mais amo em você em categorias, talvez o amor por ele, que é enorme, ele não ficaria em primeiro lugar. Quando eu te esculpi, tentei ser fiel ao seu corpo físico, mas os sentimentos que me invadiam quando eu estava definindo suas curvas e detalhes não tinha nada a ver com a sua aparência. Eu pensava na forma em como você era genuinamente sincero com seus sentimentos e não tinha filtro quando falava. Na maneira como você se esforçava para chamar minha atenção, chegando a mudar o estilo de roupa e dizendo que gostava de música clássica, todo estabanado. Como era carinhoso ouvindo minhas histórias sobre arte mesmo não sendo sua coisa favorita no mundo. Quando aparecia com duas xícaras de chá no atelier e ficava me vendo pintar por horas e se esforçando para beber o seu, mesmo odiando o sabor. Quando aparecia no meio da madrugada lá em casa só para me dar um beijo. — Ele fez uma pausa e entrelaçou os dedos aos de Jeongguk. — Lembra da Pheebs em Friends falando sobre as lagostas parceiras viverem juntas com as patinhas agarradas? Você é a minha lagosta.

Jeongguk fez uma careta, se esforçando para não chorar como um bebê. Era como respirar ar puro depois de se afogar.

—‌ E-eu v-vi os s-seus quadros. Sou eu? — Sua voz saiu em tom quebrado de choro.

—‌ Ah... —‌ Ele coçou a nuca, sem jeito, como se procurasse por palavras. —‌ Você disse que tudo bem uma vez... Se eu quisesse te expor teria permissão, você ficou incomodado com isso?

—‌ Claro que não, lembra que eu te dei permissão até para expor a escultura, se você quisesse. —‌ Jeongguk se aproximou um pouco mais, o abraçando. —‌ Ficou lindo. Tão lindo.

—‌ Porque é você.

—‌ E porque você é um artista incrível. —‌ Deixou um beijo nos lábios dele. Respirou fundo, engolindo a ansiedade que machucava seu estômago para começar aquela conversa que havia adiado por tanto tempo. —‌ Eu nem sei como começar, mas eu preciso te falar algumas coisas, não tão bonitas, mas que eu acho que são necessárias.

—‌ Relacionamentos são assim, nem sempre lidamos com flores, a parte dos espinhos vem em algum momento.

Jeongguk assentiu.

—‌ Eu não imaginei que teríamos um relacionamento, pra início de conversa. Na verdade eu só te achava estupidamente atraente e eu queria muito te beijar. —‌ Deu uma risadinha, suas bochechas rosadas. —‌ Você mesmo percebeu minhas tentativas frustradas de chamar sua atenção, não imaginava mesmo me apaixonar por você e muito menos que teríamos algo tão... intenso? Eu acho. As coisas fugiram do meu controle e eu caí profundamente.

—‌ Fico feliz por isso, seria difícil lidar com um coração quebrado. —‌ Ele disse gentilmente.

—‌ Com certeza. Mas, apesar de sermos o casal mais incrível do mundo, às vezes a minha mente insegura me trai. Tenho esses picos de vez em quando, me sinto insuficiente e nós temos tantas coisas diferentes, nossos gostos, nossos estilos, somos tão opostos que é engraçado quando olhamos nossas fotos juntos. —‌ Taehyung assentiu, segurando as mãos de Jeongguk com carinho. —‌ E eu sou mais novo do que você, e às vezes, tenho medo de você pensar que não levo a sério o que temos. E que, a qualquer momento, você encontre alguém muito melhor do que eu. Eu não vou mentir, senti ciúmes da Nicole porque... nossa, ela se parece tanto com você, os dois combinam tanto que parecem um casal de filme.

Taehyung fez uma careta.

—‌ Você poderia ter me contado isso, meu amor. Se ela te deixa mal, poderia ter explicado melhor minha relação com ela.

—‌ Esse é o problema, não quero que você me deva explicações, eu confio em você, mas só que há momentos que não confio em mim. Que eu vou ser o suficiente. —‌ Jeongguk mordeu os lábios. —‌ Você sabe... Nunca chegamos tão longe, e quando eu pensava nisso, achava que o problema estava comigo.

—‌ Sobre isso, sempre notei que você não estava pronto. Mesmo querendo, eu via nos seus olhos que não era exatamente o que queria. E eu jamais, jamais insistiria em algo sabendo que existe um resquício inseguro dentro de você. E sobre a Nicole, eu não quero namorar uma versão feminina minha, por isso ela é uma grande amiga. Quando me apaixonei por você, uma das coisas que me chamaram atenção foi o jeito com que você parecia completar aquilo que faltava em mim. Amor, um relacionamento onde as pessoas têm tudo em comum, te garanto que não é o relacionamento perfeito. Nenhum é. E nossas diferenças, elas só... Se completam.

O coração de Jeongguk pulsou forte, apaixonado.

—‌ Então não se sentia péssimo fazendo todas as coisas que eu gosto?

—‌ Claro que não! Você se sentia fazendo as coisas que eu gosto?

—‌ Não, você me fez vê-las de um jeito bom.

—‌ Me sinto da mesma maneira.

—‌ Não me acha um pirralho insuportável, senhor Kim? —‌ Jeongguk brincou, seus olhos marejados, e uma vontade enlouquecedora de beijar Taehyung até perder os sentidos.

—‌ Hmmm —‌ ele colocou o indicador no queixo, pensativo. —‌ Às vezes você é um pirralho.

—‌ É mesmo? —‌ Jeongguk o montou nas coxas, segurando-o pelos ombros. —‌ Acho que mereço um corretivo.

—‌ Ah, é verdade. —‌ Taehyung o beijou na ponta do nariz.—‌ Eu te amo.

—‌ Eu te amo mais.

—‌ Acho que é impossível.

—‌ Somos tão bregas. —‌ Jeongguk revirou os olhos. —‌ E transformamos qualquer clima tão rápido. Estava quase chorando e agora estou cheio de tesão.

Taehyung sorriu e o puxou para um beijo, sua língua explorando com saudades a boca de Jeongguk, que suspirou deleitoso com os toques na sua cintura. Jeongguk se sentia flutuando, coração batendo forte, sem aquele peso horrível de quando entrou no quarto. Não havia nada que o impedisse naquele momento, tinha absorvido tantas coisas ditas pelo namorado que nada mais negativo importava agora. Taehyung era um porto seguro que poderia se agarrar.

Como se ainda tivesse alguma dúvida da certeza de Jeongguk, Taehyung tentou se afastar por um momento, mas Jeongguk se inclinou, intensificando o beijo e o aperto dos corpos, sem deixar as bocas famintas se desgrudarem. Taehyung ofegou em entendimento, suas mãos apertando a pele quente de Jeongguk por debaixo do moletom cinza, tão tenra e macia sobre sua palma.

Jeongguk sorriu sobre o beijo, cada parte do seu corpo arrepiada e cheia de um desejo crescente de dentro para fora. Com cuidado, Taehyung ergueu o moletom de Jeongguk, retirando-o delicadamente sobre a cabeça dele.

Por um momento, seu estômago gelou, se sentindo exposto, mas percebeu um brilho desejoso explodir nos olhos de Taehyung, como se ele vislumbrasse a coisa mais preciosa do mundo.

—‌ Porra, Jeongguk, você é muito gostoso. Eu tenho tanta sorte. —‌ Ele disse, quase em um rosnado, apertando a carne da cintura com força entre os dedos, fazendo um gemido obsceno escapar dos lábios de Jeongguk. —‌ Eu quero te comer.

Aos poucos, ele se aproximou do corpo exposto, beijando, mordendo, lambendo, uma devoção tão extrema que era quase palpável. Jeongguk estava absurdamente duro dentro da cueca, a excitação escapando pelos poros, desejando mais. Quando Taehyung puxou a calça de moletom, não tinha nada negativo perdurando dentro dele, era apenas desejo de ser tocado e amado. Ele voltou a beijar suas coxas, deixando algumas mordidas suaves e beijos delicados.

Se sentiu amado de um jeito que fazia seu peito inchar e ser invadido por mais amor, mesmo que achasse impossível seus sentimentos por Taehyung aumentarem nessa magnitude.

Taehyung retirou as roupas, expondo a pele dourada, frágeis músculos contornando o dorso bonito. Bonito de um jeito que deveria ser algum crime. Jeongguk salivou, se levantando do colchão, seu rosto suado e quente, praticamente fervendo de vontade. Ajoelhados na cama, Jeongguk puxou Taehyung pela nuca, grudando as bocas e dando início a um beijo voraz, dedos se enroscando no cabelo macio, apertando os lábios.

—‌ Não quero que sua primeira vez seja ruim. —‌ Taehyung murmurou sobre o beijo, deitando Jeongguk na cama. Havia uma espécie de carinho, delicadeza e firmeza, que deixava tudo melhor.

—‌ Acho impossível. Estou com as expectativas altas.

Taehyung riu. Virando Jeongguk de lado, e ficando na mesma posição, então, contornou as curvas com os dedos longos, observando a pele macia levemente bronzeada se arrepiar com o resvalar sutil. Seguiu com cuidado a curva da cintura, do quadril e as coxas.

—‌ Lindo. —‌ Sussurrou. —‌ Lindo, lindo, lindo, lindo.

Jeongguk sentiu as bochechas coradas, mas não envergonhado de um jeito ruim, seu estômago se repuxando violentamente em pura vontade, verdadeiramente se sentindo desejado.

—‌ Tenho —‌ engoliu em seco —‌ lubrificante no bolso da calça do meu moletom.

O namorado se afastou para pegar o frasco, dando uma risadinha.

—‌ Em minha defesa, eu tinha uma grande expectativa.

—‌ Espero não desapontar. —‌ Taehyung disse, abrindo a tampinha do frasco.

Aquela sutileza nos movimentos não o abandonou nem por um segundo, nem quando inseriu com cuidado os dedos lubrificados em Jeongguk, delicadamente, e cheio aquela paciência apaixonada, sussurrando palavras de carinho e conforto.

Doeu, foi muito mais intenso quando finalmente aconteceu de verdade, muito diferente das fanfics em que descreviam esse momento apenas como prazer. Mas todo aquele amor e devoção dedicada ao seu corpo, fez com que a dor ficasse em segundo plano e fosse atingido por uma onda prazerosa e satisfatória.

Taehyung ditava movimentos suaves de vai e vem, seu peito quente colado às costas de Jeongguk, depositando beijos apaixonados no ombro a cada estocada, os lábios ainda sussurrando uma mistura de palavras sujas e encantadoras ao mesmo tempo. Quando gozou, Jeongguk se sentiu flutuar, sua cabeça vazia como um balão, seus olhos se revirando nas órbitas e seus músculos tremendo com o orgasmo intenso que o atingiu.

Ele sabia que ver o namorado atingindo seu próprio pico de prazer era a coisa mais bonita que seus olhos tinham o privilégio de ter, o som rouco escapando dos lábios, moldando um sentimento quase animalesco dentro de Jeongguk. E se ele não estivesse tão molinho e cansado, avançaria mais uma rodada.

Taehyung se virou de barriga para cima, respirando pesado e com um sorrisinho de satisfação esticado no rosto.

—‌ Porra, caralho, cacete.

Jeongguk adorava ver o namorado xingar. Ele quase nunca o fazia, os palavrões eram exclusivamente reservados para essas ocasiões, e ver Taehyung saindo da postura elegante por sua culpa, fazia algo gostoso subir por suas entranhas. Ele tombou a cabeça para o lado, o sorriso aumentando, seu rosto vermelho e suado.

—‌ Bom? —‌ Ele perguntou. Jeongguk ergueu uma sobrancelha, se aproximando para se aconchegar no peito dele. Tinha um cheiro gostoso e doméstico, sabonete de lavanda e suor do sexo, uma mescla dos seus corpos.

—‌ Eu diria que... Efeito Pigmaleão. Quanto maior sua expectativa em uma pessoa, melhor o desempenho dela. E você foi muito bem, senhor Kim.

—‌ Fico feliz em saber disso, senhor Jeon. —‌ Taehyung deixou um beijo nos fios escuros.

—‌ Quase te chamei de papaizinho, acredita? —‌ Jeongguk brincou.

Taehyung engasgou uma risada.

—‌ Ainda bem que não fez, não seria nada legal pensar no seu pai naquele momento.

—‌ Amor? —‌ Jeongguk ergueu os olhos. —‌ Foi ruim pra você?

—‌ Sendo sincero, acho que foi o melhor sexo da minha vida. —‌ Jeongguk revirou os olhos com uma risadinha, acreditando que ele só tinha dito aquilo para deixá-lo melhor. —‌ Eu não digo nem pelo sexo em si, mas as sensações, meu amor por você e vê-lo nessa situação, caralho, nunca imaginei sentir esse tipo de prazer.

—‌ Acho que é isso que chamam de fazer amor. —‌ Jeongguk comentou.

—‌ Que brega.

—‌ É mesmo.

—‌ Eu gosto.

—‌ Eu também.

III

É isso!! Espero que tenham gostado. Foi muito bom escrever essa fanfic, meu coração tá até triste porque eu AMEI escrever esses dois. Se eu pudesse, escreveria vários capítulos de boiolagem até ficarem velhinhos, mas não vou. hehe, fiquem com a imaginação de vocês. <3 Até uma próxima. Obrigada por tudo.

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