Catrin demorou cerca de 20 minutos no banho. Estava nervosa, demais. Ela sabia que a conversa que eles evitaram por dias agora iria acontecer. Se as suposições dela estivessem certas havia quase um mês que Nyx tinha descoberto a parceria, ele havia passado um mês pensando sobre isso.
Quero que estejamos em um lugar tranquilo, onde não temos que ser interrompidos. Ele óbviamente planejou isso. Catrin sorriu enquanto terminava de se vestir. Um calça simples, e uma blusa com um casaco por cima. O inverno já começa a a chegar, deixando o clima mais ameno.
Quando saiu do quarto ela encontrou sua mãe e sua tia na biblioteca privada da casa.
— Ah.. mãe? — Catrin chamou.
— Oi filha, pode falar. — Gwyn respondeu.
— Eu... vou sair com o Nyx, não sei onde, mas vamos sair. — Catrin disse lutando contra as palavras, a mãe e a tia não eram burras, elas tinham parceiros, sabiam como as coisas aconteciam.
Um sorriso malicioso cresceu no rosto de Nestha, ao mesmo tempo em que as sobrancelhas de Gwyn se arquearam em uma expressão predatória.
— Não digam nada do que estão prestes a dizer. — Catrin advertiu.
— Tudo bem, apenas tome cuidado. — Gwyn riu e deu um beijo na bochecha da filha.
— Aproveite, entende o que quero dizer.— Nestha piscou para a sobrinha. Catrin corou e saiu a procura de Nyx.
Ele estava na varanda da Casa, Catrin poderia jurar que ele sentiu a presença dela, já que bem antes de ela passar pra porta, ele havia olhado para ela.
— Vou te levar voando até o limite da Casa, depois a gente atravessa tudo bem? — Nyx perguntou.
Catrin apenas assentiu e deixou que Nyx a pegasse no colo. Era tão estranho voar nos braços de outra pessoa, ela se agarrou ao pescoço de Nyx e deixou que ele a levasse pelos ares.
Ela poderia jurar que ele voou para bem além dos limites da casa antes de atravessar.
Eles atravessaram para a porta do lugar conhecido por Catrin. O Chalé das Montanhas. O Crepúsculo já pintava os céu com lindas cores.
Nyx não disse nada, a colocou no chão e então abriu a porta para que ela entrasse.
Ele havia planejado aquilo, com certeza pensou nos detalhes. Ela entrou no chalé e Nyx fechou a porta.
— As vezes eu me esqueço do quanto gosto desse lugar. — Catrin comenta.
— Depois de Velaris, é o meu lugar favorito na Corte. — Nyx respondeu sorrindo e apontou para um sofá. — Sente-se, vou fazer um chá para você.
Ele acenou para a Lareira que acendeu e depois de um tempo voltou com uma caneca fumegante em mãos.
Ele sentou-se no sofá, uma distância considerada saudável entre eles.
Catrin deu um gole no chá.
— Me conte tudo. Eu quero saber de tudo Nyx. Sem jogos entre nós. — Catrin disse.
Ele inspirou profundamente e então começou.
— A gente sempre foi próximo de uma maneira diferente. Eu dizia a mim mesmo que era porque você era minha única prima fêmea. Nossa dança na Queda das Estrelas, nossa relação, sempre foi diferente e natural. Depois que você aprendeu a voar, fugia da Casa do Vento todos os dias para corrermos na beira do Sidra. — Nyx riu, assim como Catrin. — Eu não havia percebido isso, o quanto éramos grudados até eu ir para o acampamento. A gente pouco se via, apenas nos feriados e visitas. Nós afastamos, mas mesmo assim, no dia que voltei do Rito, você estava lá esperando. Quando abracei você... eu estava aterrorizado com o Rito, não deixei transparecer, mas estava, e abraçar você foi como tirar todo aquele peso terrível de mim, eu esqueci de tudo e me lembrei que tinha voltado para minha família, para minha casa.
Catrin não sabia o que dizer com Nyx se abrindo daquele jeito. Ele parecia ansioso. Então ela não disse nada, deixando ele continuar.
— Naquele dia, a gente saiu, foi dançar no Rita's e você... estava tão linda. Me senti estranho aquele dia, mas deixei pra lá. Então você saiu da festa com o Jesper. — Ele parou parecendo pensar no que dizer. Ela estava chocada demais com todos os detalhes que ele se lembrava, ela mesma as vezes mal se lembrava de Jesper, apesar de ter ido para a cama com ele algumas vezes. — Naquela época eu não sabia dizer o porquê, mas eu passei a noite toda no telhado, esperando você voltar para a Casa do Vento. Só quando vi você cruzar os céus de Velaris conseguiu ir para casa.
— Eu só voltei para casa naquela noite quando já estava amanhecendo. — Catrin disse.
— Sim, eu só fui pra casa ao amanhecer. Não parou por aí Catrin. O dia que fomos a Corte dos Pesadelos, você... — Ele engoliu em seco de novo, tentando se concentrar. — Pela Mãe Catrin, você quase me enlouqueceu. Você estava tão linda, tão poderosa, tão... você. Aquele vestido, ele era seu, ninguém mais poderia usar aquilo, só você e quando ameaçou Keir, que o Caldeirão me cozinhe, mas eu desejei você de uma forma que eu jamais quis nada nem ninguém. Me senti nojento, porque pra mim você era minha prima e aquilo parecia tão errado, de tantas formas.
— Nyx... — Ela começou a falar mas ele a interrompeu. Ele precisava botar tudo para fora, depois, depois ele a ouviria.
— Então meu pai me mandou para Illyria, achei que aquilo ia me distrair, ia me fazer parar de pensar nisso, mas foi só te ver de novo, te abraçar que tudo voltou como uma avalanche. Eu me sentia estranho, muito estranho. Então, veio a Queda das Estrelas... e Cadewyn. Eu me vi tão desesperado e irritado com o fato de ele estar flertando com você que eu o ameacei, nós somos amigos desde que nos entendemos por gente e eu o ameacei, perdi totalmente a cabeça, meu controle, achei que ele se afastaria, mas o desgraçado queria mesmo você. E o que me deixou transtornado e que você queria ele, então não interferi mais. Eu sabia que ele te levaria para cama, mas ver vocês dois flertando durante a festa toda foi minha ruína. Eu bebi, bebi tanto, que por pouco eu não desmaiei de bêbado no meio da festa. — Ele contou, parecendo agora envergonhado.
— Nyx, eu não fazia ideia, eu... céus. — Catrin se culpou por estar tão distraída com Cadewyn que não notou que Nyx havia passado da conta.
— Meu pai me encontrou quando eu estava indo pegar mais bebida. — Ele continuou. — Então me levou para casa, atravessamos direto para o meu quarto, eu tive um descontrole de magia e congelei quase o quarto todo. Eu fiquei horrorizado Catrin, aquilo poderia machucar alguém, eu fiquei dias depois treinando com Amren e meu pai, para não passar por isso de novo. Então no outro dia, quando vocês vieram para almoçar, eu senti o cheiro dele em você, eu vi o brinco e sabia que ele havia te dado. Eu fiquei arrasado, não posso negar. Então meu pai te mandou para Illyria e eu fiquei em Velaris. Tudo estava virando um inferno por causa de Rask, eu não tive tempo para te ver, para ser sincero, eu não procurei tempo, eu ainda estava confuso com tudo aquilo. Então eu tive que ir para a Corte Invernal. Cadewyn perguntou sobre você e eu provavelmente fui terrivelmente tosco em esconder o que estava sentindo, ele percebeu antes de eu mesmo, que eu estava apaixonado por você. Eu não sabia da parceria, mas eu te amava Catrin, eu estava completamente apaixonado. Então ele deu o empurrão que faltava para eu ir atrás de você, para contar tudo. Então fui para Illyria te ver. — Ele sorriu. — Você estava radiante, tão feliz, tão feliz. Passamos o dia todo juntos, mas eu ainda não havia reunido coragem para te falar. Naquela noite eu não conseguia dormir, não conseguia pensar, só sabia que algo estava me chamando, me mandando ir para fora, para procurar algo. — Ele sorriu mais amplamente. — Então eu cheguei àquela montanha e você estava lá. Cantando. Eu não consegui pensar no que te dizer, meu corpo mal correspondia a mim, aquela sensação... então eu te beijei. E você correspondeu, eu mal conseguia me controlar Catrin porque o gosto, a sensação, o desejo, era tudo muito intenso e confuso e ao mesmo tempo tão certo. Então olhei em seus olhos, e tudo se encaixou. Você era minha parceira, eu senti que era. Aquilo me apavorou. Me deixou assustado. E eu fui a pessoa mais idiota do mundo, lidei com isso da pior forma possível, te disse que era um erro e fui embora. Fui burro, não tem outra palavra. Quando cheguei a Velaris eu estava em choque, então encontrei meu pai, pedi conselhos, conversei com ele sobre isso. Então passei aqueles dias em que você ficou no acampamento apenas esperando. Não pensei no que diria. E quando soube que você estava de volta a Velaris eu me desesperei. Te evitei, fugi, fui um covarde, porque eu simplesmente não sabia como dizer nada daquilo. Nada. Tive medo de você me rejeitar, de não querer ficar comigo, de você não me amar na intensidade que eu te amava.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Catrin, a ideia de que Nyx a amava, amava intensamente e tinha medo, insegurança de ela não sentir o mesmo...
— Então veio o desastre que foi a festa de Adyra. E você estava certa em me tratar daquela forma, mais do que certa, mas não vou mentir que também doeu ouvir que você achou que fosse um erro. Deixei você em paz, e prometi que no dia seguinte iria falar com você. Eu tinha uma reunião pela manhã, com meu pai e o seu, foi quando ficamos sabendo que tinham invasores na Corte. Quando voltamos a Velaris, eu fui direto para sua casa, mas quando cheguei lá sua mãe disse que tinha saído, e depois descobrimos que vocês tinham saído dos limites da cidade e sido sequestradas. — Ele fez uma pausa. — Eu nunca senti tanto medo, raiva e desespero de uma vez só. Nunca. Meu pai e minha mãe tentaram buscar pela mente de vocês, mas não conseguiram, mas eu sabia que tinha lago a mais que nós ligava, algo mais forte que me faria te encontrar, então deixei aquilo, a nossa parceria me guiar, e eu te encontrei, e Beron e o Rei estavam te torturando. Eu cai de joelhos no chão. Minha parceira estava sendo torturada, torturada e machucada. — Lágrimas molharam o rosto de Nyx. — Eu entrei em desespero, eu nem sei como aconteceu direito, mas meu pai acabou contando para todo mundo que éramos parceiros. A preparação para o resgate foi uma loucura, eu estava uma pilha, minha irmã e minha parceira tinham sido sequestradas, minha parceira estava ferida. Eu mal conseguia dormir ou comer, era terrível. Então aquele dia em que te resgatamos, aqueles guardas com flechas apontadas para você, com uma espada no seu pescoço. Eu nunca tinha destruído mentes, mas eles estavam com você, iam te matar e você estava tão ferida, tão machucada, eu sentia que estava mal, estava por um fio. Eu tomei e destruí a mente de seis soldados de uma vez para te soltar. Te levei para a cabana de Madja no acampamento e depois tive que voltar para ajudar na batalha. Depois disse tudo foi confuso, a morte dos Grão-Senhores, tudo foi bem confuso. Quando voltei para o acampamento, Madja disse sobre o procedimento que precisava ser feito. Segurei sua mente por horas, nem sei quanto tempo foi.
— E então eu fiquei desacordada por dias. — Catrin adicionou.
— Sim, eu ia todos os dias até a Casa, ficava todo o tempo livre lá, eu lia seus livros favoritos para você, ou simplesmente ficava lá, com você. E então você acordou, e todos esses dias eu não consigo ficar longe de você, não mais. Nunca mais. A escolha de me aceitar ou não como parceiro é sua, mas eu te amo Catrin. Muito. E nunca mais vou deixar que te machuquem do jeito que fizeram, nunca mais. Prefiro que seja eu, mas nunca mais vou deixar que se machuque. — Nyx disse por fim.
Catrin ainda estava pensativa sobre tudo o que Nyx havia dito. Ela então se próximos mais dele, pousando a mão no rosto dele, segurando seu olhar fixo no dela.
— Naquela noite na Corte dos Pesadelos, eu também te desejei, desejei tudo em você. Naquele dia na montanhas de Illyria eu senti algo preenchendo em mim, me deixando viva. No aniversário de Adyra eu disse que era um erro, porque estava com medo de você insistir que era um erro, eu achei que falando que era errado, eu me convenceria disso, mas eu sabia que era certo, eu sentia. Enquanto eu estava presa e achava que ia morrer, o único arrependimento que eu tinha era que eu nunca tinha dito a verdade, a verdade de que eu te amava Nyx, que eu te amo, muito além da nossa amizade, muito além dessa parceria, eu amo cada parte e pedaço seu, do seu corpo, da sua mente, da sua alma. Tudo. Eu te amo Nyx. — Ela disse.
Os dois tinham lágrimas pelo rosto. Lágrimas de alegria, de alívio. Catrin se levantou do sofá, deu um beijo na bochecha de Nyx e foi em direção á cozinha, deixando o garoto confuso, ele logo entendeu, quando ela voltou com um sanduíche simples de pão com alguma geleia, fornecidos pela magia presente no chalé.
Ela se aproximou de Nyx, ficando de pé entre as pernas dele que estava ainda sentado no sofá e entregou o prato para ele.
— Eu aceito. Eu aceito ser sua parceira, eu aceito que seja meu parceiro. Que me proteja e que eu te proteja. Eu aceito nosso laço. — Ela disse para ele, sentando-se no braço do sofá, ao seu lado e esperou enquanto ele devorava a comida, com os olhos fixos nela.
Genteee, desculpa cortar assim, mas acho que podemos ter um tipo de emoção para cada capítulo né?
Espero que tenham gostado dessa conversa que demorou paraa acontecer hein?
Já vou adiantar que o hot vem aí, vem no próximo capítulo!
Enfim, não se esqueçam de deixar seu voto e comentar o que estão achando.
Venham preparadxs para o próximo! Kkkkk até lá, um beijo da autora para vocês! ❤