O jardim secreto (1911)

Da ClassicosLP

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Obra da inglesa Frances Hodgson Burnett. Altro

1. Não resta ninguém
2. Dona Mary, toda ao contrário
3. Pelo pântano
4. Martha
5. O choro no corredor
6. "Havia alguém chorando! Havia!"
7. A chave para o jardim
8. O pintarroxo que mostrou o caminho
9. A mais estranha casa onde qualquer um jamais morou
10. Dickon
11. O ninho do sabiá
12. "Posso ter um pedaço de terra?"
13. "Eu sou Colin"
14. Um jovem Rajá
15. A construção do ninho
16. "Não vou!" Disse Mary
17. Um acesso de raiva
18. "Ocê não deve perdê tempo"
19. "Chegou!"
20. "Eu vou viver para sempre, sempre e sempre!"
21. "Ben Weatherstaff"
23. Mágica
24. "Deixe-os rir"
25. "A cortina"
26. "É mamãe!"
27. No jardim

22. Quando o sol se pôs

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Da ClassicosLP

Quando a cabeça dele ficou fora de suas vistas, Colin virou-se para Mary.

− Vá se encontrar com ele! – ele disse; e Mary correu pela grama até a porta sob a hera.

Dickon observava Colin com olhos afiados. Havia manchas vermelhas em seu rosto, e ele parecia incrível daquela forma, mas em nenhum momento parecia que iria cair.

− Eu posso ficar de pé. – ele disse, e sua cabeça ainda estava jogada para trás, e suas palavras soaram grandiosas.

− Eu disse que ocê ia consegui, assim que parasse de ficá com medo. – respondeu Dickon. – E parô.

− Sim, eu parei. – disse Colin.

Então, de repente, ele se lembrou de algo que Mary havia dito.

− Você está fazendo Mágica? – ele perguntou bruscamente.

A boca torta de Dickon se abriu em uma gargalhada.

− É ocê que fazendo mágica com ocê mesmo. – ele disse.

– É a mesma Mágica que faz com que elas saiam da terra. – e ele tocou uma moita de açafrão na grama, usando sua bota espessa.

Colin olhou para o chão.

− Sim. – ele disse devagar. – Não poderia havê mágica maió do que essa. Não poderia havê.

Ele se colocou mais ereto do que nunca.

− Eu vou caminhar até aquela árvore. – ele disse, apontando para uma delas, a poucos metros de distância. – Eu estarei de pé quando Weatherstaff chegar. Eu posso até descansar sob a árvore se quiser. Quando eu quiser me sentar, eu irei sentar. Traga uma almofada da cadeira.

Ele caminhou até a árvore, e apesar de Dickon estar segurando seu braço, ele estava maravilhosamente firme. Quando parou perto do caule da árvore, por mais que parecesse que iria se apoiar contra ele, ainda se mantinha tão ereto que parecia muito alto.

Quando Ben Weatherstaff entrou pela porta na parede, ele o viu parado ali e ouviu Mary murmurando algo por sob sua respiração.

− O que você está dizendo? – ele perguntou irritado, porque não queria que sua atenção se desviasse daquele menino muito magro, ereto e de cara orgulhosa.

Mas ela não lhe disse. O que ela estava falando era: − Você consegue! Você consegue! Eu disse que conseguiria.

Você consegue! Você consegue! – ela estava falando aquilo para Colin, porque queria fazer Mágica e mantê-lo em seus próprios pés, exatamente daquela maneira.

Ela não podia suportar que ele vacilasse na frente de Ben Weatherstaff. E ele não vacilou. Ela foi tomada por uma súbita sensação de que ele parecia muito bonito, apesar de sua magreza.

Ele fixou seus olhos em Ben Weatherstaff, de uma maneira imperiosa e engraçada.

− Olhe para mim! – ele ordenou. – Olhe bem para mim.

Eu sou um corcunda? Eu tenho pernas tortas?

Ben Weatherstaff não tinha superado suas emoções, mas se recuperara um pouco e respondeu de uma maneira quase usual.

− Não. – ele disse. – Nada disso. O que tem feito consigo mesmo, escondendo-se fora das vistas e deixando que as pessoas pensassem que era um aleijado e retardado?

− Retardado? – disse Colin com raiva. – Quem pensou isso?

− Muitos idiotas. – disse Ben. – O mundo está cheio de burros relinchando, e eles não relincham nada que não sejam mentiras. Quem o fez ficá trancado?

− Todos pensavam que eu ia morrer. – Colin disse depressa.

– Mas eu não vou!

E ele disse aquilo com tanta decisão que Ben Weatherstaff olhou-o de cima a baixo e de baixo para cima.

Morrê! – ele disse com seca exultação. – Nem perto disso!

Ainda há muito a se arrancá de ocê. Quando eu o vi colocá essas pernas no chão com tanta pressa, eu soube que não havia problema com elas. Sente-se em sua almofada um pouco, jovem Mestre, e me dê minhas ordens.

Havia uma mistura estranha de ternura e uma compreensão perspicaz em suas maneiras. Mary derramou seu discurso tão rápido quanto pôde, enquanto eles desciam pela Longa Caminhada. A principal coisa a ser lembrada, ela tinha lhe dito, era que Colin estava ficando melhor, bem melhor. O jardim estava fazendo aquilo.

Ninguém poderia fazê-lo se lembrar sobre corcundas e morte.

O rajá dignou-se a sentar-se em uma almofada sob a árvore.

− Que trabalho o senhor faz nos jardins, Weatherstaff? – ele inquiriu.

− Qualquer coisa que mandam. – respondeu o velho Ben.

– Eu sou mantido aqui de favo, porque ela gostava de mim.

− Ela? – perguntou Colin.

− Sua mãe. – respondeu Ben Weatherstaff.

− Minha mãe? – disse Colin, então, olhou para ele em silêncio por um minuto. – Este era seu jardim, não era?

− Sim, era. – e Ben Weatherstaff olhou para ele também.

– Ela gostava muito dele.

− É meu jardim agora. Eu gosto dele. Eu virei aqui todos os dias. – anunciou Colin. – Mas isso deve ser um segredo. Minhas ordens são para que ninguém saiba que estamos vindo aqui.

Dickon e minha prima trabalharam e o fizeram reviver. Eu vou mandá-lo de vez em quando para ajudá-los, mas você deve vir quando ninguém puder vê-lo.

O rosto de Ben Weatherstaff se moveu tornando-se um sorriso seco e velho.

− Eu já vinha aqui antes quando ninguém podia me ver.

– ele disse.

− O quê? – Colin exclamou.

− Quando?

− A última vez em que estive aqui... – disse, coçando o queixo e olhando à sua volta. – Foi há dois anos.

− Mas ninguém esteve aqui por dez anos. – Colin choramingou.

− Não havia porta!

− Eu não sou ninguém. – disse o velho Ben secamente. – E eu não entrava pela porta. Eu pulava o muro. O reumatismo me impediu durante esses últimos dois anos.

− Ele vinha e fazia um pouco de poda. – chorou Dickon.

– Eu não conseguia entendê como ele fazia isso.

− Ela gostava tanto dele, como gostava! – Ben Weatherstaff disse devagar. – E ela era uma coisinha tão linda. Ela me disse uma vez: "Ben..." , ela disse rindo, "se alguma vez eu ficá doente ou se morrê, você vai tomá conta das minhas rosas" . E quando ela realmente partiu, as ordens foram para que ninguém entrasse mais aqui. Mas eu entrei. – ele disse com uma obstinação amuada. – Pelo muro eu escalei, até que o reumatismo me impediu, e trabalhava aqui um pouco, uma vez a cada mês. A primeira ordem veio dela.

− Estaria muito pió se ocê não tivesse feito isso. – disse Dickon. – Eu acredito.

− Fico feliz que tenha feito isso, Weatherstaff. – disse Colin.

– Você saberá como manter o segredo.

− Sim, eu saberei, senhor. – respondeu Ben. – E será mais fácil, para um homem com reumatismo, entrá pela porta.

Na grama sob a árvore, Mary deixou cair sua espátula. Colin estendeu suas mãos e pegou-a. Uma expressão estranha apareceu em seu rosto, então ele começou a raspar a terra. Sua mão magra era bastante fraca, mas estável, enquanto eles o observavam. Vendo que Mary o olhava com interesse, ele afundou a espátula até o final do solo e tirou um pouco de terra.

− Você consegue! Você consegue! – Mary disse para si mesma. – Eu disse que iria conseguir!

Os olhos redondos de Dickon estavam cheios de uma curiosidade ansiosa, mas ele não disse uma palavra. Ben Weatherstaff também olhou com uma expressão de interesse.

Colin perseverou. Depois que virou algumas espátulas cheias de terra, falou exultante para Dickon em seu melhor sotaque de Yorkshire.

Ocê disse que me veria andá por aí como qualquer outro garoto, e ocê disse que ainda me veria cavá. Eu pensei que tava me dizendo isso apenas para me agradá. Esse é apenas o primeiro dia que eu consigo andá e olha o que estou fazendo. Estou cavando.

A boca de Ben Weatherstaff escancarou-se novamente quando o ouviu, mas acabou rindo.

− Eh! – ele disse. – Parece que ele tem juízo suficiente. É um rapaz de Yorkshire com certeza. E sabe cavá também. Gostaria de plantá alguma coisa? Eu posso trazê uma rosa em um pote para ocê.

− Vá e pegue! – Colin disse, cavando animado. – Rápido!

Rápido!

E, de fato, ele foi rápido. Ben Weatherstaff seguiu seu caminho esquecendo-se de seu reumatismo. Dickon pegou a pá e cavou o buraco, mais profundo e mais amplo do que o novo escavador, com suas mãos brancas e magras, poderia ter feito. Mary se pôs a correr e trouxe um regador. Quando Dickon aprofundou ainda mais o buraco, Colin começou a amaciar a terra mais e mais. Ele olhou para o céu, com o rosto corado e brilhante pelo estranho e novo exercício, sentindo-se muito leve.

− Quero fazer isso antes que o sol se ponha. – ele disse.

Mary pensou que o sol havia se atrasado alguns minutos, exatamente por aquele motivo. Ben Weatherstaff trouxe a rosa em um pote da estufa. Ele mancava sobre a grama o mais rápido que conseguia, começando a se sentir excitado também. Ajoelhou-se próximo ao buraco e quebrou o pote.

− Aqui, rapaz. – ele disse, entregando a planta para Colin.

– Coloque-a na terra ocê mesmo, da mesma forma que um rei faz quando vai para um lugá novo.

As mãos brancas e magras tremiam um pouco, e o rubor de Colin intensificou-se, conforme ele colocava a rosa no molde e a segurava enquanto o velho Ben tornava a terra mais firme. Ela foi preenchida, pressionada para baixo e firmada. Mary inclinava-se para frente, apoiada nos joelhos e nas mãos. Fuligem voou baixo e marchou para frente para ver o que estava fazendo. Noz e Casca conversavam sobre a cena em uma cerejeira.

− Está plantada! – Colin disse finalmente. – E o sol ainda está apenas deslizando no horizonte. Ajude-me a levantar, Dickon.

Eu quero estar de pé quando ele se pôr. Faz parte da Mágica.

E Dickon o ajudou, e a Mágica, ou qualquer outra coisa que fosse, lhe deu forças, e quando o sol realmente deslizou no horizonte e deu fim à estranha e adorável tarde para eles, ele realmente estava de pé, rindo.

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